Tudo Errado é o nome do
livro de estreia do documentarista Raphael Erichsen. A obra baseada no diário de viagem escrito por ele durante a participação no Rally Mongol, evento autoproclamado como “a aventura mais estúpida do planeta”. É também a frase que passa por nossas cabeças ao conhecer a trajetória de vida do Rapha.
“Kinda”, como é conhecido pelos amigos, abriu uma Loja de Discos Independentes no Rio em 2001, mesmo ano em que o software de compartilhamento de MP3 Napster teve auge de acessos e a internet abalou de vez os pilares da indústria musical e a venda de CDs. Após três anos “dando murro em ponta de faca” ele encerrou o empreendimento. Voltou a trabalhar como Diretor de Arte e foi para São Paulo. Lá trabalhou durante alguns anos no mercado editorial. Inquieto, resolveu mudar os rumos da vida profissional e estudar fora. Optou por fazer um Mestrado em Documentário na Espanha, mas o ano era 2007 e o país europeu estava prestes a entrar na maior crise política e econômica da sua história.
Decidiu, então, ir para a Inglaterra. Lá tomou coragem e foi na cara dura pedir emprego para um dos seus ídolos: Don Letts, cineasta e DJ britânico. De origem jamaicana, Letts é uma figura respeitadíssima pela produção como videomaker, mas também por ser considerado o responsável por unir reggae e punk e influenciar bandas da grandiosidade do The Clash. Trabalhar com ele ia ser um impulso e tanto na carreira de qualquer documentarista. Mas por causa da crise financeira que a Europa passava, pela primeira vez em anos Don Letts não recebeu verba da BBC para produzir um documentário.
Para não perder a viagem, Raphael aproveitou o clima de “já que eu não to fazendo nada e você também” para pedir autorização e fazer um filme sobre a vida e obra de Letts. Nascia assim "Superstonic Sound", obra que rodou festivais de cinema do mundo inteiro.
Com um filme de expressão na bagagem Kinda resolveu voltar para o Brasil em 2010 e abrir sua própria produtora audiovisual. Era a hora de tudo dar certo e a vida seguir estável e tranquila.
A Aventura Mais Estúpida do Mundo
“Nunca gostei de perrengue. Não curtia nem acampar”. Essa com certeza não é a frase que você espera ouvir de alguém percorreu de carro mais de 1/3 da superfície terrestre e passou por lugares tão inóspitos quanto interior do Cazaquistão e o gigante Deserto da Mongólia. Porém, Raphael é um homem de surpresas.
Em 2012 ele recebeu o convite de três amigos para integrar uma equipe brasileira do
Rally Mongol, competição automotiva que parte de Londres rumo a Ulan Bator, capital da Mongólia. Uma verdadeira "Corrida Maluca" composta por participantes e carros fantasiados e cheios de adereços. A jornada foi registrada pelas lentes de Raphael e se tornou uma série exibida em 2013 na Multishow.
Sabe aquelas séries do Canal Off ou documentários de aventura no qual assistimos atletas extremamente preparados e que fazem uma caverna parecer mais atraente do que as nossas camas? Não era o caso.
Para começo de conversa o carro foi comprado pelo Ebay. O documento do veículo era escrito a mão pelo próprio Raphael e obviamente não era bem-aceito em nenhuma fronteira. E esse, nem de longe, era o maior perrengue que eles tinham de lidar.
Em um momento icônico da aventura o carro quebrou no meio do Deserto Mongol. Uma das poucas regras da competição é "sob nenhuma hipótese o veículo pode ser abandonado em qualquer parte da Mongólia". Raphael se separou dos amigos e foi de carona até a cidade mais próxima em busca de socorro. Lá contratou o mongol Mata para realizar o resgate. Em menos de 2 horas de viagem o pneu do reboque já havia furado e sido trocado, o motorista estava completamente bêbado de vodka e aparentemente Mata tinha "tomado pra si" a câmera de Raphael.
Assustado, perdido no deserto a noite em um carro com dois desconhecidos embriagados que não falavam sua língua. Essa era a situação de Raphael quando ele avistou outros dois carros que participavam do Rally. Não pensou duas vezes: fugiu do reboque e pediu socorro aos outros competidores.
Ao amanhecer ele foi a outra cidade tentar iniciar uma nova missão de resgate. É nesse momento que ele vê ao longe o retorno triunfante de Mata que rebocava o veículo da equipe de Raphael. Estavam todos a salvo, inclusive a câmera.
Esse foi só um resumo das muitas histórias reunidas no
livro Tudo Errado que está em financiamento coletivo no Catarse. Diferente da série o novo projeto traz o ponto de vista de Raphael sobre as desventuras no Rally Mongol. “Um comer, rezar e amar para adolescentes de 30 e poucos anos” é como o autor define a obra.
Apoie a publicação do livro e descubra como a experiência mudou a percepção de Raphael sobre o mundo em uma fase da sua vida marcada pela síndrome do pânico e o fim do casamento.
Tudo errado mesmo?Da imigração para a Europa no auge da maior crise financeira desde 1929 veio a inspiração de uma série de documentários que você pode assistir
aqui. A loja de discos que nunca rendeu um tostão? Até hoje é lembrada como grande ponto de encontro da cena musical independente carioca. É também de autoria dele o documentário Ilegal, parte da
Campanha Repense pela Legalização da Maconha Medicinal, obra que pressionou a Anvisa a finalmente liberar a importação do Canabidiol.
Raphael Erichsen é prova que nem sempre errado é o oposto de certo. É só um outro caminho para se chegar a um objetivo. Ajude-o a atingir mais um
apoiando o projeto Tudo Errado no Catarse.