Como ficar rico no financiamento coletivo: começar pequeno, mirar longe e sonhar grande

Abertura Jovem Suficiente

Mesmo com a desistência do melhor amigo do sonho de infância de viajarem o mundo, Felipe Gaúcho foi em frente e lançou o pé na estrada. Enquanto todos ao seu redor viravam adultos e abandonavam antigos sonhos, ele percorreu mais de 30 países em um ano e meio, entrevistando crianças em busca da juventude evanescente. A campanha para transformar a aventura no livro "Jovem O Suficiente" emocionou muitas pessoas e se tornou a maior arrecadação de um projeto de literatura, levantando mais de R$ 53 mil com 816 apoiadores. Diretamente de uma surf trip no Peru, Felipe conta como planejou e executou a campanha para alcançar esse recorde. Leia abaixo!

Por Felipe Gaúcho

Eu tinha recém voltado de uma viagem de volta ao mundo que durara quase um ano e meio, quando uma amiga me puxou durante uma festa e disse: “Gaúcho, eu não sei se você vai ser rico, mas tenho certeza de que vai ficar famoso”. Ambos rimos e nos abraçamos, depois de tanto tempo distantes. Provavelmente empolgada pela história que eu tinha lhe contado, desejava-me - à sua maneira exagerada – uma boa repercussão para o projeto de financiamento coletivo que eu estava para começar. Pois o desejo surtiu efeito.

O propósito de tal volta ao mundo tinha sido entrevistar e fotografar as crianças que cruzassem o meu caminho, no intuito de reaprender, através das palavras e dos olhares delas, a me manter jovem. Todo o material, em texto e imagem, foi compilado em uma grande carta (que depois se transformou no livro Jovem O Suficiente) escrita para o meu melhor amigo. A história dele, sozinha, já daria uma bela narrativa. Depois de uma infância inteira sonhando em fazer essa viagem comigo, e de uma adolescência cuja rotina elétrica só era interrompida por momentos de planejamento quanto à volta ao mundo, decidiu mudar de rota. Isolou-se em um lugar distante, onde ficou anos sem se comunicar com os amigos que antes o rodeavam, e sem usar e-mail ou telefone. A decisão é melhor explicada no livro – a surpresa e o mistério que a cercam, inclusive, são um dos pilares da narrativa e um dos pontos que atraíram atenção para o crowdfunding.

Soma-se a tudo isso um acervo fotográfico vasto, com retratos de crianças de vários cantos do mundo, e o que eu tinha em mãos era um prato cheio para divulgar o projeto junto à mídia.

Dando aula para crianças em uma escola na Indonésia

Já tinham me dito que, em uma campanha de financiamento coletivo, tipicamente se tem metade dos apoios vindos de dentro do teu círculo social, e a outra metade, de fora. Eu estava disposto a mudar essa proporção. Sabia que não conseguiria levar a arrecadação do projeto (e, consequentemente, a qualidade do livro) ao patamar com que sonhava se o apelo não chegasse a canais capazes de divulgar a ideia para pessoas que jamais tinham ouvido falar de mim antes.

Pautei-me na crença de que deveria começar pequeno, mirar longe, e sonhar grande (essa frase está escrita em um post-it e colada na minha mesa até hoje). Mapeei veículos de comunicação que podiam se interessar pela história em seus diversos ângulos: sites de inspiração, cadernos de turismo em jornais, revistas de esportes radicais ao redor do mundo, e, por fim, programas de entrevista com temas mais abrangentes.

Comecei pequeno: montei um release com a ajuda de uma amiga assessora de imprensa, e abordei primeiro blogs de viagem de menor alcance. Foi importantíssimo ter paciência e esperar até que a repercussão nesse tipo de veículo embalasse, para que a pauta ganhasse “crédito” antes de ser sugerida a veículos de mais expressão.

Mirei longe: quase metade da campanha transcorreu dentro dessa fase incial. O projeto do livro já vinha circulando por blogs de diversos temas, quando a abordagem junto a sites de inspiração reconhecidos Brasil afora, rádios e veículos mídia impressa começou a dar resultado. E, a partir daí, a situação aos poucos foi se invertendo. De repente, eram os veículos que me procuravam para gerar conteúdo relativo ao livro Jovem O Suficiente.

Sonhei grande: confesso que tinha imaginado, vez ou outra, falar do meu livro na televisão. Mas custei a acreditar quando isso aconteceu de fato. Em menos de dois meses, tinha passado do puro planejamento a uma rotina na qual grande parte do tempo dedicado ao projeto era despendido agendando ou dando entrevistas. O livro foi pauta em diversas estações de rádio e canais de televisão – por duas vezes, inclusive, em rede nacional. E eu me dei conta de que a coisa tinha ido além das minhas expectativas quando um amigo me ligou dizendo ter acabado de me ver em todas as televisõezinhas do metrô, em São Paulo.

A repercussão do projeto foi planejada, mas superou expectativas depois de certo ponto

Eu sabia que o buzz acabaria em seguida, no entanto. E o melhor de tudo é que isso já estava planejado. Finda a campanha, começou a comunicação direta com os apoiadores e a produção do livro. Outro dizer popular no meio do financiamento coletivo é que o trabalho de verdade só começa quando a campanha de arrecadação acaba, e isso é a mais pura verdade. Não que eu tenha muito do que reclamar.

Esse texto foi escrito do Peru, no meio de uma viagem de surf. O livro está sendo revisado no Brasil, antes de ir pra diagramação, e o wi-fi quase onipresente me permite trabalhar de quase qualquer canto, na maioria das vezes.

O projeto deu tão certo que uma editora se interessou pela ideia e o livro deve ir para as livrarias logo depois de chegar aos apoiadores. Isso vai requerer um novo vídeo de divulgação e toda uma nova estratégia de mídia. A frase da minha amiga, que abriu esse texto, me martela a cabeça quando me dou conta de tudo o que aconteceu e está para acontecer. Ela estava errada.

Famoso não, mais rico do que nunca

Não fiquei famoso, apesar de, hoje, ter contato com muita gente que há pouco eu nem sonhava em conhecer. Somente 15% dos apoios para o meu projeto vieram de conhecidos. Os outros 85% representam gente que se empolgou com o meu projeto e deu um jeito de vir falar comigo, pra contar uma história pessoal ou agradecer por eu tê-las inspirado a correr atrás de seus sonhos.

Não me esquecerei da primeira vez em que isso aconteceu: por email, conheci uma menina que estava indo trancar a faculdade de pedagogia porque não conseguia conciliar os estudos com o trabalho. Depois de conhecer a história de Jovem O Suficiente, disse ter encontrado forças para não desistir e continuar indo atrás do sonho de se formar e poder ganhar a vida ensinando crianças.

Se a juventude se renova a cada vez que se realiza um sonho, como gosto de dizer, imagina o que acontece quando se inspira uma pessoa a realizar o dela! Terminei a campanha no Catarse anos mais jovem que quando a comecei, e certo de que a amiga, lá atrás, profetizou as coisas do avesso. Não fiquei famoso (apesar de continuar sendo alvo frequente de piadas de amigos quanto ao “encontro” que tive com Fátima Bernardes). Mas continuo recebendo retornos como o da futura pedagoga, tendo contato com gente de todo o país que me busca para abrir o coração e dividir ideais de vida. E, por isso, estou mais rico do que nunca. Só me resta esperar que a aventura nas livrarias dê certo, para que essa riqueza possa ser multiplicada e compartilhada Brasil afora.
Colaborador
Este texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)

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Mesmo com a desistência do melhor amigo do sonho de infância de viajarem o mundo, Felipe Gaúcho foi em frente e lançou o pé na estrada. Enquanto todos ao seu redor viravam adultos e abandonavam antigos sonhos, ele percorreu mais de 30 países em um ano e meio, entrevistando crianças em busca da juventude evanescente. A campanha para transformar a aventura no livro "Jovem O Suficiente" emocionou muitas pessoas e se tornou a maior arrecadação de um projeto de literatura, levantando mais de R$ 53 mil com 816 apoiadores. Diretamente de uma surf trip no Peru, Felipe conta como planejou e executou a campanha para alcançar esse recorde. Leia abaixo!

Por Felipe Gaúcho

Eu tinha recém voltado de uma viagem de volta ao mundo que durara quase um ano e meio, quando uma amiga me puxou durante uma festa e disse: “Gaúcho, eu não sei se você vai ser rico, mas tenho certeza de que vai ficar famoso”. Ambos rimos e nos abraçamos, depois de tanto tempo distantes. Provavelmente empolgada pela história que eu tinha lhe contado, desejava-me - à sua maneira exagerada – uma boa repercussão para o projeto de financiamento coletivo que eu estava para começar. Pois o desejo surtiu efeito.

O propósito de tal volta ao mundo tinha sido entrevistar e fotografar as crianças que cruzassem o meu caminho, no intuito de reaprender, através das palavras e dos olhares delas, a me manter jovem. Todo o material, em texto e imagem, foi compilado em uma grande carta (que depois se transformou no livro Jovem O Suficiente) escrita para o meu melhor amigo. A história dele, sozinha, já daria uma bela narrativa. Depois de uma infância inteira sonhando em fazer essa viagem comigo, e de uma adolescência cuja rotina elétrica só era interrompida por momentos de planejamento quanto à volta ao mundo, decidiu mudar de rota. Isolou-se em um lugar distante, onde ficou anos sem se comunicar com os amigos que antes o rodeavam, e sem usar e-mail ou telefone. A decisão é melhor explicada no livro – a surpresa e o mistério que a cercam, inclusive, são um dos pilares da narrativa e um dos pontos que atraíram atenção para o crowdfunding.

Soma-se a tudo isso um acervo fotográfico vasto, com retratos de crianças de vários cantos do mundo, e o que eu tinha em mãos era um prato cheio para divulgar o projeto junto à mídia.

Dando aula para crianças em uma escola na Indonésia

Já tinham me dito que, em uma campanha de financiamento coletivo, tipicamente se tem metade dos apoios vindos de dentro do teu círculo social, e a outra metade, de fora. Eu estava disposto a mudar essa proporção. Sabia que não conseguiria levar a arrecadação do projeto (e, consequentemente, a qualidade do livro) ao patamar com que sonhava se o apelo não chegasse a canais capazes de divulgar a ideia para pessoas que jamais tinham ouvido falar de mim antes.

Pautei-me na crença de que deveria começar pequeno, mirar longe, e sonhar grande (essa frase está escrita em um post-it e colada na minha mesa até hoje). Mapeei veículos de comunicação que podiam se interessar pela história em seus diversos ângulos: sites de inspiração, cadernos de turismo em jornais, revistas de esportes radicais ao redor do mundo, e, por fim, programas de entrevista com temas mais abrangentes.

Comecei pequeno: montei um release com a ajuda de uma amiga assessora de imprensa, e abordei primeiro blogs de viagem de menor alcance. Foi importantíssimo ter paciência e esperar até que a repercussão nesse tipo de veículo embalasse, para que a pauta ganhasse “crédito” antes de ser sugerida a veículos de mais expressão.

Mirei longe: quase metade da campanha transcorreu dentro dessa fase incial. O projeto do livro já vinha circulando por blogs de diversos temas, quando a abordagem junto a sites de inspiração reconhecidos Brasil afora, rádios e veículos mídia impressa começou a dar resultado. E, a partir daí, a situação aos poucos foi se invertendo. De repente, eram os veículos que me procuravam para gerar conteúdo relativo ao livro Jovem O Suficiente.

Sonhei grande: confesso que tinha imaginado, vez ou outra, falar do meu livro na televisão. Mas custei a acreditar quando isso aconteceu de fato. Em menos de dois meses, tinha passado do puro planejamento a uma rotina na qual grande parte do tempo dedicado ao projeto era despendido agendando ou dando entrevistas. O livro foi pauta em diversas estações de rádio e canais de televisão – por duas vezes, inclusive, em rede nacional. E eu me dei conta de que a coisa tinha ido além das minhas expectativas quando um amigo me ligou dizendo ter acabado de me ver em todas as televisõezinhas do metrô, em São Paulo.

A repercussão do projeto foi planejada, mas superou expectativas depois de certo ponto

Eu sabia que o buzz acabaria em seguida, no entanto. E o melhor de tudo é que isso já estava planejado. Finda a campanha, começou a comunicação direta com os apoiadores e a produção do livro. Outro dizer popular no meio do financiamento coletivo é que o trabalho de verdade só começa quando a campanha de arrecadação acaba, e isso é a mais pura verdade. Não que eu tenha muito do que reclamar.

Esse texto foi escrito do Peru, no meio de uma viagem de surf. O livro está sendo revisado no Brasil, antes de ir pra diagramação, e o wi-fi quase onipresente me permite trabalhar de quase qualquer canto, na maioria das vezes.

O projeto deu tão certo que uma editora se interessou pela ideia e o livro deve ir para as livrarias logo depois de chegar aos apoiadores. Isso vai requerer um novo vídeo de divulgação e toda uma nova estratégia de mídia. A frase da minha amiga, que abriu esse texto, me martela a cabeça quando me dou conta de tudo o que aconteceu e está para acontecer. Ela estava errada.

Famoso não, mais rico do que nunca

Não fiquei famoso, apesar de, hoje, ter contato com muita gente que há pouco eu nem sonhava em conhecer. Somente 15% dos apoios para o meu projeto vieram de conhecidos. Os outros 85% representam gente que se empolgou com o meu projeto e deu um jeito de vir falar comigo, pra contar uma história pessoal ou agradecer por eu tê-las inspirado a correr atrás de seus sonhos.

Não me esquecerei da primeira vez em que isso aconteceu: por email, conheci uma menina que estava indo trancar a faculdade de pedagogia porque não conseguia conciliar os estudos com o trabalho. Depois de conhecer a história de Jovem O Suficiente, disse ter encontrado forças para não desistir e continuar indo atrás do sonho de se formar e poder ganhar a vida ensinando crianças.

Se a juventude se renova a cada vez que se realiza um sonho, como gosto de dizer, imagina o que acontece quando se inspira uma pessoa a realizar o dela! Terminei a campanha no Catarse anos mais jovem que quando a comecei, e certo de que a amiga, lá atrás, profetizou as coisas do avesso. Não fiquei famoso (apesar de continuar sendo alvo frequente de piadas de amigos quanto ao “encontro” que tive com Fátima Bernardes). Mas continuo recebendo retornos como o da futura pedagoga, tendo contato com gente de todo o país que me busca para abrir o coração e dividir ideais de vida. E, por isso, estou mais rico do que nunca. Só me resta esperar que a aventura nas livrarias dê certo, para que essa riqueza possa ser multiplicada e compartilhada Brasil afora.

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