Não é surpresa para ninguém que, por muito tempo, as nossas prateleiras foram dominadas por autores europeus e norte-americanos. Aqui no Brasil, isso sempre foi muito comum. Mas, se a gente reparar bem, tem um movimento diferente acontecendo: histórias de outros cantos do mundo estão ganhando cada vez mais espaço e encantando os leitores.
Entre essas novas descobertas, a literatura do leste asiático chegou com tudo! De livros infantis e clássicos até ficção de cura e suspense, essas histórias têm conquistado lugar nas estantes brasileiras e mostrado que há muito mais para explorar além do que estávamos acostumados a ler. E você, já leu ou tem vontade de embarcar em uma leitura asiática? Vem que eu tenho dicas imperdíveis para te mostrar!
O que você vai ler neste post:
📖 Um breve panorama da literatura asiática no Brasil.
㊗ O papel da Laboralivros e o projeto Camélias & outras histórias, aqui no Catarse.
🌏 O fenômeno das ficções de cura e o recente boom de traduções.
🔤 Por que traduzir literatura asiática é um desafio incrível (e essencial).
🏯 Recomendações para você continuar embarcando no leste asiático.
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Como a literatura do leste asiático chegou ao Brasil
Apesar de a literatura asiática ter dado seus primeiros passos no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, com um leque plural de nomes e obras – principalmente no gênero clássico e filosófico –, foi apenas nas últimas décadas que os nomes contemporâneos do leste asiático começaram a ganhar mais espaço.
Entre os anos 2010 e 2020, esse movimento se intensificou com a chegada de novas traduções e um maior interesse dos leitores brasileiros por essas narrativas. Obras como Impostora, de R.F. Kuang; Kim Jiyoung, nascida em 1982, de Cho Nam-joo; Bem-vindos à livraria Hyunam-dong, de Hwang Bo-Reum; e Por favor, cuide da mamãe, de Kyung-sook Shin; conquistaram o público ao abordar de forma sensível e impactante temas como pressão social, identidade e pertencimento.
Além disso, o fenômeno da ficção de cura e a ascensão de gêneros como thrillers psicológicos e narrativas urbanas, ajudaram a consolidar a presença da literatura do leste asiático no Brasil. Esse crescimento permitiu que leitores brasileiros ampliassem seu repertório, descobrindo novos autores e histórias que dialogam com temas universais, mas com perspectivas culturais únicas.
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Laboralivros e o novo projeto que conecta brasileiros ao leste asiático
A Laboralivros nasceu em 2018 com uma missão simples, mas poderosa: aproximar o Brasil da literatura asiática. Desde o início, a ideia era reduzir essa distância trazendo textos clássicos e inéditos, com uma curadoria especial focada em contos fantásticos, protagonismo feminino, orientalidades e antiguidade do oeste.
Ao longo desses anos, a editora já publicou diversos títulos, criou mais de 40 projetos aqui no Catarse e mais de 25 deles foram financiados com sucesso. Um dos pontos mais importante da Laboralivros desde sempre foi o cuidado com a tradução, pensada para que o leitor possa mergulhar na cultura asiática, conhecendo não só as histórias, mas também suas nuances sociais, culturais e linguísticas.
Os livros da Laboralivros ganham vida por meio de dois selos:
📖 BuruRu: para quem ama narrativas cheias de emoção, como fantasia, dramas intensos, aventuras policiais e mundos extraordinários.
📖 Urso: aquele espaço para projetos mais densos e profundos, como: clássicos, poesia, ensaios e não ficção que exploram as grandes questões da humanidade.

E o mais novo projeto do selo Urso é Camélias & outras histórias, de Kim Yu-jeong, um dos maiores romancistas da Coreia do Sul. Tão importante que sua cidade natal abriga duas homenagens a ele: a Vila Literária Gim You-jeong e a Estação Gimyujeong.
Kim Yu-jeong é celebrado por impactar gerações de leitores e escritores, abordando temas sociais em suas obras com uma mistura única de humor e uma prosa envolvente. Seus personagens são profundamente humanos, com falas e atitudes que refletem a realidade do povo, mas sem perder a intensidade e a complexidade narrativa.
Em Camélias & outras histórias, você encontra seis narrativas selecionadas, que são reconhecidas e adoradas tanto por críticos quanto pelo público em geral. Essas histórias, que fazem parte de currículos escolares e antologias na Coreia do Sul, retratam a vida rural da década de 1930, durante o período de ocupação japonesa. Com uma linguagem marcante, Kim Yu-jeong traz à tona temas como a opressão política e social, a luta pela sobrevivência das classes mais baixas, ganância e o cotidiano do povo coreano naquela época.
🌺 Não perca os detalhes dessa jornada! Passe na página da campanha e descubra tudo sobre as histórias selecionadas, as recompensas e as metas estendidas.
Do boom literário às ficções de cura
Nos últimos anos o mercado editorial tem acompanhado de perto o crescente interesse pela literatura asiática, e esse movimento ganhou ainda mais força durante a pandemia e continua seguindo em alta. Um dos motivos para esse sucesso está no tipo de narrativa que essas obras oferecem: histórias que abordam temas delicados, como saúde mental e autocuidado, de forma sensível. Muitas dessas tramas se desenrolam em cenários acolhedores, que transportam o leitor para livrarias, cafeterias e bibliotecas, além de trazerem descrições de alimentos dignas de um filme do Estúdio Ghibli; tem também realismo mágico, viagem no tempo, animais que falam, e muitos têm gatos como personagem.
Essas narrativas fazem parte do gênero conhecido como ficção de cura, caracterizado por histórias tranquilas e reflexivas – um verdadeiro contraponto à exaustão e à urgência do mundo contemporâneo e digital. Em uma realidade onde tudo acontece rápido demais, esses livros oferecem um respiro necessário, e talvez seja justamente isso que tantos leitores estejam buscando.
Hwang Bo-reum, autora sul-coreana que participou da última Bienal do Livro de São Paulo, explicou em entrevista à Folha de S.Paulo o impacto desse tipo de obra:
Estamos sempre nos criticando e nos punindo, pensando que temos que acompanhar o nível de vida dos outros. Às vezes até tiramos um tempo para nos consolar, mas depois voltamos a nos castigar. As pessoas do meu país estavam se sentindo desamparadas, o que fez despertar nelas apreço por histórias que proporcionam uma espécie de cura emocional. Elas queriam histórias que estimulassem sua imaginação sem deixar de parecerem realistas para sentirem alívio frente a uma realidade difícil.
💡Confira: aprofunde ainda mais sobre a importância da linha editorial de uma editora
O desafio e a arte de traduzir literatura asiática
Traduzir literatura asiática, assim como qualquer outra, vai muito além de passar palavras de um idioma para outro. Nessa, em específico, é preciso mergulhar nos contextos culturais, nas sutilezas da língua e até em elementos únicos, como o vocabulário onomatopaico coreano. Diferente do português, onde as onomatopeias costumam se limitar a sons, no coreano elas também representam imagens e movimentos.
Segundo o Instituto Nacional da Língua Coreana (NIKL), existem aproximadamente 2.900 palavras onomatopaicas no idioma, sendo que esse número leva em conta apenas as palavras que estão dicionarizadas. Por exemplo, existem palavras específicas para imitar sons – chamadas de uiseongeo (의성어), como o barulho da chuva caindo ou do vento soprando – e palavras que representam sensações visuais ou gestuais – conhecidas como uitaeeo (의태어), usadas para descrever algo tremendo de frio ou um brilho suave no horizonte.
Toda essa riqueza linguística torna a tradução um desafio, exigindo não só conhecimento técnico, mas também sensibilidade para transmitir o impacto original do texto. E é por isso que cada obra traduzida carrega um esforço coletivo para preservar sua essência, sendo mais um motivo primordial para valorizar essas iniciativas e apoiar projetos como o da Laboralivros.
Embarque direto para o leste asiático…
🏮 Conheça Sarangbang, o primeiro podcast exclusivo sobre literatura coreana no Brasil.
🏮 Nesse episódio aqui você pode se aprofundar sobre o universo dos livros de ficção de cura.
🏮 Explore ainda mais a trajetória da literatura coreana no Brasil.
🏮Títulos de livros de campanhas que já passaram aqui no Catarse para você ler: Os melhores contos de fadas asiáticos e Gótico japonês.
🏮Resenha de Impostora sob uma perspectiva de uma profissional do mercado editorial