O que nos faz compreender que um produto artístico de fato está finalizado? O que nos faz bater o martelo e compreender que aquele projeto de fato está encerrado e podemos seguir para a próxima jornada? Essas são perguntas que rondam o universo criativo e frequentemente nos fazem pensar a respeito da noção de obras acabadas e também a própria ideia de produto perfeito. No entanto, existe uma outra etapa do mundo criativo bastante importante e que até então era pouco explorada: o caminho.

Finalizar um projeto exige, antes de qualquer coisa, a compreensão de que esse item está finalizado e pronto para um julgamento público geral, o que muitas vezes pode ser permeado de elogios e críticas. Tomar essa decisão exige coragem e, acima de tudo, a compreensão de que esse mesmo produto, seja ele qual for, pode ser observado de diversos olhares, do artista, do público geral, do mercado entre outros.

O que vem chamando a atenção é um movimento orgânico do mercado criativo e independente, cada vez mais humanizado e que visa apresentar ao público todas as etapas de criação, seja ela permeada de erros ou acertos. 

Work in progress

Este é um termo que vem entrando em evidência e serve para a ideia de compartilhamento do processo criativo. Por exemplo, quando um livro bate a meta do financiamento coletivo e entra efetivamente para a etapa de produção, é comum que muitos artistas compartilhem essa jornada, não só para atualizar os apoiadores a respeito do andamento do projeto - e consequentemente do investimento dessas pessoas - mas também para mostrar que essa é uma caminhada muitas vezes solitária, repleta de dúvidas e que mesmo com o orçamento garantido, os apoiadores podem seguir contribuindo com novas sugestões.

Um dos melhores exemplos sobre a jornada work in progress é com Cecilia Ramos, ou Cartumante como ela é conhecida nas redes sociais. Em seus projetos, Cartumante pede ajuda aos apoiadores para decidir datas de workshops, definição de material de metas estendidas, escolha de cores de produtos, entre outros. Em No Andar de Baixo, por exemplo, a quadrinista cumpriu as indicações do Catarse de comunicar sobre os processos de produção aos apoiadores via Novidades, mas também incluiu esse mesmo pessoal em etapas de tomada de decisão.

Optar por descentralizar o poder nessas horas mostra como o financiamento coletivo é um processo que envolve toda a comunidade. O bom funcionamento da campanha depende não só de um projeto com uma boa ideia, mas sim de estratégias que estimulem o comportamento de apoiadores, ao passo que eles percebam como o investimento deles é importante, mas o envolvimento emocional é tão importante quanto.

Nas campanhas de assinatura também é muito comum notarmos esse comportamento, principalmente em clubes de leitura.

Projetos como Cultivando histórias, Club de conversación literaria e Nuvem literária

envolvem os leitores na etapa de escolha das obras, escolha das datas de encontros, definições de sorteios e muito mais. Tudo isso mantém o interesse desses apoiadores vivos.

Em projetos de outros nichos essa ação não é diferente, o Bekopaper frequentemente abre enquetes para a definição da temática mensal. Já a Le Cardinalli do projeto Colecionadores de Criatividade faz questão de avisar (e comemorar) as atualizações do seu espaço criativo que resultam também no update de alguns itens de trabalho e consequentemente mudança nas recompensas. 

É claro que essas ações são fundamentais porque corroboram com as diretrizes da própria plataforma de manter os apoiadores sempre informados. No entanto, torná-los parte do processo criativo é mérito do criador, que sabe da importância dessa decisão e reconhece a necessidade da coletividade até nesses momentos. 

Vale lembrar que nossa rotina acontece com dinamismo, nem sempre tudo é linear, adotar o work in progress como estratégia de vida, é compreender as mudanças, aceitar o acolhimento, dar um passinho para trás e ainda assim tomar impulso para seguir em frente.

Gostou deste material? Compartilhe esse material com amigos e coloque a ideia do Work in progress no mundo!