Crowdfunding e Política: futuro promissor

Todos já estão carecas de saber que Obama usou e abusou de crowdfunding para financiar a sua campanha eleitoral de 2008, levantando cerca de meio bilhão de dólares (!!!!!) . Ele contou com ajuda financeira de quase 4 milhões de pessoas que, em média, contribuíram com 80 dólares cada. Não me arriscaria muito se afirmasse que este é um dos cases de maior sucesso desse modelo de arrecadação. O interessante é notar, apesar do óbvio, que o objetivo principal da campanha era político. Ou seja, não se tratava de uma pré-venda de algum produto, o que já é bem comum nas plataformas como Kickstarter e tem causado discussões, muito menos de um projeto artístico ou criativo. No caso do presidente americano, as pessoas contribuíram por considerar a recompensa algo implícito no próprio ato de participar.

Aqui no Brasil o modelo de crowdfunding para campanhas eleitorais ainda está engatinhando, mas já temos alguns candidatos usando o recurso. No Rio de Janeiro, por exemplo, candidato a Prefeito, Marcelo Freixo, pode ser apoiado financeiramente no seu site de campanha. O político Ricardo Young arrecadou R$ 6.500 no Facebook (se alguém souber de mais candidatos partindo para crowdfunding, não hesite em comentar que eu incluo aqui no post). Por isso, a tendência é que o modelo evolua. Nas próximas eleições veremos bem mais candidatos buscando recursos diretamente com as respectivas bases eleitorais.

Permanecendo ainda no campo das eleições, não só os políticos se beneficiam do financiamento colaborativo. Existem outras facetas interessantes dessa aliança entre o crowdfunding e a política. Dois projetos que passaram por aqui, por exemplo, abordaram o tema das eleições este ano.

O site Repolítica, na ativa desde as últimas eleições, ganhou uma repaginada de 30 mil reais após uma campanha no Catarse. A proposta da plataforma é ajudar as pessoas a escolher o político mais adequado ao seu perfil, através de uma série de perguntas e com base na resposta de outros usuários. O site vai evoluindo junto com seu público e mantém fichas atualizadas da maioria dos políticos na ativa. Várias dessas novas features foram viabilizadas pelas pessoas que apoiaram a plataforma. A campanha ofereceu recompensas bacanas, mas aí, mais uma vez, vemos que o esperado era mesmo um retorno político. Vale a lida no depoimento que eles publicaram aqui no Blog sobre como foi a experiência da campanha de financiamento colaborativo por aqui.

Um outro projeto com a temática das eleições foi o Cidadonos Eleições, realizado pelo movimento Voto Consciente Jundiaí. O projeto captou recursos para sabatinar os candidatos da cidade, imprimir as Fichas Públicas com as informações e compromissos sobre os políticos e distribuí-las. O projeto, que oferecia créditos no site da iniciativa e as Fichas Públicas para distribuição como recompensa, ultrapassou a sua meta de arrecadação e captou mais de 25 mil reais, dos 22 solicitados.

Ou seja, crowdfunding não se resume às recompensas, assim como política não se resume às eleições. Muitas reivindicações sempre foram possíveis somente graças às contribuições de partidários de uma causa (até os partidos políticos, em sua origem, vivem do financiamento de seus associados, o que em tese é uma prática de financiamento coletivo). O crowdfunding é uma ferramenta e tanto para acelerar essas reivindicações, viabilizando marchas, encontros e eventos de mais diversas matizes:

 

 

 

 

A Marcha da Maconha de São Paulo deste ano foi financiada por crowdfunding.

No ano passado, ativistas brasileiras conseguiram participar da Marcha Mundial das Mulheres nas Filipinas com ajuda de 132 apoiadores.

 

 

 

 

 

Pessoas de todo Brasil viabilizaram  e divulgaram o Primeiro Fórum Mundial da Bicicleta em Porto Alegre.

Incríveis 3638 apoiadores ajudaram a trazer ativistas e militantes para a Cúpula dos Povos, que aconteceu em paralelo à Rio +20.

 

E não só eventos e marchas podem ser objetos de apoio da multidão. Os espanhóis, nesse ano de crise, usaram a plataforma Goteo (que aliás abriga uma série de projetos sociais bem interessantes) para arrecadar fundos com intuito de mover um processo contra Rodrigo Rato, ex-presidente de um dos maiores bancos daquele país a falir recentemente, o Bankia. (quem quiser se inteirar do caso também pode visitar a página do movimento 15MpaRato, que organizou a campanha).

Enfim, existem muitas formas de organização política, muitas reivindicações e formas de reivindicações. Não conseguirei listar tudo o que existe sobre política e crowdfunding em um só post. Na verdade, a rigor, todo crowdfunding poderia ser considerado político, dependendo da perspectiva. Por isso basicamente optei por três recortes: eleições, eventos políticos e plataformas para diálogo político. Ou seja, projetos que são considerados uma recompensa em si. Nesse último perfil eu citaria o Portal Tellus Inspira, recentemente ilustrado em um post aqui do blog, e  cuja campanha no Catarse também foi bem interessante.  Vale falar também do projeto Imagina na Copa, que acabou de ser bem sucedido aqui no site. O primeiro promove um diálogo da população, especialistas e governo. O segundo brinca com o chavão clássico sobre a Copa do Mundo e procura dar uma conotação positiva ao mesmo ao propor formar redes de pessoas interessadas em projetos comuns, em diversas cidades, para atuação em conjunto. Veja só como funciona:

Os dois projetos mesclam o crowdfunding e crowdsourcing, para deste modo chamar as pessoas à ação e ao diálogo. Em post anterior mencionei a mesma fórmula ao me referir às plataformas que adotam crowdfunding para gestão urbana. Apesar de estar me repetindo, é quase inevitável não tocar nesse tema novamente. Crowdfunding é uma das formas de crowdsourcing e, nada mais natural, do que mesclar crowdsourcing financeiro com crowdsourcing de ideias. Na prática, a mistura tem se mostrado promissora e muitos projetos e plataformas tendem ou passarão a tender para essa configuração.

Também vale notar que muitos projetos, além do financiamento propriamente dito, buscam aumentar, e aumentam de fato, as suas redes de contatos. Este é o resultado de uma campanha bem articulada, onde os realizadores, ao divulgarem o projeto no Catarse,  quase sempre acabam chamando atenção para as suas iniciativas para além do financiamento, seja ele um site, um movimento ou uma intervenção urbana.   E esse aspecto do crowdfunding é muito valioso, pois propicia que  idéias inovadoras agora possam ser testadas por um target group bem selecionado. E apesar disso não ser uma exclusividade para projetos que mexem com política, este efeito, sem dúvida, é de extremo valor para quaisquer iniciativas desse cunho.

Ou seja, o crowdfunding tem potencial para ser um dos catalizadores políticos mais recorrentes e interessantes nos próximos tempos, até porque, onde tem financiamento, tem política.

Por George Yurievitch (@yurievitch)

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Crowdfunding e Política: futuro promissor

Todos já estão carecas de saber que Obama usou e abusou de crowdfunding para financiar a sua campanha eleitoral de 2008, levantando cerca de meio bilhão de dólares (!!!!!) . Ele contou com ajuda financeira de quase 4 milhões de pessoas que, em média, contribuíram com 80 dólares cada. Não me arriscaria muito se afirmasse que este é um dos cases de maior sucesso desse modelo de arrecadação. O interessante é notar, apesar do óbvio, que o objetivo principal da campanha era político. Ou seja, não se tratava de uma pré-venda de algum produto, o que já é bem comum nas plataformas como Kickstarter e tem causado discussões, muito menos de um projeto artístico ou criativo. No caso do presidente americano, as pessoas contribuíram por considerar a recompensa algo implícito no próprio ato de participar.

Aqui no Brasil o modelo de crowdfunding para campanhas eleitorais ainda está engatinhando, mas já temos alguns candidatos usando o recurso. No Rio de Janeiro, por exemplo, candidato a Prefeito, Marcelo Freixo, pode ser apoiado financeiramente no seu site de campanha. O político Ricardo Young arrecadou R$ 6.500 no Facebook (se alguém souber de mais candidatos partindo para crowdfunding, não hesite em comentar que eu incluo aqui no post). Por isso, a tendência é que o modelo evolua. Nas próximas eleições veremos bem mais candidatos buscando recursos diretamente com as respectivas bases eleitorais.

Permanecendo ainda no campo das eleições, não só os políticos se beneficiam do financiamento colaborativo. Existem outras facetas interessantes dessa aliança entre o crowdfunding e a política. Dois projetos que passaram por aqui, por exemplo, abordaram o tema das eleições este ano.

O site Repolítica, na ativa desde as últimas eleições, ganhou uma repaginada de 30 mil reais após uma campanha no Catarse. A proposta da plataforma é ajudar as pessoas a escolher o político mais adequado ao seu perfil, através de uma série de perguntas e com base na resposta de outros usuários. O site vai evoluindo junto com seu público e mantém fichas atualizadas da maioria dos políticos na ativa. Várias dessas novas features foram viabilizadas pelas pessoas que apoiaram a plataforma. A campanha ofereceu recompensas bacanas, mas aí, mais uma vez, vemos que o esperado era mesmo um retorno político. Vale a lida no depoimento que eles publicaram aqui no Blog sobre como foi a experiência da campanha de financiamento colaborativo por aqui.

Um outro projeto com a temática das eleições foi o Cidadonos Eleições, realizado pelo movimento Voto Consciente Jundiaí. O projeto captou recursos para sabatinar os candidatos da cidade, imprimir as Fichas Públicas com as informações e compromissos sobre os políticos e distribuí-las. O projeto, que oferecia créditos no site da iniciativa e as Fichas Públicas para distribuição como recompensa, ultrapassou a sua meta de arrecadação e captou mais de 25 mil reais, dos 22 solicitados.

Ou seja, crowdfunding não se resume às recompensas, assim como política não se resume às eleições. Muitas reivindicações sempre foram possíveis somente graças às contribuições de partidários de uma causa (até os partidos políticos, em sua origem, vivem do financiamento de seus associados, o que em tese é uma prática de financiamento coletivo). O crowdfunding é uma ferramenta e tanto para acelerar essas reivindicações, viabilizando marchas, encontros e eventos de mais diversas matizes:

 

 

 

 

A Marcha da Maconha de São Paulo deste ano foi financiada por crowdfunding.

No ano passado, ativistas brasileiras conseguiram participar da Marcha Mundial das Mulheres nas Filipinas com ajuda de 132 apoiadores.

 

 

 

 

 

Pessoas de todo Brasil viabilizaram  e divulgaram o Primeiro Fórum Mundial da Bicicleta em Porto Alegre.

Incríveis 3638 apoiadores ajudaram a trazer ativistas e militantes para a Cúpula dos Povos, que aconteceu em paralelo à Rio +20.

 

E não só eventos e marchas podem ser objetos de apoio da multidão. Os espanhóis, nesse ano de crise, usaram a plataforma Goteo (que aliás abriga uma série de projetos sociais bem interessantes) para arrecadar fundos com intuito de mover um processo contra Rodrigo Rato, ex-presidente de um dos maiores bancos daquele país a falir recentemente, o Bankia. (quem quiser se inteirar do caso também pode visitar a página do movimento 15MpaRato, que organizou a campanha).

Enfim, existem muitas formas de organização política, muitas reivindicações e formas de reivindicações. Não conseguirei listar tudo o que existe sobre política e crowdfunding em um só post. Na verdade, a rigor, todo crowdfunding poderia ser considerado político, dependendo da perspectiva. Por isso basicamente optei por três recortes: eleições, eventos políticos e plataformas para diálogo político. Ou seja, projetos que são considerados uma recompensa em si. Nesse último perfil eu citaria o Portal Tellus Inspira, recentemente ilustrado em um post aqui do blog, e  cuja campanha no Catarse também foi bem interessante.  Vale falar também do projeto Imagina na Copa, que acabou de ser bem sucedido aqui no site. O primeiro promove um diálogo da população, especialistas e governo. O segundo brinca com o chavão clássico sobre a Copa do Mundo e procura dar uma conotação positiva ao mesmo ao propor formar redes de pessoas interessadas em projetos comuns, em diversas cidades, para atuação em conjunto. Veja só como funciona:

Os dois projetos mesclam o crowdfunding e crowdsourcing, para deste modo chamar as pessoas à ação e ao diálogo. Em post anterior mencionei a mesma fórmula ao me referir às plataformas que adotam crowdfunding para gestão urbana. Apesar de estar me repetindo, é quase inevitável não tocar nesse tema novamente. Crowdfunding é uma das formas de crowdsourcing e, nada mais natural, do que mesclar crowdsourcing financeiro com crowdsourcing de ideias. Na prática, a mistura tem se mostrado promissora e muitos projetos e plataformas tendem ou passarão a tender para essa configuração.

Também vale notar que muitos projetos, além do financiamento propriamente dito, buscam aumentar, e aumentam de fato, as suas redes de contatos. Este é o resultado de uma campanha bem articulada, onde os realizadores, ao divulgarem o projeto no Catarse,  quase sempre acabam chamando atenção para as suas iniciativas para além do financiamento, seja ele um site, um movimento ou uma intervenção urbana.   E esse aspecto do crowdfunding é muito valioso, pois propicia que  idéias inovadoras agora possam ser testadas por um target group bem selecionado. E apesar disso não ser uma exclusividade para projetos que mexem com política, este efeito, sem dúvida, é de extremo valor para quaisquer iniciativas desse cunho.

Ou seja, o crowdfunding tem potencial para ser um dos catalizadores políticos mais recorrentes e interessantes nos próximos tempos, até porque, onde tem financiamento, tem política.

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