Carnaval: festa e financiamento coletivos

Desfile de 2012 do Bloco Fogo e Paixão que foi coletivamente financiado no Catarse. Crédito: Eduardo Leite Desfile de 2012 do Bloco Fogo e Paixão que foi coletivamente financiado no Catarse. Crédito: Eduardo Leite

A categoria com maior taxa de sucesso do Catarse é a de Carnaval. Todos os 11 blocos carnavalescos que já passaram pela plataforma conseguiram atingir as metas de arrecadação. Para nós, esse dado faz todo o sentido: é uma festa coletiva por essência. De pequenos cordões a desfiles de escolas de samba, são todas experiências colaborativas fruto do trabalho conjunto dos seus integrantes. Esse esforço coletivo sempre se estendeu até o próprio financiamento das atividades.

A prática dos próprios foliões botarem a mão no bolso e passarem o chapéu ainda é muito comum no Carnaval, principalmente entre os blocos de rua mais intimistas e outros tradicionais que prezam pela independência. O financiamento coletivo surge como uma forma de esticar o chapéu para mais distante. É dar a todos os foliões que já pulam atrás do bloco mas ainda não fazem parte do seu dia-a-dia a oportunidade de participar ativamente da realização da festa.

Com o nome retirado do título de uma canção do Wando, o primeiro bloco a realizar uma financiamento coletivo na história do Catarse foi o Fogo e Paixão. Após os integrantes bancarem sozinhos o primeiro desfile do bloco brega, eles perceberam que para o próximo ano poderiam contar com uma participação mais ativa dos foliões e optaram pelo financiamento coletivo. A meta era arrecadar R$ 9.000, cerca de 50% do valor necessário para o cortejo.

Para atingir seu objetivo, o Fogo e Paixão teve um reforço de peso na campanha: o muso inspirador Wando. O cantor contribuiu diretamente para campanha no Catarse. Além de estrelar o vídeo do projeto, ele também autografou calcinhas que foram distribuídas como recompensas para os apoiadores do projeto.

Infelizmente, Wando teve de ser internado em estado grave enquanto o projeto ainda estava no ar. O ídolo brega sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu no dia 8 de fevereiro de 2012, menos de um mês antes do Carnaval. As calcinhas autografadas talvez tenham sido a última oportunidade do cantor presentear seus fãs. Mais do que um desfile de bloco, o Fogo e Paixão daquele ano foi uma linda homenagem coletiva a Wando e sua obra.

Bob Marley foi outro ídolo musical  homenageado carnavalescamente através de um financiamento coletivo. A mistura do samba da bateria do bloco Unidos Venceremos com o reggae da big band Soul Shakers e uma grande dose de disposição de todo mundo que queria agitar o Carnaval paulistano resultou na ideia de criar o bloco de samba-reggae Kaya na Gandaia.

Os instrumentos, camisetas, estandartes e outros adereços do Kaya foram comprados com os mais de R$ 3.000 angariados através do Catarse. A campanha também foi fundamental na divulgação do bloco. Mobilizou uma rede de pessoas em torno do Kaya na Gandaia antes mesmo do seu primeiro desfile. Segundo eles, “o financiamento coletivo permitiu que o bloco já nascesse grande”.

O sucesso do projeto fez com que eles voltassem ao Catarse um ano depois com um novo e mais ambicioso projeto: a compra de uma kombi-palco para o desfile do bloco e outras manifestações políticas e culturais pelas ruas de SP. Arrecadaram mais do que o quádruplo do valor obtido para o primeiro projeto e bateram a meta de R$ 18 mil. Falamos recentemente aqui no blog desse projeto e de outras iniciativas que envolviam kombis e financiamento coletivo.

Kaya O Bloco Kaya na Gandaia toca no Holi Festival das Cores, em São Paulo. Fotos: Guilherme Castoldi

Além de uma forma de financiamento, o crowdfunding é uma maneira de garantir a gratuidade da festa e a permanência do espírito anárquico e democrático característico da orgia de Momo. Subverter o caminho industrializado e segregacionista que acomete a folia em alguns casos. O Carnaval de Salvador, por exemplo, é conhecido por seus gigantescos trios elétricos conduzidos por famosos artistas e as cordas que separam quem comprou o abadá dos chamados “pipocas”. Em meio a essa enorme indústria, existe também o Microtrio, um bloco que desfila em cima do “menor trio elétrico do Brasil” montado em cima de um Fiat Estrada adaptado.

O Microtrio existe desde 1996. Sempre desfilando sem cordas e priorizando a qualidade do som em vez de seu volume. Em 2012, enfrentaram dificuldades financeiras para arcar com os custos do bloco. Uma semana antes do Carnaval, anunciaram que não conseguiriam desfilar naquele ano. Nesse momento, um grupo de foliões se uniu para através das mídias sociais arrecadar recursos para viabilizar uma democrática opção da festa baiana. A campanha recebeu o nome de “Pagando o Micro” e foi criada uma conta exclusiva para receber as doações. A mobilização chamou a atenção do programa Roda Baiana, da rádio Metrópole, que aderiu a causa, e também empresa de comunicação Leiaute, que resolveu patrocinar o desfile do trio.

Ao perceber o potencial da ajuda financeira dos próprios foliões na realização do Microtrio, o bloco se preparou e amadureceu a ideia para o Carnaval de 2013, quando iniciaram uma campanha de financiamento coletivo no Catarse. Os mais de R$ 20 mil arrecadados foram o suficiente para financiar dois cortejos do menor trio elétrico do Brasil.

Aparelinho O desfile do Aparelinho em Brasília em 2013

Também tivemos o prazer de receber em nossa plataforma o também motorizado bloco Aparelhinho. Nele, os DJs do Coletivo Criolina percorrem as ruas e praças de Brasília comandando o som de um carrinho elétrico equipado com gerador, caixas de som e mesa de mixagem.

Após o primeiro Carnaval em atividade graças ao equipamento emprestado por amigos, o Aparelhinho precisava de uma atualização para atender ao crescente número de foliões sem deixar de ser gratuito. O meio encontrado foi pedir apoio da galera através do financiamento coletivo. Com os R$ 25 mil arrecadados no Catarse, o carrinho vai ser tunado com caixas amplificadas mais potentes, itens de iluminação e alegoria, além de um reforço no chassi. O primeiro desfile após a reforma será no Carnaval de 2014.

Além desses outros blocos ajudaram a construir a história de sucesso da categoria Carnaval no Catarse. Foi através da nossa plataforma que o Puxa Que é Peruca conseguiu viabilizar o seu primeiro desfile, o Multibloco conseguiu a compra do seu próprio sistema de som que já está em plena atividades nas batucadas do grupo, a Apafunk conseguiu a compra dos instrumentos para realizar seus ensaios, e os cortejos do Lira da Vila, Batukaje e Bloco da GB foram financiados.

Acreditamos que ainda há muito potencial para ser explorado pelos blocos e foliões. A força do financiamento coletivo pode resultar em muitos projetos criativos e ousados e na manutenção do caráter democrático da maior festa do Brasil. No Carnaval de 2014, bote um um bloco, uma fantasia ou uma ideia louca na rua.

 

 
Anthony Ravoni
Consultor de Mídias Sociais e Captação de Recursos. Provavelmente escreveu as linhas tortas acima ao som de Charles Mingus, Manguebit e Gangsta Rap.

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Desfile de 2012 do Bloco Fogo e Paixão que foi coletivamente financiado no Catarse. Crédito: Eduardo Leite Desfile de 2012 do Bloco Fogo e Paixão que foi coletivamente financiado no Catarse. Crédito: Eduardo Leite

A categoria com maior taxa de sucesso do Catarse é a de Carnaval. Todos os 11 blocos carnavalescos que já passaram pela plataforma conseguiram atingir as metas de arrecadação. Para nós, esse dado faz todo o sentido: é uma festa coletiva por essência. De pequenos cordões a desfiles de escolas de samba, são todas experiências colaborativas fruto do trabalho conjunto dos seus integrantes. Esse esforço coletivo sempre se estendeu até o próprio financiamento das atividades.

A prática dos próprios foliões botarem a mão no bolso e passarem o chapéu ainda é muito comum no Carnaval, principalmente entre os blocos de rua mais intimistas e outros tradicionais que prezam pela independência. O financiamento coletivo surge como uma forma de esticar o chapéu para mais distante. É dar a todos os foliões que já pulam atrás do bloco mas ainda não fazem parte do seu dia-a-dia a oportunidade de participar ativamente da realização da festa.

Com o nome retirado do título de uma canção do Wando, o primeiro bloco a realizar uma financiamento coletivo na história do Catarse foi o Fogo e Paixão. Após os integrantes bancarem sozinhos o primeiro desfile do bloco brega, eles perceberam que para o próximo ano poderiam contar com uma participação mais ativa dos foliões e optaram pelo financiamento coletivo. A meta era arrecadar R$ 9.000, cerca de 50% do valor necessário para o cortejo.

Para atingir seu objetivo, o Fogo e Paixão teve um reforço de peso na campanha: o muso inspirador Wando. O cantor contribuiu diretamente para campanha no Catarse. Além de estrelar o vídeo do projeto, ele também autografou calcinhas que foram distribuídas como recompensas para os apoiadores do projeto.

Infelizmente, Wando teve de ser internado em estado grave enquanto o projeto ainda estava no ar. O ídolo brega sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu no dia 8 de fevereiro de 2012, menos de um mês antes do Carnaval. As calcinhas autografadas talvez tenham sido a última oportunidade do cantor presentear seus fãs. Mais do que um desfile de bloco, o Fogo e Paixão daquele ano foi uma linda homenagem coletiva a Wando e sua obra.

Bob Marley foi outro ídolo musical  homenageado carnavalescamente através de um financiamento coletivo. A mistura do samba da bateria do bloco Unidos Venceremos com o reggae da big band Soul Shakers e uma grande dose de disposição de todo mundo que queria agitar o Carnaval paulistano resultou na ideia de criar o bloco de samba-reggae Kaya na Gandaia.

Os instrumentos, camisetas, estandartes e outros adereços do Kaya foram comprados com os mais de R$ 3.000 angariados através do Catarse. A campanha também foi fundamental na divulgação do bloco. Mobilizou uma rede de pessoas em torno do Kaya na Gandaia antes mesmo do seu primeiro desfile. Segundo eles, “o financiamento coletivo permitiu que o bloco já nascesse grande”.

O sucesso do projeto fez com que eles voltassem ao Catarse um ano depois com um novo e mais ambicioso projeto: a compra de uma kombi-palco para o desfile do bloco e outras manifestações políticas e culturais pelas ruas de SP. Arrecadaram mais do que o quádruplo do valor obtido para o primeiro projeto e bateram a meta de R$ 18 mil. Falamos recentemente aqui no blog desse projeto e de outras iniciativas que envolviam kombis e financiamento coletivo.

Kaya O Bloco Kaya na Gandaia toca no Holi Festival das Cores, em São Paulo. Fotos: Guilherme Castoldi

Além de uma forma de financiamento, o crowdfunding é uma maneira de garantir a gratuidade da festa e a permanência do espírito anárquico e democrático característico da orgia de Momo. Subverter o caminho industrializado e segregacionista que acomete a folia em alguns casos. O Carnaval de Salvador, por exemplo, é conhecido por seus gigantescos trios elétricos conduzidos por famosos artistas e as cordas que separam quem comprou o abadá dos chamados “pipocas”. Em meio a essa enorme indústria, existe também o Microtrio, um bloco que desfila em cima do “menor trio elétrico do Brasil” montado em cima de um Fiat Estrada adaptado.

O Microtrio existe desde 1996. Sempre desfilando sem cordas e priorizando a qualidade do som em vez de seu volume. Em 2012, enfrentaram dificuldades financeiras para arcar com os custos do bloco. Uma semana antes do Carnaval, anunciaram que não conseguiriam desfilar naquele ano. Nesse momento, um grupo de foliões se uniu para através das mídias sociais arrecadar recursos para viabilizar uma democrática opção da festa baiana. A campanha recebeu o nome de “Pagando o Micro” e foi criada uma conta exclusiva para receber as doações. A mobilização chamou a atenção do programa Roda Baiana, da rádio Metrópole, que aderiu a causa, e também empresa de comunicação Leiaute, que resolveu patrocinar o desfile do trio.

Ao perceber o potencial da ajuda financeira dos próprios foliões na realização do Microtrio, o bloco se preparou e amadureceu a ideia para o Carnaval de 2013, quando iniciaram uma campanha de financiamento coletivo no Catarse. Os mais de R$ 20 mil arrecadados foram o suficiente para financiar dois cortejos do menor trio elétrico do Brasil.

Aparelinho O desfile do Aparelinho em Brasília em 2013

Também tivemos o prazer de receber em nossa plataforma o também motorizado bloco Aparelhinho. Nele, os DJs do Coletivo Criolina percorrem as ruas e praças de Brasília comandando o som de um carrinho elétrico equipado com gerador, caixas de som e mesa de mixagem.

Após o primeiro Carnaval em atividade graças ao equipamento emprestado por amigos, o Aparelhinho precisava de uma atualização para atender ao crescente número de foliões sem deixar de ser gratuito. O meio encontrado foi pedir apoio da galera através do financiamento coletivo. Com os R$ 25 mil arrecadados no Catarse, o carrinho vai ser tunado com caixas amplificadas mais potentes, itens de iluminação e alegoria, além de um reforço no chassi. O primeiro desfile após a reforma será no Carnaval de 2014.

Além desses outros blocos ajudaram a construir a história de sucesso da categoria Carnaval no Catarse. Foi através da nossa plataforma que o Puxa Que é Peruca conseguiu viabilizar o seu primeiro desfile, o Multibloco conseguiu a compra do seu próprio sistema de som que já está em plena atividades nas batucadas do grupo, a Apafunk conseguiu a compra dos instrumentos para realizar seus ensaios, e os cortejos do Lira da Vila, Batukaje e Bloco da GB foram financiados.

Acreditamos que ainda há muito potencial para ser explorado pelos blocos e foliões. A força do financiamento coletivo pode resultar em muitos projetos criativos e ousados e na manutenção do caráter democrático da maior festa do Brasil. No Carnaval de 2014, bote um um bloco, uma fantasia ou uma ideia louca na rua.

 

 

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