Em 2025, a personagem mais poderosa dos X-Men completa 50 anos — e essa é a desculpa perfeita pra mergulhar em tudo que faz de Tempestade um dos maiores ícones dos quadrinhos. De mutante a deusa, de heroína global a símbolo de ancestralidade, Ororo Munroe é o ponto de partida para conversas profundas sobre espiritualidade, pertencimento, identidade e legado. E com a nova fase solo "X-Men: Das Cinzas", a Marvel está finalmente explorando isso com a força que a personagem merece. Neste post, a gente te leva por essa trajetória poderosa e ainda indica HQs, livros e projetos brasileiros que celebram entidades, mitologia e cultura negra.
O que você vai ler neste post:
⚡ A origem e evolução da Tempestade
🌩️ A conexão de Tempestade com espiritualidade e ancestralidade africana
✨ A nova fase solo em "X-Men: Das Cinzas"
🌍 O encontro de panteões e a força do terreiro
📚 Outras histórias que celebram mitologias negras
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Conheça a trajetória da mutante mais poderosa da Marvel
Em maio de 2025, a mutante mais poderosa do universo Marvel completa 50 anos! Ororo Munroe, cujo nome significa Beleza no dialeto Masri — falado em Cairo, no Egito — , é uma personagem que já passou por diversas fases e equipes: X-Men, Novos X-Men, Quarteto Fantástico e até os Vingadores. Mundialmente conhecida como seu nome de mutante, Tempestade, ela é uma deusa, uma líder, uma feiticeira. Ela é demais!
Criada por Len Wein e Dave Cockrum, Tempestade estreou na revista Giant-Size X-Men #1, em maio de 1975. Filha da princesa egípcia N’Dare Munroe e do fotojornalista afro-americano David Munroe, Ororo ficou órfã ainda criança, quando um avião caiu em sua casa, deixando-a presa nos escombros por dias ao lado dos corpos de seus pais. O trauma a deixou com claustrofobia e marcou profundamente sua trajetória.
Adotada por Achmed El Gibar, um andarilho que resgata crianças em situação de rua, Ororo aprendeu a sobreviver a furtos, invasões aos palácios e às batidas de carteira de turistas. Essa criação foi propícia para que ela desenvolvesse habilidades físicas, apresentando até então um básico treinamento em combate, agilidade, parkour, além da boa e velha lábia para sair de qualquer enrascada.
Essa fase da vida alimentou sua raiva e sensação de não-pertencimento, despertando em uma sensação de abandono, que chegava a culpar seus pais e a fez renegar seu próprio nome, quando passou a ser chamada de Snow Top, apelido dado pelas outras crianças por conta de seus cabelos naturalmente brancos. Apesar disso, após Achmed furtar uma caixa com as fotos dos pais de Ororo e terem uma conversa profunda sobre identificação, ela passou a entender e a querer saber mais sobre sua família e origem.
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A conexão de Tempestade com espiritualidade e ancestralidade africana
Como mutante, seus poderes se manifestaram na puberdade, com a mudança hormonal e suas consequências físicas, e logo chamou a atenção de Charles Xavier, que a recrutou para o Instituto. Inicialmente vista apenas como manipuladora do clima, Ororo evoluiu com o tempo para alguém capaz de realizar feitos ligados à Atmocinese — uma conexão profunda entre seu estado emocional, psicológico e espiritual e a natureza, podendo manipular tempestades climáticas e cósmicas. Essa habilidade deu a ela o status de Deusa, conectando-a à feiticeira egípcia Ashake — que dominava a magia Caminho das Sombras e chegou a enfrentar o próprio Rei das Sombras —, descendente de uma linhagem que remonta à primeira Mago Supremo da Terra: Ayesha of Balobedu. Esse elo com a ancestralidade, espiritualidade e religiosidade sempre esteve presente, ainda que tratado com sutileza.
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X-Men: Das Cinzas e o novo arco solo de Tempestade
Na nova fase "X-Men: Das Cinzas", que sucede "A Queda de X" (2023) e "A Era Krakoa" (2019-2024), Tempestade ganha protagonismo com uma série solo escrita pelo nigeriano Murewa Ayodele, com artes e capas dos brasileiros Lucas Werneck e Mateus Manhanini, trazendo um destaque ainda maior para questões de ancestralidade e o pertencimento ao panteão das entidades Marvel. Sem muito spoiler, a trama a coloca longe dos supergrupos em uma missão pessoal de sobrevivência após ser contaminada por radiação ao tentar salvar outros mutantes.
Com poucas horas de vida, Ororo busca ajuda do Dr. Vodu, que já foi um mago supremo e é mestre das artes místicas do caminho das sombras, e faz um pacto com o espírito ancestral Eégun: sobreviver por mais tempo em troca de sete dias sem usar seus poderes. Essa limitação a leva a uma jornada de autoconhecimento e reconexão com sua espiritualidade e legado.
Enquanto a narrativa conduz debates filosóficos sobre vida e morte perante os olhares das entidades cósmicas Esquecimento, Morte e Eternidade, acompanhadas do Tribunal Vivo, uma nova versão da heroína desperta com um épico chamado dos deuses:
A mim, minha Tempestade Eterna!
Essa fala faz referência a uma das frases mais épicas do universo Marvel, resgatadas do final do quadrinho que marca a estreia dos mutantes, “The X-Men #1", de 1963.
O encontro de panteões e a força do terreiro
O renascimento da personagem toca em outro ponto muito interessante. Enquanto rainha de Wakanda, ela já foi posta como a deusa do equilíbrio natural, Hadari Yao, pela nação Wakandana. Dessa vez, a história levanta a ideia dela ser regida também pela deusa das tempestades, raios e dos ventos da Umbanda, Oyá, também conhecida como Iansã.
Assim, em uma nova missão aqui no Brasil, ela presencia a chegada de outros deuses relacionados a seus poderes: Thor, dos Asgardianos / Nórdicos; Xangô, dos Orixás; Chaac, do povo Ahau; Susanoo, dos Amatsukami; e Zeus dos Olimpianos / Gregos. Como já é de se esperar em "gibi de hominho", rola um quebra-pau de início, que se encerra em um gancho magnífico quando a Tempestade, já no chão, é questionada pela projeção astral do Dr Vodu sobre o que ela faria se seus dons mutantes fossem retirados. Ela, então, pronuncia uma palavra em Yorubá: ILÉ, — que se traduz para "terra" ou "casa" — trazendo uma uma evocação profunda do terreiro e de seu pertencimento ancestral.
Vou negar não: arrepiei grandão nessa parte! A pior parte é esperar até a próxima edição para saber o desfecho dessa cena, já que a nova fase está sendo lançada apenas no EUA, por enquanto. 7 edições já saíram e eu continuo acompanhando, feliz em saber que ainda não chegou ao fim.
Outras histórias que celebram mitologias negras e cultura ancestral
Talvez eu seja a pessoa menos indicada pra falar sobre mitologia e espiritualidade por estar em um limbo em questões religiosas — hora me considero agnóstico, hora ateu, mas sempre muito curioso pra aprender mais, principalmente quando vem dos quadrinhos. Essa narrativa de reconexão com as raízes é comum em histórias com protagonistas pretos. Lembram do episódio de Super Choque em que ele encontra o deus Anansi em Acra, capital de Gana? Anansi também aparece em quadrinhos brasileiros como o de Jefferson Costa e Lucas Benetti, que carrega o mesmo nome. Aliás, sabiam que o medalhão da Vixen também é ligado a ele?
Temos ainda Bastet, deusa egípcia presente nas histórias do Pantera Negra, e HQs nacionais como "O Conto dos Orixás", de Hugo Canuto, "Orixás em quadrinhos", de Alex Mir, entre outras. Nos livros, Fábio Kabral se destaca com títulos como "Sopro dos Deuses" e "Ritos de Passagem", além da trilogia "Legado de Orisha", de Tomi Adeyemi, que faz referência direta à Tempestade.
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Essa conexão entre ancestralidade, espiritualidade e narrativas heroicas também pulsa forte nos projetos independentes financiados aqui no Catarse. Histórias que recontam mitologias, exploram lendas brasileiras e africanas, e dão protagonismo a personagens pretos e indígenas são cada vez mais frequentes e fundamentais.
Enquanto esperamos a nova fase da Tempestade chegar ao Brasil, que tal apoiar quem já está criando essas pontes por aqui? Conheça projetos que resgatam suas raízes no Catarse.