Financiamento coletivo e a quebra</br>dos estereótipos femininos

Beleza Real Luta

Quando ganhou uma linda boneca gordinha e a apelidou carinhosamente de “Negahamburguer”, a pequena Evelyn nem imaginava que ela a inspiraria a criar o projeto Beleza Real para apresentar, por meio de intervenções urbanas, livros, objetos e outras ações, histórias de mulheres que sofreram algum tipo de discriminação por pressões de padrões sociais de beleza. Tampouco podia imaginar que anos mais tarde quase 700 pessoas se identificariam tanto com a ideia que juntariam R$ 40 mil para que ela fizesse um livro de ilustrações baseado em relatos de mulheres que buscam a liberdade de viver suas próprias belezas livres de padrões e preconceitos.

 

Recusada por algumas editoras, o financiamento coletivo no Catarse se mostrou a melhor forma de arrecadar a verba para a iniciativa não somente por ser uma alternativa menos burocrática, mais ágil e independente, mas por ter como base de apoio as pessoas que acreditavam na importância da mensagem de Negahamburguer.

Assim como o Beleza Real, muitos dos projetos financiados no Catarse que discutem padrões estéticos e comportamentais da sociedade foram recusados anteriormente por editoras, produtoras ou formas tradicionais de financiamento. Algumas empresas têm medo de se associar a temas e abordagens polêmicas. Outras não querem se arriscar a fugir das fórmulas do grande mercado porque precisam de um retorno comercial de ampla escala.

A internet permitiu que produtos de nicho emergissem no mar de massificação e padronização. A Cauda Longa, termo popularizado por Chris Anderson em um artigo na revista Wired em outubro de 2004 e em subsequente livro homônimo, possibilita que, em vez de todas as pessoas terem acesso aos mesmos poucos e populares produtos, também seja oferecida uma infinidade de produtos em pequenas quantidades para interesses específicos.

O financiamento coletivo se prolifera na cauda longa ao permitir que a quantia mínima de dinheiro para a realização de todo o tipo de ideia seja reunido por pessoas interessadas na execução de cada projeto. Aqui no Catarse pessoas se encontram para quebrar estereótipos femininos e amplificar seu grito de liberdade.

Cena da peça Tem Alguém Que Nos Odeia Cena da peça Tem Alguém Que Nos Odeia

No final de novembro terminou em São Paulo a temporada da peça “Tem Alguém que Nos Odeia”, elogiada por crítica e público e financiada coletivamente via Catarse. O projeto produzido e estrelado por Ana Paula Grande e Bruna Anauate há dois anos havia sido aprovado para captar recursos em empresas privadas pela Lei Rouanet, mas o enredo sobre uma relação lésbica afastou os potenciais patrocinadores. Nem mesmo o texto do espetáculo ter sido finalista no Prêmio Luso-brasileiro de Dramaturgia José da Silva incentivou que as empresas financiassem a produção. Os executivos e diretores de marketing não quiseram associar suas marcas a uma peça que fala sobre lesbianismo e critica a homofobia. Mais de 300 pessoas não concordaram com essa visão e contribuíram com quase R$ 30 mil para a realização da peça. O sucesso do financiamento coletivo no Catarse mostrou que empresas podem ter medo de apoiar obras com temática gay, o público não.

Os padrões de beleza feminina impostos na fotografia e aplicados via Photoshop nas publicações de massa também foram debatidos em um projeto hospedado no Catarse. Durante mais de um ano Jorge Bispo clicou mulheres comuns nuas na sala do seu apartamento. Foram retratadas como realmente são: sem maquiagens ou amarras, em fotografias que afirmam a normalidade e rechaçam o falseamento dos tratamentos de imagem. Uma pequena trincheira na luta pela valorização da beleza da mulher independente da ditadura estética imposta pelos meios de comunicação. Uma pequena trincheira que conseguiu abrigar 450 pessoas com quase R$ 39 mil para fazer o livro do projeto Apartamento 302.

O livro infantil Uma História Mais ou Menos Parecida é uma releitura do clássico Branca de Neve e os sete anões, mas a protagonista é uma linda princesa negra. A opção que vai contra o estereótipo de princesas brancas, com ascendência europeia e cabelos lisos que dominam os contos de fadas encontrou eco no peito de 240 apoiadores que juntos financiaram a publicação da obra com R$ 12.600.

Um dos princípios do Catarse é “Disrupção sobre Status Quo”. Ficamos muito felizes quando vemos vozes dissonantes usarem a plataforma como ferramenta para aumentar o coro pela mudança.
Anthony Ravoni
Consultor de Mídias Sociais e Captação de Recursos. Provavelmente escreveu as linhas tortas acima ao som de Charles Mingus, Manguebit e Gangsta Rap.

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Financiamento coletivo e a quebra</br>dos estereótipos femininos

Beleza Real Luta

Quando ganhou uma linda boneca gordinha e a apelidou carinhosamente de “Negahamburguer”, a pequena Evelyn nem imaginava que ela a inspiraria a criar o projeto Beleza Real para apresentar, por meio de intervenções urbanas, livros, objetos e outras ações, histórias de mulheres que sofreram algum tipo de discriminação por pressões de padrões sociais de beleza. Tampouco podia imaginar que anos mais tarde quase 700 pessoas se identificariam tanto com a ideia que juntariam R$ 40 mil para que ela fizesse um livro de ilustrações baseado em relatos de mulheres que buscam a liberdade de viver suas próprias belezas livres de padrões e preconceitos.

 

Recusada por algumas editoras, o financiamento coletivo no Catarse se mostrou a melhor forma de arrecadar a verba para a iniciativa não somente por ser uma alternativa menos burocrática, mais ágil e independente, mas por ter como base de apoio as pessoas que acreditavam na importância da mensagem de Negahamburguer.

Assim como o Beleza Real, muitos dos projetos financiados no Catarse que discutem padrões estéticos e comportamentais da sociedade foram recusados anteriormente por editoras, produtoras ou formas tradicionais de financiamento. Algumas empresas têm medo de se associar a temas e abordagens polêmicas. Outras não querem se arriscar a fugir das fórmulas do grande mercado porque precisam de um retorno comercial de ampla escala.

A internet permitiu que produtos de nicho emergissem no mar de massificação e padronização. A Cauda Longa, termo popularizado por Chris Anderson em um artigo na revista Wired em outubro de 2004 e em subsequente livro homônimo, possibilita que, em vez de todas as pessoas terem acesso aos mesmos poucos e populares produtos, também seja oferecida uma infinidade de produtos em pequenas quantidades para interesses específicos.

O financiamento coletivo se prolifera na cauda longa ao permitir que a quantia mínima de dinheiro para a realização de todo o tipo de ideia seja reunido por pessoas interessadas na execução de cada projeto. Aqui no Catarse pessoas se encontram para quebrar estereótipos femininos e amplificar seu grito de liberdade.

Cena da peça Tem Alguém Que Nos Odeia Cena da peça Tem Alguém Que Nos Odeia

No final de novembro terminou em São Paulo a temporada da peça “Tem Alguém que Nos Odeia”, elogiada por crítica e público e financiada coletivamente via Catarse. O projeto produzido e estrelado por Ana Paula Grande e Bruna Anauate há dois anos havia sido aprovado para captar recursos em empresas privadas pela Lei Rouanet, mas o enredo sobre uma relação lésbica afastou os potenciais patrocinadores. Nem mesmo o texto do espetáculo ter sido finalista no Prêmio Luso-brasileiro de Dramaturgia José da Silva incentivou que as empresas financiassem a produção. Os executivos e diretores de marketing não quiseram associar suas marcas a uma peça que fala sobre lesbianismo e critica a homofobia. Mais de 300 pessoas não concordaram com essa visão e contribuíram com quase R$ 30 mil para a realização da peça. O sucesso do financiamento coletivo no Catarse mostrou que empresas podem ter medo de apoiar obras com temática gay, o público não.

Os padrões de beleza feminina impostos na fotografia e aplicados via Photoshop nas publicações de massa também foram debatidos em um projeto hospedado no Catarse. Durante mais de um ano Jorge Bispo clicou mulheres comuns nuas na sala do seu apartamento. Foram retratadas como realmente são: sem maquiagens ou amarras, em fotografias que afirmam a normalidade e rechaçam o falseamento dos tratamentos de imagem. Uma pequena trincheira na luta pela valorização da beleza da mulher independente da ditadura estética imposta pelos meios de comunicação. Uma pequena trincheira que conseguiu abrigar 450 pessoas com quase R$ 39 mil para fazer o livro do projeto Apartamento 302.

O livro infantil Uma História Mais ou Menos Parecida é uma releitura do clássico Branca de Neve e os sete anões, mas a protagonista é uma linda princesa negra. A opção que vai contra o estereótipo de princesas brancas, com ascendência europeia e cabelos lisos que dominam os contos de fadas encontrou eco no peito de 240 apoiadores que juntos financiaram a publicação da obra com R$ 12.600.

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