Cecília é filha do maior apoiador do projeto da velejadora Larissa Juk e dá nome ao barco da campanha olímpicaA atenção do professor de filosofia recém-aposentado André Baggio saiu do lago ao lado da sua casa em Passo Fundo (RS) para a televisão assim que ouviu a história sobre uma atleta olímpica pedindo ajuda para comprar um barco e competir por uma vaga nos jogos Rio 2016. A reportagem era sobre
a campanha da velejadora Larissa Juk no Catarse.
Apesar de não ter ligação alguma com o esporte, achou um absurdo uma atleta do nível de Larissa não ter apoio para disputar uma vaga. Cinco vezes campeã sulamericana, campeã mundial universitária e militar e da Nations Cup, Larissa teve que mudar da categoria Match Race para a Laser para perseguir o sonho olímpico, porque a classe em que velejava saiu do programa dos jogos. Para isso, porém, era preciso um barco novo, velas novas e todo o material para treinos e competições. O financiamento coletivo foi a solução.
Mesmo sem nenhuma relação com barcos, André resolveu que iria colaborar com a campanha. Entrou no Catarse e de cara contribuiu com R$ 1.000. Depois de ler com calma a descrição do projeto, descobriu que a recompensa para o maior apoiador era o direito de batizar o barco que acompanharia Larissa em toda campanha olímpica e, se a vaga for conquistada, nas regatas dos jogos. Era o presente perfeito para a filha Cecília, que tinha acabado de completar um ano. Estava decidido a ir até o fim para homenagear a pequena.
Enviou um e-mail para Larissa para que o mantivesse informado sobre os outros apoiadores. Descobriu que havia outras cinco pessoas no páreo. Três semanas depois, contribui com mais R$ 100. Receoso com a pequena margem, colaborou com mais R$500 no último dia da arrecadação bem-sucedida de Larissa.
A chegada do laser Cecília comprado com recursos da campanha de financiamento coletivo da velejadora Larissa JukEm novembro de 2013, quando a embarcação comprada com mais de R$ 28.500 dos 218 apoiadores chegou a Florianópolis, a família Baggio viajou do interior gaúcho para a capital catarinense para apresentar a mascote olímpica Cecília a Larissa e ao barco que levará seu nome e o sonho, agora coletivo, de uma medalha olímpica.
“Para nós do interior e que não temos ligação mais direta com o esporte, foi uma alegria participar da campanha. Estamos curtindo muito. É uma forma sensacional de a gente participar de um evento único como as Olimpíadas, sem ser atleta”, conta André, que garante que vai ao Rio torcer por Larissa caso ela se classifique.
Para a atleta, a campanha de financiamento coletivo foi muito interessante por revelar uma solidariedade oculta até então. “Conhecidos e desconhecidos, todos se mobilizaram da maneira que podiam, seja com divulgação ou ajuda financeira direta. Foi bem interessante, também, o quanto a mídia divulgou minha história: uma atleta com diversos títulos internacionais, nas vésperas das Olimpíadas no Brasil, precisando fazer um financiamento coletivo para comprar seu barco e seguir os treinamentos. Deu muito trabalho mesmo, desde a construção do vídeo até o último dia de arrecadação, mas o resultado foi muito satisfatório” conta.
Espumante estourado no casco, Cecília para a água e muito treino. A diferença de Larissa para as outras aspirantes à vaga olímpica da classe laser feminina está estampada no branco dos barcos. Em vez de apenas logos de empresas patrocinadoras, as assinaturas dos apoiadores empurram a velejadora rumo aos bons ventos.
“É sensacional! Muita gente me pergunta se não é muita pressão, cheguei a pensar que pudesse vir a ser, mas, no geral, as pessoas têm consciência de como é o esporte, então, só sinto incentivo e mais coragem! Sei que têm mais 200 pessoas ali comigo, enviando energia positiva, torcendo, fazendo parte disso tudo e caminhando até 2016 comigo” resume Larissa.