Nos últimos meses, as chamadas bookredes (a comunidade literária que se movimenta nas redes sociais) foram inundadas por debates em torno de três conceitos que, embora pareçam distantes, frequentemente são confundidos: resenha literária, crítica literária e senso crítico.

Esses termos têm significados diferentes, aplicabilidades distintas e níveis de profundidade que impactam diretamente a forma como lemos, escrevemos e avaliamos obras. E a confusão não fica apenas na literatura, muitas vezes não conseguimos identificar quem são os críticos ou os resenhistas quando estamos falando de filmes, séries e músicas também.

Por que confundimos resenha, crítica e senso crítico?

Vivemos em um momento em que os papéis de leitor, crítico e divulgador (até influenciador) estão misturados. Hoje, quem lê também recomenda, opina, cria conteúdo e, muitas vezes, comercializa serviços de leitura, consultoria ou resenha paga (as famosas #publi), o que pode confundir.

Questões como limitações de carácteres em algumas redes ou preferência por vídeos curtos em outros, não conseguimos passar o que realmente queremos em uma avaliação. Outras vezes, só queremos abrir a câmera e falar sobre um produto, seja ele de entretenimento ou não, baseado em nossos sentimentos.

Nessa mistura, não são só os críticos que podem ter voz, como antigamente acontecia. Houve um tempo que se lia críticas sobre livros e filmes nos jornais!

O que é uma resenha?

A resenha é um texto que apresenta, comenta e avalia uma obra, mas com um foco mais informativo e acessível. Seu objetivo principal é orientar o leitor, oferecendo uma visão geral da narrativa e da experiência de leitura.

Em uma resenha, você pode abordar aspectos como:

• Breve resumo da história (sem spoilers significativos);
• Temas centrais e estilo de escrita;
• Pontos fortes e fracos percebidos na leitura;
• Quem a obra pode agradar.

Uma boa resenha busca equilíbrio entre análise e opinião pessoal, mantendo um tom próximo, convidativo e empático. Ela não pretende “julgar” a obra sob critérios acadêmicos, mas partilhar uma experiência, algo muito comum nas bookredes, blogs literários e canais de conteúdo cultural.

O que é uma crítica literária?

A crítica literária vai além da opinião. É um gênero textual analítico que se apoia em teorias, contexto histórico e comparações com outras obras para interpretar o texto literário de forma mais complexa. Seu propósito não é apenas recomendar ou não uma leitura, mas compreender o lugar da obra dentro da literatura, da sociedade e da arte.

Uma crítica literária pode abordar:

• A estrutura narrativa, linguagem e estilo;
• Temas e simbologias presentes na obra;
• Diálogo com movimentos culturais;
• O impacto e relevância dentro de um contexto.

Enquanto a resenha busca cativar e informar, a crítica busca refletir e provocar. Por isso, geralmente é produzida por pessoas com formação em Letras, Teoria Literária ou Jornalismo Cultural, ou ainda por profissionais experientes com sólida base teórica.

O que é senso crítico (e por que ele é o ponto de partida)?

O senso crítico é a base que sustenta tanto a resenha quanto a crítica. Trata-se da capacidade de analisar, questionar e formar opinião própria sobre uma obra e, por extensão, sobre qualquer conteúdo cultural.

Ter senso crítico significa não aceitar passivamente tudo o que se lê, vê ou ouve. É perceber intenções, refletir sobre mensagens implícitas, reconhecer vieses e fazer conexões entre o que se consome e o mundo à nossa volta.

No contexto literário, por exemplo, o senso crítico nos ajuda a:

• Ler com atenção e interpretar de forma autônoma;
• Reconhecer representações problemáticas ou estereotipadas;
• Valorizar a diversidade de vozes e narrativas;
• Construir uma relação mais madura com a literatura.

Sem senso crítico, a resenha vira apenas um “gostei” ou “não gostei”, e a avaliação perde sua profundidade.

A lição do dia: consumo consciente nas redes sociais

Em um cenário em que todo mundo tem voz, é natural que os limites entre resenha, crítica e senso crítico pareçam borrados. Mas compreender essas diferenças é o que nos permite valorizar o trabalho de cada um, do leitor apaixonado ao pesquisador, e construir um espaço mais saudável, ético e respeitoso.

Afinal, tem espaço para todo mundo! O importante é entender o que você está procurando para divulgação e, também, qual é o foco da sua produção.