Catarse, CCXP e os Quadrinhos no Brasil

Por Felipe Cagno, Produtor e Roteirista

É indiscutível, fato concreto, que tanto o financiamento coletivo através do Catarse quanto a mega convenção anual de cultura pop – a Comic Con Experiencemudaram o jeito de se fazer e pensar histórias em quadrinhos no Brasil. Fomos de uma produção totalmente independente de corajosos autores que bancavam suas próprias publicações a um mercado em formação onde existem alternativas ao risco de financiar o próprio trabalho.

Tanto as campanhas no Catarse quanto os cinco dias de CCXP têm a mesma função: conquistar leitores dispostos a pagar para ler novas histórias em quadrinhos. Não é coincidência então que o período mais movimentado da categoria de HQs no Catarse seja entre setembro e novembro.

Isso seria positivo se não fosse um pequeno porém: os leitores não conseguem apoiar tantos projetos simultâneos e concentrados neste curto período. E o que vemos, ano após ano, são centenas de projetos de publicações "brigando" pela atenção dos leitores ao mesmo tempo.

Como criadores brasileiros procurando o seu espaço no mercado nacional e dentro do próprio Catarse, acredito que a melhor estratégia é tentarmos evitar o engarrafamento de projetos nesse intervalo de tempo. Mas isso exige planejamento e, mais importante ainda, respostas para as seguintes perguntas:

1) Estou criando uma HQ só para ter o que lançar na CCXP ou estou lançando uma HQ porque tenho uma história para contar?

2) Quero conquistar leitores para a obra ou tenho uma responsabilidade financeira com o projeto?

ccxpdia4artistsalleypadilha6-09d6013d1cb44efabc44dabdd65dd8bc-1200x600 No ano passado, o público pôde conhecer o trabalho de 540 quadrinistas e ilustradores, espalhados em 352 mesas do AA18. Este ano, mais de 500 artistas marcarão presença no local. (Foto: divulgação)

Não existem respostas certas ou erradas. Não há nada de errado em querer criar um quadrinho para ter algo novo na sua mesa durante a Comic Con. E também não está errado querer viver do seu trabalho e participar da CCXP, garantindo uma espécie de 13º no fim do ano.

Mas a verdade é que as respostas acima deveriam ditar o planejamento da execução de uma HQ, cujo mercado ainda está em formação no Brasil. Uma das frases que mais escuto durante a CCXP é: “nossa, não sabia que se fazia HQs assim no Brasil!”.

As produções nacionais ainda brigam pelo seu espaço diante dos super-heróis da Marvel e da DC, dos mangás e dos quadrinhos “indie” americanos e europeus. O leitor de HQs no Brasil muitas vezes nem sabe que já temos uma produção tão rica em qualidade e quantidade quanto os mercados lá fora. E é nosso trabalho educar esse leitor a procurar material nacional o ano todo, não só na CCXP, não só no Catarse e certamente não apenas no fim do ano. Como autores é preciso se planejar para espalhar melhor as campanhas no calendário. Isso deve partir de nós, de todo mundo que faz quadrinhos no Brasil.

A CCXP tem todo ano, o Catarse está disponível todo dia. Fazer quadrinhos é algo que não depende de ninguém a não ser de nós mesmos. Por que então se arriscar a não bater a meta de um projeto no período mais disputado?

Pensando

A Raíssa, diretora de publicações do Catarse, me perguntou: “seria o tráfego de apoiadores de HQ no Catarse justamente o que autores e editoras buscam nessa época?”. Seria, se a base de leitores e o poder aquisitivo fossem maiores. Por isso, a minha dica é: autoresprincipalmente aqueles que vão publicar sua primeira ou segunda HQ –, quando possível, fujam do segundo semestre.

Mesmo visando o lançamento na CCXP, mesmo sem a certeza de ser selecionado para uma mesa no Artist's Alley, você que é autor de HQs no Brasil, planeje-se desde o começo do ano. Monte um projeto no primeiro semestre com uma data de entrega realista, nem que seja dali a um ano, seja honesto e comunicativo e, o mais importante, cumpra o que se propôs a fazer. Essa é a principal dica que eu posso compartilhar sobre usar o Catarse. 

A plataforma é uma excelente ferramenta para se financiar, lançar e produzir uma HQ, além de ajudar a criar e manter uma base de fãs e leitores – independente da CCXP – e merece ser usada com consistência e responsabilidade.

Mesmo em um período de engarrafamento de projetos, a campanha da sexta e última edição da Ruiva, em The Few and Cursed (https://www.catarse.me/aRuiva6), encerrou como a maior da série até aqui. Mas isso não tem a ver com o período, e sim com um trabalho bem-feito que começou já em 2015. Quem é fã da Ruiva já espera a próxima edição no Catarse e sabe que será entregue com responsabilidade. Assim, o projeto acaba escapando da canabalização que acontece na plataforma.

Capas 1 a 3 The Few and Cursed Capas das três primeiras edições da série "The Few and Cursed". O primeiro arco da HQ (com seis edições) foi financiado no Catarse entre 2015 e 2019. (Ilustras: reprodução)

O principal custo na produção de uma HQ é a gráfica, a impressão, mas ele também é um dos últimos. Ou seja, nada impede o autor de fazer o seu Catarse no começo do ano, ou durante o meio do ano, e só fazer uso dos fundos perto do lançamento na CCXP.

Fora que, a partir do momento que a sua campanha no Catarse termina, você tem nas mãos um canal de comunicação direta com seus apoiadores, que certamente irão curtir cada etapa, cada detalhe e cada novidade do seu projeto. E com isso aí vai uma última dica: Catarse não é só uma ferramenta para se levantar dinheiro, é também um canal para se formar um relacionamento direto com leitores e fãs. É sempre bom lembrar que do outro lado do computador existem pessoas que acreditam no seu trabalho e querem ler a sua história.

Invista nesse relacionamento. É ele que vai te proporcionar a liberdade de lançar campanhas futuras em qualquer período, ousar nas suas metas e te abrir portas. Mais importante do que buscar “x” reais para o seu projeto no Catarse, busque conquistar “x” leitores. São eles que vão voltar, campanha atrás de campanha, e se tornar a sua base.

Não se fazem HQs sem leitores. Nunca se esqueça disso.

Boa sorte e um abraço!

PS 1: Para conhecer todos os artistas (brasileiros e estrangeiros) que estarão o Artist's Alley este ano, clique aqui.

PS 2: E para apoiadores e realizadores, também confira as campanhas de HQs que seguem ativas no Catarse clicando aqui.

Vanessa Bencz

O autor

Felipe Cagno é produtor e roteirista de filmes e quadrinhos. Responsável pela co-criação do universo de The Few and Cursed ao lado do desenhista Fabiano Neves, já realizou 28 campanhas de financiamento coletivo (no Catarse e Kickstarter).

 

 

Colaborador
Este texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)

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Catarse, CCXP e os Quadrinhos no Brasil

Por Felipe Cagno, Produtor e Roteirista

É indiscutível, fato concreto, que tanto o financiamento coletivo através do Catarse quanto a mega convenção anual de cultura pop – a Comic Con Experiencemudaram o jeito de se fazer e pensar histórias em quadrinhos no Brasil. Fomos de uma produção totalmente independente de corajosos autores que bancavam suas próprias publicações a um mercado em formação onde existem alternativas ao risco de financiar o próprio trabalho.

Tanto as campanhas no Catarse quanto os cinco dias de CCXP têm a mesma função: conquistar leitores dispostos a pagar para ler novas histórias em quadrinhos. Não é coincidência então que o período mais movimentado da categoria de HQs no Catarse seja entre setembro e novembro.

Isso seria positivo se não fosse um pequeno porém: os leitores não conseguem apoiar tantos projetos simultâneos e concentrados neste curto período. E o que vemos, ano após ano, são centenas de projetos de publicações "brigando" pela atenção dos leitores ao mesmo tempo.

Como criadores brasileiros procurando o seu espaço no mercado nacional e dentro do próprio Catarse, acredito que a melhor estratégia é tentarmos evitar o engarrafamento de projetos nesse intervalo de tempo. Mas isso exige planejamento e, mais importante ainda, respostas para as seguintes perguntas:

1) Estou criando uma HQ só para ter o que lançar na CCXP ou estou lançando uma HQ porque tenho uma história para contar?

2) Quero conquistar leitores para a obra ou tenho uma responsabilidade financeira com o projeto?

ccxpdia4artistsalleypadilha6-09d6013d1cb44efabc44dabdd65dd8bc-1200x600 No ano passado, o público pôde conhecer o trabalho de 540 quadrinistas e ilustradores, espalhados em 352 mesas do AA18. Este ano, mais de 500 artistas marcarão presença no local. (Foto: divulgação)

Não existem respostas certas ou erradas. Não há nada de errado em querer criar um quadrinho para ter algo novo na sua mesa durante a Comic Con. E também não está errado querer viver do seu trabalho e participar da CCXP, garantindo uma espécie de 13º no fim do ano.

Mas a verdade é que as respostas acima deveriam ditar o planejamento da execução de uma HQ, cujo mercado ainda está em formação no Brasil. Uma das frases que mais escuto durante a CCXP é: “nossa, não sabia que se fazia HQs assim no Brasil!”.

As produções nacionais ainda brigam pelo seu espaço diante dos super-heróis da Marvel e da DC, dos mangás e dos quadrinhos “indie” americanos e europeus. O leitor de HQs no Brasil muitas vezes nem sabe que já temos uma produção tão rica em qualidade e quantidade quanto os mercados lá fora. E é nosso trabalho educar esse leitor a procurar material nacional o ano todo, não só na CCXP, não só no Catarse e certamente não apenas no fim do ano. Como autores é preciso se planejar para espalhar melhor as campanhas no calendário. Isso deve partir de nós, de todo mundo que faz quadrinhos no Brasil.

A CCXP tem todo ano, o Catarse está disponível todo dia. Fazer quadrinhos é algo que não depende de ninguém a não ser de nós mesmos. Por que então se arriscar a não bater a meta de um projeto no período mais disputado?

Pensando

A Raíssa, diretora de publicações do Catarse, me perguntou: “seria o tráfego de apoiadores de HQ no Catarse justamente o que autores e editoras buscam nessa época?”. Seria, se a base de leitores e o poder aquisitivo fossem maiores. Por isso, a minha dica é: autoresprincipalmente aqueles que vão publicar sua primeira ou segunda HQ –, quando possível, fujam do segundo semestre.

Mesmo visando o lançamento na CCXP, mesmo sem a certeza de ser selecionado para uma mesa no Artist's Alley, você que é autor de HQs no Brasil, planeje-se desde o começo do ano. Monte um projeto no primeiro semestre com uma data de entrega realista, nem que seja dali a um ano, seja honesto e comunicativo e, o mais importante, cumpra o que se propôs a fazer. Essa é a principal dica que eu posso compartilhar sobre usar o Catarse. 

A plataforma é uma excelente ferramenta para se financiar, lançar e produzir uma HQ, além de ajudar a criar e manter uma base de fãs e leitores – independente da CCXP – e merece ser usada com consistência e responsabilidade.

Mesmo em um período de engarrafamento de projetos, a campanha da sexta e última edição da Ruiva, em The Few and Cursed (https://www.catarse.me/aRuiva6), encerrou como a maior da série até aqui. Mas isso não tem a ver com o período, e sim com um trabalho bem-feito que começou já em 2015. Quem é fã da Ruiva já espera a próxima edição no Catarse e sabe que será entregue com responsabilidade. Assim, o projeto acaba escapando da canabalização que acontece na plataforma.

Capas 1 a 3 The Few and Cursed Capas das três primeiras edições da série "The Few and Cursed". O primeiro arco da HQ (com seis edições) foi financiado no Catarse entre 2015 e 2019. (Ilustras: reprodução)

O principal custo na produção de uma HQ é a gráfica, a impressão, mas ele também é um dos últimos. Ou seja, nada impede o autor de fazer o seu Catarse no começo do ano, ou durante o meio do ano, e só fazer uso dos fundos perto do lançamento na CCXP.

Fora que, a partir do momento que a sua campanha no Catarse termina, você tem nas mãos um canal de comunicação direta com seus apoiadores, que certamente irão curtir cada etapa, cada detalhe e cada novidade do seu projeto. E com isso aí vai uma última dica: Catarse não é só uma ferramenta para se levantar dinheiro, é também um canal para se formar um relacionamento direto com leitores e fãs. É sempre bom lembrar que do outro lado do computador existem pessoas que acreditam no seu trabalho e querem ler a sua história.

Invista nesse relacionamento. É ele que vai te proporcionar a liberdade de lançar campanhas futuras em qualquer período, ousar nas suas metas e te abrir portas. Mais importante do que buscar “x” reais para o seu projeto no Catarse, busque conquistar “x” leitores. São eles que vão voltar, campanha atrás de campanha, e se tornar a sua base.

Não se fazem HQs sem leitores. Nunca se esqueça disso.

Boa sorte e um abraço!

PS 1: Para conhecer todos os artistas (brasileiros e estrangeiros) que estarão o Artist's Alley este ano, clique aqui.

PS 2: E para apoiadores e realizadores, também confira as campanhas de HQs que seguem ativas no Catarse clicando aqui.

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Felipe Cagno é produtor e roteirista de filmes e quadrinhos. Responsável pela co-criação do universo de The Few and Cursed ao lado do desenhista Fabiano Neves, já realizou 28 campanhas de financiamento coletivo (no Catarse e Kickstarter).

 

 

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