Patronhood.com Mais uma americana, bem no começo. Por enquanto tem um projeto no ar, que provavelmente não virará.
Spacehive.com Plataforma inglesa. Aposta em projetos de menor porte, voltados para o engajamento de comunidades. Também está no começo, mas promete. Essas plataformas e projetos suscitam, de modo natural, algumas questões importantes sobre o papel a ser desempenhado pelo crowdfunding. Até onde vai esse poder pulverizado das multidões? Quais seriam as implicações desse mecanismo de financiamento? Quem será o financiado, aqueles que realmente precisam, ou aquelas que tem mais poder de comunicar a necessidade? Veremos surgir novos conceitos cívicos e urbanos? Veremos uma cidade sob uma perspectiva mais sistêmica? Ou veremos uma acentuação das diferenças sócio-culturais na geografia do espaço urbano? Como o Crowdfunded Urbanism ou Kickstarter Urbanism (um termo cada vez mais presente nos blogs e no twitter) irá se desenvolver frente ao paradigma de um pensamento urbano mais coletivista do qual, pelo menos nós aqui, desejamos estar participando?O fato das tecnologias possibilitarem novas formas de conectar necessidades ao financiamento não torna o sistema infalível. O crowdfunding é apenas um sistema e está ao alcance de todos. Resta saber se a sociedade o utilizará de forma inteligente, com objetivos mais sistêmicos e que prezam por um bem estar cidadão, de espaços comuns.Por mais excitante que essa nova onda do crowdfunding, que anda de mãos dadas com o urbanismo, possa parecer, ela vai de encontro a uma série de mecanismos de gestão presentes nas cidades de hoje. Mecanismos estes muito bem sedimentados, porém burocráticos e lentos. Licitações, Alvarás e autorizações não surgem em um passe de mágica. A gestão urbana na cidade contemporânea, seus fluxos financeiros, e a sua consequente distribuição de recursos, são dinâmicas ainda operadas sob preceitos e lógicas que cada vez mais evidenciam sua própria ineficiência frente às velocidades do mundo atual. E aqui o financiamento coletivo cai bem porque é um mecanismo ágil, que mobiliza os recursos de forma transparente e direcionada para projetos com objetivos claros a serem cumpridos. Tudo a ver com urbanismo.Também vale notar que, enquanto num projeto de crowdfunding de algum produto você, basicamente, faz uma pré-compra de um item (que será um bem privado), quando falamos de um parque ou de uma ciclovia estamos falando de bens públicos. Um parque não pertence à uma vizinhança, e no mínimo é de responsabilidade de uma cidade inteira. Desse modo, quando uma vizinhança passa a se responsabilizar por um parque, a distribuição dos recursos (dependendo do contexto) pode não ser algo tão justo assim.O que quero dizer com isso se resume basicamente na seguinte pergunta: deveria o crowdfunding substituir os impostos? E uma resposta clara à esta pergunta é bem difícil. Por um lado, o financiamento colaborativo seria uma ferramenta e tanto no caso de um orçamento participativo bem organizado e representado. Por outro, ficam as perguntas: Temos mecanismos suficientes e funcionais para tornar isso uma realidade? Para fazer uma divisão de recursos justa, sem intervenção de um mediador?Esse tema foi abordado em um interessante post no blog de Ethan Zuckerman, cuja leitura recomendo fortemente. A argumentação de Zuckerman é de que o crowdfunding é uma ferramenta de muito valor na luta pelos direitos das pessoas, para propor e idear soluções, ou chamar atenção para problemas. Mas no que diz respeito a uma substituição de funções entre sociedade civil e Estado - no caso do crowdurbanismo, a sociedade atuando como poder executivo e intervindo diretamente em bens públicos - Zuckerman busca uma leitura com mais cautela. Ele prefere papéis que prezem como os da plataforma brasileira PortoAlegre.cc ou de iniciativas como a City2.0, iniciativa ligada ao TED Prize. Vale muito dar uma olhada na página "Resources" do City 2.0 e conhecer um mundo de iniciativas sobre um pensamento mais criativo dentro do urbanismo.Mas para darmos esse passo além, onde uma plataforma de "CrowdUrbanismo" se coloca como catalisadora da sociedade e passa daí a viabilizar soluções diretamente, precisaríamos de um diálogo muito mais estreito entre sociedade civil e governo. Outro ponto importante é que dentro da maioria dos sistemas sociais em vigência hoje, o governo ainda tem a obrigação de garantir os direitos de cada cidadão. O modelo recomendado por Zuckerman seria mesclar o crowdfunding com crowdsourcing para gerar diálogo entre diversos setores da sociedade e os governos, como achamos em alguns exemplos pelo mundo.Certo ou não, essa é a tendência seguida pelo pessoal do Ioby.org e LisboaParticipa, ou uma série de projetos avulsos que propõem soluções ou sistematização de conhecimentos a fim de melhorar o ambiente urbano:Cidade para as pessoas, por exemplo, é um trabalho de jornalismo realizado por Natália Garcia, que viaja pelo mundo mapeando experiências em mais diversas cidades ao redor globo e entrevistando especialistas da área.O projeto Que ônibus passa aqui, de Porto Alegre, captou recursos para criar cartazes com informação sobre os ônibus que passam em cada ponto da cidade. O projeto acabou em parceria com a prefeitura da cidade.Openplans.org é uma empresa especializada em open data e realiza projetos em conjunto com agências governamentais no sentido de tornar arquivos de trabalho disponíveis ao público para comentários e propostas.Enfim, o que sabemos e podemos afirmar com certeza, é que algo está mudando. E que esta mudança com certeza chegará aos nossos meios urbanos. Esperamos que sejam mudanças para melhor. ;)Por George Yurievitch (@yurievitch)com uma leve intromissão de Rodrigo Maia (@rmaiafoto)