Imagem do projeto O Gabinete do Dr. CaligariEm seu segundo projeto no Catarse, Pedro Hutsch Balboni fala sobre o momento da produção de quadrinhos no Brasil e da importância do crowdfunding na categoria.“Os quadrinhos vivem um momento único no Brasil” – essa é uma frase que não paro de ouvir, dita de diferentes formas, com o mesmo conteúdo. E não deixa de ser verdade, mas a gente não pode esquecer que o momento é único por si só!Nosso país transpira arte, mas o que inspira nem sempre respira. É muito difícil viver de arte aqui, seja literatura, música, teatro, cinema, quadrinhos. É preciso ter muita vontade, jogo de cintura, paciência e pé no chão. Mas, em meio a tantas dificuldades, surgem ferramentas que se mostram decisivas.
"É preciso ter muita vontade, jogo de cintura, paciência e pé no chão. Mas, em meio a tantas dificuldades, surgem ferramentas que se mostram decisivas" (Pedro Balboni)
Para o pessoal que cria conteúdo a internet revolucionou tudo. Hoje é possível produzir, publicar e distribuir de forma ágil e gratuita. Meio bizarro citar isso em pleno 2015, mas o mundo já foi diferente. Sério, quando conheci o conceito de ‘blog’, minha visão sobre a internet mudou bastante. E para quem trabalha com material impresso, os preços de impressão em boas gráficas estão muito mais acessíveis e permitem que autores independentes produzam material de qualidade gráfica como o de editoras.
Dentre essas ferramentas, está o crowdfunding. No Brasil, o Catarse é a maior referência e já viabilizou mais de 3 mil projetos;
pra gente, que produz quadrinhos, ele tem feito a diferença.
Olhando o painel de projetos ativos na plataforma, vi que quadrinhos é a terceira categoria com mais projetos em andamento, são 25, atrás apenas de ‘Música’ e ‘Cinema e Vídeo’ - o que corresponde a mais de 10% dos 221 projetos ativos!
Tira do projeto Ciclanas e Ciclanos feita pelo cartunista Will Leite, que está com um projeto no Catarse. Colabore!Isso é bastante quando se olha para uma
plataforma que já movimentou mais de R$25 milhões em apenas 4 anos de existência! E essa grana toda girando em torno de projetos que mobilizaram pessoas com interesses em comum, que se juntaram para fazer as coisas acontecerem. Que momento para se estar vivo.
É único por si só, percebe?Produzo quadrinhos para a internet desde 2008 no
Joãos & Joanas, mas foi só em 2012 que lancei meu primeiro livro de maneira independente, o Primeiras Impressões. Sei bem do perrengue que um autor passa, mas foi a satisfação resultante desse processo que me fez continuar.
Tirinha do projeto Tudo Já Foi DitoEm 2014 fiz minha primeira campanha no Catarse, o
Tudo Já Foi Dito, que, graças a muito planejamento e a uma ajuda do incontrolável atingiu quase 3 vezes a meta inicial, e eu pude experimentar, pela primeira vez, a sensação de trabalhar com um material viabilizado financeiramente antes mesmo de existir. Muito mais do que isso, pude sentir na pele a sensação boa de ter ‘apoiadores’ para um projeto meu, desde amigos de longa data até desconhecidos que se identificaram com meu trabalho.
Em
2012 eu tinha meu primeiro livro publicado; em
2014, já eram
5.
Hoje, estou com uma nova campanha no ar, o
Ciclanos e Ciclanas, além de outros projetos em paralelo, e pretendo fechar o ano com
9 títulos impressos. Uso minha produção como termômetro para a produção de meus amigos e colegas de profissão, que também têm crescido.
Nunca houve um momento assim no Brasil, pelo menos não até onde eu sei, em termos de produção. As ferramentas estão disponíveis, e a gente tá agarrando elas e mostrando que não fugimos à luta.
Mas o mercado? O mercado, na minha opinião, continua tímido. Não entenda como pessimismo, isso é uma convocação! As coisas estão melhorando, eventos de quadrinhos como o FIQ e a CCXP – que atraem mais de 100.000 pessoas cada um – mostram que existe muita gente se interessando por quadrinhos, mas isso precisa se estabelecer como um cenário consistente.
Geralmente as empresas criam produtos pra atender necessidades das pessoas, pelo menos esse é o discurso mercadológico corrente. Nem sempre é simples assim. As pessoas nem sempre entendem sobre suas próprias necessidades/desejos ou o que for; raramente eu sinto falta de uma palavra que não conheço conscientemente. Mas, quando a palavra aparece, descubro tudo o que estava perdendo sem ela (exemplo de escritor).Da mesma maneira, muitas coisas criadas nunca foram uma necessidade latente, mas quando nascidas, caem como uma luva. Talvez o público leitor de quadrinhos nacionais não seja tão grande; ainda. Vai lá, arregaça as mangas, mostra o que você tem pra mostrar. Se você tem uma história para ser contada, agora é a hora.
Ilustração do projeto Quadrada. Colabore!A única maneira de melhorar o mercado atual é dar pilares nos quais ele possa se sustentar. No nosso caso, dos quadrinhos, são as boas histórias que podem melhorar o futuro. Vamos dar motivos para o público confiar no nosso trabalho. Faça com qualidade. E, como isso é subjetivo, faça a única coisa que pode fazer: dê o melhor de si.
Para quem estiver à procura de alguma coisa bacana, tem bastante projeto no ar AGORA MESMO. Sério, vai lá conhecer pessoas que estão dando a cara à tapa. E ofereça a outra face."