Painéis solares, investimento privado e o debate público

Parking lot west

Na última semana, ganhou destaque em todo mundo um projeto na plataforma indiegogo que pediu US$ 1 milhão para produzir um sistema de pavimentação modular de painéis solares para serem instalados em estradas, estacionamentos, calçadas, ciclovias, parques ou qualquer superfície sob o sol. Feito de um vidro temperado reforçado que, segundo os realizadores do projeto, já passou por vários testes de carga, tração e impacto nos EUA, pagariam o preço da sua produção ao gerar energia para alimentar casas, empresas e os locais onde forem instalados.

Como se não bastasse, o piso mágico tem muitos outros recursos, como aquecimento para derreter neve e gelo, LEDs para fazer linhas de sinalização na estrada e um sistema para armazenar e tratar águas pluviais.

Mesmo com um vídeo de demonstração, um FAQ online, números, e uma série de referências sobre o desenvolvimento dos painéis, muita gente se levantou para criticar o projeto. A página de comentários do projeto se tornou um intenso debate sobre a viabilidade dos painéis solares. Um vídeo de quase meia hora rebate a argumentação dos realizadores ponto a ponto, principalmente custo de implementação e manutenção da tecnologia.

O mais bacana nesse caso é ver a movimentação da esfera pública em torno de um tema que despertou muito interesse internacional. Parece bem claro que o projeto não é uma fraude. A discussão é se vale a pena seguir essa linha de pesquisa para pensarmos substitutos para o asfalto. Para mais de 43.500 pessoas e seus mais de US$ 1,9 milhão, sim.

O debate está no mérito e no longo prazo. Muito interessante ver a dinâmica do financiamento coletivo nesse processo. Ao reduzir riscos, as plataformas permitem o florescimento de propostas inovadoras. O curioso é que, mesmo sendo um investimento privado em última instância, uma campanha de financiamento coletivo pertence ao debate público.  

A comunidade reage não pela possibilidade do projeto ser uma fraude, mas pelo fato de acreditar que esse caminho dará num beco sem saída, ou, até mesmo num prazo ainda mais longo, caso essa tecnologia venha a impactar as finanças públicas do país.

Eu sou suspeito para falar. Apoiei a primeira missão privada para Marte em 2018. Quero mais é ver o bicho pegar. O fato, porém, é que está mais que provado a importância que a sociedade civil dá para o desenvolvimento de novas tecnologias mais inteligentes, para reduzir impacto dos transportes e gerar energia limpa.

As plataformas de financiamento coletivo podem ser as ágoras modernas, onde ideias surgem, crescem ou morrem, mas impreterivelmente evoluem. Um lugar onde o calor do debate catalisa o amadurecimento da sociedade.
Felipe Caruso
Missionário do coletivismo e jornalista com doses de poesia, ceticismo e pragmatismo

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Na última semana, ganhou destaque em todo mundo um projeto na plataforma indiegogo que pediu US$ 1 milhão para produzir um sistema de pavimentação modular de painéis solares para serem instalados em estradas, estacionamentos, calçadas, ciclovias, parques ou qualquer superfície sob o sol. Feito de um vidro temperado reforçado que, segundo os realizadores do projeto, já passou por vários testes de carga, tração e impacto nos EUA, pagariam o preço da sua produção ao gerar energia para alimentar casas, empresas e os locais onde forem instalados.

Como se não bastasse, o piso mágico tem muitos outros recursos, como aquecimento para derreter neve e gelo, LEDs para fazer linhas de sinalização na estrada e um sistema para armazenar e tratar águas pluviais.

Mesmo com um vídeo de demonstração, um FAQ online, números, e uma série de referências sobre o desenvolvimento dos painéis, muita gente se levantou para criticar o projeto. A página de comentários do projeto se tornou um intenso debate sobre a viabilidade dos painéis solares. Um vídeo de quase meia hora rebate a argumentação dos realizadores ponto a ponto, principalmente custo de implementação e manutenção da tecnologia.

O mais bacana nesse caso é ver a movimentação da esfera pública em torno de um tema que despertou muito interesse internacional. Parece bem claro que o projeto não é uma fraude. A discussão é se vale a pena seguir essa linha de pesquisa para pensarmos substitutos para o asfalto. Para mais de 43.500 pessoas e seus mais de US$ 1,9 milhão, sim.

O debate está no mérito e no longo prazo. Muito interessante ver a dinâmica do financiamento coletivo nesse processo. Ao reduzir riscos, as plataformas permitem o florescimento de propostas inovadoras. O curioso é que, mesmo sendo um investimento privado em última instância, uma campanha de financiamento coletivo pertence ao debate público.  

A comunidade reage não pela possibilidade do projeto ser uma fraude, mas pelo fato de acreditar que esse caminho dará num beco sem saída, ou, até mesmo num prazo ainda mais longo, caso essa tecnologia venha a impactar as finanças públicas do país.

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