Criadores Respondem: Ibrahim Cesar

A série Criadores Respondem dá hoje o seu segundo passo. Semana passada entrevistamos o pessoal do Rabiscaria. Hoje o entrevistado é Ibrahim Cesar, escritor responsável pelo projeto “Uma Breve História do Amor”.

1. É inevitável perguntar: o que te motivou a colocar o amor como ponto principal dessa história?

J.D. Salinger tinha uma frase que é a seguinte: “Hoje em dia existem muito poucos homens que amem desesperadamente.” Até o momento não posso dizer que isso seja essencialmente uma coisa boa, mas sou um deles.

2. Adoramos a ideia de colocar a história das pessoas que apoiam seu projeto dentro do próprio livro. Como você vai fazer para isso não pode comprometer a trama principal?

A narrativa em si é fragmentada e acomoda de forma orgânica diferentes pontos de vista e interlúdios dentro da estrutura narrativa. Não chega a ser tão radical quanto Almoço Nu do Burroughs, mas é um benchmaking para entender a mesma. A história principal envolve viagens no tempo graças ao Necronomicon, dinossauros, a criação do Big Bang e a protagonista chegando a ter poderes cósmico-divinos, então é minha tentativa de escrever uma espécie de épico metafísico sobre o amor. E tendo uma protagonista com apetite pantagruélico pelo conhecimento, a história incorpora diversas concepções e histórias célebres para tirar alguma lição delas, se é que isso é possível. Cada história de amor é única em si mesma, “eterna enquanto dura”, e merece ser registrada. Por que o amor entre Romeu e Julieta merece mais atenção que o seu ou o meu? Lógico que seria preciso escrever um livro com bilhões de narrativas para ser justo, mas sabendo que este objetivo é impossível, por que não abrir a possibilidade de incluir algumas histórias? Mesmo que eu não atinja o mínimo, e faço isso como promessa pública, colocarei a história de quem me auxiliou. É um livro que venho desenvolvendo há anos, e que espero seja tão importante para os leitores quanto é para mim.

E é claro, o desafio criativo de incluir as participações é uma grande motivador!

3. Como você o crowdfunding como alternativa para o jeitão tradicional de publicar livros?

Estamos no meio de uma grande mudança na leitura; acredito que, no futuro, o crowdfunding vai ser parte da equação da coisa. Iremos cada vez mais ver livros como processos e não como produtos. O Clay Shirky cita, em Here Comes Everybody, uma frase, que é: “Revoluções não acontecem quando a sociedade adota novas tecnologias, acontece quando ela adota novos comportamentos”. Hoje em dia, com o iPad, Kindle, web apps, etc. estamos vendo o florescimento de novas tecnologias de leitura e compartilhamento de conhecimento como nunca antes foi possível. Mas tecnologias por si só são inertes. Quando nós, como sociedade, absorvermos os novos comportamentos de consumo de livros digitais e histórias, veremos uma verdadeira revolução. Extensão, foco narrativo, estrutura, são condicionantes do meio. Logo, os escritores também precisarão descobrir novas formas de contar histórias, o que abre inúmeras possibilidades. Mas ainda acho que teremos edições de árvores mortas por muito tempo, e elas se tornaram cada vez mais objetos melhor acabados, com o propósito do deleite de seus donos. Afinal, sua interface tem uma ótima usabilidade e, o melhor, funciona sem bateria ou preciso estar conectado à web. Então, eu prevejo um ecossistema onde os escritores publicaram histórias em formato digital e capitalizando fãs; estes, em plataformas de crowdfunding, irão financiar as edições impressas de forma personalizada e com conteúdo exclusivo, etc. Pelo menos, vejo isso como um dos modelos de negócios viáveis da literatura nesse contexto de cultura da convergência. E isso é coisa para daqui poucos anos.

4. E você já descobriu por que aqui no Brasil não fazem essas edições de livros bonitonas, com um papel de melhor qualidade?

Aqui e ali aparecem alguns exemplares. A Cosac & Naify se esmera em todas as suas edições, sou realmente fã do trabalho deles. A Conrad fez uma edição muito bem acabada e produzida para o Sandman, quando relançou a versão definitiva. O que dificulta a produção de edições bem caprichada é a questão monetária. Mesmo o governo conferindo alguns benefícios fiscais para as editorias, não é fácil produzir um livro em uma realidade na qual as chapas para produzir os fotolitos e, muitas vezes, a tinta, é importada. Foi o principal motivo para o alto custo, segundo as gráficas que entrei em contato. Some aí o trabalho de encadernar (nem todas as gráficas possuem know how em livros), e outra é o número de exemplares. Se você roda um número reduzido de livros, você paga mais caro; só consegue reduzir seus custos unitários com números massivos, mas o mercado de massas muitas vezes não vai absorver o seu produto ou mesmo seja o seu objetivo.

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A série Criadores Respondem dá hoje o seu segundo passo. Semana passada entrevistamos o pessoal do Rabiscaria. Hoje o entrevistado é Ibrahim Cesar, escritor responsável pelo projeto “Uma Breve História do Amor”.

1. É inevitável perguntar: o que te motivou a colocar o amor como ponto principal dessa história?

J.D. Salinger tinha uma frase que é a seguinte: “Hoje em dia existem muito poucos homens que amem desesperadamente.” Até o momento não posso dizer que isso seja essencialmente uma coisa boa, mas sou um deles.

2. Adoramos a ideia de colocar a história das pessoas que apoiam seu projeto dentro do próprio livro. Como você vai fazer para isso não pode comprometer a trama principal?

A narrativa em si é fragmentada e acomoda de forma orgânica diferentes pontos de vista e interlúdios dentro da estrutura narrativa. Não chega a ser tão radical quanto Almoço Nu do Burroughs, mas é um benchmaking para entender a mesma. A história principal envolve viagens no tempo graças ao Necronomicon, dinossauros, a criação do Big Bang e a protagonista chegando a ter poderes cósmico-divinos, então é minha tentativa de escrever uma espécie de épico metafísico sobre o amor. E tendo uma protagonista com apetite pantagruélico pelo conhecimento, a história incorpora diversas concepções e histórias célebres para tirar alguma lição delas, se é que isso é possível. Cada história de amor é única em si mesma, “eterna enquanto dura”, e merece ser registrada. Por que o amor entre Romeu e Julieta merece mais atenção que o seu ou o meu? Lógico que seria preciso escrever um livro com bilhões de narrativas para ser justo, mas sabendo que este objetivo é impossível, por que não abrir a possibilidade de incluir algumas histórias? Mesmo que eu não atinja o mínimo, e faço isso como promessa pública, colocarei a história de quem me auxiliou. É um livro que venho desenvolvendo há anos, e que espero seja tão importante para os leitores quanto é para mim.

E é claro, o desafio criativo de incluir as participações é uma grande motivador!

3. Como você o crowdfunding como alternativa para o jeitão tradicional de publicar livros?

Estamos no meio de uma grande mudança na leitura; acredito que, no futuro, o crowdfunding vai ser parte da equação da coisa. Iremos cada vez mais ver livros como processos e não como produtos. O Clay Shirky cita, em Here Comes Everybody, uma frase, que é: “Revoluções não acontecem quando a sociedade adota novas tecnologias, acontece quando ela adota novos comportamentos”. Hoje em dia, com o iPad, Kindle, web apps, etc. estamos vendo o florescimento de novas tecnologias de leitura e compartilhamento de conhecimento como nunca antes foi possível. Mas tecnologias por si só são inertes. Quando nós, como sociedade, absorvermos os novos comportamentos de consumo de livros digitais e histórias, veremos uma verdadeira revolução. Extensão, foco narrativo, estrutura, são condicionantes do meio. Logo, os escritores também precisarão descobrir novas formas de contar histórias, o que abre inúmeras possibilidades. Mas ainda acho que teremos edições de árvores mortas por muito tempo, e elas se tornaram cada vez mais objetos melhor acabados, com o propósito do deleite de seus donos. Afinal, sua interface tem uma ótima usabilidade e, o melhor, funciona sem bateria ou preciso estar conectado à web. Então, eu prevejo um ecossistema onde os escritores publicaram histórias em formato digital e capitalizando fãs; estes, em plataformas de crowdfunding, irão financiar as edições impressas de forma personalizada e com conteúdo exclusivo, etc. Pelo menos, vejo isso como um dos modelos de negócios viáveis da literatura nesse contexto de cultura da convergência. E isso é coisa para daqui poucos anos.

4. E você já descobriu por que aqui no Brasil não fazem essas edições de livros bonitonas, com um papel de melhor qualidade?

Aqui e ali aparecem alguns exemplares. A Cosac & Naify se esmera em todas as suas edições, sou realmente fã do trabalho deles. A Conrad fez uma edição muito bem acabada e produzida para o Sandman, quando relançou a versão definitiva. O que dificulta a produção de edições bem caprichada é a questão monetária. Mesmo o governo conferindo alguns benefícios fiscais para as editorias, não é fácil produzir um livro em uma realidade na qual as chapas para produzir os fotolitos e, muitas vezes, a tinta, é importada. Foi o principal motivo para o alto custo, segundo as gráficas que entrei em contato. Some aí o trabalho de encadernar (nem todas as gráficas possuem know how em livros), e outra é o número de exemplares. Se você roda um número reduzido de livros, você paga mais caro; só consegue reduzir seus custos unitários com números massivos, mas o mercado de massas muitas vezes não vai absorver o seu produto ou mesmo seja o seu objetivo.

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