A genialidade (e crítica) por trás das obras de R.F. Kuang

Não se fala de outra coisa nas bookredes a não ser R. F. Kuang e o seu novo lançamento: Katábasis, uma fantasia dark academia que apresenta dois doutorandos rivais que vão ao Inferno para salvar a alma de seu professor orientador. Mas o que torna a autora e suas obras o tópico mais comentado do momento? 👀

Primeiramente, acho interessante falarmos sobre quem é a Kuang! A autora sino-americana que assina suas obras como R.F. Kuang, nasceu em 29 de maio de 1996, em Guangzhou (China). Até o momento tem seis livros publicados, onde cinco deles se tornaram best-sellers por todo o mundo. Com Babel, lançado em 2022, ganhou prêmios como o Livro do Ano de Ficção da Blackwell's e o Prêmio Nebula de Melhor Romance.

Em Katábasis, seu lançamento mais recente, Kuang tece uma narrativa que mescla lógica, filosofia e as mitologias grega e chinesa, audaciosamente levantando críticas sobre misoginia e como o ambiente acadêmico, além de majoritariamente ocupado por homens, pode ser extremamente tóxico e com abusos de poder. Além disso, como a própria autora revelou em diversas entrevistas, essa obra foi inspirada por muitas outras obras multimídia, como A Divina Comédia de Dante Alighieri, e Ilíada e Odisseia de Homero.

SAIBA MAIS: A influência da Divina Comédia e como a história se tornou um clássico

No entanto, a autora já fez isso em outras das suas obras. Impostora (2023), por exemplo, expõe as camadas mais profundas do mercado editorial e traz críticas ácidas sobre apropriação cultural e racismo. Já em Babel (2022), considerado pela Barnes & Noble um dos melhores livros daquele ano, Kuang reescreve a Revolução Industrial na Inglaterra e a história colonial da China na década de 1830 e apresenta um sistema de magia baseado na linguagem.

A trilogia composta por A Guerra da Papoula, A República do Dragão e A Deusa em Chamas, publicada entre 2018 e 2020, é uma fantasia excepcional onde Kuang se inspira na Segunda Guerra Sino-Japonesa, na história militar da China no século XX e na ascensão de Mao Tsé-Tung ao poder para criar cenários e situações absurdamente reais, apresentando deuses poderosos e um sistema de magia xamânico com o uso da papoula. Aqui somos apresentados a uma das protagonistas mais impactantes (e controversas) de suas obras: Fang Runin, também conhecida como Rin.

É inegável o quanto sua experiência acadêmica possa ter contribuído para a genialidade e tridimensionalidade em suas obras, afinal, Kuang fez mestrado em Filosofia em Estudos Chineses no Magdalene College (Cambridge), recebeu um mestrado em Estudos Chineses Contemporâneos na University College (Oxford) e posteriormente fez um doutorado em Línguas e Literaturas do Leste Asiático na Universidade de Yale (EUA). E também podemos julgar que a sua vivência enquanto uma mulher não-branca no ambiente acadêmico e também no mercado editorial possam ter contribuído para a coleta de situações que foram ficcionalmente adicionadas às suas obras.

Com o lançamento de Katábasis, discussões sobre o desconforto com a quantidade de informações e teorias sobre lógica e álgebra têm se levantado nas redes sociais. Afinal, uma autora inserir questões que não são do conhecimento de todos a torna uma “tentativa de ser inteligente”, ou mostra o quão inteligente, de fato, R.F. Kuang é?

Enquanto escritora, acredito que os autores não têm o papel de entregar todas as respostas nas mãos dos leitores. Escrever uma obra que aborda essas temáticas e causam certo desconforto no leitor, deveria ser, na verdade, um empurrãozinho para que o mesmo procurasse sobre o que está sendo apresentado. Uma forma de procurar entender (ou até mesmo aprender) todas aquelas teorias e ensinamentos que de início podem parecer incompreensíveis. Isso só demonstra, na realidade, o quanto o leitor está disposto a usar de sua própria autonomia para adquirir o conhecimento.

👉 Leia Katábasis com o Clube Nostalgia Cinza, começando em setembro e com discussão prevista para a última semana de outubro.

Mas a verdade é que se você já leu qualquer obra da R.F. Kuang, você se deparou com o desconforto. Seja por essas inserções de linguagem ou lógica, ou por cenas escritas que pareciam sair de um cenário inspirado em uma guerra que de fato aconteceu. Toda a sua bagagem só contribui para que suas obras sejam geniais e sempre inovadoras, expondo e criticando situações e preconceitos, suscetíveis a vencer diversos prêmios e entrar para as listas de melhores leituras dos seus leitores. Então agora, o que nos resta, é aguardar pela próxima obra da Kuang e se preparar para todas as abordagens que ela pretende nos apresentar.

Gabriele Santuzzo
Escritora e criadora de conteúdo literário desde 2015, abordando temáticas como vivência trans e a importância da diversidade (seja na literatura ou não). É também criadora do Notas Transversas, um clube de leitura para ler obras escritas por pessoas trans e travestis.

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Não se fala de outra coisa nas bookredes a não ser R. F. Kuang e o seu novo lançamento: Katábasis, uma fantasia dark academia que apresenta dois doutorandos rivais que vão ao Inferno para salvar a alma de seu professor orientador. Mas o que torna a autora e suas obras o tópico mais comentado do momento? 👀

Primeiramente, acho interessante falarmos sobre quem é a Kuang! A autora sino-americana que assina suas obras como R.F. Kuang, nasceu em 29 de maio de 1996, em Guangzhou (China). Até o momento tem seis livros publicados, onde cinco deles se tornaram best-sellers por todo o mundo. Com Babel, lançado em 2022, ganhou prêmios como o Livro do Ano de Ficção da Blackwell's e o Prêmio Nebula de Melhor Romance.

Em Katábasis, seu lançamento mais recente, Kuang tece uma narrativa que mescla lógica, filosofia e as mitologias grega e chinesa, audaciosamente levantando críticas sobre misoginia e como o ambiente acadêmico, além de majoritariamente ocupado por homens, pode ser extremamente tóxico e com abusos de poder. Além disso, como a própria autora revelou em diversas entrevistas, essa obra foi inspirada por muitas outras obras multimídia, como A Divina Comédia de Dante Alighieri, e Ilíada e Odisseia de Homero.

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No entanto, a autora já fez isso em outras das suas obras. Impostora (2023), por exemplo, expõe as camadas mais profundas do mercado editorial e traz críticas ácidas sobre apropriação cultural e racismo. Já em Babel (2022), considerado pela Barnes & Noble um dos melhores livros daquele ano, Kuang reescreve a Revolução Industrial na Inglaterra e a história colonial da China na década de 1830 e apresenta um sistema de magia baseado na linguagem.

A trilogia composta por A Guerra da Papoula, A República do Dragão e A Deusa em Chamas, publicada entre 2018 e 2020, é uma fantasia excepcional onde Kuang se inspira na Segunda Guerra Sino-Japonesa, na história militar da China no século XX e na ascensão de Mao Tsé-Tung ao poder para criar cenários e situações absurdamente reais, apresentando deuses poderosos e um sistema de magia xamânico com o uso da papoula. Aqui somos apresentados a uma das protagonistas mais impactantes (e controversas) de suas obras: Fang Runin, também conhecida como Rin.

É inegável o quanto sua experiência acadêmica possa ter contribuído para a genialidade e tridimensionalidade em suas obras, afinal, Kuang fez mestrado em Filosofia em Estudos Chineses no Magdalene College (Cambridge), recebeu um mestrado em Estudos Chineses Contemporâneos na University College (Oxford) e posteriormente fez um doutorado em Línguas e Literaturas do Leste Asiático na Universidade de Yale (EUA). E também podemos julgar que a sua vivência enquanto uma mulher não-branca no ambiente acadêmico e também no mercado editorial possam ter contribuído para a coleta de situações que foram ficcionalmente adicionadas às suas obras.

Com o lançamento de Katábasis, discussões sobre o desconforto com a quantidade de informações e teorias sobre lógica e álgebra têm se levantado nas redes sociais. Afinal, uma autora inserir questões que não são do conhecimento de todos a torna uma “tentativa de ser inteligente”, ou mostra o quão inteligente, de fato, R.F. Kuang é?

Enquanto escritora, acredito que os autores não têm o papel de entregar todas as respostas nas mãos dos leitores. Escrever uma obra que aborda essas temáticas e causam certo desconforto no leitor, deveria ser, na verdade, um empurrãozinho para que o mesmo procurasse sobre o que está sendo apresentado. Uma forma de procurar entender (ou até mesmo aprender) todas aquelas teorias e ensinamentos que de início podem parecer incompreensíveis. Isso só demonstra, na realidade, o quanto o leitor está disposto a usar de sua própria autonomia para adquirir o conhecimento.

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Mas a verdade é que se você já leu qualquer obra da R.F. Kuang, você se deparou com o desconforto. Seja por essas inserções de linguagem ou lógica, ou por cenas escritas que pareciam sair de um cenário inspirado em uma guerra que de fato aconteceu. Toda a sua bagagem só contribui para que suas obras sejam geniais e sempre inovadoras, expondo e criticando situações e preconceitos, suscetíveis a vencer diversos prêmios e entrar para as listas de melhores leituras dos seus leitores. Então agora, o que nos resta, é aguardar pela próxima obra da Kuang e se preparar para todas as abordagens que ela pretende nos apresentar.

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