Como o Repense construiu uma comunidade sobre maconha medicinal em 2 semanas de campanha

brasília

Financiamento coletivo é juntar gente para dividir custos para realizar ideias. Se já existe, portanto, uma rede formada no entorno de um projeto, é mais fácil mobilizar as pessoas para contribuírem. Construir a comunidade ao longo de uma arrecadação e já engajá-la para colaborar pode ser uma tarefa difícil. Se a sua proposta é forte e consistente e desperta o interesse público, porém, uma campanha de financiamento coletivo talvez seja a ferramenta certa para chamar atenção para a sua ideia e reunir as pessoas interessadas em levá-la adiante.

Há duas semanas, entrou no ar aqui no Catarse o projeto Repense, uma campanha para financiar o lançamento de um site de conscientização sobre a maconha medicinal. Com um excelente planejamento, a equipe de realizadores, formada por jornalistas e profissionais de uma produtora de cinema, lançou junto com o financiamento coletivo um curta-metragem sobre a história de Katiele, uma brasileira que luta para tratar a epilepsia de sua filha Anny de 5 anos com Canabidiol (CBD), substância derivada da maconha e proibida no país.

Mesmo que não atingissem a meta, desde o primeiro momento a ideia era usar a campanha no Catarse para chamar a atenção da sociedade para o debate. O lançamento do filme ajudou no compartilhamento da proposta e a criar um fato novo para imprensa. Com a ampla repercussão do caso da Anny e da ideia do Repense na mídia e nas redes sociais, o objetivo final do projeto de falar sobre cannabis medicinal no Brasil já estava sendo atingido no começo da campanha.    

Em dois dias no ar, o projeto passou dos 50% da meta de arrecadação e em cinco dias alcançou o objetivo final de R$ 12 mil. Mais do que o dinheiro para realização do projeto, a campanha do Repense começou e acelerou a construção de uma rede de pessoas no Brasil que podem se beneficiar das propriedades terapêuticas da maconha. A aba de comentários da página do projeto no Catarse virou um verdadeiro fórum de debate do tema, no qual muitos casos comoventes já foram relatados.

“Estamos emocionados aqui nos bastidores da campanha. Isso é o que mais nos toca. Perceber que estamos desde já ajudando muita gente. Para muitas pessoas a cannabis medicinal é uma informação nova. É uma janela de esperança que se abre. Não sabemos se o CBD vai trazer para todas essa pessoas o mesmo benefício que trouxe para Anny, mas o simples fato de ter uma nova possibilidade para tentarem já é incrível”, conta o jornalista Tarso Araújo, um dos realizadores do projeto.

Repense  Campanha de conscientização sobre a maconha medicinal · Catarse

A articulação dessa comunidade fortalece a opinião pública sobre o tema e permite que a questão avance. Uma semana após o lançamento da campanha do Repense no Catarse, os pais de Anny conseguiram na Justiça a autorização para a importação do Canabidiol.

Percebendo a força da formação dessa rede, os realizadores criaram um grupo de e-mails para que essas pessoas possam trocar experiências e informações sobre os tratamentos. A ideia é que o site criado pelo projeto seja uma fonte confiável de conhecimento para empoderar a comunidade de meios para lutar pelo que acredita. A equipe do projeto está pensando em uma forma de aproximar e fortalecer ainda mais essa rede para que ela possa caminhar com as próprias pernas e deve anunciar novidades ainda nesta semana.  

“Parentes de pessoas doentes estão divulgando fotos com cartazes pedindo a liberação do CBD. Isso não era uma demanda nossa. As pessoas já assumiram a proposta para si, estão fazendo a campanha por elas mesmas e pedindo a legalização desse derivado. Já é um passo adiante“, conta Tarso.  

O Catarse serviu como ferramenta ao pessoal do Repense para chamar atenção para uma questão que se mostrou relevante para a sociedade. E não foi apenas a capacidade do financiamento coletivo de construção de comunidades que permitiu o sucesso do projeto. A independência e o contato direto das pessoas interessadas possibilitados pelo modelo jogou a luz inicial necessária para a evolução de um debate até então cercado de obscurantismo no Brasil .

“A plataforma é uma bênção pra quem quer fazer alguma coisa. Podemos arregaçar as mangas, meter a mão na massa e fazer por conta própria sem depender dos políticos, com quem nem sempre se pode contar. Uma lição que a gente tira pessoalmente é que não podemos ficar só reclamando dos políticos. Temos que fazer o que puder e estiver ao nosso alcance. Se cada um fosse atrás e acreditasse que pode mudar as coisas, o mundo seria melhor”, conclui Tarso.

O Repense ainda vai ficar no ar por algum tempo. Vai lá, contribui com o projeto e faça parte do movimento para que mais pessoas tenham acesso a informações sobre as possibilidades da maconha como remédio.

PS: Tem outro projeto online que também propõe um aprofundamento da discussão sobre cannabis medicinal. O sociólogo e pesquisador Sérgio Vidal lançou um livro pioneiro no Brasil sobre cultivo indoor com foco nos aspectos botânicos e  métodos de cultivo para fins medicinais. Agora, ele precisa da sua ajuda para lançar uma nova edição da obra.

 

 

 
Felipe Caruso
Missionário do coletivismo e jornalista com doses de poesia, ceticismo e pragmatismo

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Financiamento coletivo é juntar gente para dividir custos para realizar ideias. Se já existe, portanto, uma rede formada no entorno de um projeto, é mais fácil mobilizar as pessoas para contribuírem. Construir a comunidade ao longo de uma arrecadação e já engajá-la para colaborar pode ser uma tarefa difícil. Se a sua proposta é forte e consistente e desperta o interesse público, porém, uma campanha de financiamento coletivo talvez seja a ferramenta certa para chamar atenção para a sua ideia e reunir as pessoas interessadas em levá-la adiante.

Há duas semanas, entrou no ar aqui no Catarse o projeto Repense, uma campanha para financiar o lançamento de um site de conscientização sobre a maconha medicinal. Com um excelente planejamento, a equipe de realizadores, formada por jornalistas e profissionais de uma produtora de cinema, lançou junto com o financiamento coletivo um curta-metragem sobre a história de Katiele, uma brasileira que luta para tratar a epilepsia de sua filha Anny de 5 anos com Canabidiol (CBD), substância derivada da maconha e proibida no país.

Mesmo que não atingissem a meta, desde o primeiro momento a ideia era usar a campanha no Catarse para chamar a atenção da sociedade para o debate. O lançamento do filme ajudou no compartilhamento da proposta e a criar um fato novo para imprensa. Com a ampla repercussão do caso da Anny e da ideia do Repense na mídia e nas redes sociais, o objetivo final do projeto de falar sobre cannabis medicinal no Brasil já estava sendo atingido no começo da campanha.    

Em dois dias no ar, o projeto passou dos 50% da meta de arrecadação e em cinco dias alcançou o objetivo final de R$ 12 mil. Mais do que o dinheiro para realização do projeto, a campanha do Repense começou e acelerou a construção de uma rede de pessoas no Brasil que podem se beneficiar das propriedades terapêuticas da maconha. A aba de comentários da página do projeto no Catarse virou um verdadeiro fórum de debate do tema, no qual muitos casos comoventes já foram relatados.

“Estamos emocionados aqui nos bastidores da campanha. Isso é o que mais nos toca. Perceber que estamos desde já ajudando muita gente. Para muitas pessoas a cannabis medicinal é uma informação nova. É uma janela de esperança que se abre. Não sabemos se o CBD vai trazer para todas essa pessoas o mesmo benefício que trouxe para Anny, mas o simples fato de ter uma nova possibilidade para tentarem já é incrível”, conta o jornalista Tarso Araújo, um dos realizadores do projeto.

Repense  Campanha de conscientização sobre a maconha medicinal · Catarse

A articulação dessa comunidade fortalece a opinião pública sobre o tema e permite que a questão avance. Uma semana após o lançamento da campanha do Repense no Catarse, os pais de Anny conseguiram na Justiça a autorização para a importação do Canabidiol.

Percebendo a força da formação dessa rede, os realizadores criaram um grupo de e-mails para que essas pessoas possam trocar experiências e informações sobre os tratamentos. A ideia é que o site criado pelo projeto seja uma fonte confiável de conhecimento para empoderar a comunidade de meios para lutar pelo que acredita. A equipe do projeto está pensando em uma forma de aproximar e fortalecer ainda mais essa rede para que ela possa caminhar com as próprias pernas e deve anunciar novidades ainda nesta semana.  

“Parentes de pessoas doentes estão divulgando fotos com cartazes pedindo a liberação do CBD. Isso não era uma demanda nossa. As pessoas já assumiram a proposta para si, estão fazendo a campanha por elas mesmas e pedindo a legalização desse derivado. Já é um passo adiante“, conta Tarso.  

O Catarse serviu como ferramenta ao pessoal do Repense para chamar atenção para uma questão que se mostrou relevante para a sociedade. E não foi apenas a capacidade do financiamento coletivo de construção de comunidades que permitiu o sucesso do projeto. A independência e o contato direto das pessoas interessadas possibilitados pelo modelo jogou a luz inicial necessária para a evolução de um debate até então cercado de obscurantismo no Brasil .

“A plataforma é uma bênção pra quem quer fazer alguma coisa. Podemos arregaçar as mangas, meter a mão na massa e fazer por conta própria sem depender dos políticos, com quem nem sempre se pode contar. Uma lição que a gente tira pessoalmente é que não podemos ficar só reclamando dos políticos. Temos que fazer o que puder e estiver ao nosso alcance. Se cada um fosse atrás e acreditasse que pode mudar as coisas, o mundo seria melhor”, conclui Tarso.

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