O Catarse em São Francisco e o impacto em comunidades de baixa renda

Campanha da Wikipedia Zero em Nairobi / Foto por Omaranabulsi

A maior enciclopédia do mundo se expande exponencialmente na África subsaariana e no sudoeste da Ásia graças ao programa Wikipedia Zero, que estabelece parcerias com empresas de telecomunicações locais para reduzir a zero o custo de acesso móvel às suas páginas. A plataforma aberta de inovação OpenIDEO une pessoas, inspirações, ideias e opiniões do mundo todo para resolver questões sociais.

Essas iniciativas e o Catarse estiveram juntas recentemente num evento prévio à conferência SOCAP 2013, realizada em São Francisco entre 3 e 6 de setembro. O objetivo do encontro era criar um ambiente para que essas iniciativas trocassem experiências sobre como a economia colaborativa pode ser uma força eficiente para impactar comunidades de baixa renda e a chamada base da pirâmide, 4 bilhões de pessoas no mundo que ganham até US$ 5 por dia.

A conferência Socap aconteceu no Fort Mason, em São Francisco A conferência Socap aconteceu no Fort Mason, em São Francisco

Além de ser a maior plataforma de financiamento coletivo do Brasil, o Catarse despertou interesse de instituições estrangeiras por causa de uma categoria em especial que o diferencia de outros grandes sites de crowdfunding. A categoria Comunidade, inexistente, por exemplo, no Kickstarter, é a terceira maior do Catarse em total arrecadado. Já são 100 projetos, 45 bem-sucedidos e 7.300 apoiadores que contribuíram com mais de R$ 900 mil.

Entre as razões para a expressividade dessa categoria, a primeira delas é o próprio surgimento da plataforama. O que veio a se tornar o Catarse começou a ser concebido em discussões coletivas e abertas no blog crowdfunding BR. Meses depois, o site foi para o ar com uma rede forte formada e com gosto por projetos de impacto e que provocam transformação. E esse tipo de iniciativa tinha muita carência de recursos devido ao desinteresse comercial e falta de opções de financiamento.

Entre os casos apresentados por nós no evento, estão o Pimp My Carroça, a Kombi para as mulheres da Associação Agroecológica, o jornal comunitário da Cidade de Deus, o Teto para o Jardim Gramacho e o Imagina na Copa, que esteve entre os 64 finalistas do prêmio World Summit Youth Award da ONU.  

Apesar de algumas bem-sucedidas exceções, identificamos que a maioria dos projetos que impactam as comunidades de baixa renda são propostos e financiados por pessoas de fora. O financiamento coletivo em si, por inicialmente mobilizar pessoas de um círculo próximo ao do realizador da ação, demanda uma determinada receita do entorno.

Ainda estamos em busca de respostas para ajudar a empoderar a base da pirâmide para pensar os seus próprios problemas e entender as ferramentas disponíveis. Sabemos que a chave da questão passa por uma ampla inclusão digital do país. Somos 190 milhões de brasileiros, cerca de 56 milhões de usuários ativos de internet e 22 milhões com velocidade acima de 2Mbps. O acesso ainda é restrito quando pensamos em Brasil. Os 83 mil apoiadores do Catarse ainda são poucos quando pensamos nos milhões de pessoas com acesso à internet no país.

Autores do projeto de redes de celulares comunitárias em reunião com autoridades em Oxaca, no México Autores do projeto de redes de celulares comunitárias em reunião com autoridades em Oaxaca, no México

Uma possibilidade real é explorar o acesso e meios de pagamentos móveis. Em agosto no Brasil, são quase 270 milhões de celulares, uma densidade de 1,35 celular por habitante. Como exemplo de ação que visa desenvolver esse potencial, há o projeto em campanha no Indiegogo para desenvolver redes de celular comunitárias em vilas comercialmente desinteressantes no México.

O encontro foi organizado pela NESsT, organização que desenvolve negócios sociais sustentáveis ​​que resolvam problemas críticos nas economias de mercado emergentes, e pelo IDRC (International Development Research Centre), centro canadense de pesquisa para ajudar países em desenvolvimento a encontrar soluções para seus problemas.

O Catarse e a NESsT têm um histórico de colaboração. Fomos parceiros institucionais no Fórum Mundial de Negócios Sociais, ocorrido no Rio de Janeiro em outubro de 2012, e em abril de 2013 o Catarse marcou presença como um dos palestrantes em um evento também organizado pela NESsT e IDRC, que compunha a Info25, conferência sobre a sociedade da informação na América Latina.

Em São Francisco as duas instituições apresentaram o resultado de uma ampla pesquisa sobre o poder da economia colaborativa digital, na qual estudaram casos que vão desde o surgimento da plataforma de empréstimos para alívio da pobreza Kiva em 2005 até a criação em 2012 da M-Changa, primeira plataforma de crowdfunding do Kenia baseada em SMS. Vale a leitura para entender como economia colaborativa digital pode ser um novo modelo de desenvolvimento.

 

 
Felipe Caruso
Missionário do coletivismo e jornalista com doses de poesia, ceticismo e pragmatismo

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A maior enciclopédia do mundo se expande exponencialmente na África subsaariana e no sudoeste da Ásia graças ao programa Wikipedia Zero, que estabelece parcerias com empresas de telecomunicações locais para reduzir a zero o custo de acesso móvel às suas páginas. A plataforma aberta de inovação OpenIDEO une pessoas, inspirações, ideias e opiniões do mundo todo para resolver questões sociais.

Essas iniciativas e o Catarse estiveram juntas recentemente num evento prévio à conferência SOCAP 2013, realizada em São Francisco entre 3 e 6 de setembro. O objetivo do encontro era criar um ambiente para que essas iniciativas trocassem experiências sobre como a economia colaborativa pode ser uma força eficiente para impactar comunidades de baixa renda e a chamada base da pirâmide, 4 bilhões de pessoas no mundo que ganham até US$ 5 por dia.

A conferência Socap aconteceu no Fort Mason, em São Francisco A conferência Socap aconteceu no Fort Mason, em São Francisco

Além de ser a maior plataforma de financiamento coletivo do Brasil, o Catarse despertou interesse de instituições estrangeiras por causa de uma categoria em especial que o diferencia de outros grandes sites de crowdfunding. A categoria Comunidade, inexistente, por exemplo, no Kickstarter, é a terceira maior do Catarse em total arrecadado. Já são 100 projetos, 45 bem-sucedidos e 7.300 apoiadores que contribuíram com mais de R$ 900 mil.

Entre as razões para a expressividade dessa categoria, a primeira delas é o próprio surgimento da plataforama. O que veio a se tornar o Catarse começou a ser concebido em discussões coletivas e abertas no blog crowdfunding BR. Meses depois, o site foi para o ar com uma rede forte formada e com gosto por projetos de impacto e que provocam transformação. E esse tipo de iniciativa tinha muita carência de recursos devido ao desinteresse comercial e falta de opções de financiamento.

Entre os casos apresentados por nós no evento, estão o Pimp My Carroça, a Kombi para as mulheres da Associação Agroecológica, o jornal comunitário da Cidade de Deus, o Teto para o Jardim Gramacho e o Imagina na Copa, que esteve entre os 64 finalistas do prêmio World Summit Youth Award da ONU.  

Apesar de algumas bem-sucedidas exceções, identificamos que a maioria dos projetos que impactam as comunidades de baixa renda são propostos e financiados por pessoas de fora. O financiamento coletivo em si, por inicialmente mobilizar pessoas de um círculo próximo ao do realizador da ação, demanda uma determinada receita do entorno.

Ainda estamos em busca de respostas para ajudar a empoderar a base da pirâmide para pensar os seus próprios problemas e entender as ferramentas disponíveis. Sabemos que a chave da questão passa por uma ampla inclusão digital do país. Somos 190 milhões de brasileiros, cerca de 56 milhões de usuários ativos de internet e 22 milhões com velocidade acima de 2Mbps. O acesso ainda é restrito quando pensamos em Brasil. Os 83 mil apoiadores do Catarse ainda são poucos quando pensamos nos milhões de pessoas com acesso à internet no país.

Autores do projeto de redes de celulares comunitárias em reunião com autoridades em Oxaca, no México Autores do projeto de redes de celulares comunitárias em reunião com autoridades em Oaxaca, no México

Uma possibilidade real é explorar o acesso e meios de pagamentos móveis. Em agosto no Brasil, são quase 270 milhões de celulares, uma densidade de 1,35 celular por habitante. Como exemplo de ação que visa desenvolver esse potencial, há o projeto em campanha no Indiegogo para desenvolver redes de celular comunitárias em vilas comercialmente desinteressantes no México.

O encontro foi organizado pela NESsT, organização que desenvolve negócios sociais sustentáveis ​​que resolvam problemas críticos nas economias de mercado emergentes, e pelo IDRC (International Development Research Centre), centro canadense de pesquisa para ajudar países em desenvolvimento a encontrar soluções para seus problemas.

O Catarse e a NESsT têm um histórico de colaboração. Fomos parceiros institucionais no Fórum Mundial de Negócios Sociais, ocorrido no Rio de Janeiro em outubro de 2012, e em abril de 2013 o Catarse marcou presença como um dos palestrantes em um evento também organizado pela NESsT e IDRC, que compunha a Info25, conferência sobre a sociedade da informação na América Latina.

Em São Francisco as duas instituições apresentaram o resultado de uma ampla pesquisa sobre o poder da economia colaborativa digital, na qual estudaram casos que vão desde o surgimento da plataforma de empréstimos para alívio da pobreza Kiva em 2005 até a criação em 2012 da M-Changa, primeira plataforma de crowdfunding do Kenia baseada em SMS. Vale a leitura para entender como economia colaborativa digital pode ser um novo modelo de desenvolvimento.

 

 

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