Hoje o time do Catarse é composto por 14 pessoas, espalhadas por nove cidades, em dois países. Não temos escritório, trabalhamos de onde quisermos e nosso horário é bem flexível. Conseguimos criar um sistema de trabalho cujo maior benefício é o tempo, tão caro e tão escasso. Mas como chegamos até aqui? Quais os desafios que enfrentamos, as decisões que foram tomadas e a jornada trilhada para que hoje a gente possa dizer que somos uma empresa 100% remota? Vou tentar contar um pouco sobre tudo isso neste post. Senta que lá vem história. "O Catarse foi fundado em 2011 já com o DNA do trabalho remoto em suas veias." (Fotos: arquivo) Hoje somos 14 pessoas espalhadas por nove cidades (Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Uberaba, Nova Lima, Fortaleza e Torquay), em dois países (Brasil e Austrália).
O começo de tudo
O Catarse foi fundado em 2011 já com o DNA do trabalho remoto em suas veias. Éramos cinco co-fundadores que viviam espalhados em São Paulo (Luis e Diego), Porto Alegre (Daniel) e Rio de Janeiro (Rodrigo e eu), todos trabalhando de casa. No início, costumávamos nos encontrar com frequência para trabalharmos juntos, seja em São Paulo ou no Rio. Era relativamente fácil proporcionar esses encontros por conta do tamanho reduzido do time.Com o crescimento da empresa, vieram as contratações e, com elas, acreditávamos que era necessário termos um escritório. Um não, dois para ser mais exato. Inicialmente, alugamos uma sala de coworking em São Paulo, junto com outros empreendedores, e preparamos um espaço na casa onde eu morava com meu irmão Rodrigo, no Rio, para ser o escritório carioca. De uma hora para outra deixamos de ser uma empresa de cinco fundadores trabalhando de casa para uma empresa com mais de 10 pessoas em dois escritórios (e algumas delas ainda trabalhando de casa, pois moravam em outras cidades). A equipe cresceu ainda mais e a sala de SP virou uma casa inteira. Não preciso dizer que esse crescimento trouxe complexidades e desafios para a nossa gestão.Os escritórios e o choque de cultura
Um dos desafios comuns à empresas que optam por manter pessoas trabalhando em escritórios físicos – portanto usufruindo do convívio quase diário com colegas de trampo – e pessoas trabalhando de casa é o inevitável choque cultural. Ou seja, corre-se o risco de criar duas culturas conflitantes dentro da mesma empresa. Você passa a ter o "time remoto" e o "time presencial" que, se não tiverem as condições ideais de processos, ferramentas e momentos de interação, podem acabar colidindo e dificultando a jornada do grupo e do negócio.Nós não só vivemos esses problemas acima, como adicionamos uma camada a mais de complexidade na equação, pois nós tínhamos dois escritórios físicos. Logo, além de trabalharmos para evitar o choque cultural entre o time remoto e o time físico, ainda tivemos que entender como implementar processos de comunicação e suavizar as diferentes visões entre o time dos escritórios de São Paulo e do Rio.Adicione a isso o fato de que deixamos de nos encontrar fisicamente com a frequência que gostaríamos, pois simplesmente não tínhamos orçamento para isso. Começamos a experimentar no dia-a-dia o desafio de organizar e fazer o negócio crescer e, ao mesmo tempo, gerenciar as pessoas, tarefas e projetos do time, que estava ficando cada vez maior.A volta às origens e o choque de gestão
Nesse cenário de aumento de complexidade, cometemos alguns erros que comprometeram o alinhamento da equipe e tornaram tudo ainda mais difícil. Em 2015 crescemos o nosso time para 26 pessoas sem acertar os processos de gestão necessários para lidar com esse cenário. Somado a isso, o mercado de financiamento coletivo se tornou mais competitivo e, enquanto estávamos desviando nossa atenção e recursos com problemas de gestão, deixamos de crescer nosso negócio satisfatoriamente. O resultado desse desvio de foco foi uma perda substancial de caixa e a redução de nossa passada na evolução da plataforma e do que enxergávamos pro cenário do financiamento coletivo no Brasil.Foi um ano difícil. Medidas drásticas tiveram que ser tomadas e esse período (2015/2016) foi impresso por uma série de decisões duras e super dolorosas para uma empresa que preza pela proximidade, afeto e pelo ambiente quase que familiar entre as pessoas. Tivemos que reduzir o time substancialmente de uma hora pra outra e demos início a uma série de ajustes organizacionais que marcaram o início de uma corrida de longa distância rumo a uma empresa mais sólida, profissional e com processos mais claros. Sabíamos que seria um caminho de amadurecimento.Eu falei sobre esse cenário todo que enfrentamos em 2015 pois enxergo que, no fim das contas, estava relacionado de alguma forma com o objeto inicial desse texto – o trabalho remoto. Desde a nossa fundação, acreditamos que autonomia, liberdade e horizontalidade são valores que devemos perseguir em uma empresa moderna. Porém, durante muito tempo nós criamos um certo antagonismo entre esses valores e o conceito de hierarquia. Como se hierarquia fosse algo necessariamente ruim. Com isso, sempre procuramos fugir de "estruturas tradicionais" de uma empresa (como ter um CEO, por exemplo).E esse ano de 2015 nos mostrou que, na verdade, hierarquia é uma forma de estruturar uma organização que, quando bem feita, não colide em nada com os conceitos de autonomia, liberdade e horizontalidade. Pelo contrário, pode e deve fortalecê-los. E foi um pouco nesse espírito que iniciamos nossa reestruturação iniciada em 2015. Deixamos mais claros os papéis e responsabilidade no time, assumimos a figura do CEO como uma figura responsável por orientar, editar e navegar o que vinha da equipe e dos contextos de mercado, e começamos um processo que desencadeou na decisão mais acertada que poderíamos ter feito: o fechamento dos escritórios e o retorno às nossas origens de empresa 100% remota."In this bright future you can't forget your past." Bob MarleyNesse processo, encerramos inicialmente o escritório no Rio e, depois de muitas discussões, idas e vindas, pesquisas por espaços de coworking, levantamento de custos de aluguel de espaços menores, a decisão de fechar o escritório de São Paulo foi tomada. Um dos aprendizados que ganhamos ao passar por esses processos é o de que nem todo mundo conseguiu se adaptar à essa mudança, e com isso vimos mais algumas pessoas deixando o nosso barquinho colorido e resiliente. Basicamente o que estávamos fazendo era ajustar o time também à nova (velha!) realidade da empresa. Quem estava desde o começo do Catarse e experimentou o ambiente remoto no nascimento da empresa estava pronto para essa mudança.