Não é novidade que eventos culturais são excelentes espaços de trocas. Uma ida ao show do artista favorito, no sarau literário, uma passada na exposição de artes plásticas ou até uma sessão de autógrafos do escritor admirado podem se tornar momentos de celebração entre pessoas queridas e importantes trocas de experiências. O que não é tão óbvio, no entanto, é o potencial transformador que cada encontro carrega.
Para comunidades criativas que se ancoram em meios digitais, eventos como a Bienal do Livro, o DOFF ou a Poc Con são catalisadores importantes de criatividade e pertencimento. Isso porque o encontro presencial de integrantes de grupos específicos fortalece ainda mais a relação com a cultura, bem como cria um forte vínculo com os demais participantes.
1. Representatividade
A possibilidade de explorar, em conjunto, temas caros para si, e ver o reflexo disso em outros, reforça a identidade pessoal e promove uma confiança importante para a expressão da individualidade. Nino (@literanino no Instagram), criadore de conteúdo literário e autore, conta sobre a sua experiência com a Poc Con, feira LGBTQIAP+ de quadrinhos e artes gráficas que aconteceu em 2025:
“As pessoas LGBTQIAP+ sempre tiveram um papel importante na cultura pop, mas essa participação foi constantemente apagada ou invisibilizada. A Poc Con é um espaço construído para nos lembrar que esse espaço precisa ser celebrado, criando um ambiente onde os artistas podem expor seus trabalhos com orgulho e os fãs e consumidores dessa arte podem finalmente se enxergar, seja através dos quadrinhos, prints ou pela conexão formada com todos os presentes nesse evento único.”
2. Pertencimento
Comunidades criativas que se apoiam digitalmente encontram nos ambientes culturais uma grande oportunidade de estreitar laços que foram construídos à distância. Para além da experiência profissional, que pode ser enriquecedora, mergulhar em universos de interesse em comum pode resultar na formação de amizades que acompanharão existências completas.
É o que conta Gabriele Santuzzo (@gabrielesantuzzo no Instagram), criadora de conteúdo literário para redes sociais e autora:
“Através de encontros organizados por criadores e mesas de conversa sobre temáticas relevantes como a importância da representatividade na literatura, como funciona o mercado editorial ou debates sobre gêneros e tropes literárias, a Bienal do Livro vai além de um evento para comprar livros; é um ponto de encontro para todos aqueles que, algum dia, já se encontraram dentro das páginas de um livro.”

Leia também: Colocando coisas bonitas no mundo: clubes de arte para conhecer e apoiar
3. Consolidação profissional
A conquista de parcerias com marcas é um passo importante na trajetória profissional do criador de conteúdo. Eventos voltados para nichos específicos podem ser grandes oportunidades para firmar esses acordos. A dinâmica costuma ser benéfica para ambos os lados, já que as empresas em evidência precisam de divulgação e buscam se destacar dentre todas as possibilidades, e os influenciadores detêm a capacidade de divulgar e contam com um público fiel para tanto.
Em tempos de solidificação das profissões digitais é especialmente importante que haja um reconhecimento do trabalho do criador de conteúdo. Nesse espaço de trocas com as marcas, os projetos se fortalecem e ganham uma nova perspectiva de atuação, dessa vez mais profissional e digna, tornando-se parte atuante do ciclo econômico e, portanto, retornando ao criador como renda, o que pode permitir o sustento individual e dedicação exclusiva a esse trabalho.
Para quem trabalha diretamente com uma comunidade ativa e engajada, os eventos são uma oportunidade de fortalecer este vínculo. Mediação de mesas, produção de conteúdos para marcas e até mesmo trocas de ideias em filas podem resultar em um aumento significativo dessa comunidade. É por meio da experiência compartilhada que se torna possível descobrir caminhos novos de identificação, que normalmente se revertem em apoio aos projetos que englobam o universo em questão.
4. Paixão pelo tema
Pode parecer óbvio, mas nunca é demais reforçar que criadores de conteúdo costumam ser, antes de tudo, apaixonados pela temática que abordam. Tópicos como literatura, música, audiovisual e jogos movimentam os interesses de boa parte da população, que produz e, principalmente, consome muito sobre esses assuntos.
Da perspectiva de um consumidor ávido pela sua zona de interesse, grandes encontros de nichos específicos funcionam como uma imersão profunda no ponto em questão. Por meio deles é possível se atualizar sobre as tendências, consumir diferentes aspectos do assunto, promover debates acalorados, encontros emocionados e até quem sabe conhecer figuras que são referência no setor. Tudo isso proporciona, é claro, muita diversão.
“O DOFF é uma chance de encontrar presencialmente as várias pessoas queridas com quem compartilhamos jogatinas virtuais. É uma chance de encontrar diretamente as editoras, recolher as recompensas dos projetos apoiados no Catarse, jogar ao vivo e conhecer ainda mais jogos e propostas. É sobre se divertir, ficar com o coração quentinho e com a mochila pesada de jogos", diz Rafael Cruz, analista de suporte do Catarse e apaixonado por jogos que participou ativamente do DOFF com o Catarse em sua primeira edição com estande oficial.

Leia também: Catarse no Diversão Offline: tudo o que você precisa saber sobre nosso espaço
Perceber que não se está sozinho e entender a complexidade produzida por um interesse em comum ainda é uma fonte de inspiração para aqueles que criam e se dedicam a produzir sobre as temáticas. Em termos práticos, é muito mais fácil criar quando se percebe que efetivamente existe alguém que vai consumir. Saber dessa reciprocidade é fundamental na hora de ligar a câmera e gravar um vídeo para as redes sociais, afinal de contas, ninguém quer falar com as paredes.
Por isso, seja você parte do público geral ou um criador de conteúdo, apoie eventos do seu nicho de interesse. Sua participação nestes espaços contribui para o fortalecimento do ecossistema cultural, abre margem para um fomento maior ao tema e impulsiona o engajamento daqueles que necessitam de visibilidade para criar. Quando um nicho das redes sociais produz um encontro, é possível perceber, finalmente em toda a sua grandiosidade, a explosão de diversidade e cultura que envolve o assunto. E, por fim, uma lembrança aos criadores, para que nunca desistam de suas ideias: produzir conteúdo é produzir conexão, e isso por si só já vale a pena.