#BLKPWR — 12 projetos de financiamento coletivo em busca de uma consciência mais negra

O mês de Novembro é bastante emblemático para a população brasileira, especialmente a população negra. Pipocam textos, entrevistas, rodas de conversa, bate-papos dos mais tipos com o objetivo de levantar a questão da parcela da população que é a maioria numérica, porém uma(de muitas) minoria política. A caminhada do povo negro, no entanto, sempre foi coletiva.

“Ubuntu”, uma noção-filosofia de origem africana expressa a ideia da relação indivíduo-comunidade. É uma relação tão potente e transformadora que costuma ser resumida (de uma forma simples, mas poderosa) em “eu sou porque nós somos”. E o que o financiamento coletivo tem a ver com isso? Tudo, sim. A vontade do coletivo, de transformar um espaço ou realizar uma obra que traga alguma melhoria para a vida dos demais, a vitória-de-um-que-também-é-a-vitória-de-todos, dentre muitas outras coisas.

Aqui embaixo você pode conhecer 3 projetos que estão abertos para a colaboração hoje e outros 9 que passaram pelo Catarse ao longo dos últimos anos. Cada uma, a sua maneira, ressalta uma ou mais caraterísticas para se ter consciência nesse dia 20 de Novembro (e em todos os outros dias do ano). Dá uma olhada:

1 — Eu Empregada Doméstica — Nossa Voz Ecoa

Encabeçado pela Preta-Rara (já ouviu? Confere aqui) o projeto pretende fazer ecoar as vozes de tantas empregadas domésticas que, assim como ela, já sofreram (e ainda sofrem muito) agressões e humilhações. Sua página conta com mais de 130 mil pessoas seguidoras e mais de 4 mil relatos já enviados. O esforço é transformar alguns desses relatos em um livro e, caso consiga dinheiro suficiente, um documentário. Com R$75 você leva o livro pra casa e soma força nessa batalha que, apesar de ser diária, é tão invisibilizada e naturalizada pela sociedade. Por aqui você vai direto pra página de apoio. ;)

2 — Contos de Òrun Àiyé (HQ)

 

Quadrinhos sobre Orixás. Nesse projeto, Hugo Canuto, Marcelo Kina e Pedro Minho relatam a cultura Yorubá na forma de histórias em quadrinhos. Sua proposta é de ajudar a eliminar a camada de preconceitos que envolvem as religiões de matriz africana, especialmente no nosso país, que recebeu a maior parte dos povos da diáspora africana. E com R$25 você já leva a revista impressa.

3 — Òrun Àiyé: As Águas de Oxalá (Animação)

“As águas de Oxalá”, o nome do segundo episódio da série, contará a jornada de Oxalufã até o reino de Oyó (você pode ver o teaser do primeiro episódio aqui). Cintia Maria e Jamile Coelho lideram este projeto de animação 2D que tem como principal objetivo o combate à intolerância religiosa e a consolidação da lei 10.639/03. O dvd contendo o episódio está no apoio de R$51, corre lá.

4 — De Cor

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“De Cor é um curta-metragem documental universitário que mescla performances artísticas e depoimentos de mulheres e homens negros, que têm se posicionado socialmente ocupando a cena cultural e intelectual do nosso país.”

Uma descrição e tanto, não é? Quando se pensa na população negra e seus locais ocupados nos espaços da vida, pouco se vê na representação da arte ou da academia. Desde a quantidade quase nula de professoras e professores negros, até a sempre posição subalterna e sofrida representada pela mídia, não há uma identificação protagonista do povo negro. É como se não fôssemos protagonistas de nossa próprias histórias. E é isso o que o projeto da Laís, da Débora e da Beatriz quer combater.

5 — Fortaleça o Canal DePretas

Cê conhece a Gabi, né? Deveria. De um jeito descontraído e muito didático, ela aborda diversas questões que atravessam a população negra todos os dias, especialmente as mulheres. Nele, o empoderamento e um feminismo mais interseccional são bandeiras importantes, então vale muito a pena. O projeto dela era pra ajudar a crescer o canal. Em uma época em que a produção de conteúdo via YouTube extrapola a mídia convencional, há de se perguntar onde estão os influenciadoras e influenciadores negros. Arrecadou R$9.885 através de 191 pessoas.

6 — Negros Heróis: histórias que não estão no gibi

Quantos vezes você viu um negro ser representado como herói? Se a história é repleta de negros e negras brilhantes, por que eles geralmente ocupam o papel dos vilões ou subalternos? Roniel Felipe, ao retratar a vida de Laudelina de Campos Melo e Antonio Carlos Santos Silva, perpassa por mais de um século de história brasileira listando momentos e ações importantes e decisivas desses dois protagonistas e relacionando com o momento corrente. São histórias de suma importância, mas, como o próprio autor diz, “não se veem por aí”. O projeto arrecadou R$13.315 através de 198 pessoas.

7 — Fundo de Apoio para a III Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

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A Marcha, organizada pelo pessoal do Reaja Ou Será Morta/Reaja Ou será Morto apontou justamente para uma das pautas mais importantes dos coletivos negros, o genocídio da juventude negra. Buscaram-se fundos para a marcha e seus integrantes bem como fortalecimento das ações promovidas pelo próprio coletivo. O projeto arrecadou R$2.555 através de 50 pessoas.

8 — EXPOSIÇÃO AGO — presença negra em Porto Alegre: uma trajetória de resistência

Da percepção da invisibilidade, do silêncio, de muitas ausências e do quão pouco se sabe sobre a participação do povo negro na vida e no desenvolvimento da capital gaúcha Porto Alegre, surge o projeto buscando pensar a negritude ao longo da história local e nacional. O projeto arrecadou R$5.776 através de 137 pessoas.

9 — Ajude-nos a repor câmera destruída por policiais

O Coletivo Afroguerrilha liderou o projeto que busca substituir uma câmera que havia sido destruída por força policial durante uma manifestação em 31 de agosto de 2016. Com uma postura que convida a juventude negra a agir no mundo fotografando, filmando e registrando tudo através de sua perspectiva, co coletivo vai além, se apoiando no “não tão invisível” genocídio da juventude negra. O projeto arrecadou R$6.480 através de 122 pessoas.

10 — Osvaldão

O Coletivo Gameleira levou para as salas de cinema a história do Osvaldão, o “guerrilheiro invisível”, capaz de se transformar em vento, que era adorado pela população local e temido pela ditadura militar. Quem dá voz a Osvaldão é o MC, cantor e compositor Criolo, que resgata o papel desse grande líder negro na história e na memória do país. Foram financiadas coletivamente 4 sessões (Rio, BH, Salvador, SP), num total de R$43.500.

11 — Uma história mais ou menos parecida

A Juliana Fiorese trouxe uma linda história sobre uma princesa chamada Pérola Negra, fazendo uma releitura da fábula da Branca de Neve. Através de passagens simples e marcantes, são levantadas questões e momentos importantes para uma infância que carece tanto de representatividade nas histórias. Recomendado para todas as idades, aliás. O projeto arrecadou R$12.646 através de 235 pessoas.

12 —Fábula de Vó Ita

Numa fusão entre atores reais e animação, o filme buscou a difícil discussão em torno da identidade étnica numa proposta leve e divertida. A Oxalá Produções buscou levantar a questão da representatividade, especialmente a mirim. Todos nós gostamos de histórias e pode-se até dizer que somos moldados por partes delas. O que se pode, então, pensar sobre uma criança negra, que não se vê na TV, nos quadrinhos, nos filmes, nos contos?

Dá uma olhada na sinopse: Gisa tem um cabelo cheio de vida e personalidade, mas seus colegas da escola vivem debochando dela por conta disso. Triste e sem estima, ela irá recorrer a Bruxa Leleira, que a transforma em alguém que ela não é e, por isso, Gisa quase perde a chance de reencontrar sua mãe, a Rainha Andrea. Nesta fábula de fantasia e realidade contada entre panos e tecidos, Vó Ita envolve sua netinha Gisele para lhe mostrar a beleza das diferenças e o valor de sua própria identidade.

O projeto arrecadou R$11.678 através de 92 pessoas.

___

Por mais projetos levantando e ajudando a carregar bandeiras da população negra, por mais representatividade e atividade, nenhum passo para trás.

Conhece algum outro projeto que merecia estar na lista? Ficou com alguma dúvida? Deixe um comentário e continuamos esse papo por ali.

Hi There!

Colaborador
Este texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)

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#BLKPWR — 12 projetos de financiamento coletivo em busca de uma consciência mais negra

O mês de Novembro é bastante emblemático para a população brasileira, especialmente a população negra. Pipocam textos, entrevistas, rodas de conversa, bate-papos dos mais tipos com o objetivo de levantar a questão da parcela da população que é a maioria numérica, porém uma(de muitas) minoria política. A caminhada do povo negro, no entanto, sempre foi coletiva.

“Ubuntu”, uma noção-filosofia de origem africana expressa a ideia da relação indivíduo-comunidade. É uma relação tão potente e transformadora que costuma ser resumida (de uma forma simples, mas poderosa) em “eu sou porque nós somos”. E o que o financiamento coletivo tem a ver com isso? Tudo, sim. A vontade do coletivo, de transformar um espaço ou realizar uma obra que traga alguma melhoria para a vida dos demais, a vitória-de-um-que-também-é-a-vitória-de-todos, dentre muitas outras coisas.

Aqui embaixo você pode conhecer 3 projetos que estão abertos para a colaboração hoje e outros 9 que passaram pelo Catarse ao longo dos últimos anos. Cada uma, a sua maneira, ressalta uma ou mais caraterísticas para se ter consciência nesse dia 20 de Novembro (e em todos os outros dias do ano). Dá uma olhada:

1 — Eu Empregada Doméstica — Nossa Voz Ecoa

Encabeçado pela Preta-Rara (já ouviu? Confere aqui) o projeto pretende fazer ecoar as vozes de tantas empregadas domésticas que, assim como ela, já sofreram (e ainda sofrem muito) agressões e humilhações. Sua página conta com mais de 130 mil pessoas seguidoras e mais de 4 mil relatos já enviados. O esforço é transformar alguns desses relatos em um livro e, caso consiga dinheiro suficiente, um documentário. Com R$75 você leva o livro pra casa e soma força nessa batalha que, apesar de ser diária, é tão invisibilizada e naturalizada pela sociedade. Por aqui você vai direto pra página de apoio. ;)

2 — Contos de Òrun Àiyé (HQ)

 

Quadrinhos sobre Orixás. Nesse projeto, Hugo Canuto, Marcelo Kina e Pedro Minho relatam a cultura Yorubá na forma de histórias em quadrinhos. Sua proposta é de ajudar a eliminar a camada de preconceitos que envolvem as religiões de matriz africana, especialmente no nosso país, que recebeu a maior parte dos povos da diáspora africana. E com R$25 você já leva a revista impressa.

3 — Òrun Àiyé: As Águas de Oxalá (Animação)

“As águas de Oxalá”, o nome do segundo episódio da série, contará a jornada de Oxalufã até o reino de Oyó (você pode ver o teaser do primeiro episódio aqui). Cintia Maria e Jamile Coelho lideram este projeto de animação 2D que tem como principal objetivo o combate à intolerância religiosa e a consolidação da lei 10.639/03. O dvd contendo o episódio está no apoio de R$51, corre lá.

4 — De Cor

1-7sSsc8E_No3B_veZ8NBlEQ

“De Cor é um curta-metragem documental universitário que mescla performances artísticas e depoimentos de mulheres e homens negros, que têm se posicionado socialmente ocupando a cena cultural e intelectual do nosso país.”

Uma descrição e tanto, não é? Quando se pensa na população negra e seus locais ocupados nos espaços da vida, pouco se vê na representação da arte ou da academia. Desde a quantidade quase nula de professoras e professores negros, até a sempre posição subalterna e sofrida representada pela mídia, não há uma identificação protagonista do povo negro. É como se não fôssemos protagonistas de nossa próprias histórias. E é isso o que o projeto da Laís, da Débora e da Beatriz quer combater.

5 — Fortaleça o Canal DePretas

Cê conhece a Gabi, né? Deveria. De um jeito descontraído e muito didático, ela aborda diversas questões que atravessam a população negra todos os dias, especialmente as mulheres. Nele, o empoderamento e um feminismo mais interseccional são bandeiras importantes, então vale muito a pena. O projeto dela era pra ajudar a crescer o canal. Em uma época em que a produção de conteúdo via YouTube extrapola a mídia convencional, há de se perguntar onde estão os influenciadoras e influenciadores negros. Arrecadou R$9.885 através de 191 pessoas.

6 — Negros Heróis: histórias que não estão no gibi

Quantos vezes você viu um negro ser representado como herói? Se a história é repleta de negros e negras brilhantes, por que eles geralmente ocupam o papel dos vilões ou subalternos? Roniel Felipe, ao retratar a vida de Laudelina de Campos Melo e Antonio Carlos Santos Silva, perpassa por mais de um século de história brasileira listando momentos e ações importantes e decisivas desses dois protagonistas e relacionando com o momento corrente. São histórias de suma importância, mas, como o próprio autor diz, “não se veem por aí”. O projeto arrecadou R$13.315 através de 198 pessoas.

7 — Fundo de Apoio para a III Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

1-1pztpZyKDorLrqM6p_iG3g

A Marcha, organizada pelo pessoal do Reaja Ou Será Morta/Reaja Ou será Morto apontou justamente para uma das pautas mais importantes dos coletivos negros, o genocídio da juventude negra. Buscaram-se fundos para a marcha e seus integrantes bem como fortalecimento das ações promovidas pelo próprio coletivo. O projeto arrecadou R$2.555 através de 50 pessoas.

8 — EXPOSIÇÃO AGO — presença negra em Porto Alegre: uma trajetória de resistência

Da percepção da invisibilidade, do silêncio, de muitas ausências e do quão pouco se sabe sobre a participação do povo negro na vida e no desenvolvimento da capital gaúcha Porto Alegre, surge o projeto buscando pensar a negritude ao longo da história local e nacional. O projeto arrecadou R$5.776 através de 137 pessoas.

9 — Ajude-nos a repor câmera destruída por policiais

O Coletivo Afroguerrilha liderou o projeto que busca substituir uma câmera que havia sido destruída por força policial durante uma manifestação em 31 de agosto de 2016. Com uma postura que convida a juventude negra a agir no mundo fotografando, filmando e registrando tudo através de sua perspectiva, co coletivo vai além, se apoiando no “não tão invisível” genocídio da juventude negra. O projeto arrecadou R$6.480 através de 122 pessoas.

10 — Osvaldão

O Coletivo Gameleira levou para as salas de cinema a história do Osvaldão, o “guerrilheiro invisível”, capaz de se transformar em vento, que era adorado pela população local e temido pela ditadura militar. Quem dá voz a Osvaldão é o MC, cantor e compositor Criolo, que resgata o papel desse grande líder negro na história e na memória do país. Foram financiadas coletivamente 4 sessões (Rio, BH, Salvador, SP), num total de R$43.500.

11 — Uma história mais ou menos parecida

A Juliana Fiorese trouxe uma linda história sobre uma princesa chamada Pérola Negra, fazendo uma releitura da fábula da Branca de Neve. Através de passagens simples e marcantes, são levantadas questões e momentos importantes para uma infância que carece tanto de representatividade nas histórias. Recomendado para todas as idades, aliás. O projeto arrecadou R$12.646 através de 235 pessoas.

12 —Fábula de Vó Ita

Numa fusão entre atores reais e animação, o filme buscou a difícil discussão em torno da identidade étnica numa proposta leve e divertida. A Oxalá Produções buscou levantar a questão da representatividade, especialmente a mirim. Todos nós gostamos de histórias e pode-se até dizer que somos moldados por partes delas. O que se pode, então, pensar sobre uma criança negra, que não se vê na TV, nos quadrinhos, nos filmes, nos contos?

Dá uma olhada na sinopse: Gisa tem um cabelo cheio de vida e personalidade, mas seus colegas da escola vivem debochando dela por conta disso. Triste e sem estima, ela irá recorrer a Bruxa Leleira, que a transforma em alguém que ela não é e, por isso, Gisa quase perde a chance de reencontrar sua mãe, a Rainha Andrea. Nesta fábula de fantasia e realidade contada entre panos e tecidos, Vó Ita envolve sua netinha Gisele para lhe mostrar a beleza das diferenças e o valor de sua própria identidade.

O projeto arrecadou R$11.678 através de 92 pessoas.

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Por mais projetos levantando e ajudando a carregar bandeiras da população negra, por mais representatividade e atividade, nenhum passo para trás.

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