Vegetariano ou Vegano: descubra as diferenças e experiências inspiradoras

Saiba as principais diferenças entre vegetarianismo e veganismo, explore histórias reais e conheça como esses estilos de vida estão crescendo no Brasil. Descubra mais aqui!

Se tivessem me falado, quando adolescente, que eu iria parar de comer carne, diria com toda certeza que era uma piada. “Isso jamais vai acontecer”, eu responderia. Nascida em um berço 50% mineiro, 50% alemão, comer carne sempre fez parte da minha rotina, em todas as refeições.

As pessoas desenvolvem diferentes tipos de relação com a comida, muitas influenciadas pelo ambiente, pela rotina da família, pelo acesso a determinados tipos de alimentos, pelo local em que nasceram e cresceram. Para mim, abrir mão da carne na dieta também envolvia deixar de lado parte da minha cultura em prol de uma crença. Quando se é uma das primeiras da família ou do convívio a parar de comer carne, a sensação é quase sempre de ruptura. E, muitas vezes, tentam te fazer acreditar que você está perdendo algo. De repente você passa a ter que desbravar, muitas vezes sozinha, uma realidade inteira.

Quibe de trigo sarraceno com baba ganoush
Quibe de trigo sarraceno com baba ganoush. Foto/Divulgação Jardim Comestível

O momento em que tudo mudou: um relato de experiência

Em 2014 comecei a fazer Yoga. Muita coisa mudou a partir do momento em que me sentei pela primeira vez naquele tapetinho roxo. A maior parte das transformações guardamos pra gente, outras acabam refletindo na rotina, na forma como nos relacionamos com os outros e na nossa maneira de nos posicionarmos diante de determinadas situações. Para além dos benefícios físicos, mentais e emocionais, o Yoga me abriu as portas para uma filosofia que pauta minha vida desde então.

Quando mergulhei pela primeira vez nas páginas daqueles textos sagrados, um conceito me atravessou imensamente: o voto de Ahimsa, ou “não violência”. Além de outras questões que já encontravam morada na minha mente e que foram ampliadas com o Yoga, a vontade de parar de comer carne não era novidade. Desde criança nutri uma relação profunda com os animais, uma vida vivida ao lado deles era o suficiente para querer diminuir qualquer atitude que pudesse contribuir para seu sofrimento. Entretanto, parecia que só o amor pelos seres ao meu redor não era o suficiente.

Uma chavinha virou dentro de mim no momento em que não enxerguei mais nenhuma diferença entre nós e eles. É difícil colocar em palavras o que acontece quando um ideal se cristaliza dentro de nós, mas foi o que aconteceu comigo. Aquela pessoa que nunca conseguiu sequer tentar parar de comer carne, de um dia para o outro nunca mais colocou um pedaço na boca.

Desde então, além de vegetariana, tenho caminhado cada vez mais para um estilo de vida mais alinhado ao veganismo, e é lindo ver como o mundo tem mudado. Quando uma chavinha virou na minha cabeça, nunca mais consegui olhar para um pedaço de carne da mesma forma. É como se a maneira com a qual você enxerga o mundo sofresse uma guinada repentina e permanente.

O mesmo aconteceu com Rita Taraborelli, idealizadora do blog Jardim Comestível, cozinheira, autora e ilustradora. 

"Quando decidi tirar a carne do cardápio, 24 anos atrás, não imaginava que minha vida mudaria tanto", conta Rita. “Para uma garota que nasceu no interior de São Paulo, essa mudança parecia bastante remota; afinal, estamos falando do final dos anos 90, um cenário completamente diferente do de hoje.”

Em meio a um intercâmbio na Austrália ela sentiu, pela primeira vez, um mal-estar inesperado ao olhar para uma vitrine de carnes. Chegando na casa da família, o cheiro da carne sendo preparada já não batia mais tão bem. "Conforme os dias foram passando, fui descobrindo o que eu comia. E foi assim que me tornei vegetariana, meio no susto, imersa em uma cultura completamente diferente e em uma época em que o movimento vegano ainda era bastante discreto no Brasil. Depois disso, comecei a pesquisar sobre o vegetarianismo, suas vertentes e, claro, explorar mais a fundo na cozinha", relata Rita.

Foto/Divulgação: Jardim Comestível

Vegetariano x vegano

Assim como o relato de Rita, são várias as razões que levam uma pessoa a parar de comer carne, hoje em dia cada vez mais. No meu grupo de amigas mais próximas, sou a que parou de comer carne por questões espirituais. Outra amiga parou pela questão ambiental, a terceira parou por questões de saúde, outra deixou a carne de lado pela causa animal. E cada vez mais esbarro com alguém que optou pela dieta vegetariana ou vegana por motivos diferentes.

A pluralidade de motivos também leva a uma abrangência de opiniões a respeito do que é uma pessoa vegetariana ou vegana. Pensando estritamente do ponto de vista da alimentação, temos as seguintes diferenças:

Vegetariano

Uma pessoa vegetariana é aquela que opta por excluir a carne, de qualquer tipo, da sua dieta. Isso inclui carne vermelha, carne de aves, peixes e frutos do mar. Entretanto, dentro do vegetarianismo também existem algumas possibilidades:

  • Ovolactovegetarianismo: Inclui ovos e laticínios na dieta.
  • Lactovegetarianismo: Inclui laticínios, mas exclui ovos.
  • Ovovegetarianismo: Consome ovos, mas exclui laticínios.

Vegano

Já o veganismo demanda de alguém um comprometimento maior e geralmente é visto como um estilo de vida. Veganos têm um compromisso ético mais profundo, envolvendo a luta contra a exploração animal, em todas as suas formas, não apenas na alimentação. Além da carne, ovos, laticínios e, em alguns casos, até mesmo o mel são excluídos do cardápio. A escolha de cosméticos, roupas, acessórios, remédios também é influenciada pela pauta. O veganismo é uma postura contra o uso de animais para qualquer fim.

Apesar de não ser mais tão incomum, principalmente em centros urbanos, algumas pessoas ainda se surpreendem com a ideia de viver uma vida livre do consumo de alimentos e produtos de origem animal. Entretanto, tanto o veganismo quanto o vegetarianismo têm se mostrado tendências cada vez mais consolidadas no Brasil e no mundo.

Rita Taraborelli Foto/Divulgação

O vegetarianismo no Brasil

Tem se falado cada vez mais em estilos de vida e dietas com mais sustentabilidade. Iniciativas globais como o Veganuary, campanha que desafia participantes a comer apenas alimentos veganos durante o mês de janeiro, e Meat Free Monday, que sugere que as pessoas não comam carne uma vez por semana, dão destaque à causa e introduzem, aos poucos, estilos de vida mais independentes dos alimentos de origem animal.

Segundo dados divulgados pela Statista, a previsão que é apenas em 2024 o mercado global de alimentos veganos atinja a marca de 27.8 bilhões de dólares. De acordo com o Great Green Wall, o Brasil ainda ocupa o topo do ranking dos países que mais consome carne no mundo, atrás de Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos. Entretanto, curiosamente, somos o terceiro país com maior porcentagem da população vegetariana, atrás apenas de Índia e México.

Uma pesquisa feita pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e conduzida pelo Ibope, em 2018, mostrou que o vegetarianismo tem, de fato, crescido no Brasil. Segundo relatório da SVB, "o salto surpreendente no número de pessoas que exclui alimentos de origem animal de seu cardápio reflete tendências mundiais consolidadas de busca por uma alimentação mais saudável, sustentável e ética. Por um lado, o reconhecimento dos benefícios de uma alimentação vegetariana para a saúde é cada vez maior, com grandes organizações – como a Organização Mundial de Saúde – se pronunciando sobre os riscos do consumo elevado de carnes. Por outro lado, o crescimento no número de pessoas que opta por excluir as carnes e derivados do cardápio, ou reduzir seu consumo, é impulsionado pela preocupação crescente da população com os impactos de seus hábitos de consumo."

A tendência é que, de fato, as gerações mais novas fortaleçam um estilo de vida que exclui a carne. Ainda segundo o Great Green Wall, talvez devido a fatores geracionais, até 2040 alguns estimam que apenas 40% da população mundial ainda comerá carne. Para Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, “o vegetarianismo está deixando de ser uma escolha de uma parcela restrita da população, para rapidamente ocupar posição central na mesa dos brasileiros”.

Para Rita Taraborelli, o próprio vegetarianismo já tem começado a perder espaço para o veganismo. Segundo a cozinheira e artista:

“não é apenas uma dieta, mas está atrelado a um estilo de vida livre de crueldade, muitas vezes vinculado a uma causa específica, como o veganismo ecofeminista, o periférico, o popular; são inúmeras vertentes e há discussões internas sobre várias pautas”.

Um cardápio cada vez mais abrangente

Como mineira, entendo como a carne foi e continua sendo um elemento fundamental no prato do brasileiro. É difícil desassociar os animais da nossa dieta, ainda mais levando em conta as influências de diversos povos ao longo da história do nosso país, o acesso limitado a recursos e determinados alimentos e a força das culturas tradicionais dos nossos estados.

Quando parei de comer carne, o mito de que a única possibilidade que teria no meu prato seria salada ainda era bem forte, mas o aumento no número de vegetarianos e veganos tem criado uma demanda forte o suficiente para que diversas empresas passassem a investir em selos aliados à causa animal e ambiental.

Entretanto, o que é extremamente positivo, também começa a levantar um alerta. “Agora, neste novo cenário de crescimento e com maior aceitação das pessoas em geral, temos um novo desafio: a indústria dos ultraprocessados já está surfando na onda e oferecendo produtos veganos com um marketing bastante apelativo e atraente”, comenta Rita Taraborelli. “Precisamos estar bem atentos, pois o que realmente precisa ser acessível, além do conhecimento da culinária vegetariana, são os alimentos vegetais in natura, e não os ultraprocessados”, completa. Afinal, a mesa ainda é o lugar favorito para os brasileiros se encontrarem.

Livro Nossa Cozinha Vegetariana
Livro Nossa Cozinha Vegetariana

Comida vegetariana saudável e natural

Pensando em oferecer alternativas saudáveis, naturais e de fácil acesso para a população brasileira acostumada ao que a culinária nacional tem de melhor a oferecer, nasceu o projeto Nossa Cozinha Vegetariana. Idealizado por Rita, o livro tem como objetivo ser um guia prático e inspirador, facilitando o contato das pessoas com o processo culinário fazendo uso de ingredientes acessíveis para a realidade do Brasil, um país tão extenso e plural.

O projeto também vem de um lugar pessoal e empático para sua idealizadora. "A última vez que trabalhei em um restaurante estava grávida de nove meses do meu primeiro filho. Agora, sou a versão materna, cozinhando todos os dias para duas crianças. É desse lugar que escrevo; é sobre tudo isso o “Nossa”."

Uma refeição carrega muito mais do que apenas os ingredientes que a tornam possível. Uma receita traz memórias afetivas, expõe uma bagagem cultural, fortalece posicionamentos e ideologias, além de, claro, representar uma forma deliciosa de nutrir o corpo. Com mais gente participando da conversa é possível encontrar soluções mais diversas e acessíveis para quem quiser adotar a dieta vegetariana ou talvez só experimentar um pouquinho.

Conheça o projeto Nossa Cozinha Vegetariana e descubra quantas receitas práticas é possível preparar utilizando alimentos naturais e brasileiros como a mandioca, o abacaxi, o milho, a abóbora, a batata-doce e o maracujá, além de ingredientes que foram abrasileirados, como a banana, o abacate, o feijão-fradinho, a manga, o arroz, a cebola, o tomate e muitos outros. Rita Taraborelli traz mais de 80 receitas ilustradas, acessíveis e ideais para o dia a dia. Quem sabe você não se permite saborear um pouco mais a maravilha da dieta vegetariana?

Laura Brand
Editora, coordenadora editorial, jornalista, comunicadora e criadora de conteúdo. Especializou-se no mercado editorial e no trabalho com os livros por instituições como PUC Minas e Columbia Journalism School.

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Se tivessem me falado, quando adolescente, que eu iria parar de comer carne, diria com toda certeza que era uma piada. “Isso jamais vai acontecer”, eu responderia. Nascida em um berço 50% mineiro, 50% alemão, comer carne sempre fez parte da minha rotina, em todas as refeições.

As pessoas desenvolvem diferentes tipos de relação com a comida, muitas influenciadas pelo ambiente, pela rotina da família, pelo acesso a determinados tipos de alimentos, pelo local em que nasceram e cresceram. Para mim, abrir mão da carne na dieta também envolvia deixar de lado parte da minha cultura em prol de uma crença. Quando se é uma das primeiras da família ou do convívio a parar de comer carne, a sensação é quase sempre de ruptura. E, muitas vezes, tentam te fazer acreditar que você está perdendo algo. De repente você passa a ter que desbravar, muitas vezes sozinha, uma realidade inteira.

Quibe de trigo sarraceno com baba ganoush
Quibe de trigo sarraceno com baba ganoush. Foto/Divulgação Jardim Comestível

O momento em que tudo mudou: um relato de experiência

Em 2014 comecei a fazer Yoga. Muita coisa mudou a partir do momento em que me sentei pela primeira vez naquele tapetinho roxo. A maior parte das transformações guardamos pra gente, outras acabam refletindo na rotina, na forma como nos relacionamos com os outros e na nossa maneira de nos posicionarmos diante de determinadas situações. Para além dos benefícios físicos, mentais e emocionais, o Yoga me abriu as portas para uma filosofia que pauta minha vida desde então.

Quando mergulhei pela primeira vez nas páginas daqueles textos sagrados, um conceito me atravessou imensamente: o voto de Ahimsa, ou “não violência”. Além de outras questões que já encontravam morada na minha mente e que foram ampliadas com o Yoga, a vontade de parar de comer carne não era novidade. Desde criança nutri uma relação profunda com os animais, uma vida vivida ao lado deles era o suficiente para querer diminuir qualquer atitude que pudesse contribuir para seu sofrimento. Entretanto, parecia que só o amor pelos seres ao meu redor não era o suficiente.

Uma chavinha virou dentro de mim no momento em que não enxerguei mais nenhuma diferença entre nós e eles. É difícil colocar em palavras o que acontece quando um ideal se cristaliza dentro de nós, mas foi o que aconteceu comigo. Aquela pessoa que nunca conseguiu sequer tentar parar de comer carne, de um dia para o outro nunca mais colocou um pedaço na boca.

Desde então, além de vegetariana, tenho caminhado cada vez mais para um estilo de vida mais alinhado ao veganismo, e é lindo ver como o mundo tem mudado. Quando uma chavinha virou na minha cabeça, nunca mais consegui olhar para um pedaço de carne da mesma forma. É como se a maneira com a qual você enxerga o mundo sofresse uma guinada repentina e permanente.

O mesmo aconteceu com Rita Taraborelli, idealizadora do blog Jardim Comestível, cozinheira, autora e ilustradora. 

"Quando decidi tirar a carne do cardápio, 24 anos atrás, não imaginava que minha vida mudaria tanto", conta Rita. “Para uma garota que nasceu no interior de São Paulo, essa mudança parecia bastante remota; afinal, estamos falando do final dos anos 90, um cenário completamente diferente do de hoje.”

Em meio a um intercâmbio na Austrália ela sentiu, pela primeira vez, um mal-estar inesperado ao olhar para uma vitrine de carnes. Chegando na casa da família, o cheiro da carne sendo preparada já não batia mais tão bem. "Conforme os dias foram passando, fui descobrindo o que eu comia. E foi assim que me tornei vegetariana, meio no susto, imersa em uma cultura completamente diferente e em uma época em que o movimento vegano ainda era bastante discreto no Brasil. Depois disso, comecei a pesquisar sobre o vegetarianismo, suas vertentes e, claro, explorar mais a fundo na cozinha", relata Rita.

Foto/Divulgação: Jardim Comestível

Vegetariano x vegano

Assim como o relato de Rita, são várias as razões que levam uma pessoa a parar de comer carne, hoje em dia cada vez mais. No meu grupo de amigas mais próximas, sou a que parou de comer carne por questões espirituais. Outra amiga parou pela questão ambiental, a terceira parou por questões de saúde, outra deixou a carne de lado pela causa animal. E cada vez mais esbarro com alguém que optou pela dieta vegetariana ou vegana por motivos diferentes.

A pluralidade de motivos também leva a uma abrangência de opiniões a respeito do que é uma pessoa vegetariana ou vegana. Pensando estritamente do ponto de vista da alimentação, temos as seguintes diferenças:

Vegetariano

Uma pessoa vegetariana é aquela que opta por excluir a carne, de qualquer tipo, da sua dieta. Isso inclui carne vermelha, carne de aves, peixes e frutos do mar. Entretanto, dentro do vegetarianismo também existem algumas possibilidades:

  • Ovolactovegetarianismo: Inclui ovos e laticínios na dieta.
  • Lactovegetarianismo: Inclui laticínios, mas exclui ovos.
  • Ovovegetarianismo: Consome ovos, mas exclui laticínios.

Vegano

Já o veganismo demanda de alguém um comprometimento maior e geralmente é visto como um estilo de vida. Veganos têm um compromisso ético mais profundo, envolvendo a luta contra a exploração animal, em todas as suas formas, não apenas na alimentação. Além da carne, ovos, laticínios e, em alguns casos, até mesmo o mel são excluídos do cardápio. A escolha de cosméticos, roupas, acessórios, remédios também é influenciada pela pauta. O veganismo é uma postura contra o uso de animais para qualquer fim.

Apesar de não ser mais tão incomum, principalmente em centros urbanos, algumas pessoas ainda se surpreendem com a ideia de viver uma vida livre do consumo de alimentos e produtos de origem animal. Entretanto, tanto o veganismo quanto o vegetarianismo têm se mostrado tendências cada vez mais consolidadas no Brasil e no mundo.

Rita Taraborelli Foto/Divulgação

O vegetarianismo no Brasil

Tem se falado cada vez mais em estilos de vida e dietas com mais sustentabilidade. Iniciativas globais como o Veganuary, campanha que desafia participantes a comer apenas alimentos veganos durante o mês de janeiro, e Meat Free Monday, que sugere que as pessoas não comam carne uma vez por semana, dão destaque à causa e introduzem, aos poucos, estilos de vida mais independentes dos alimentos de origem animal.

Segundo dados divulgados pela Statista, a previsão que é apenas em 2024 o mercado global de alimentos veganos atinja a marca de 27.8 bilhões de dólares. De acordo com o Great Green Wall, o Brasil ainda ocupa o topo do ranking dos países que mais consome carne no mundo, atrás de Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos. Entretanto, curiosamente, somos o terceiro país com maior porcentagem da população vegetariana, atrás apenas de Índia e México.

Uma pesquisa feita pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e conduzida pelo Ibope, em 2018, mostrou que o vegetarianismo tem, de fato, crescido no Brasil. Segundo relatório da SVB, "o salto surpreendente no número de pessoas que exclui alimentos de origem animal de seu cardápio reflete tendências mundiais consolidadas de busca por uma alimentação mais saudável, sustentável e ética. Por um lado, o reconhecimento dos benefícios de uma alimentação vegetariana para a saúde é cada vez maior, com grandes organizações – como a Organização Mundial de Saúde – se pronunciando sobre os riscos do consumo elevado de carnes. Por outro lado, o crescimento no número de pessoas que opta por excluir as carnes e derivados do cardápio, ou reduzir seu consumo, é impulsionado pela preocupação crescente da população com os impactos de seus hábitos de consumo."

A tendência é que, de fato, as gerações mais novas fortaleçam um estilo de vida que exclui a carne. Ainda segundo o Great Green Wall, talvez devido a fatores geracionais, até 2040 alguns estimam que apenas 40% da população mundial ainda comerá carne. Para Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, “o vegetarianismo está deixando de ser uma escolha de uma parcela restrita da população, para rapidamente ocupar posição central na mesa dos brasileiros”.

Para Rita Taraborelli, o próprio vegetarianismo já tem começado a perder espaço para o veganismo. Segundo a cozinheira e artista:

“não é apenas uma dieta, mas está atrelado a um estilo de vida livre de crueldade, muitas vezes vinculado a uma causa específica, como o veganismo ecofeminista, o periférico, o popular; são inúmeras vertentes e há discussões internas sobre várias pautas”.

Um cardápio cada vez mais abrangente

Como mineira, entendo como a carne foi e continua sendo um elemento fundamental no prato do brasileiro. É difícil desassociar os animais da nossa dieta, ainda mais levando em conta as influências de diversos povos ao longo da história do nosso país, o acesso limitado a recursos e determinados alimentos e a força das culturas tradicionais dos nossos estados.

Quando parei de comer carne, o mito de que a única possibilidade que teria no meu prato seria salada ainda era bem forte, mas o aumento no número de vegetarianos e veganos tem criado uma demanda forte o suficiente para que diversas empresas passassem a investir em selos aliados à causa animal e ambiental.

Entretanto, o que é extremamente positivo, também começa a levantar um alerta. “Agora, neste novo cenário de crescimento e com maior aceitação das pessoas em geral, temos um novo desafio: a indústria dos ultraprocessados já está surfando na onda e oferecendo produtos veganos com um marketing bastante apelativo e atraente”, comenta Rita Taraborelli. “Precisamos estar bem atentos, pois o que realmente precisa ser acessível, além do conhecimento da culinária vegetariana, são os alimentos vegetais in natura, e não os ultraprocessados”, completa. Afinal, a mesa ainda é o lugar favorito para os brasileiros se encontrarem.

Livro Nossa Cozinha Vegetariana
Livro Nossa Cozinha Vegetariana

Comida vegetariana saudável e natural

Pensando em oferecer alternativas saudáveis, naturais e de fácil acesso para a população brasileira acostumada ao que a culinária nacional tem de melhor a oferecer, nasceu o projeto Nossa Cozinha Vegetariana. Idealizado por Rita, o livro tem como objetivo ser um guia prático e inspirador, facilitando o contato das pessoas com o processo culinário fazendo uso de ingredientes acessíveis para a realidade do Brasil, um país tão extenso e plural.

O projeto também vem de um lugar pessoal e empático para sua idealizadora. "A última vez que trabalhei em um restaurante estava grávida de nove meses do meu primeiro filho. Agora, sou a versão materna, cozinhando todos os dias para duas crianças. É desse lugar que escrevo; é sobre tudo isso o “Nossa”."

Uma refeição carrega muito mais do que apenas os ingredientes que a tornam possível. Uma receita traz memórias afetivas, expõe uma bagagem cultural, fortalece posicionamentos e ideologias, além de, claro, representar uma forma deliciosa de nutrir o corpo. Com mais gente participando da conversa é possível encontrar soluções mais diversas e acessíveis para quem quiser adotar a dieta vegetariana ou talvez só experimentar um pouquinho.

Conheça o projeto Nossa Cozinha Vegetariana e descubra quantas receitas práticas é possível preparar utilizando alimentos naturais e brasileiros como a mandioca, o abacaxi, o milho, a abóbora, a batata-doce e o maracujá, além de ingredientes que foram abrasileirados, como a banana, o abacate, o feijão-fradinho, a manga, o arroz, a cebola, o tomate e muitos outros. Rita Taraborelli traz mais de 80 receitas ilustradas, acessíveis e ideais para o dia a dia. Quem sabe você não se permite saborear um pouco mais a maravilha da dieta vegetariana?

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