A produtora cultural Flávia Amorim foi uma das responsáveis pelo sucesso de quatro campanhas que passaram recentemente pelo Catarse. Conheça oito dicas preciosas, o trabalho e a trajetória da “consultora de financiamento coletivo” que ajudou a arrecadar mais de R$ 120 mil para projetos criativos. Leia seu relato abaixo.“Há alguns anos eu trabalho com produção cultural para artistas e eventos de diversas áreas como música, teatro, cinema e artes visuais. Ao longo da minha carreira conquistei e administrei verbas concedidas por instituições públicas e privadas para projetos culturais e mais recentemente trabalhei com projetos de financiamento coletivo pela plataforma Catarse.Antes de falar da minha experiência com crowdfunding, é importante entender o trabalho do produtor cultural. Produtor é aquela pessoa que corre atrás da venda, que administra a planilha de custos e receitas, escreve projetos pontuais, contrata os serviços necessários para a realização das atividades, sempre mantendo como meta a sustentabilidade e qualidade do evento em que está envolvido.Durante esse processo de trabalho acabei conhecendo o modelo de crowdfunding e busquei estudá-lo, já que nem todas as fontes de recursos são adequadas a qualquer tipo de projeto. Busquei entender esse modelo de financiamento, como utilizá-lo e quais as plataformas disponíveis.Em menos de um ano colaborei para a arrecadação de cerca de R$120 mil distribuídos em quatro diferentes projetos, sem burocracias e ainda promovendo o trabalho dos artistas envolvidos. Edição do vídeo do projeto Beleza Real, da NegahamburguerNegahamburguerQuando eu conheci a artista Negahamburguer - para iniciar uma parceria de produção cultural - houve pela primeira vez a possibilidade de utilizar os meus conhecimentos sobre formatação de projetos, marketing digital e planejamento na administração de uma campanha de financiamento coletivo.A Negahamburguer estava há poucos dias de colocar sua campanha no ar com o objetivo de financiar um livro de ilustrações. Articulei então um produtor de vídeo para realizar uma divulgação com mais qualidade e orientei na formatação da apresentação do projeto dentro da plataforma Catarse e também no desenho das recompensas.Em apenas 18 dias a meta inicial de R$ 20 mil havia sido atingida, assim tivemos que calcular novas metas e recompensas para melhorar ainda mais o projeto.Além de alcançar o dobro do previsto inicialmente a artista teve um aumento de fãs na sua página no facebook, passando de 15 mil para 65 mil fãs ao longo da campanha.Ainda trabalhei na produção do livro, no lançamento e na entrega das recompensas. O trabalho foi grande mas compensador para o público da artista e para todos os envolvidos. Ilustração de Laura Athayde utilizada como estratégia de divulgação do projeto Zine XXXZine XXXDurante a campanha da Negahamburguer tive contato também com o projeto Zine XXX que já estava no ar e tinha cerca de 30 dias para atingir a meta. A autora do projeto, Beatriz Lopes, aceitou minha proposta para colaborar na divulgação da campanha, o que me deixou bem feliz já que o objetivo era a publicação de zines só com trabalhos de autoras mulheres.Não havia tempo e nem recursos para alterar o video do projeto Zine XXX então sugeri a utilização de ilustrações das autoras envolvidas na proposta para fazer uma divulgação massiva e utilizando a principal identidade do projeto: os desenhos. Essas imagens e releases foram distribuídos principalmente em comunidades, grupos, páginas, blogs e sites feministas destacando uma das causas do projeto que é a maior visibilidade de quadrinistas mulheres. A campanha atingiu quase o dobro do objetivo inicial. Ilustração da Sirlanney em comemoração ao sucesso do projeto Magra de RuimMagra de Ruim O Zine XXX me fez ter contato com algumas artistas dos quadrinhos, uma delas é a Sirlanney, que também queria viabilizar o projeto de um livro de ilustrações, uma coletânea dos seus principais trabalhos. E lá fui eu mais uma vez colaborar na formatação do projeto, no desenho das recompensas e na divulgação na internet.O projeto Magra de Ruim da Sirlanney teve 132% de arrecadação.Uma característica da divulgação do projeto Magra de Ruim foi utilizar a própria personagem como divulgadora da campanha. A Sirlanney fazia quadrinhos pedindo apoio e até contando como estava ansiosa pelo sucesso do projeto. Bastidores do vídeo do projeto da Clara AverbuckToureando o Diabo , de Clara AverbuckOutro projeto no Catarse com o qual me envolvi foi o do novo livro da escritora Clara Averbuck. Recebi o convite da empresa de gestão cultural GestaCultura para realizar essa campanha. A escritora já tinha o anseio de utilizar o financiamento coletivo para a publicação de seu próximo livro. Pelo perfil e capacidade de mobilização da escritora nas redes sociais, realmente, o crowdfunding era uma alternativa viável. Nosso trabalho foi calcular todos os custos de produção do livro (objetivo), levantar as mídias que poderiam divulgar a campanha, desenhar recompensas e os custos gerais do projeto. Também orientamos na divulgação e trabalharemos na produção gráfica e nas entregas das recompensas.O projeto "Toureando o Diabo" da Clara Averbuck teve sucesso e boa repercussão na mídia, criando inclusive pauta sobre o uso alternativo do financiamento coletivo dentro do mercado editorial.É obvio que a qualidade do trabalho do artista e da proposta foram fundamentais para o sucesso dos projetos, mas uma campanha não anda sozinha. Se não houver planejamento e força na mobilização não se consegue atingir a meta.Sinto que o meu trabalho é auxiliar e orientar os artistas para que consigam alcançar seus objetivos. Eles são os criativos, os criadores do projetos, eu apenas oriento se essa é a melhor fonte de recursos a ser utilizada no momento, quanto custa o seu sonho, quantas pessoas serão necessárias para tornar esse sonho realidade e como fazer tudo isso acontecer dentro de prazos que satisfaçam também o público que estará ansioso em receber suas recompensas.Com a experiência nesses projetos deixo oito dicas para quem for colocar uma campanha no ar:1. Faça o orçamento de todos os custos, inclusive das recompensas e serviços - caso contrário, corre-se o risco de subestimar o valor de seu projeto e depois ter dificuldades para produzi-los;
2. Calcule quanto tempo você terá para produção - ter um cronograma facilita na definição do início da campanha, produção do produto/atividade e entrega de recompensas;
3. Considere o valor das vendas como receita para seu projeto e assim o valor mínimo necessário para seu projeto será apenas o do custo de produção;
4. Avalie sua presença nas redes sociais - se você não sabe quantas pessoas se interessam por seu trabalho ou qual o perfil delas será difícil desenhar recompensas que sejam atraentes a esse público;
5. Avalie sua relação com o público - artistas que não dialogam com os fãs terão dificuldade para engajá-los em uma campanha;
6. Busque manter a identidade do seu trabalho em toda a divulgação;
7. Use o seu melhor: se é escritor então abuse das palavras, se é cineasta crie teasers, se é ilustrador espalhe seus desenhos na rede e por aí vai..;
8. Esteja atento à data de lançamento da sua campanha - em alguns períodos como eleições, festas de final de ano ou férias as pessoas se afastam da vida online ou, ainda, determinados assuntos ocupam muito espaço (como a Copa do Mundo) dificultando a atenção em uma campanha.
Acredito que o financiamento coletivo é uma excelente alternativa para projetos inovadores, criativos e, principalmente, pequenos. Com menos burocracia do que um edital público é possível realizar atividades criativas mobilizando uma grande audiência.Mas tem que planejar e se dedicar!"Flavia Amorim - é formada em Relações Pública e Gestão de Projetos Culturais. Está adorando a vida de consultora e planner de campanhas de financiamento coletivo.Email: flaviacmamorim@gmail.comFB: www.facebook.com/flavia.cultura
Skype: flavia.culturaColaboradorEste texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)