Você decide, Nós investigamos

Por Natalia Viana, codiretora da Agência Pública

Em 2015, quando publicamos a reportagem “A Nova Roupa da Direita”, recebemos centenas de leitores recém-chegados à nossa página do Facebook, ainda incrédulos com as revelações. Seguindo a trilha do dinheiro, a nossa diretora de redação Marina Amaral descobriu que grupos que na época capitaneavam os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff se dizendo “indignados” com a corrupção, como o MBL, foram gestados por think tanks de ultradireita dos Estados Unidos.

Um deles quis desmerecer o trabalho de investigação, perguntando: afinal, QUEM financia a Agência Pública, a primeira agência de jornalismo investigativo do Brasil?

Outro leitor foi rápido a responder: “Eu. Fui eu que doei para o crowdfunding e fui eu que votei para essa reportagem ser feita”. É esse o espírito da Reportagem Pública, a campanha de financiamento coletivo da Agência Pública, que chega hoje à sua terceira edição. Nas duas edições anteriores, através de doações de mais de 1700 pessoas, conseguimos realizar 25 reportagens – muitas delas foram furos, como a citada acima, outras receberam prêmios nacionais e internacionais.

Um bom exemplo é a reportagem Dor em Dobro, feita por um trio de repórteres mulheres. A ideia que conquistou os leitores – ela foi a mais votada do mês – era simples. Elas queriam investigar se o direito ao aborto legal no Brasil é cumprido. Segundo a lei, as mulheres podem abortar se engravidaram de um estupro ou se o feto é anencefalo. Depois de três meses de investigação, elas descobriram que a rede pública de saúde consistentemente recusa esse direito, expondo as pacientes a violências, agressões e insegurança. A reportagem revelou que 67,4% das vítimas de violência sexual não tiveram seu direito respeitado. As reporteres ganharam dois prêmios: o SindhRio e o Prêmio Roche, da Fundação Gabriel García Márquez. Em 2016, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil para apurar a omissão do Estado nesses casos. O inquérito se baseia na reportagem “Dor em Dobro”. Além disso, uma leitora nos procurou para denunciar que o hospital da sua cidade estava negando o seu direito. Ela conseguiu afinal receber o tratamento garantido por lei em São Paulo.

Mas um dos relatos que mais me emociona sobre as edições anteriores do Reportagem Pública veio da Marina Dias, Coordenadora de Comunicação da Pública: “Trabalho na Agência Pública desde 2014. Entrei quando estávamos publicando as últimas matérias financiadas pela primeira edição da Reportagem Pública, projeto financiado por crowdfunding. Quando comecei a ler uma delas, sobre os carros Vectra que explodiam ou pegavam fogo devido a um defeito de fábrica não informado aos consumidores, senti calafrios. A denúncia era gravíssima, mas além disso, aquela história me era muito familiar. Em 2004, o Vectra da minha mãe pegou fogo. Meu pai e minha avó estavam no carro, mas ninguém se feriu. O seguro acusou uma pane elétrica, deu perda total, sem muitas explicações. Dez anos depois e graças a uma reportagem feita através da Reportagem Pública, fomos descobrir o que realmente aconteceu. Era defeito de fábrica e poderia ter sido trágico. Já tinha passado muito tempo desde o acidente para conseguirmos fazer algo. As fotos do carro pegando fogo sumiram na nossa mudança de casa. Mas de alguma forma, me confortou saber que depois da publicação da reportagem, o Ministério da Justiça passou a investigar a GM pelos defeitos de fábrica não informados. Eu não conheci a Pública a tempo de financiar essa reportagem, mas sou muito grata a quem financiou e escolheu”.

Vectra que explodiu em 8 de maio de 2009, na rodovia ES-060, no Espírito Santo Vectra que explodiu em 8 de maio de 2009, na rodovia ES-060, no Espírito Santo

Tudo isso demonstra o poder que tem o jornalismo investigativo, quando ele é pautado pelos próprios leitores. Afinal, a internet está cheia de notícias, comentários e opiniões. Tem muitos sites por aí. Mas o que ainda faz falta é jornalismo investigativo - aquele que cava documentos, denúncias e crimes escondidos. Estamos com a nossa terceira campanha aberta, e precisamos levantar R$ 80 mil até dia 27 de outubro. A partir de Novembro, quem doar vai poder decidir o que a Agência Pública vai investigar mês a mês.

Todo mês nossos repórteres vão propor três investigações sobre assuntos do momento e os doadores vão votar através de uma enquete enviada por email. Serão 8 reportagens investigativas financiadas.

Você decide, a Pública investiga.

Vamos nessa?

Captura de Tela 2017-09-25 às 14.06.58
Colaborador
Este texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)

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Por Natalia Viana, codiretora da Agência Pública

Em 2015, quando publicamos a reportagem “A Nova Roupa da Direita”, recebemos centenas de leitores recém-chegados à nossa página do Facebook, ainda incrédulos com as revelações. Seguindo a trilha do dinheiro, a nossa diretora de redação Marina Amaral descobriu que grupos que na época capitaneavam os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff se dizendo “indignados” com a corrupção, como o MBL, foram gestados por think tanks de ultradireita dos Estados Unidos.

Um deles quis desmerecer o trabalho de investigação, perguntando: afinal, QUEM financia a Agência Pública, a primeira agência de jornalismo investigativo do Brasil?

Outro leitor foi rápido a responder: “Eu. Fui eu que doei para o crowdfunding e fui eu que votei para essa reportagem ser feita”. É esse o espírito da Reportagem Pública, a campanha de financiamento coletivo da Agência Pública, que chega hoje à sua terceira edição. Nas duas edições anteriores, através de doações de mais de 1700 pessoas, conseguimos realizar 25 reportagens – muitas delas foram furos, como a citada acima, outras receberam prêmios nacionais e internacionais.

Um bom exemplo é a reportagem Dor em Dobro, feita por um trio de repórteres mulheres. A ideia que conquistou os leitores – ela foi a mais votada do mês – era simples. Elas queriam investigar se o direito ao aborto legal no Brasil é cumprido. Segundo a lei, as mulheres podem abortar se engravidaram de um estupro ou se o feto é anencefalo. Depois de três meses de investigação, elas descobriram que a rede pública de saúde consistentemente recusa esse direito, expondo as pacientes a violências, agressões e insegurança. A reportagem revelou que 67,4% das vítimas de violência sexual não tiveram seu direito respeitado. As reporteres ganharam dois prêmios: o SindhRio e o Prêmio Roche, da Fundação Gabriel García Márquez. Em 2016, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil para apurar a omissão do Estado nesses casos. O inquérito se baseia na reportagem “Dor em Dobro”. Além disso, uma leitora nos procurou para denunciar que o hospital da sua cidade estava negando o seu direito. Ela conseguiu afinal receber o tratamento garantido por lei em São Paulo.

Mas um dos relatos que mais me emociona sobre as edições anteriores do Reportagem Pública veio da Marina Dias, Coordenadora de Comunicação da Pública: “Trabalho na Agência Pública desde 2014. Entrei quando estávamos publicando as últimas matérias financiadas pela primeira edição da Reportagem Pública, projeto financiado por crowdfunding. Quando comecei a ler uma delas, sobre os carros Vectra que explodiam ou pegavam fogo devido a um defeito de fábrica não informado aos consumidores, senti calafrios. A denúncia era gravíssima, mas além disso, aquela história me era muito familiar. Em 2004, o Vectra da minha mãe pegou fogo. Meu pai e minha avó estavam no carro, mas ninguém se feriu. O seguro acusou uma pane elétrica, deu perda total, sem muitas explicações. Dez anos depois e graças a uma reportagem feita através da Reportagem Pública, fomos descobrir o que realmente aconteceu. Era defeito de fábrica e poderia ter sido trágico. Já tinha passado muito tempo desde o acidente para conseguirmos fazer algo. As fotos do carro pegando fogo sumiram na nossa mudança de casa. Mas de alguma forma, me confortou saber que depois da publicação da reportagem, o Ministério da Justiça passou a investigar a GM pelos defeitos de fábrica não informados. Eu não conheci a Pública a tempo de financiar essa reportagem, mas sou muito grata a quem financiou e escolheu”.

Vectra que explodiu em 8 de maio de 2009, na rodovia ES-060, no Espírito Santo Vectra que explodiu em 8 de maio de 2009, na rodovia ES-060, no Espírito Santo

Tudo isso demonstra o poder que tem o jornalismo investigativo, quando ele é pautado pelos próprios leitores. Afinal, a internet está cheia de notícias, comentários e opiniões. Tem muitos sites por aí. Mas o que ainda faz falta é jornalismo investigativo - aquele que cava documentos, denúncias e crimes escondidos. Estamos com a nossa terceira campanha aberta, e precisamos levantar R$ 80 mil até dia 27 de outubro. A partir de Novembro, quem doar vai poder decidir o que a Agência Pública vai investigar mês a mês.

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