Depois de um ano no esquema “tudo ou nada” de financiamento (ou alcança a meta ou o dinheiro é devolvido para os apoiadores), decidimos flexibilizar a regra no mês passado.
Estabelecemos, porém, algumas condições. O projeto precisa: ter atingido pelo menos 25% na primeira arrecadação; ser reformulado; lançar um novo vídeo; abrir o orçamento. Além disso, o realizador precisa mandar e-mail para todos os apoiadores.
Na semana passada, o Baixo Centro foi o primeiro projeto reciclado no Catarse a ser bem-sucedido. Na primeira campanha, os realizadores pediram R$ 56 mil para realizar um festival cultural de um mês no entorno do Minhocão, no centro de São Paulo. Já na segunda, a meta foi de R$ 16 mil, para realizar apenas o primeiro final de semana do festival, que foi reduzido para dez dias de duração.
Apesar do sucesso da segunda campanha, o projeto não alcançou os R$ 23 mil captados na primeira. Na entrevista abaixo, Lucas Pretti, um dos realizadores do Baixo Centro, tenta explicar o porquê disso, avalia a experiência de reciclar um projeto de crowdfunding e dá dicas de como conduzir esse novo processo.
Catarse: Vocês conseguiram identificar quais fatores causaram o insucesso da primeira campanha?
Lucas Pretti: O principal fator, na nossa avaliação, foi termos lançado a campanha entre novembro e janeiro. Apostávamos no fim do ano como um motor de campanha mesmo, com coisas do tipo “aproveite o 13º salário e invista…” ou “dê um presente de natal para SP”, essas coisas. Mas, na prática, todo mundo desligou, viajou, não quis saber de nada, inclusive muitos de nós, envolvidos com o projeto, e acabou que tivemos um mês a menos de campanha, o que influenciou pacas no resultado. Ou fator foi a gente não ter se dedicado tanto assim nos primeiros dias de campanha no ar. No final, quando começamos a sentir o que é uma campanha de crowdfunding, qual o tom etc, percebemos que podíamos ter nos dedicado mais.
Como foi a experiência de reciclar o projeto? Quais foram as principais mudanças entre as duas campanhas?
A experiência foi muito válida, tanto para rever e analisar o projeto em si - talvez ele realmente precisasse dessa adequação, pelo menos nessa primeira vez. Tivemos que praticar o olhar crítico e desapegado para nossa própria criação, e isso nem sempre é muito fácil. Em relação à campanha, a coisa foi bem meia light da segunda vez, porque a meta era apenas fazer com que as pessoas redirecionassem o dinheiro que já tinham colocado no primeiro projeto. Claro que fizemos bastante barulho, mas mais porque o projeto tem uma demanda e uma causa bem mais importantes do que pela campanha em si.
Apesar da campanha ter sido bem-sucedida, vocês não conseguiram chegar aos R$ 23 mil captados pela proposta anterior. Por que?
Bela pergunta. Estou me perguntando muito isso. A resposta certa é: porque não conseguimos nos comunicar direito com todos os apoiadores. E é uma injustiça na verdade, porque tentamos muito! Mandamos pelo menos quatro e-mails à lista de apoiadores, individualmente, avisando sobre o novo projeto e com um tutorial de como redirecionar o dinheiro. Muitos não devem ter aberto o e-mail, ou abriram e deixaram para depois, até que o prazo venceu. Perdemos R$ 6 mil nessa brincadeira - o que faria bastante diferença. Mas, enfim, não rolou. Um outro ponto é a vibe “jogo” que sempre acontece em fins de campanha. Como já tínhamos atingido a meta, foi mais difícil inflamar (e não apenas convencer) o povo. Em tese já tinha dado certo. As pessoas não se esforçam tanto quando é assim.
O que acharam da flexibilização da regra de tudo ou nada do Catarse? Alguma sugestão de modificação?
Achamos ótimo. As pessoas mudam de ideia no caminho. Tentam e erram. Com critérios, claro, elas devem ter a chance de tentar de novo. O Baixo Centro, um projeto importantíssimo para São Paulo sob diversos pontos de vista, sem modéstia, só vai acontecer por causa dessa flexibilização.
Alguma dica para um realizador que vai reciclar o seu projeto?
Tenha uma ferramenta de e-mail marketing realmente eficiente para falar com seus apoiadores (porque a maioria das gratuitas dá pau). E só faça um projeto se ele tiver uma causa maior do que o seu umbigo. O mundo está aí, ele precisa da sua atenção. Se a causa for importante, o projeto rola.