Exaustão digital: como o cansaço online está afetando nossa criatividade e bem-estar

Você sente que está sempre cansado de estar online? Entenda os efeitos da exaustão digital, o impacto das redes sociais e como reduzir o tempo no digital sem prejudicar seu trabalho.

Não quero mais justificar a minha existência com exaustão.

Foi essa a frase que ficou comigo enquanto o calendário marcava os últimos dias de 2024 e eu visualizava como seria o ano seguinte.

O ambiente digital tem ficado cada vez mais exaustivo, tanto para criadores de conteúdo e profissionais de mídia, quanto para usuários. A todo instante somos bombardeados de informações – nem todas relevantes – e cada vez mais é difícil filtrar aquilo que realmente merece nossa atenção. Se optamos por nos desligar um pouco, sentimos que estamos ficando de fora. Se nos expomos à esfera digital com a frequência que ela demanda, nos sentimos exaustos.

📢 Sente que está sempre exausto online?

Neste post, vamos trocar ideias de como reduzir o cansaço digital e recuperar sua criatividade. Leia até o final para conferir dicas práticas que podem fazer a diferença no seu dia a dia.

O que é exaustão digital e por que nos sentimos assim?

O dicionário de Oxford definiu "brain rot" como a expressão de 2024.

O termo se refere justamente a uma "podridão" cerebral resultante do esgotamento mental por conta do consumo excessivo de conteúdo superficial, trivial e pouco desafiador. Apesar de não estar restrito ao ambiente digital, os especialistas notaram que a expressão ganhou mais destaque no último ano ao ser usada para levantar preocupações sobre o impacto do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas redes sociais. Quando passamos horas navegando e deslizando pelo feed, consumimos enormes quantidades de dados sem sentido ou profundidade, notícias negativas, fotos/vídeos perfeitamente editados e retocados que aumentam nosso sentimento de inadequação, recortes da realidade que limitam cada vez mais nossa visão de mundo.

Ainda em 2024, o Newport Institute, uma instituição especializada em tratamentos voltados para a saúde mental de jovens adultos, publicou um artigo sobre o impacto da "brain rot". Segundo o artigo, tentar absorver e lidar com grandes quantidades de conteúdo cria fadiga mental, o que pode levar a uma queda na motivação, concentração, produtividade e energia ao longo do tempo, especialmente em jovens. O artigo ainda exemplifica alguns comportamentos típicos como o "zombie scrolling", que se refere ao ato de rolar feeds de forma interminável e sem propósito, e "doomscrolling", que seria um desejo incontrolável de pesquisar informações e notícias, mesmo que sejam, em sua maioria, negativas, para ficar à par de tudo o que está acontecendo.

O vício em redes sociais: por que não conseguimos parar?

Já comparadas a drogas psicoativas, estudos mostram que as redes sociais afetam a liberação de dopamina no corpo. As "pílulas de dopamina" causadas pela gratificação rápida das redes, já vêm até mesmo criando sintomas de abstinência. Quantas vezes abrimos uma rede social apenas por hábito, sem propósito algum? Quantas vezes sentimos um vazio depois de entregar horas dos nossos dias aos algoritmos? E, como criadores de conteúdo, quantas vezes nos sentimos perdidos entre a fadiga digital e a necessidade de nos forçar a continuar fazendo essa roda girar?

Ainda me lembro da época em que o feed em ordem cronológica do Instagram representava um respiro. Afinal, ao final do dia você podia ver tudo o que havia acontecido e chegava ao fim dos posts, podia fechar o aplicativo e fazer outra coisa. Hoje em dia, com os algoritmos, não existe linha de chegada em feed nenhum. O propósito é manter os usuários o maior tempo possível dentro das plataformas. Como criadores de conteúdo ou profissionais de marketing, não estamos livres dessa regra. Muito pelo contrário, precisamos jogar o jogo das redes sociais e produzir constantemente, a todo momento, de forma desenfreada. Quanto mais, melhor.

Mas será que vale a pena?

Como criar em um mundo cansado de conteúdo?

Além de estarmos física e mentalmente exaustos, o impacto da presença digital constante afeta nosso emocional de formas que ainda estamos tentando estudar e entender. Ao final do ano passado, cada parte de mim gritava com todos os tipos de exaustão. A pressão por criar de forma constante e a rendição às rotinas das redes sociais me fez repensar até mesmo o que eu considerava como ato criativo. O burnout criativo que se aproximava me fez começar a ver o ato criativo como uma obrigação e não como um fim em si mesmo.

Um dos episódios da Clareira, podcast do Daniel Lameira pela Seiva, fala justamente sobre como o excesso de estímulos da era digital afeta nossa capacidade de criar. Às vezes sentimos que a resposta para encontrar as melhores e mais criativas ideias está no mundo exterior, e como atualmente grande parte da nossa comunicação e contato como sociedade se restringe muito à esfera digital, precisamos estar constantemente disponíveis, constantemente online, constantemente vigilantes. Mas e se a gente procurasse as respostas em outros lugares, incluindo nós mesmos?

Atenta aos sinais do que poderia ser um caminho inevitável, pela primeira vez em anos tirei o recesso de fim de ano para me desconectar e descansar. Essa palavra que, na pressão de estar sempre criando algo novo, produzindo, gerando algo, parecia uma conhecida distante. E no meio de alguns dias off das relas, senti a criatividade aparecendo novamente. Quanto mais criamos, mais queremos criar. Mas para isso é preciso dar espaço para que a criatividade possa chegar.

Redescobrindo a criatividade fora dos algoritmos

Durante meu recesso concluí a leitura de Como Ser Artista, de Jerry Saltz. No livro, o autor apresenta 63 pílulas e insights sobre o que realmente importa para artistas, além de maneiras de atravessar bloqueios criativos e encontrar alegria no trabalho de criar. A última dica que o autor dá é: “uma vez por ano saia para dançar. Por quê? Porque a dança é tão antiga quanto a arte – e um dia você não vai mais conseguir dançar.” Foi quando percebi que talvez já não estivesse conseguindo dançar. Dançar num ritmo que não seja pautado pela hora programada da postagem ir ao ar. Dançar no ritmo da vida, não do limite do reels. Dançar pelo simples prazer de dançar e sentir algo brotar disso naturalmente.

A necessidade de estabelecer uma relação mais saudável com o digital já era gritante, mas foi então que comecei a buscar estratégias práticas para reduzir o tempo nas redes, mesmo sabendo que parte do meu trabalho dependia delas. Afinal, encontrar um equilíbrio é essencial para redescobrir o prazer de criar.

Dicas para reduzir o tempo online (mesmo trabalhando com redes)

Essa recente e frequente reflexão sobre o impacto das redes sociais me fizeram buscar formas práticas de reduzir o tempo online sem comprometer o trabalho. Algumas estratégias têm funcionado muito bem:

1. Estabelecer limites diários para redes sociais e outras plataformas

Planejar e incluir pausas regulares ao longo do dia para se desconectar ajuda a fazer do detox digital um hábito possível e inserível no nosso interminável checklist de demandas. Aproveito para sugerir pausas para fazer alguns alongamento durante esses intervalos, pequenos instantes de meditação ou atividades que demandem sua atenção plena, fora das telas.

2. Aplicativos próprios para controlar o tempo de uso do celular

Tenho usado um aplicativo chamado Screen Zen para limitar automaticamente não apenas o tempo em cada rede social, mas também as notificações e a quantidade de aberturas de aplicativos. Isso porque o aplicativo funciona por meio de números de desbloqueios para cada aplicativo à sua escolha. Limitei as redes sociais a 10 desbloqueios diários e 7 minutos permitidos por desbloqueio – tem funcionado tanto que já vou reduzir novamente.

3. Estabelecer processos de trabalho para o uso das redes

Por conta do limite de desbloqueios preciso pensar estrategicamente como vou usar meu tempo nos aplicativos. Isso ajudou a organizar as demandas profissionais que exigem postagens nas redes, otimizou meu tempo de trabalho e ainda diminuiu bastante aqueles minutos (ou horas) sem propósito no feed que a gente jura que é pelo trabalho. O que faço é basicamente definir muito bem o que preciso fazer cada vez que abro uma das redes – às vezes até listas de tarefas mesmo, e me atenho ao que defini.

4. Buscar atividades offline e manuais

Viemos de anos pandêmicos que nos obrigaram a criar uma vida em torno do digital. A globalização e o acesso à internet nos permitiram criar conexões reais e abriram possibilidades no ambiente digital que facilitam – e muito – nossas vidas, mas já passou da hora de nos desligarmos um pouco daquilo que não depende do online para acontecer. Quando nos comprometemos com o mundo offline, seja marcando encontros com outras pessoas, fazendo uma atividade física, indo a uma exposição, lendo um livro físico, fazendo alguma aula, nos obrigamos a nos desconectar. Reflita sobre o que você faz atualmente online que poderia ser feito fora das telas, mesmo que não pareça tão cômodo. Você vai se surpreender com as possibilidades.

Como criar mais (e melhor) com menos exaustão

Essas mudanças não apenas me ajudaram a sair de um ciclo de exaustão, mas também abriram espaço para redescobrir o prazer no ato criativo. Algumas práticas que têm feito a diferença por aqui:

1. Abrir espaço nos meus dias

Por mais difícil que possa ser, realmente é preciso dizer “não” para algumas coisas. Depois de refletir bastante, consegui remanejar os dias e abrir mão de algumas demandas para me permitir fazer as coisas com calma. No meu caso não significou necessariamente trabalhar menos, mas redirecionar minha energia para aquilo que é prioridade e que me permite funcionar de forma mais saudável.

2. Me cercar de coisas que me inspiram

Quem cria precisa se sentir motivado a criar. Passei a priorizar consumir conteúdo que me agrega, que me faz genuinamente aprender algo novo ou conteúdos que apenas são bonitos e inspiradores (fotografias bonitas, citações e reflexões, arte em geral etc.). Além disso, decidi escolher à dedo minhas leituras e tenho me apaixonado cada vez mais pelos livros (como se ainda fosse possível amar mais a leitura), tenho ouvido mais podcasts, músicas novas e buscado me cercar de pessoas que não apenas gostam de criar, mas que me incentivam a criar também.

3. Investir em hobbies

Poucas coisas estimulam mais a minha criatividade do que aprender algo novo e poder me dedicar a algo sem o propósito de produzir. Em meados do ano passado descobri a cerâmica e se tornou meu hobby favorito. É uma das poucas coisas que faço sem tentar transformar em trabalho, demanda pelo menos 2h da minha semana fora de qualquer tela e me permite um tempo dedicado a uma arte manual analógica e maravilhosa. Recomendo experimentar algum tipo de arte manual, mesmo que você tenha a certeza de que é ruim naquilo. Você vai se surpreender com o potencial criativo que vem ao fazer algo sem buscar a excelência.

4. Exercício físico

Alguns clichês se tornam clichês por um motivo. Sei que é difícil para muita gente, mas para além de todos os benefícios científicos comprovados da atividade física para o corpo e a mente, fazer exercício é um dos poucos momentos do dia em que faço algo voltado apenas e somente para mim mesma. Além da endorfina pós exercício, tenho transformado essa hora do dia em um momento prazeroso e já perdi a conta de quantas vezes precisei parar um treino para anotar ideias e insights que vieram de forma espontânea enquanto me exercitava. 

5. Descansar

Ainda tenho um longo caminho a percorrer no que diz respeito a priorizar o descanso como algo fundamental para o ato criativo, mas observar alguns nichos abraçando um pouco mais o descanso como um ato de resistência e sobrevivência tem ajudado ainda mais. Se for necessário, coloque o descanso dentro do seu checklist diário, leve esse tempo tão a sério quanto você levaria qualquer demanda de trabalho.

Vivendo a vida offline

Tenho estado menos exausta. O cansaço ainda faz parte da rotina de quem habita o mundo em que vivemos, mas pelo menos tenho ficado mais tranquila em relação às escolhas que tenho feito – cada vez mais offline. A criatividade vem com a prática, com a disciplina, mas também é um reflexo do espaço e do cuidado que damos a nós mesmos. Por muito tempo fiquei com receio de que, ao me desligar um pouco das redes, perderia o que acontece online e, consequentemente, teria meu trabalho afetado. Entretanto, redescobrir a criatividade num ambiente menos pautado por algoritmos, comparações e números tem sido mesmo um pouco revolucionário.

___________

💬 E você? Como tem lidado com a exaustão digital?

Compartilhe sua experiência nos comentários e vamos encontrar juntos diferentes formas de equilíbrio entre a vida offline e a presença digital.

📢 Se este artigo te ajudou, compartilhe com um amigo que também pode precisar dessa pausa!

___________

Laura Brand é criadora aqui na comunidade e escreveu este artigo à convite do Catarse. Conheça o espaço da Nostalgia Cinza.

Laura Brand
Editora, coordenadora editorial, jornalista, comunicadora e criadora de conteúdo. Especializou-se no mercado editorial e no trabalho com os livros por instituições como PUC Minas e Columbia Journalism School.

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O ambiente digital tem ficado cada vez mais exaustivo, tanto para criadores de conteúdo e profissionais de mídia, quanto para usuários. A todo instante somos bombardeados de informações – nem todas relevantes – e cada vez mais é difícil filtrar aquilo que realmente merece nossa atenção. Se optamos por nos desligar um pouco, sentimos que estamos ficando de fora. Se nos expomos à esfera digital com a frequência que ela demanda, nos sentimos exaustos.

📢 Sente que está sempre exausto online?

Neste post, vamos trocar ideias de como reduzir o cansaço digital e recuperar sua criatividade. Leia até o final para conferir dicas práticas que podem fazer a diferença no seu dia a dia.

O que é exaustão digital e por que nos sentimos assim?

O dicionário de Oxford definiu "brain rot" como a expressão de 2024.

O termo se refere justamente a uma "podridão" cerebral resultante do esgotamento mental por conta do consumo excessivo de conteúdo superficial, trivial e pouco desafiador. Apesar de não estar restrito ao ambiente digital, os especialistas notaram que a expressão ganhou mais destaque no último ano ao ser usada para levantar preocupações sobre o impacto do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas redes sociais. Quando passamos horas navegando e deslizando pelo feed, consumimos enormes quantidades de dados sem sentido ou profundidade, notícias negativas, fotos/vídeos perfeitamente editados e retocados que aumentam nosso sentimento de inadequação, recortes da realidade que limitam cada vez mais nossa visão de mundo.

Ainda em 2024, o Newport Institute, uma instituição especializada em tratamentos voltados para a saúde mental de jovens adultos, publicou um artigo sobre o impacto da "brain rot". Segundo o artigo, tentar absorver e lidar com grandes quantidades de conteúdo cria fadiga mental, o que pode levar a uma queda na motivação, concentração, produtividade e energia ao longo do tempo, especialmente em jovens. O artigo ainda exemplifica alguns comportamentos típicos como o "zombie scrolling", que se refere ao ato de rolar feeds de forma interminável e sem propósito, e "doomscrolling", que seria um desejo incontrolável de pesquisar informações e notícias, mesmo que sejam, em sua maioria, negativas, para ficar à par de tudo o que está acontecendo.

O vício em redes sociais: por que não conseguimos parar?

Já comparadas a drogas psicoativas, estudos mostram que as redes sociais afetam a liberação de dopamina no corpo. As "pílulas de dopamina" causadas pela gratificação rápida das redes, já vêm até mesmo criando sintomas de abstinência. Quantas vezes abrimos uma rede social apenas por hábito, sem propósito algum? Quantas vezes sentimos um vazio depois de entregar horas dos nossos dias aos algoritmos? E, como criadores de conteúdo, quantas vezes nos sentimos perdidos entre a fadiga digital e a necessidade de nos forçar a continuar fazendo essa roda girar?

Ainda me lembro da época em que o feed em ordem cronológica do Instagram representava um respiro. Afinal, ao final do dia você podia ver tudo o que havia acontecido e chegava ao fim dos posts, podia fechar o aplicativo e fazer outra coisa. Hoje em dia, com os algoritmos, não existe linha de chegada em feed nenhum. O propósito é manter os usuários o maior tempo possível dentro das plataformas. Como criadores de conteúdo ou profissionais de marketing, não estamos livres dessa regra. Muito pelo contrário, precisamos jogar o jogo das redes sociais e produzir constantemente, a todo momento, de forma desenfreada. Quanto mais, melhor.

Mas será que vale a pena?

Como criar em um mundo cansado de conteúdo?

Além de estarmos física e mentalmente exaustos, o impacto da presença digital constante afeta nosso emocional de formas que ainda estamos tentando estudar e entender. Ao final do ano passado, cada parte de mim gritava com todos os tipos de exaustão. A pressão por criar de forma constante e a rendição às rotinas das redes sociais me fez repensar até mesmo o que eu considerava como ato criativo. O burnout criativo que se aproximava me fez começar a ver o ato criativo como uma obrigação e não como um fim em si mesmo.

Um dos episódios da Clareira, podcast do Daniel Lameira pela Seiva, fala justamente sobre como o excesso de estímulos da era digital afeta nossa capacidade de criar. Às vezes sentimos que a resposta para encontrar as melhores e mais criativas ideias está no mundo exterior, e como atualmente grande parte da nossa comunicação e contato como sociedade se restringe muito à esfera digital, precisamos estar constantemente disponíveis, constantemente online, constantemente vigilantes. Mas e se a gente procurasse as respostas em outros lugares, incluindo nós mesmos?

Atenta aos sinais do que poderia ser um caminho inevitável, pela primeira vez em anos tirei o recesso de fim de ano para me desconectar e descansar. Essa palavra que, na pressão de estar sempre criando algo novo, produzindo, gerando algo, parecia uma conhecida distante. E no meio de alguns dias off das relas, senti a criatividade aparecendo novamente. Quanto mais criamos, mais queremos criar. Mas para isso é preciso dar espaço para que a criatividade possa chegar.

Redescobrindo a criatividade fora dos algoritmos

Durante meu recesso concluí a leitura de Como Ser Artista, de Jerry Saltz. No livro, o autor apresenta 63 pílulas e insights sobre o que realmente importa para artistas, além de maneiras de atravessar bloqueios criativos e encontrar alegria no trabalho de criar. A última dica que o autor dá é: “uma vez por ano saia para dançar. Por quê? Porque a dança é tão antiga quanto a arte – e um dia você não vai mais conseguir dançar.” Foi quando percebi que talvez já não estivesse conseguindo dançar. Dançar num ritmo que não seja pautado pela hora programada da postagem ir ao ar. Dançar no ritmo da vida, não do limite do reels. Dançar pelo simples prazer de dançar e sentir algo brotar disso naturalmente.

A necessidade de estabelecer uma relação mais saudável com o digital já era gritante, mas foi então que comecei a buscar estratégias práticas para reduzir o tempo nas redes, mesmo sabendo que parte do meu trabalho dependia delas. Afinal, encontrar um equilíbrio é essencial para redescobrir o prazer de criar.

Dicas para reduzir o tempo online (mesmo trabalhando com redes)

Essa recente e frequente reflexão sobre o impacto das redes sociais me fizeram buscar formas práticas de reduzir o tempo online sem comprometer o trabalho. Algumas estratégias têm funcionado muito bem:

1. Estabelecer limites diários para redes sociais e outras plataformas

Planejar e incluir pausas regulares ao longo do dia para se desconectar ajuda a fazer do detox digital um hábito possível e inserível no nosso interminável checklist de demandas. Aproveito para sugerir pausas para fazer alguns alongamento durante esses intervalos, pequenos instantes de meditação ou atividades que demandem sua atenção plena, fora das telas.

2. Aplicativos próprios para controlar o tempo de uso do celular

Tenho usado um aplicativo chamado Screen Zen para limitar automaticamente não apenas o tempo em cada rede social, mas também as notificações e a quantidade de aberturas de aplicativos. Isso porque o aplicativo funciona por meio de números de desbloqueios para cada aplicativo à sua escolha. Limitei as redes sociais a 10 desbloqueios diários e 7 minutos permitidos por desbloqueio – tem funcionado tanto que já vou reduzir novamente.

3. Estabelecer processos de trabalho para o uso das redes

Por conta do limite de desbloqueios preciso pensar estrategicamente como vou usar meu tempo nos aplicativos. Isso ajudou a organizar as demandas profissionais que exigem postagens nas redes, otimizou meu tempo de trabalho e ainda diminuiu bastante aqueles minutos (ou horas) sem propósito no feed que a gente jura que é pelo trabalho. O que faço é basicamente definir muito bem o que preciso fazer cada vez que abro uma das redes – às vezes até listas de tarefas mesmo, e me atenho ao que defini.

4. Buscar atividades offline e manuais

Viemos de anos pandêmicos que nos obrigaram a criar uma vida em torno do digital. A globalização e o acesso à internet nos permitiram criar conexões reais e abriram possibilidades no ambiente digital que facilitam – e muito – nossas vidas, mas já passou da hora de nos desligarmos um pouco daquilo que não depende do online para acontecer. Quando nos comprometemos com o mundo offline, seja marcando encontros com outras pessoas, fazendo uma atividade física, indo a uma exposição, lendo um livro físico, fazendo alguma aula, nos obrigamos a nos desconectar. Reflita sobre o que você faz atualmente online que poderia ser feito fora das telas, mesmo que não pareça tão cômodo. Você vai se surpreender com as possibilidades.

Como criar mais (e melhor) com menos exaustão

Essas mudanças não apenas me ajudaram a sair de um ciclo de exaustão, mas também abriram espaço para redescobrir o prazer no ato criativo. Algumas práticas que têm feito a diferença por aqui:

1. Abrir espaço nos meus dias

Por mais difícil que possa ser, realmente é preciso dizer “não” para algumas coisas. Depois de refletir bastante, consegui remanejar os dias e abrir mão de algumas demandas para me permitir fazer as coisas com calma. No meu caso não significou necessariamente trabalhar menos, mas redirecionar minha energia para aquilo que é prioridade e que me permite funcionar de forma mais saudável.

2. Me cercar de coisas que me inspiram

Quem cria precisa se sentir motivado a criar. Passei a priorizar consumir conteúdo que me agrega, que me faz genuinamente aprender algo novo ou conteúdos que apenas são bonitos e inspiradores (fotografias bonitas, citações e reflexões, arte em geral etc.). Além disso, decidi escolher à dedo minhas leituras e tenho me apaixonado cada vez mais pelos livros (como se ainda fosse possível amar mais a leitura), tenho ouvido mais podcasts, músicas novas e buscado me cercar de pessoas que não apenas gostam de criar, mas que me incentivam a criar também.

3. Investir em hobbies

Poucas coisas estimulam mais a minha criatividade do que aprender algo novo e poder me dedicar a algo sem o propósito de produzir. Em meados do ano passado descobri a cerâmica e se tornou meu hobby favorito. É uma das poucas coisas que faço sem tentar transformar em trabalho, demanda pelo menos 2h da minha semana fora de qualquer tela e me permite um tempo dedicado a uma arte manual analógica e maravilhosa. Recomendo experimentar algum tipo de arte manual, mesmo que você tenha a certeza de que é ruim naquilo. Você vai se surpreender com o potencial criativo que vem ao fazer algo sem buscar a excelência.

4. Exercício físico

Alguns clichês se tornam clichês por um motivo. Sei que é difícil para muita gente, mas para além de todos os benefícios científicos comprovados da atividade física para o corpo e a mente, fazer exercício é um dos poucos momentos do dia em que faço algo voltado apenas e somente para mim mesma. Além da endorfina pós exercício, tenho transformado essa hora do dia em um momento prazeroso e já perdi a conta de quantas vezes precisei parar um treino para anotar ideias e insights que vieram de forma espontânea enquanto me exercitava. 

5. Descansar

Ainda tenho um longo caminho a percorrer no que diz respeito a priorizar o descanso como algo fundamental para o ato criativo, mas observar alguns nichos abraçando um pouco mais o descanso como um ato de resistência e sobrevivência tem ajudado ainda mais. Se for necessário, coloque o descanso dentro do seu checklist diário, leve esse tempo tão a sério quanto você levaria qualquer demanda de trabalho.

Vivendo a vida offline

Tenho estado menos exausta. O cansaço ainda faz parte da rotina de quem habita o mundo em que vivemos, mas pelo menos tenho ficado mais tranquila em relação às escolhas que tenho feito – cada vez mais offline. A criatividade vem com a prática, com a disciplina, mas também é um reflexo do espaço e do cuidado que damos a nós mesmos. Por muito tempo fiquei com receio de que, ao me desligar um pouco das redes, perderia o que acontece online e, consequentemente, teria meu trabalho afetado. Entretanto, redescobrir a criatividade num ambiente menos pautado por algoritmos, comparações e números tem sido mesmo um pouco revolucionário.

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💬 E você? Como tem lidado com a exaustão digital?

Compartilhe sua experiência nos comentários e vamos encontrar juntos diferentes formas de equilíbrio entre a vida offline e a presença digital.

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