Nós, mulheres, precisamos aprender a domar nosso dinheiro. Não só para pagar boletos, mas para ter tempo de criar.
Há muitos estudos sobre a relação das lutas feministas e o capitalismo e sobre como esse regime oprime sobretudo as mulheres mais pobres (procure por Silvia Federici, Riane Eisler e Naomi Wolf). E, por isso mesmo, é preciso que a gente saiba estabelecer uma relação saudável com o dinheiro – começando por falar dele sem medo.
Não é sujo, não é feio, não é pouco nobre precisar de dinheiro para botar de pé uma ideia. É com ele que pagamos internet, aulas de programação ou de balé para as crianças, a impressão do nosso primeiro livro, um colchão melhor. Dinheiro também compra tempo para se divertir, estudar e ter boas ideias em paz.
Quem deu essa letra – há quase cem anos! – foi Virginia Woolf no clássico feminista Um Teto Todo Seu (1929). Segundo a palestra de Virginia na Universidade de Cambridge (que deu origem ao livro): “a mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção”. Sem condições básicas de saúde, educação, renda e moradia (de preferência com um cômodo só para ela), é muito mais difícil haver produção intelectual.

Mesa de trabalho de Manu Cunhas, vencedora do Prêmio Jabuti de Ilustração em 2017 e realizadora recorrente do Catarse
Na prática, é por isso que é tão mais complicado para uma mulher idealizar e executar um projeto de HQ, por exemplo, quando ela precisa lavar o banheiro, o uniforme das crianças e o xixi dos cachorros antes de sentar à mesa de desenho – e o marido dela não. É muito mais difícil também quando a mente fértil dessa mulher está ocupada com as implicações da falta de dinheiro.
Mulheres criadoras precisam de apoio, likes, orientação e também precisam ser pagas pelos seus trabalhos. Só assim elas conseguem seguir criando.
Há várias formas de engrossar o caldo das lutas feministas hoje: participando de marchas e associações em suas cidades, conversando mais com as mulheres da sua família ou divulgando essa lista de projetos incríveis idealizados com muito esforço e dedicação por meninas.
Estão todos no ar – aproveite para apoiar:
1) Box Filhos da Floresta, Editora Wish (Marina Ávila e Valquíria Vlad):
2) Mamilos Podcast, Cris Bartis e Juliana Wallauer:
3) Nosotras Tarot, Elisa Riemer e Paula Mariá:
4) Documentário Mulheres da Pá Virada, coletivo Marias Felipas:
5) HQ Pequenas Felicidades Trans, Alice Pereira:
6) Portal colaborativo Eva Bot, Bruna Martins:
7) Duologia Eu Vejo Kate, Cláudia Lemes:
8) Revista AzMina, Carolina Oms, Thais Folego e equipe AzMina:
9) Uma repórter mulher na Fórmula 1, Julianne Cerasoli:
10) Arquitetura na Periferia, Carina Guedes:
11) Pelo jornalismo de dados, Gênero e Número:
12) Documentário A Culpa é Sua, coletivo de cineastas do Instituto de Cinema (SP):
13) Portal Catarinas – Jornalismo com Perspectiva de Gênero:
14) HQ Alice falava Outra Língua:
Mais projetos:
O Lucas Ferreira, do blog HQnoBlack, fez uma lista de ótimos projetos de mulheres no Catarse
Também tem artigo e lista caprichada no site da Ada.vc
*A ilustração no topo do post é da Amma, que financiou o livro Você É Feminista e Não Sabe no Catarse, ao lado de Angélica Kalil (jornalista que colaborou com este post).
** Lembrou de alguma campanha que merecia estar na lista? Deixe um comentário pra gente.