O impacto do financiamento coletivo na carreira da atleta Rayssa Leal e de seus apoiadores

Foto de capa: Odd Andersen / AFP

Desde o dia 26 de julho, o assunto é um só: as Olimpíadas e o desempenho dos nossos atletas (mesmo os que não foram medalhistas). Entre eles, uma atleta em especial, que sempre nos traz alegria com seu sorriso e suas conquistas, dentro e fora das competições. O nome dela? Rayssa Leal, como gosta de ser chamada.

A história dela encantou o Brasil, e até foi descrita como saída de um conto de fadas, mas a cada dia que passa, Rayssa mostra que este foi apenas o primeiro capítulo. Até porque os seguintes estão sendo vividos e escritos com muita dedicação e empenho.

E se você ainda não sabia, vai saber agora: o Catarse faz parte dessa história, e o impacto na vida da atleta ressoa fortemente em 108 pessoas. Quer saber como? Então confira!

Capítulo 1: Era uma vez uma fadinha skatista

No município de Imperatriz, Maranhão, em 4 de janeiro de 2008, nasceu Jhulia Rayssa Mendes Leal, filha de Haroldo e Lilian. A menina cresceu com um espírito livre e um olhar atento. Em um belo dia, aos seis anos, viu um amigo de seu pai andando de skate e, sem hesitar, pediu um “carrinho” aos pais.

Esse foi o primeiro ponto de virada na história da menina. Com o skate em mãos, passou a se divertir, mas também praticar, além de assistir e acompanhar ativamente os campeonatos do esporte pela TV.

Anos se passaram até que, em 8 de setembro de 2015, um dia após ser filmada treinando até conseguir executar um heelflip, manobra que consiste em dar impulso no shape e fazer o skate dar uma volta completa no ar, aconteceu a segunda grande virada em sua vida. O vídeo chegou até Tony Hawk, um dos maiores skatistas da história, que o compartilhou, trazendo visibilidade para a jovem skatista. Desse dia em diante, Rayssa conquistou diversos brasileiros, sendo carinhosamente apelidada de Fadinha por conta de seu traje no vídeo.

No post, Hawk escreveu: “Eu não sei nada sobre isso, mas eu adoro isso: um conto de fadas heelflip no Brasil, por #RayssaLeal.”

Capítulo 2: De Maranhão para o mundo

Para alguém conseguir fazer do esporte sua profissão, é preciso muito investimento, não só de tempo, entrega e dedicação, mas também financeiro. Afinal, equipamentos, profissionais, inscrições e uniformes exigem toda uma logística.

É por essa razão que muitos amadores e esportistas que desejam se tornar atletas profissionais buscam patrocinadores. Eles precisam investir em educação e acompanhamento profissional de diferentes modalidades para estarem aptos a dar o seu melhor em competições municipais, estaduais, nacionais, internacionais e mundiais.

O vídeo de Rayssa Leal foi compartilhado por Hawk em setembro de 2015 e, praticamente um mês depois, a campanha Ajudar a Rayssa a Disputar Vaga pro Brasileiro 2016 foi aberta aqui, no Catarse, por Renato Schemeiske, uma pessoa que viu e se encantou com o talento da skatista. Isso porque, sem apoio financeiro, Rayssa não conseguiria arcar com os custos para competir.

Campanha realizada no Catarse em 2015

O objetivo era viabilizar a ida de Rayssa para a Taça Santa Catarina de Skate Street 2015, evento que ocorreu na cidade de Blumenau, que seria classificatório para o campeonato nacional da modalidade de 2016.

O financiamento coletivo ganhou visibilidade, tanto que a mãe, Lilian, relatou para o G1:

É a primeira vez que a gente faz essa vaquinha. Um amigo deu a ideia de fazer e nós começamos a compartilhar. Conseguimos fechar o valor do projeto em quinze dias. Já arrecadamos os R$ 3 mil, que é o valor das passagens. Ainda faltam nove dias pra fechar e ainda tem gente doando. Vamos usar o resto do dinheiro pra comprar tênis e roupa pra ela usar, que sai muito caro.

Na página da campanha estava escrito algo que alguns podem acreditar ser apenas a contestação de um fato, uma premonição, um desejo, ou a certeza de que com apoio e investimento sonhos pode ser realizados: "A maior recompensa será ver a Rayssa competindo e se aprimorando no esporte. Daqui alguns anos, quando ela estiver arrebentando mundo afora, certeza que você sentirá um pouco de orgulho por tê-la ajudado agora. Obrigado pelo apoio. Compartilhe!!!"

Quem apoiou a campanha certamente ficou muito feliz, não só porque Rayssa trouxe o troféu para casa, mas também porque, mesmo sendo a mais jovem em diversas competições (inclusive nas Olimpíadas), conquistou várias medalhas e subiu em pódios.

Agora, nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, Rayssa trouxe a medalha de bronze e fez a alegria de 203 milhões de brasileiros. Mas, especialmente, 108 pessoas devem estar muito felizes e orgulhosas. Por isso, entrei em contato com algumas delas para perguntar:

O que te motivou a apoiar o projeto e qual o sentimento que você tem vendo a Rayssa ganhando o mundo agora, sabendo que foi uma das 108 pessoas que incentivou a carreira dela lá em 2015, com a campanha no Catarse?

Gab Gomes diz que: 

Basicamente, consigo responder essa pergunta em dois pontos: 

1. Eu sou uma pessoa que adora a lógica do financiamento coletivo, acredito que é uma forma muito inteligente de dar vida a projetos, compartilhar com o mundo um desejo, uma ideia, um sonho, e pessoas que acreditam nisso junto com você podem contribuir da forma que conseguirem para que o objetivo se torne realidade. Eu acredito que a cultura de doação deveria ser valorizada aqui no Brasil, e vejo o financiamento nessa lógica, apesar de ter uma recompensa, mas o que tem por trás de muitos apoios é ajudar os idealizadores.

2. Apoiei, especificamente, a campanha da Rayssa porque queria vê-la competindo no brasileiro de 2016. Em grande parte porque sou skatista, tive uma conexão direta com o vídeo que a mostrou pro mundo, e me emocionei porque me fez lembrar das inúmeras vezes que andei nas ruas de Santa Maria. Também porque tive meio que uma "visão". A Rayssa já aparentava naquela época, com apenas 7 anos, ter todos os trejeitos, traços, sinais, evidências motoras e corporais de que ela seria uma grande skatista. E a prova tá aí agora, para todo o mundo, literalmente.

E ele complementou, dizendo: É óbvio que a Rayssa nunca vai saber quem eu sou, mas, no fundo, algo que alimento em mim é que sei que a ajudei a dar um passo importante na carreira dela, que foi esse campeonato de 2016. E sabe-se lá o que iria acontecer na carreira dela caso não tivesse participado. Eu busco acreditar que coloquei uma pedrinha nessa jornada, assim como as outras 107 pessoas que apoiaram.

Se é emocionante para quem apoiou, imagina para quem não só fez parte, mas também é um dos idealizadores da plataforma que viabilizou a campanha? Rodrigo Machado, cofundador do Catarse relata:

O que me motivou é o que me motiva desde os meus tempos de produtor cultural e artista: criar meios para financiar pessoas e projetos. Acredito que temos no Brasil uma multidão de atletas, pessoas criativas e estudiosas que têm gana de fazer coisas incríveis, e só lhes faltam os recursos necessários pra isso. Acho que por isso eu e mais 107 pessoas estávamos lá para ajudar num pedacinho dessa trajetória da Rayssa. Olha aí no que deu! Esse é o sentimento mais poderoso do financiamento coletivo: a sensação de fazer parte de algo incrível e único.

Infelizmente, até o fechamento desta pauta não consegui conversar com Renato Schmeiske, o idealizador da campanha. Contudo, fica aqui o nosso agradecimento por ter criado o projeto e acreditado que por meio do Catarse podíamos unir forças e contribuir com o sonho da Rayssa.

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Capítulo 3: longe de ter um fim

Rayssa, que o Brasil conheceu quando era apenas uma menina, agora é uma garota que demonstra ter muita maturidade, força e garra. Ela afirma que tem planos de seguir sua carreira como atleta, mas também reconhece a importância de viver a adolescência fora das pistas. Em entrevistas, Rayssa expressa o desejo de terminar os estudos, começar a filmar sua vídeo part, viajar e continuar andando de skate com seus amigos, tanto nas ruas quanto em campeonatos.

Tenho certeza de que todos nós, aqui do Catarse, os 108 apoiadores da sua campanha, milhões de brasileiros, e diversos admiradores ao redor do mundo, continuaremos torcendo por ela, dentro e fora das pistas.

Posfácio da história que está sendo escrita

Assista os melhores momentos de Rayssa nos Jogos Olímpicos de 2024

Confira o que toca no fone de Rayssa entre uma pista e outra

Leia um artigo que não só cita Rayssa, como analisa o impacto das políticas públicas nas ruas de Imperatriz, cidade da atleta

Quer acompanhar a Rayssa Leal? Aqui estão suas redes sociais: Facebook, Instagram, X (antigo Twitter), TikTok, YouTube

Lorena Camilo
Mestra em Estudos Literários, bacharel em Letras com formação complementar em Comunicação Social, editora, redatora e aficionada por arte e cultura pop.

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O impacto do financiamento coletivo na carreira da atleta Rayssa Leal e de seus apoiadores

Foto de capa: Odd Andersen / AFP

Desde o dia 26 de julho, o assunto é um só: as Olimpíadas e o desempenho dos nossos atletas (mesmo os que não foram medalhistas). Entre eles, uma atleta em especial, que sempre nos traz alegria com seu sorriso e suas conquistas, dentro e fora das competições. O nome dela? Rayssa Leal, como gosta de ser chamada.

A história dela encantou o Brasil, e até foi descrita como saída de um conto de fadas, mas a cada dia que passa, Rayssa mostra que este foi apenas o primeiro capítulo. Até porque os seguintes estão sendo vividos e escritos com muita dedicação e empenho.

E se você ainda não sabia, vai saber agora: o Catarse faz parte dessa história, e o impacto na vida da atleta ressoa fortemente em 108 pessoas. Quer saber como? Então confira!

Capítulo 1: Era uma vez uma fadinha skatista

No município de Imperatriz, Maranhão, em 4 de janeiro de 2008, nasceu Jhulia Rayssa Mendes Leal, filha de Haroldo e Lilian. A menina cresceu com um espírito livre e um olhar atento. Em um belo dia, aos seis anos, viu um amigo de seu pai andando de skate e, sem hesitar, pediu um “carrinho” aos pais.

Esse foi o primeiro ponto de virada na história da menina. Com o skate em mãos, passou a se divertir, mas também praticar, além de assistir e acompanhar ativamente os campeonatos do esporte pela TV.

Anos se passaram até que, em 8 de setembro de 2015, um dia após ser filmada treinando até conseguir executar um heelflip, manobra que consiste em dar impulso no shape e fazer o skate dar uma volta completa no ar, aconteceu a segunda grande virada em sua vida. O vídeo chegou até Tony Hawk, um dos maiores skatistas da história, que o compartilhou, trazendo visibilidade para a jovem skatista. Desse dia em diante, Rayssa conquistou diversos brasileiros, sendo carinhosamente apelidada de Fadinha por conta de seu traje no vídeo.

No post, Hawk escreveu: “Eu não sei nada sobre isso, mas eu adoro isso: um conto de fadas heelflip no Brasil, por #RayssaLeal.”

Capítulo 2: De Maranhão para o mundo

Para alguém conseguir fazer do esporte sua profissão, é preciso muito investimento, não só de tempo, entrega e dedicação, mas também financeiro. Afinal, equipamentos, profissionais, inscrições e uniformes exigem toda uma logística.

É por essa razão que muitos amadores e esportistas que desejam se tornar atletas profissionais buscam patrocinadores. Eles precisam investir em educação e acompanhamento profissional de diferentes modalidades para estarem aptos a dar o seu melhor em competições municipais, estaduais, nacionais, internacionais e mundiais.

O vídeo de Rayssa Leal foi compartilhado por Hawk em setembro de 2015 e, praticamente um mês depois, a campanha Ajudar a Rayssa a Disputar Vaga pro Brasileiro 2016 foi aberta aqui, no Catarse, por Renato Schemeiske, uma pessoa que viu e se encantou com o talento da skatista. Isso porque, sem apoio financeiro, Rayssa não conseguiria arcar com os custos para competir.

Campanha realizada no Catarse em 2015

O objetivo era viabilizar a ida de Rayssa para a Taça Santa Catarina de Skate Street 2015, evento que ocorreu na cidade de Blumenau, que seria classificatório para o campeonato nacional da modalidade de 2016.

O financiamento coletivo ganhou visibilidade, tanto que a mãe, Lilian, relatou para o G1:

É a primeira vez que a gente faz essa vaquinha. Um amigo deu a ideia de fazer e nós começamos a compartilhar. Conseguimos fechar o valor do projeto em quinze dias. Já arrecadamos os R$ 3 mil, que é o valor das passagens. Ainda faltam nove dias pra fechar e ainda tem gente doando. Vamos usar o resto do dinheiro pra comprar tênis e roupa pra ela usar, que sai muito caro.

Na página da campanha estava escrito algo que alguns podem acreditar ser apenas a contestação de um fato, uma premonição, um desejo, ou a certeza de que com apoio e investimento sonhos pode ser realizados: "A maior recompensa será ver a Rayssa competindo e se aprimorando no esporte. Daqui alguns anos, quando ela estiver arrebentando mundo afora, certeza que você sentirá um pouco de orgulho por tê-la ajudado agora. Obrigado pelo apoio. Compartilhe!!!"

Quem apoiou a campanha certamente ficou muito feliz, não só porque Rayssa trouxe o troféu para casa, mas também porque, mesmo sendo a mais jovem em diversas competições (inclusive nas Olimpíadas), conquistou várias medalhas e subiu em pódios.

Agora, nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, Rayssa trouxe a medalha de bronze e fez a alegria de 203 milhões de brasileiros. Mas, especialmente, 108 pessoas devem estar muito felizes e orgulhosas. Por isso, entrei em contato com algumas delas para perguntar:

O que te motivou a apoiar o projeto e qual o sentimento que você tem vendo a Rayssa ganhando o mundo agora, sabendo que foi uma das 108 pessoas que incentivou a carreira dela lá em 2015, com a campanha no Catarse?

Gab Gomes diz que: 

Basicamente, consigo responder essa pergunta em dois pontos: 

1. Eu sou uma pessoa que adora a lógica do financiamento coletivo, acredito que é uma forma muito inteligente de dar vida a projetos, compartilhar com o mundo um desejo, uma ideia, um sonho, e pessoas que acreditam nisso junto com você podem contribuir da forma que conseguirem para que o objetivo se torne realidade. Eu acredito que a cultura de doação deveria ser valorizada aqui no Brasil, e vejo o financiamento nessa lógica, apesar de ter uma recompensa, mas o que tem por trás de muitos apoios é ajudar os idealizadores.

2. Apoiei, especificamente, a campanha da Rayssa porque queria vê-la competindo no brasileiro de 2016. Em grande parte porque sou skatista, tive uma conexão direta com o vídeo que a mostrou pro mundo, e me emocionei porque me fez lembrar das inúmeras vezes que andei nas ruas de Santa Maria. Também porque tive meio que uma "visão". A Rayssa já aparentava naquela época, com apenas 7 anos, ter todos os trejeitos, traços, sinais, evidências motoras e corporais de que ela seria uma grande skatista. E a prova tá aí agora, para todo o mundo, literalmente.

E ele complementou, dizendo: É óbvio que a Rayssa nunca vai saber quem eu sou, mas, no fundo, algo que alimento em mim é que sei que a ajudei a dar um passo importante na carreira dela, que foi esse campeonato de 2016. E sabe-se lá o que iria acontecer na carreira dela caso não tivesse participado. Eu busco acreditar que coloquei uma pedrinha nessa jornada, assim como as outras 107 pessoas que apoiaram.

Se é emocionante para quem apoiou, imagina para quem não só fez parte, mas também é um dos idealizadores da plataforma que viabilizou a campanha? Rodrigo Machado, cofundador do Catarse relata:

O que me motivou é o que me motiva desde os meus tempos de produtor cultural e artista: criar meios para financiar pessoas e projetos. Acredito que temos no Brasil uma multidão de atletas, pessoas criativas e estudiosas que têm gana de fazer coisas incríveis, e só lhes faltam os recursos necessários pra isso. Acho que por isso eu e mais 107 pessoas estávamos lá para ajudar num pedacinho dessa trajetória da Rayssa. Olha aí no que deu! Esse é o sentimento mais poderoso do financiamento coletivo: a sensação de fazer parte de algo incrível e único.

Infelizmente, até o fechamento desta pauta não consegui conversar com Renato Schmeiske, o idealizador da campanha. Contudo, fica aqui o nosso agradecimento por ter criado o projeto e acreditado que por meio do Catarse podíamos unir forças e contribuir com o sonho da Rayssa.

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Capítulo 3: longe de ter um fim

Rayssa, que o Brasil conheceu quando era apenas uma menina, agora é uma garota que demonstra ter muita maturidade, força e garra. Ela afirma que tem planos de seguir sua carreira como atleta, mas também reconhece a importância de viver a adolescência fora das pistas. Em entrevistas, Rayssa expressa o desejo de terminar os estudos, começar a filmar sua vídeo part, viajar e continuar andando de skate com seus amigos, tanto nas ruas quanto em campeonatos.

Tenho certeza de que todos nós, aqui do Catarse, os 108 apoiadores da sua campanha, milhões de brasileiros, e diversos admiradores ao redor do mundo, continuaremos torcendo por ela, dentro e fora das pistas.

Posfácio da história que está sendo escrita

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