Dos quadrinhos para a literatura: Pedro Hutsch e as diferenças entre categorias

O Pedro Hutsch Balboni já tem uma longa e bem sucedida história no Catarse. Além de ter apoiado nada menos que 106 projetos, o Pedro já viabilizou os projetos de quadrinhos Tudo já foi dito e Ciclanos e Ciclanas, cada um deles com 201 apoiadores (sim, o mesmo número nos dois projetos!). Agora ele está desbravando a categoria Literatura para lançar um livro escrito por 12 autores (uma única história, nada de coletânea), o Dito pelo não Dito. Batemos um papo com ele para entender melhor como vai ser esse livro e como essa vasta experiência em financiamento coletivo, especialmente como apoiador, contribui na hora de produzir seu próprio projeto.

Quais são as principais diferenças entre a categoria de Quadrinhos e a categoria Literatura?

Na categoria de Quadrinhos, consigo enxergar uma comunidade, e isso dá bastante força para os projetos que estão no ar. Nos próprios eventos de HQ em que vou acabo encontrando com diversas pessoas (quadrinistas e leitores), e converso sobre os projetos que estão no ar. Eu sou parte dessa comunidade consumidora de conteúdo, e apoio diversos projetos. Estou sempre de olho na plataforma, como se fosse uma vitrine, e imagino que muitas pessoas façam isso.

Esse é um movimento que para mim é difícil de imaginar acontecer na categoria de Literatura; ela é muito abrangente. Os projetos que se destacam geralmente não têm como mérito principal seu teor literário, e sim terem sido criados por Fulano, ou abordarem o tema X. A linguagem de um livro se concretiza em palavras, que é também a linguagem da maioria das mídias; assim, fica tudo muito abrangente, acaba não nascendo um reduto de pessoas interessadas numa coisa um pouco mais específica, como acontece nos quadrinhos.

O que você leva em consideração para apoiar um projeto de quadrinhos? O que te chama atenção em projetos de literatura?

Algumas coisas me chamam a atenção para que eu apoie qualquer tipo de projeto, vou tentar listá-las em ordem semelhante a que devem se formar em minha mente:

1) A ideia é bacana?

2) Parece que a ideia será bem executada?

3) A apresentação do projeto está bem feita o suficiente para que eu possa confiar no(s) realizador(es)?

4) Os valores cobrados e as recompensas oferecidas me parecem coerentes e atraentes?

5) Existe algo que possa desencorajar o meu apoio?

Além da sua vasta experiência como apoiador no Catarse, você tem duas boas experiências na categoria Quadrinhos. Mudou alguma coisa na maneira que você criou seu primeiro projeto de literatura?

Estou trabalhando de forma muito parecida com a que trabalhei em meus projetos de quadrinhos, e sigo mais ou menos os mesmos passos que descrevi anteriormente para pensar em como atrair o público:

1) A ideia é bacana? - É aqui que gasto a maioria dos meus esforços; tento trazer uma ideia realmente interessante

2) Parece que a ideia será bem executada? - sempre tento dar algum tipo de amostra da execução da ideia, seja lendo um trecho do livro, seja mostrando algumas ilustrações

3) A apresentação do projeto está bem feita o suficiente para que eu possa confiar no(s) realizador(es)? - tento manter a página do projeto bonitona, didática e sucinta. É importante que cada pedaço que o público olhe tenha algo para atraí-lo

4) Os valores cobrados e as recompensas oferecidas me parecem coerentes e atraentes? - antes de entrar com o projeto no ar, sempre faço um planejamento financeiro muito obsessivo, tentando otimizar meus custos para poder oferecer recompensas realmente atraentes

5) Existe algo que possa desencorajar o meu apoio? - Aqui, evito qualquer coisa que possa depor contra mim ou contra o projeto, e trabalho bastante a comunicação, para que uma mesma pessoa veja sobre o projeto mais de uma vez (nem sempre o motivo que a desencorajou a apoiar num dia existe num outro)

Agora, uma estratégia específica para o público de Literatura.... ainda não encontrei, rs. Se eu precisasse resumir minha estratégia em pouquíssimas palavras, seria assim: procuro ter um projeto forte.

Você acha que esse desafio de ganhar destaque na categoria quadrinhos se relaciona de alguma maneira com o desafio de atrair apoiadores para um projeto de literatura?

Pelo menos na minha cabeça, sim. Mas não totalmente. Nos quadrinhos, onde existe uma Comunidade acompanhando a plataforma, uma boa ideia, se bem apresentada, se destaca com um pouco mais de facilidade; a competição é alta, e não significa que você vai receber apoios, mas é mais provável que você seja visto.

Na Literatura, sem o acompanhamento dessa Comunidade mais engajada, não dá pra contar muito com um público da própria plataforma; é necessário buscar com mais empenho pessoas de fora. Por outro lado, é mais provável encontrar pessoas que curtem livros do que pessoas que curtem quadrinhos, olhando um público mais geral.

E para qualquer um dos casos, sempre será importante o círculo de pessoas que você consegue criar em torno dos seus projetos.

Por último... Eu sei que você não pode dar muitos spoilers sobre o livro, mas a forma como ele está sendo criado é muito interessante. Pode contar um pouco mais como foi essa articulação com os outros 11 autores? Eles também estão envolvidos na campanha? Você acha que isso  também faz diferença para o interesse do público?

O Dito Pelo Não Dito é um projeto criado junto com meu amigo Rodrigo Ortiz Vinholo, após anos maturando a ideia. Nós decidimos inovar, e escrevemos o roteiro da história; eu escrevi o primeiro capítulo, e ele o último. Convidamos outros 10 autores em quem confiamos, e cada um deles escreveu um dos demais capítulos.

Esse formato é algo que ainda não vimos no mundo literário, e esperamos que seja um ponto de atração de pessoas para o projeto. Esperamos ainda mais que essa ideia crie uma experiência literária incrível e que, dentro ou fora do Catarse, num mundo com ou sem dinheiro, o leitor saia transformado, assim como acontece com a protagonista da história.

Está sendo muito bacana, montamos um time muito bom. Os autores estão ajudando bastante na campanha e trouxeram apoios, mas não podemos contar com isso. O maior esforço continua comigo e com o Rodrigo, que somos os idealizadores e estamos coordenando todo o projeto.

Em termos literários, também estamos gostando bastante do resultado. Estamos lapidando o material enquanto a campanha está no ar. Eu e o Rodrigo havíamos escrito o roteiro de cada capítulo da história para os autores seguirem, e não tínhamos certeza se isso funcionaria. Deu super certo. E os autores trouxeram um monte de coisas que nós nem cogitávamos para a história. Estamos em uma longa etapa de edição. Tenho certeza que terei saudades de mexer nesse projeto quando ele terminar.

Ficou curioso e quer saber mais sobre o projeto? Já se convenceu que precisa fazer parte desse projeto? Fácil! Clique aqui e confira o projeto.

Catarse
A comunidade de financiamento coletivo mais charmosa do Brasil! Desde 17 de janeiro de 2011 contribuimos para que, cada vez mais, um monte de projetos fabulosos possam acontecer no Brasil e no mundo.

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Dos quadrinhos para a literatura: Pedro Hutsch e as diferenças entre categorias

O Pedro Hutsch Balboni já tem uma longa e bem sucedida história no Catarse. Além de ter apoiado nada menos que 106 projetos, o Pedro já viabilizou os projetos de quadrinhos Tudo já foi dito e Ciclanos e Ciclanas, cada um deles com 201 apoiadores (sim, o mesmo número nos dois projetos!). Agora ele está desbravando a categoria Literatura para lançar um livro escrito por 12 autores (uma única história, nada de coletânea), o Dito pelo não Dito. Batemos um papo com ele para entender melhor como vai ser esse livro e como essa vasta experiência em financiamento coletivo, especialmente como apoiador, contribui na hora de produzir seu próprio projeto.

Quais são as principais diferenças entre a categoria de Quadrinhos e a categoria Literatura?

Na categoria de Quadrinhos, consigo enxergar uma comunidade, e isso dá bastante força para os projetos que estão no ar. Nos próprios eventos de HQ em que vou acabo encontrando com diversas pessoas (quadrinistas e leitores), e converso sobre os projetos que estão no ar. Eu sou parte dessa comunidade consumidora de conteúdo, e apoio diversos projetos. Estou sempre de olho na plataforma, como se fosse uma vitrine, e imagino que muitas pessoas façam isso.

Esse é um movimento que para mim é difícil de imaginar acontecer na categoria de Literatura; ela é muito abrangente. Os projetos que se destacam geralmente não têm como mérito principal seu teor literário, e sim terem sido criados por Fulano, ou abordarem o tema X. A linguagem de um livro se concretiza em palavras, que é também a linguagem da maioria das mídias; assim, fica tudo muito abrangente, acaba não nascendo um reduto de pessoas interessadas numa coisa um pouco mais específica, como acontece nos quadrinhos.

O que você leva em consideração para apoiar um projeto de quadrinhos? O que te chama atenção em projetos de literatura?

Algumas coisas me chamam a atenção para que eu apoie qualquer tipo de projeto, vou tentar listá-las em ordem semelhante a que devem se formar em minha mente:

1) A ideia é bacana?

2) Parece que a ideia será bem executada?

3) A apresentação do projeto está bem feita o suficiente para que eu possa confiar no(s) realizador(es)?

4) Os valores cobrados e as recompensas oferecidas me parecem coerentes e atraentes?

5) Existe algo que possa desencorajar o meu apoio?

Além da sua vasta experiência como apoiador no Catarse, você tem duas boas experiências na categoria Quadrinhos. Mudou alguma coisa na maneira que você criou seu primeiro projeto de literatura?

Estou trabalhando de forma muito parecida com a que trabalhei em meus projetos de quadrinhos, e sigo mais ou menos os mesmos passos que descrevi anteriormente para pensar em como atrair o público:

1) A ideia é bacana? - É aqui que gasto a maioria dos meus esforços; tento trazer uma ideia realmente interessante

2) Parece que a ideia será bem executada? - sempre tento dar algum tipo de amostra da execução da ideia, seja lendo um trecho do livro, seja mostrando algumas ilustrações

3) A apresentação do projeto está bem feita o suficiente para que eu possa confiar no(s) realizador(es)? - tento manter a página do projeto bonitona, didática e sucinta. É importante que cada pedaço que o público olhe tenha algo para atraí-lo

4) Os valores cobrados e as recompensas oferecidas me parecem coerentes e atraentes? - antes de entrar com o projeto no ar, sempre faço um planejamento financeiro muito obsessivo, tentando otimizar meus custos para poder oferecer recompensas realmente atraentes

5) Existe algo que possa desencorajar o meu apoio? - Aqui, evito qualquer coisa que possa depor contra mim ou contra o projeto, e trabalho bastante a comunicação, para que uma mesma pessoa veja sobre o projeto mais de uma vez (nem sempre o motivo que a desencorajou a apoiar num dia existe num outro)

Agora, uma estratégia específica para o público de Literatura.... ainda não encontrei, rs. Se eu precisasse resumir minha estratégia em pouquíssimas palavras, seria assim: procuro ter um projeto forte.

Você acha que esse desafio de ganhar destaque na categoria quadrinhos se relaciona de alguma maneira com o desafio de atrair apoiadores para um projeto de literatura?

Pelo menos na minha cabeça, sim. Mas não totalmente. Nos quadrinhos, onde existe uma Comunidade acompanhando a plataforma, uma boa ideia, se bem apresentada, se destaca com um pouco mais de facilidade; a competição é alta, e não significa que você vai receber apoios, mas é mais provável que você seja visto.

Na Literatura, sem o acompanhamento dessa Comunidade mais engajada, não dá pra contar muito com um público da própria plataforma; é necessário buscar com mais empenho pessoas de fora. Por outro lado, é mais provável encontrar pessoas que curtem livros do que pessoas que curtem quadrinhos, olhando um público mais geral.

E para qualquer um dos casos, sempre será importante o círculo de pessoas que você consegue criar em torno dos seus projetos.

Por último... Eu sei que você não pode dar muitos spoilers sobre o livro, mas a forma como ele está sendo criado é muito interessante. Pode contar um pouco mais como foi essa articulação com os outros 11 autores? Eles também estão envolvidos na campanha? Você acha que isso  também faz diferença para o interesse do público?

O Dito Pelo Não Dito é um projeto criado junto com meu amigo Rodrigo Ortiz Vinholo, após anos maturando a ideia. Nós decidimos inovar, e escrevemos o roteiro da história; eu escrevi o primeiro capítulo, e ele o último. Convidamos outros 10 autores em quem confiamos, e cada um deles escreveu um dos demais capítulos.

Esse formato é algo que ainda não vimos no mundo literário, e esperamos que seja um ponto de atração de pessoas para o projeto. Esperamos ainda mais que essa ideia crie uma experiência literária incrível e que, dentro ou fora do Catarse, num mundo com ou sem dinheiro, o leitor saia transformado, assim como acontece com a protagonista da história.

Está sendo muito bacana, montamos um time muito bom. Os autores estão ajudando bastante na campanha e trouxeram apoios, mas não podemos contar com isso. O maior esforço continua comigo e com o Rodrigo, que somos os idealizadores e estamos coordenando todo o projeto.

Em termos literários, também estamos gostando bastante do resultado. Estamos lapidando o material enquanto a campanha está no ar. Eu e o Rodrigo havíamos escrito o roteiro de cada capítulo da história para os autores seguirem, e não tínhamos certeza se isso funcionaria. Deu super certo. E os autores trouxeram um monte de coisas que nós nem cogitávamos para a história. Estamos em uma longa etapa de edição. Tenho certeza que terei saudades de mexer nesse projeto quando ele terminar.

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