Graphic MSP: como criadores da comunidade vêm reimaginando os personagens clássicos de Maurício de Sousa

Sempre que falamos sobre o início do processo de alfabetização do brasileiro, uma enorme parcela das pessoas admite ter iniciado suas leituras com os gibis da famosa Turma da Mônica, do Maurício de Souza. A gama de temas, aventuras, releituras e principalmente de personagens, faz com que o leque de possibilidades seja enorme e nos mantenha ligados às fábulas repletas de sentimentos e carregadas pela nostalgia. Bidu e Franjinha abriram as portas, lá em 1959, nas tirinhas do jornal Folha da Tarde

Em 2009, o universo do quadrinista estava completando 50 anos e, com isso, o editorial apostou em homenagear seus personagens no álbum: MSP 50, organizado por Sidney Gusman, que trouxe 50 artistas para retratar a turminha com estilos, temáticas e formatos diferentes.

O início da MSP

A ideia seguiu a fórmula da graphic novel comemorativa de 25 anos do Menino Maluquinho, personagem de Ziraldo, publicada em 2005, que contou com 25 artistas homenageando o personagem. Também incluiu Asterix e Seus amigos, lançada em 2007, em comemoração aos 80 anos de Alberto Uderzo. O álbum lançado no Brasil teve a participação de 34 quadrinistas brasileiros convidados.

O sucesso desses materiais despertaram o interesse em recontar histórias dos personagens da Turma da Mônica, com o intuito de modernizar debates e incluir outras narrativas, não mais em um compilado de histórias curtas, mas arcos longos, histórias fechadas em volume único, trilogias e séries. Então, em 2012, tivemos a primeira MSP: Astronauta: Magnetar de Danilo Beyruth, uma ficção científica carregada de inspirações e estudos sobre física e navegação que tornou essa odisseia espacial premiadíssima. A história contou com  cinco continuações: Astronauta: Singularidade (2014) e Astronauta: Assimetria (2016),e Astronauta: Entropia (2018)  Astronauta: Parallax (2020) e Astronauta: Convergência (2022).

No ano seguinte ao Astronauta, tivemos Turma da Mônica: Laços (2013), de Lu Cafagi e Vitor Cafagi, onde a turminha se reúne para procurar o então perdido cachorro do Cebolinha, Floquinho. Essa foi outro sucesso, vencendo  o prêmio HQMix nas categorias: Edição especial nacional e Publicação infantojuvenil. O quadrinho  serviu de inspiração para a adaptação cinematográfica de mesmo nome em 2015 e teve duas sequências: Turma da Mônica: Lições (2015), vencedora do 38° HQMix como melhor publicação juvenil, e Turma da Mônica: Lembranças (2017).

As premiadas expansões do universo MSP

Essa onda de sucessos veio recheada de diversos pontos de vista e temáticas um pouco mais elaboradas, com o objetivo de ampliar o conceito da diversidade para comunicar com todos os públicos além do infanto juvenil. Jeremias: Pele (2018), de Jefferson Costa e Rafael Calça, por exemplo, se tornou uma das mais aclamadas MSP’s, com, até então, o único personagem original negro da turminha. A trama é bastante focada no processo de descoberta de negritude do Jeremias, suas implicações e relações com a cultura e a ancestralidade. Um fato curioso é que o avô do Jeremias, Seu Graciano, recebeu esse nome em homenagem ao quadrinista Sergio Tiburcio Graciano, um dos designers de personagens mais antigos da Mauricio de Sousa Produções, responsável pelo icônico corte de cabelo do personagem Cascão. 

Jeremias venceu o Troféu HQ Mix nas categorias melhor edição especial e melhor publicação juvenil, Prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos e também rendeu o Prêmio Angelo Agostini de melhor roteirista para Rafael Calça. Além disso,  foi a primeira MSP a entrar para a lista Nielsen Publishnews dos mais vendidos no Brasil, garantindo o segundo lugar na categoria ficção, em junho de 2018. O sucesso  garantiu duas sequências: Jeremias: Alma (2020) e Jeremias: Estrela (2023), ambas também repercutiram muito bem, repetindo a dose de premiações.

Já que citamos o Cascão, outra HQ premiadíssima é do nosso nerd favorito em: Cascão: Temporal (2020) do Camilo Solano. Com uma narrativa simples e discreta, toca em pontos sobre o preconceito do etarismo, a visão limitada sobre adultos que consomem cultura pop, quadrinhos e filmes de ficção científica, colecionam bonecos e tudo o que é visto como “coisa de criança”. Tudo isso dissolvido em um dia de temporal no qual o Cascão não pode brincar fora de casa, além de ter de passar o dia com o seu tio que pensava ser “careta” ou “sem graça”, mas acaba se surpreendendo e ambos compartilham muito das experiências nerds entre si.

Outra que vale muito a pena conhecer, é Tina: Respeito (2020) da quadrinista Fefê Torquato. Esta também levou o Troféu HQMix de melhor publicação juvenil e a autora ganhou como melhor roteirista nacional. Tina é um quadrinho denúncia que conta com um recorte informativo baseado em relatos reais sobre o assédio sexual e moral no meio jornalístico. Com uma escrita sensível e inteligente, ela reforça a importância do coletivo, a união de mulheres para amparar umas às outras em casos delicados, principalmente quando há sinais sutis na busca por acolhimento.

O impacto cultural da Graphic MSP

 As MSP 's, como ficaram conhecidas, trazem diversos temas que expandem os debates que quadrinhos mais antigos citam de forma mais superficial ou muita das vezes eram inexistentes. São 39 títulos publicados até o momento, entre volumes únicos, trilogias e sagas integrais.

Esse projeto, já solidificado, ampliou muito a visibilidade dos quadrinhos e dos quadrinistas nacionais, diminuindo muito o conceito já batido de que gibi é coisa de criança, ou os preconceitos sobre a criatividade e a qualidade criativa dos quadrinhos nacionais. Funcionou de forma semelhante ao efeito das novelas, quando assuntos viram tendência e ganham a boca do povo com diálogos mais próximos da nossa vivência, com nossas próprias referências culturais.

O sucesso expandiu esses diálogos para escolas, palestras, teatros e até outras mídias como filmes, ajudando a popularizar e incentivar ainda mais a nossa população a ler e valorizar os artistas da casa. 

Manoel Taylor
Ilustrador, pesquisador e criador de conteúdo que aborda estudos socioculturais nos quadrinhos e mangás.

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Graphic MSP: como criadores da comunidade vêm reimaginando os personagens clássicos de Maurício de Sousa

Sempre que falamos sobre o início do processo de alfabetização do brasileiro, uma enorme parcela das pessoas admite ter iniciado suas leituras com os gibis da famosa Turma da Mônica, do Maurício de Souza. A gama de temas, aventuras, releituras e principalmente de personagens, faz com que o leque de possibilidades seja enorme e nos mantenha ligados às fábulas repletas de sentimentos e carregadas pela nostalgia. Bidu e Franjinha abriram as portas, lá em 1959, nas tirinhas do jornal Folha da Tarde

Em 2009, o universo do quadrinista estava completando 50 anos e, com isso, o editorial apostou em homenagear seus personagens no álbum: MSP 50, organizado por Sidney Gusman, que trouxe 50 artistas para retratar a turminha com estilos, temáticas e formatos diferentes.

O início da MSP

A ideia seguiu a fórmula da graphic novel comemorativa de 25 anos do Menino Maluquinho, personagem de Ziraldo, publicada em 2005, que contou com 25 artistas homenageando o personagem. Também incluiu Asterix e Seus amigos, lançada em 2007, em comemoração aos 80 anos de Alberto Uderzo. O álbum lançado no Brasil teve a participação de 34 quadrinistas brasileiros convidados.

O sucesso desses materiais despertaram o interesse em recontar histórias dos personagens da Turma da Mônica, com o intuito de modernizar debates e incluir outras narrativas, não mais em um compilado de histórias curtas, mas arcos longos, histórias fechadas em volume único, trilogias e séries. Então, em 2012, tivemos a primeira MSP: Astronauta: Magnetar de Danilo Beyruth, uma ficção científica carregada de inspirações e estudos sobre física e navegação que tornou essa odisseia espacial premiadíssima. A história contou com  cinco continuações: Astronauta: Singularidade (2014) e Astronauta: Assimetria (2016),e Astronauta: Entropia (2018)  Astronauta: Parallax (2020) e Astronauta: Convergência (2022).

No ano seguinte ao Astronauta, tivemos Turma da Mônica: Laços (2013), de Lu Cafagi e Vitor Cafagi, onde a turminha se reúne para procurar o então perdido cachorro do Cebolinha, Floquinho. Essa foi outro sucesso, vencendo  o prêmio HQMix nas categorias: Edição especial nacional e Publicação infantojuvenil. O quadrinho  serviu de inspiração para a adaptação cinematográfica de mesmo nome em 2015 e teve duas sequências: Turma da Mônica: Lições (2015), vencedora do 38° HQMix como melhor publicação juvenil, e Turma da Mônica: Lembranças (2017).

As premiadas expansões do universo MSP

Essa onda de sucessos veio recheada de diversos pontos de vista e temáticas um pouco mais elaboradas, com o objetivo de ampliar o conceito da diversidade para comunicar com todos os públicos além do infanto juvenil. Jeremias: Pele (2018), de Jefferson Costa e Rafael Calça, por exemplo, se tornou uma das mais aclamadas MSP’s, com, até então, o único personagem original negro da turminha. A trama é bastante focada no processo de descoberta de negritude do Jeremias, suas implicações e relações com a cultura e a ancestralidade. Um fato curioso é que o avô do Jeremias, Seu Graciano, recebeu esse nome em homenagem ao quadrinista Sergio Tiburcio Graciano, um dos designers de personagens mais antigos da Mauricio de Sousa Produções, responsável pelo icônico corte de cabelo do personagem Cascão. 

Jeremias venceu o Troféu HQ Mix nas categorias melhor edição especial e melhor publicação juvenil, Prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos e também rendeu o Prêmio Angelo Agostini de melhor roteirista para Rafael Calça. Além disso,  foi a primeira MSP a entrar para a lista Nielsen Publishnews dos mais vendidos no Brasil, garantindo o segundo lugar na categoria ficção, em junho de 2018. O sucesso  garantiu duas sequências: Jeremias: Alma (2020) e Jeremias: Estrela (2023), ambas também repercutiram muito bem, repetindo a dose de premiações.

Já que citamos o Cascão, outra HQ premiadíssima é do nosso nerd favorito em: Cascão: Temporal (2020) do Camilo Solano. Com uma narrativa simples e discreta, toca em pontos sobre o preconceito do etarismo, a visão limitada sobre adultos que consomem cultura pop, quadrinhos e filmes de ficção científica, colecionam bonecos e tudo o que é visto como “coisa de criança”. Tudo isso dissolvido em um dia de temporal no qual o Cascão não pode brincar fora de casa, além de ter de passar o dia com o seu tio que pensava ser “careta” ou “sem graça”, mas acaba se surpreendendo e ambos compartilham muito das experiências nerds entre si.

Outra que vale muito a pena conhecer, é Tina: Respeito (2020) da quadrinista Fefê Torquato. Esta também levou o Troféu HQMix de melhor publicação juvenil e a autora ganhou como melhor roteirista nacional. Tina é um quadrinho denúncia que conta com um recorte informativo baseado em relatos reais sobre o assédio sexual e moral no meio jornalístico. Com uma escrita sensível e inteligente, ela reforça a importância do coletivo, a união de mulheres para amparar umas às outras em casos delicados, principalmente quando há sinais sutis na busca por acolhimento.

O impacto cultural da Graphic MSP

 As MSP 's, como ficaram conhecidas, trazem diversos temas que expandem os debates que quadrinhos mais antigos citam de forma mais superficial ou muita das vezes eram inexistentes. São 39 títulos publicados até o momento, entre volumes únicos, trilogias e sagas integrais.

Esse projeto, já solidificado, ampliou muito a visibilidade dos quadrinhos e dos quadrinistas nacionais, diminuindo muito o conceito já batido de que gibi é coisa de criança, ou os preconceitos sobre a criatividade e a qualidade criativa dos quadrinhos nacionais. Funcionou de forma semelhante ao efeito das novelas, quando assuntos viram tendência e ganham a boca do povo com diálogos mais próximos da nossa vivência, com nossas próprias referências culturais.

O sucesso expandiu esses diálogos para escolas, palestras, teatros e até outras mídias como filmes, ajudando a popularizar e incentivar ainda mais a nossa população a ler e valorizar os artistas da casa. 

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