Protestos e Financiamento Coletivo

A onda de protestos que tomou o país nas últimas semanas é histórica, um momento que ficará eternizado na memória de todos que participaram de alguma forma das ações. São muitos os brasileiros atentos ao que acontece nas ruas, seja através da grande mídia, estando de corpo presente nos protestos ou via internet pela infinidade de conteúdos em vídeos, fotos e áudio gerados por milhares de pessoas que estiveram nas manifestações. Os debates se acaloram. As dúvidas se acumulam.

O historiador Lincoln Secco acredita que a atual onda de protestos pelo mundo, iniciada com a Primavera Árabe, em 2010, pode ser o marco inicial do século 21. O professor da USP afirmou ao Estadão que o movimento brasileiro é uma esfinge. Ele pede para ser decifrado.

Apesar da proposta tentadora, não estamos prontos para encarar este enigma e corrermos o risco de sermos devorados por esta esfinge que toma forma no país. “Em um mundo que exige respostas urgentes e certeiras, o ato de não explicar e fazer perguntas talvez seja uma boa forma de resistência", disse o professor da FGV/SP Rafael Alcadipani.

Assim, dentre tantas dúvidas e questionamentos possíveis, nos perguntamos como o financiamento coletivo pode servir de ferramenta às manifestações populares. Fomos atrás de alguns exemplos, nacionais e internacionais, para investigar a possibilidade do crowdfunding no contexto dos protestos.

Enquanto o cenário internacional tem mais diversidade nas propostas de projetos para protestos (sempre que eles ocorrem), a prática por aqui ainda não ganhou tração nem diversidade. Os projetos oriundos diretamente de eventos como os presenciados nas últimas semanas ainda são bem literais e focados em resolver questões práticas. Acreditamos que a ocupação pública, manifestações e protestos podem ser campo fértil para uma infinidade de propostas criativas. Os brasileiros são reconhecidos como um povo que vai pouco às ruas. Mas depois da semana passada, não duvidamos que isso pode mudar e queremos incentivar ações criativas e pacíficas a serem executadas nas manifestações. Abaixo alguns dos exemplos de projetos, nacionais e internacionais, relacionados à manifestações ou ligados diretamente a protestos recentes.

Exemplos nacionais  

Os exemplos citados abaixo ocorreram recentemente. Começamos com os projetos brasileiros para em seguida criar um contraste com os exemplos internacionais.  Ao que tudo indica, as iniciativas brazucas são mais literais, voltadas para a resolução de questões práticas decorrentes dos protestos. São projetos mais reativos do que propositivos, mas isso não lhes tira em nada o valor. Ao contrário, demostram uma percepção embrionária de que é possível utilizar ferramentas de financiamento coletivo para complementar a atividade dos manifestantes. Mas a contraposição que faremos serve para ilustrar o pouco de intimidade que a população brasileira tem em relação ao financiamento coletivo, que pode ser bem mais flexível e caminhar para diferentes direções.  Os dois casos abaixo são os únicos relacionados aos protestos das últimas semanas que detectamos por aí. Se você sabe de mais algum, por favor nos envie! ;)

1- Fiança para presos nos protestos

O MPL iniciou um projeto no site Vakinha, para arrecadar recursos para o pagamento de fianças dos presos durante os protestos. A iniciativa chegou a ser veiculada em reportagem no portal Terra. Apesar das milhares de curtidas, o valor total da campanha não foi alcançado. A discussão nos comentários é um reflexo dos debates online nas últimas semanas...

2- Carro queimado em manifestação no Rio

O operador de áudio Jorge Fabrício Ferreira Vieira, de 41 anos teve seu carro queimado durante as manifestações que ocorreram na ALERJ, dia 17/06, no Rio de Janeiro. Logo um pessoal se juntou para realizar a vaquinha, como conta a reportagem do Extra. O operador de áudio acabou sendo ressarcido por um deputado estadual, e comunicador da Rádio Tupi, como ilustrado nesta matéria do Globo

Exemplos Internacionais

Destacamos alguns exemplos de projetos que estão atrelados a protestos ou estão intimamente ligados à manifestações ao redor do mundo. Esperamos que a pequena seleção abaixo ilustre uma parcela das possibilidades de usos do financiamento coletivo quando o lema é ir pra rua. o/

1- Turquia - Compra de anúncio NY Times

Os manifestantes turcos decidiram fazer um posicionamento público com suas exigências e escolheram o New York Times para tal. A idéia central do projeto era resignificar um espaço publicitário e torná-lo um espaço de manifesto. O objetivo era jogar luz sobre as questões em curso na Turquia. Para realizar o feito, ativistas montaram um projeto de financiamento coletivo no site IndieGoGo para arrecadar cerca de 50 mil dólares e comprar o espaço no jornal mais famoso do mundo. Resultado... em poucos dias já haviam conseguido mais que o dobro da quantia. Dá uma olhadinha abaixo em um recorte do manifesto... Para ver a versão integral, só acessar este link.

Legal ver como são comuns às nossas manifestações as demandas Turcas.

Traduzindo livremente:

- Demandamos o fim da brutalidade policial
- Demandamos uma mídia livre
- Demandamos um diálogo democrático aberto entre cidadãos e políticos e servidores públicos 
- Demandamos uma investigação do abuso de poder por parte do governo, que levou à perda de vidas inocentes.

Abaixo a foto do anúncio no jornal, que já foi veiculado.

2- Espanha - processar donos do Banco Bankia

Após o escândalo que envolveu a estatização e "falência" do Banco Bankia , um grupo de espanhóis resolveu processar o então presidente do conselho de diretores do banco, Rodrigo Rato. Foi através de uma campanha de financiamento coletivo no site Goteo que o grupo 15MpaRato buscou a quantia necessária para o pagamento da primeira fase do processo judicial. Até hoje cidadãos espanhóis sofrem com o rombo deixado pelo Bankia. Para acompanhar as evoluções do processo decorrente do projeto, foi criado um site para comunicar o andamento a interessados.

 

3- Occupy Wall Street Media

Além de se firmar nas ruas, o Movimento Occupy Wall Street ocupou metaforicamente o periódico símbolo do local de protesto, The Wall Street Journal. A campanha através do site Kickstarter pedia 12 mil dólares  para fazer o The "Occupied" Wall Street Journal. Terminaram a arrecadação com 75 mil, o que possibilitou circular recursos para melhorar as estruturas de mídia da ocupação. Sente o vídeo abaixo...

Move Information from OWS Media on Vimeo.

Vale também olhar os projetos com o termo Occupy no Kickstarter... Uma infinidade de ocupações via crowdfunding. ;)

__________

Acreditamos que o financiamento coletivo é um instrumento essencial para conferir poder, independência e capacidade executiva à sociedade civil. Em um próximo post vamos fazer um compilado sobre projetos que são ações constantes de melhoria, e independem de protestos ou manifestações para ocorrerem pois já carregam em si a energia de mudança. Avante!

 

 

 

 
Rodrigo Machado
Cofundador e CEO do Catarse. Gosta de falar através de imagens e ouvir bons livros. Não sobrevive sem doses periódicas de água do mar.

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Protestos e Financiamento Coletivo

A onda de protestos que tomou o país nas últimas semanas é histórica, um momento que ficará eternizado na memória de todos que participaram de alguma forma das ações. São muitos os brasileiros atentos ao que acontece nas ruas, seja através da grande mídia, estando de corpo presente nos protestos ou via internet pela infinidade de conteúdos em vídeos, fotos e áudio gerados por milhares de pessoas que estiveram nas manifestações. Os debates se acaloram. As dúvidas se acumulam.

O historiador Lincoln Secco acredita que a atual onda de protestos pelo mundo, iniciada com a Primavera Árabe, em 2010, pode ser o marco inicial do século 21. O professor da USP afirmou ao Estadão que o movimento brasileiro é uma esfinge. Ele pede para ser decifrado.

Apesar da proposta tentadora, não estamos prontos para encarar este enigma e corrermos o risco de sermos devorados por esta esfinge que toma forma no país. “Em um mundo que exige respostas urgentes e certeiras, o ato de não explicar e fazer perguntas talvez seja uma boa forma de resistência", disse o professor da FGV/SP Rafael Alcadipani.

Assim, dentre tantas dúvidas e questionamentos possíveis, nos perguntamos como o financiamento coletivo pode servir de ferramenta às manifestações populares. Fomos atrás de alguns exemplos, nacionais e internacionais, para investigar a possibilidade do crowdfunding no contexto dos protestos.

Enquanto o cenário internacional tem mais diversidade nas propostas de projetos para protestos (sempre que eles ocorrem), a prática por aqui ainda não ganhou tração nem diversidade. Os projetos oriundos diretamente de eventos como os presenciados nas últimas semanas ainda são bem literais e focados em resolver questões práticas. Acreditamos que a ocupação pública, manifestações e protestos podem ser campo fértil para uma infinidade de propostas criativas. Os brasileiros são reconhecidos como um povo que vai pouco às ruas. Mas depois da semana passada, não duvidamos que isso pode mudar e queremos incentivar ações criativas e pacíficas a serem executadas nas manifestações. Abaixo alguns dos exemplos de projetos, nacionais e internacionais, relacionados à manifestações ou ligados diretamente a protestos recentes.

Exemplos nacionais  

Os exemplos citados abaixo ocorreram recentemente. Começamos com os projetos brasileiros para em seguida criar um contraste com os exemplos internacionais.  Ao que tudo indica, as iniciativas brazucas são mais literais, voltadas para a resolução de questões práticas decorrentes dos protestos. São projetos mais reativos do que propositivos, mas isso não lhes tira em nada o valor. Ao contrário, demostram uma percepção embrionária de que é possível utilizar ferramentas de financiamento coletivo para complementar a atividade dos manifestantes. Mas a contraposição que faremos serve para ilustrar o pouco de intimidade que a população brasileira tem em relação ao financiamento coletivo, que pode ser bem mais flexível e caminhar para diferentes direções.  Os dois casos abaixo são os únicos relacionados aos protestos das últimas semanas que detectamos por aí. Se você sabe de mais algum, por favor nos envie! ;)

1- Fiança para presos nos protestos

O MPL iniciou um projeto no site Vakinha, para arrecadar recursos para o pagamento de fianças dos presos durante os protestos. A iniciativa chegou a ser veiculada em reportagem no portal Terra. Apesar das milhares de curtidas, o valor total da campanha não foi alcançado. A discussão nos comentários é um reflexo dos debates online nas últimas semanas...

2- Carro queimado em manifestação no Rio

O operador de áudio Jorge Fabrício Ferreira Vieira, de 41 anos teve seu carro queimado durante as manifestações que ocorreram na ALERJ, dia 17/06, no Rio de Janeiro. Logo um pessoal se juntou para realizar a vaquinha, como conta a reportagem do Extra. O operador de áudio acabou sendo ressarcido por um deputado estadual, e comunicador da Rádio Tupi, como ilustrado nesta matéria do Globo

Exemplos Internacionais

Destacamos alguns exemplos de projetos que estão atrelados a protestos ou estão intimamente ligados à manifestações ao redor do mundo. Esperamos que a pequena seleção abaixo ilustre uma parcela das possibilidades de usos do financiamento coletivo quando o lema é ir pra rua. o/

1- Turquia - Compra de anúncio NY Times

Os manifestantes turcos decidiram fazer um posicionamento público com suas exigências e escolheram o New York Times para tal. A idéia central do projeto era resignificar um espaço publicitário e torná-lo um espaço de manifesto. O objetivo era jogar luz sobre as questões em curso na Turquia. Para realizar o feito, ativistas montaram um projeto de financiamento coletivo no site IndieGoGo para arrecadar cerca de 50 mil dólares e comprar o espaço no jornal mais famoso do mundo. Resultado... em poucos dias já haviam conseguido mais que o dobro da quantia. Dá uma olhadinha abaixo em um recorte do manifesto... Para ver a versão integral, só acessar este link.

Legal ver como são comuns às nossas manifestações as demandas Turcas.

Traduzindo livremente:

- Demandamos o fim da brutalidade policial
- Demandamos uma mídia livre
- Demandamos um diálogo democrático aberto entre cidadãos e políticos e servidores públicos 
- Demandamos uma investigação do abuso de poder por parte do governo, que levou à perda de vidas inocentes.

Abaixo a foto do anúncio no jornal, que já foi veiculado.

2- Espanha - processar donos do Banco Bankia

Após o escândalo que envolveu a estatização e "falência" do Banco Bankia , um grupo de espanhóis resolveu processar o então presidente do conselho de diretores do banco, Rodrigo Rato. Foi através de uma campanha de financiamento coletivo no site Goteo que o grupo 15MpaRato buscou a quantia necessária para o pagamento da primeira fase do processo judicial. Até hoje cidadãos espanhóis sofrem com o rombo deixado pelo Bankia. Para acompanhar as evoluções do processo decorrente do projeto, foi criado um site para comunicar o andamento a interessados.

 

3- Occupy Wall Street Media

Além de se firmar nas ruas, o Movimento Occupy Wall Street ocupou metaforicamente o periódico símbolo do local de protesto, The Wall Street Journal. A campanha através do site Kickstarter pedia 12 mil dólares  para fazer o The "Occupied" Wall Street Journal. Terminaram a arrecadação com 75 mil, o que possibilitou circular recursos para melhorar as estruturas de mídia da ocupação. Sente o vídeo abaixo...

Move Information from OWS Media on Vimeo.

Vale também olhar os projetos com o termo Occupy no Kickstarter... Uma infinidade de ocupações via crowdfunding. ;)

__________

Acreditamos que o financiamento coletivo é um instrumento essencial para conferir poder, independência e capacidade executiva à sociedade civil. Em um próximo post vamos fazer um compilado sobre projetos que são ações constantes de melhoria, e independem de protestos ou manifestações para ocorrerem pois já carregam em si a energia de mudança. Avante!

 

 

 

 

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