Apanhador Só desbrava novos caminhos para a música independente em projeto de crowdfunding

Com o disco “Antes que Tu Conte Outra”, a banda gaúcha Apanhador Só atingiu um novo patamar na carreira. Financiado coletivamente no Catarse, o segundo álbum do grupo esteve nas principais listas de melhores discos de 2013 e ganhou o prêmio de melhor álbum nacional da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), um dos mais importantes do país.

O sucesso gerou aproximações de selos e gravadoras, mas a banda decidiu seguir no caminho de independência. Para financiar seu próximo disco, eles voltaram ao Catarse com um projeto ousado, que inclui uma tour pelo país (colabore!). A liberdade para produzir e o contato direto com os fãs motivaram a escolha pelo crowdfunding novamente, conta Alexandre Kumpinski, guitarrista e vocalista da banda. “Essa aproximação do publico é o que pode nos dar força e nos levar adiante”, explica.

No novo projeto de financiamento coletivo, a proximidade com o público ganha sentido literal. O dinheiro arrecadado pela banda servirá para financiar equipamentos e um carro para que os músicos viajem pelo país fazendo shows na sala de estar de fãs. 21 cidades (veja lista na página do projeto) irão receber as apresentações, uma viagem musical de Porto Alegre a Belém. Os ingressos para os shows intimistas podem ser adquiridos como recompensa do projeto. Após a tour, a banda venderá o veículo e utilizará o dinheiro da venda para gravar um novo disco.

Um formato semelhante de show já havia sido experimentado no outro crowdfunding, mas em versão acústica (confira vídeo acima). 41 apoiadores contribuíram com R$ 500 e "adquiriram" uma apresentação da banda em suas residências. Depois de fazerem 4 temporadas de shows ‘plugados’ (com amplificadores e microfones) em casas em Porto Alegre, os músicos tiveram a ideia de expandir o projeto. “São shows bem tranquilos, é muito íntimo mesmo, receber o publico numa casa, todo mundo ali naturalmente tendo um bom momento junto”, conta Alexandre.

Antes de lançar o crowdfunding, a banda se comunicou com fãs pelas redes sociais para definir as casas onde seriam feitas as apresentações. Caso queira atuar na articulação desses shows na sua cidade, basta enviar um e-mail para apanhador.saladeestar@gmail.com.

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Confira conversa feita com Alexandre Kumpinski (ao centro da foto) por Skype 

Como você vê uso do crowdfunding na música? Pode ser pensado como um modelo de negócio a longo prazo?

AK: Eu enxergo como uma possibilidade de libertação para os artistas. Abre muito horizonte de possibilidade de fazer as coisas com as próprias pernas. Nosso último álbum já foi via crowdfunding, e além da liberdade de produção, acho que fortifica uma liberdade artística. Você está desprendido de outras estruturas, não tem nenhum tipo de executivo dando aval do que pode ou não. A liberdade artística do álbum é também em decorrência do financiamento coletivo. Acho que pode ser um modelo de longo prazo, sim.

Vocês já pensaram em outras possibilidades de financiamento? Houve alguma aproximação de selo ou gravadora? Por que decidiram fazer um novo crowdfunding?

AK: Sim, houve interesse já, de vários tipos, o principal talvez tenha sido da Som Livre, mas acabamos sempre decidindo por seguir de maneira independente. A gente tem outras possibilidades para financiar, mas escolhe o crowdfunding por acreditar nesse caminho mesmo. Escolhemos o financiamento coletivo porque acreditamos que pode ser bom não só para a banda, mas para o mundo, descentralizar os poderes... poderes é uma palavra forte, mas descentralizar essa decisão de quem pode ou não fazer as coisas acontecerem. Quanto mais o público tiver com as decisões na mão, melhor.

Como surgiu a ideia da turnê na sala de estar?

AK: Essa ideia foi surgindo aos poucos. Primeiro, a gente já tinha o formato de show em Porto Alegre, tocando na casa dos apoiares [do primeiro crowdfunding] na recompensa do acústico sucateiro. Essa experiência de tocar em ambientes mais próximos do público, fazer show a um metro do público, foi algo que nos agradou muito. Isso aliado a uma vontade de maior de aproximação e de tentar fugir das estruturas que já tão montadas, do que ja se espera de um show, acabou culminando nesse formato [o show plugado nas casas]. Vendo que dava certo, a gente pensou em estender o show pro brasil todo, o máximo possível. Aí percebemos que só precisaríamos ter um veiculo e uns equipamentos. É um novo passo que nos empolga bastante, poder estender essa experiência do financiamento coletivo, do show na sala de estar. Ter essa aproximação do publico como um pilar importante... casar as duas coisas e ver o que vai sair disso tem nos deixado bastante ansiosos.

E qual o clima desses shows na sala de estar?

AK: São shows bem tranquilos, e muito massa, muito íntimo mesmo. Receber o publico numa casa, naturalmente, todo mundo tendo um bom momento junto. Tem dias que é mais emocionante, a galera tá mais pra cima. Já fizemos 4 temporadas desses shows em Porto Alegre. As experiências foram boas, não teve nenhum ponto negativo.

E quem frequenta essas apresentações?

AK: A venda de ingresso é aberta ao publico, tem pessoas que são conhecidas dos donos da casa, mas de uma forma geral é o publico da banda. É como um show normal, mas na casa de alguém.

Agora na turnê, como tem sido essa tarefa de conseguir as casas para tocar?

AK: A gente vem levantando essas sugestões de lugares e tá rolando bastante. Na maioria das cidades por onde vamos passar já temos onde tocar.

E o repertório desses shows, vai ser dos outros dois discos ou já vai ter coisa nova?

AK: O repertório vai ser dos outros discos. Depois que vamos trabalhar nas músicas novas. Mas às vezes vai surgindo, nada nos impede de no meio da viagem já preparar algo. Esse show permite mais improvisação, mais experiências.

Que bandas nacionais recentes você escuta mais?

AK: Eu gosto muito da Graveola e o Lixo Polifônico, também do Ian Ramil, de Poa, que é inclusive nosso parceiro e vai lançar um novo disco. Outra banda que tenho ouvido bastante é Perotá Chingó, bem massa, vem tocar com a gente em Porto Alegre em agosto.

Sei que essa é uma pergunta um pouco difícil e bastante genérica, mas o que você vê como os maiores desafios da musica brasileira hoje?

AK: Acho que falta uma estruturação pra cena independente. Faltam alguns caminhos por onde se trilhar. A musica no brasil é muito bem sucedida no mainstream, mas o independente ainda está muito desestruturado. Precisamos de mais estrutura mesmo pra surgir novos artistas, que possam se sustentar, para a gente continuar tendo uma cultura musical tão rica. Se a coisa continuar do jeito que tá, a gente talvez comece a perceber que tem cada vez menos artistas novos pintando. Isso passa também por uma abertura de novos caminhos. Como financiamento coletivo, que quando chegou no brasil foi uma coisa muito inovadora, e segue cumprindo seu papel importante. A gente precisa disso: novas ferramentas. E isso parte de inventar novos caminhos, é isso que a gente tenta fazer.

Para que a turnê e o novo disco do Apanhador Só aconteçam, eles precisam arrecadar R$ 77 mil até o dia 22 de julho. Colabore!

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Apanhador Só desbrava novos caminhos para a música independente em projeto de crowdfunding

Com o disco “Antes que Tu Conte Outra”, a banda gaúcha Apanhador Só atingiu um novo patamar na carreira. Financiado coletivamente no Catarse, o segundo álbum do grupo esteve nas principais listas de melhores discos de 2013 e ganhou o prêmio de melhor álbum nacional da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), um dos mais importantes do país.

O sucesso gerou aproximações de selos e gravadoras, mas a banda decidiu seguir no caminho de independência. Para financiar seu próximo disco, eles voltaram ao Catarse com um projeto ousado, que inclui uma tour pelo país (colabore!). A liberdade para produzir e o contato direto com os fãs motivaram a escolha pelo crowdfunding novamente, conta Alexandre Kumpinski, guitarrista e vocalista da banda. “Essa aproximação do publico é o que pode nos dar força e nos levar adiante”, explica.

No novo projeto de financiamento coletivo, a proximidade com o público ganha sentido literal. O dinheiro arrecadado pela banda servirá para financiar equipamentos e um carro para que os músicos viajem pelo país fazendo shows na sala de estar de fãs. 21 cidades (veja lista na página do projeto) irão receber as apresentações, uma viagem musical de Porto Alegre a Belém. Os ingressos para os shows intimistas podem ser adquiridos como recompensa do projeto. Após a tour, a banda venderá o veículo e utilizará o dinheiro da venda para gravar um novo disco.

Um formato semelhante de show já havia sido experimentado no outro crowdfunding, mas em versão acústica (confira vídeo acima). 41 apoiadores contribuíram com R$ 500 e "adquiriram" uma apresentação da banda em suas residências. Depois de fazerem 4 temporadas de shows ‘plugados’ (com amplificadores e microfones) em casas em Porto Alegre, os músicos tiveram a ideia de expandir o projeto. “São shows bem tranquilos, é muito íntimo mesmo, receber o publico numa casa, todo mundo ali naturalmente tendo um bom momento junto”, conta Alexandre.

Antes de lançar o crowdfunding, a banda se comunicou com fãs pelas redes sociais para definir as casas onde seriam feitas as apresentações. Caso queira atuar na articulação desses shows na sua cidade, basta enviar um e-mail para apanhador.saladeestar@gmail.com.

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Confira conversa feita com Alexandre Kumpinski (ao centro da foto) por Skype 

Como você vê uso do crowdfunding na música? Pode ser pensado como um modelo de negócio a longo prazo?

AK: Eu enxergo como uma possibilidade de libertação para os artistas. Abre muito horizonte de possibilidade de fazer as coisas com as próprias pernas. Nosso último álbum já foi via crowdfunding, e além da liberdade de produção, acho que fortifica uma liberdade artística. Você está desprendido de outras estruturas, não tem nenhum tipo de executivo dando aval do que pode ou não. A liberdade artística do álbum é também em decorrência do financiamento coletivo. Acho que pode ser um modelo de longo prazo, sim.

Vocês já pensaram em outras possibilidades de financiamento? Houve alguma aproximação de selo ou gravadora? Por que decidiram fazer um novo crowdfunding?

AK: Sim, houve interesse já, de vários tipos, o principal talvez tenha sido da Som Livre, mas acabamos sempre decidindo por seguir de maneira independente. A gente tem outras possibilidades para financiar, mas escolhe o crowdfunding por acreditar nesse caminho mesmo. Escolhemos o financiamento coletivo porque acreditamos que pode ser bom não só para a banda, mas para o mundo, descentralizar os poderes... poderes é uma palavra forte, mas descentralizar essa decisão de quem pode ou não fazer as coisas acontecerem. Quanto mais o público tiver com as decisões na mão, melhor.

Como surgiu a ideia da turnê na sala de estar?

AK: Essa ideia foi surgindo aos poucos. Primeiro, a gente já tinha o formato de show em Porto Alegre, tocando na casa dos apoiares [do primeiro crowdfunding] na recompensa do acústico sucateiro. Essa experiência de tocar em ambientes mais próximos do público, fazer show a um metro do público, foi algo que nos agradou muito. Isso aliado a uma vontade de maior de aproximação e de tentar fugir das estruturas que já tão montadas, do que ja se espera de um show, acabou culminando nesse formato [o show plugado nas casas]. Vendo que dava certo, a gente pensou em estender o show pro brasil todo, o máximo possível. Aí percebemos que só precisaríamos ter um veiculo e uns equipamentos. É um novo passo que nos empolga bastante, poder estender essa experiência do financiamento coletivo, do show na sala de estar. Ter essa aproximação do publico como um pilar importante... casar as duas coisas e ver o que vai sair disso tem nos deixado bastante ansiosos.

E qual o clima desses shows na sala de estar?

AK: São shows bem tranquilos, e muito massa, muito íntimo mesmo. Receber o publico numa casa, naturalmente, todo mundo tendo um bom momento junto. Tem dias que é mais emocionante, a galera tá mais pra cima. Já fizemos 4 temporadas desses shows em Porto Alegre. As experiências foram boas, não teve nenhum ponto negativo.

E quem frequenta essas apresentações?

AK: A venda de ingresso é aberta ao publico, tem pessoas que são conhecidas dos donos da casa, mas de uma forma geral é o publico da banda. É como um show normal, mas na casa de alguém.

Agora na turnê, como tem sido essa tarefa de conseguir as casas para tocar?

AK: A gente vem levantando essas sugestões de lugares e tá rolando bastante. Na maioria das cidades por onde vamos passar já temos onde tocar.

E o repertório desses shows, vai ser dos outros dois discos ou já vai ter coisa nova?

AK: O repertório vai ser dos outros discos. Depois que vamos trabalhar nas músicas novas. Mas às vezes vai surgindo, nada nos impede de no meio da viagem já preparar algo. Esse show permite mais improvisação, mais experiências.

Que bandas nacionais recentes você escuta mais?

AK: Eu gosto muito da Graveola e o Lixo Polifônico, também do Ian Ramil, de Poa, que é inclusive nosso parceiro e vai lançar um novo disco. Outra banda que tenho ouvido bastante é Perotá Chingó, bem massa, vem tocar com a gente em Porto Alegre em agosto.

Sei que essa é uma pergunta um pouco difícil e bastante genérica, mas o que você vê como os maiores desafios da musica brasileira hoje?

AK: Acho que falta uma estruturação pra cena independente. Faltam alguns caminhos por onde se trilhar. A musica no brasil é muito bem sucedida no mainstream, mas o independente ainda está muito desestruturado. Precisamos de mais estrutura mesmo pra surgir novos artistas, que possam se sustentar, para a gente continuar tendo uma cultura musical tão rica. Se a coisa continuar do jeito que tá, a gente talvez comece a perceber que tem cada vez menos artistas novos pintando. Isso passa também por uma abertura de novos caminhos. Como financiamento coletivo, que quando chegou no brasil foi uma coisa muito inovadora, e segue cumprindo seu papel importante. A gente precisa disso: novas ferramentas. E isso parte de inventar novos caminhos, é isso que a gente tenta fazer.

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