Horror, terror e folk horror: qual a diferença?

Descubra as diferenças entre horror, terror e folk horror com Carlos Primati, especialista no gênero. Explore exemplos clássicos e dicas de leitura imperdíveis.

As histórias de terror moldaram muito do que vemos no cinema e na literatura hoje em dia. Narrativas clássicas, como Frankenstein, foram precursoras no gênero e ditam tendências até hoje. No entanto, um gênero tão rico e tão plural não pode ser resumido por apenas uma palavra — "terror" não é suficiente para abarcar a grandeza dessa vertente da literatura fantástica que cresce cada vez mais e nos surpreende a cada lançamento.

Mas, pensando na crescente de lançamentos relacionados ao assunto, como diferenciar terror, horror e outras tendências que assombram tanto a literatura quanto o cinema?

Para responder essas questões, convidamos Carlos Primati, crítico de cinema e especialista no assunto, que já participou ativamente de diversos projetos aqui no Catarse.

A diferença entre terror e horror

De acordo com Primati, a dúvida não é de agora. O pesquisador menciona que essa espécie de diferenciação surgiu inicialmente com Ann Radcliffe, que escreveu o primeiro ensaio que se dispunha a traçar paralelos que estabeleciam essas diferenças. Desse modo, o "terror" pode ser visto como a emoção da expectativa de que algo assustador está para acontecer: é a antecipação, a construção de um clima de ansiedade ou mau-agouro, o sentimento que precede. Já o "horror" é o oposto disso: é a constatação do fato, a representação explícita de algo horrível.

Primati afirma um aspecto essencial para essa diferenciação: 

"O terror é mais sutil e concentrado na expectativa e clima; o horror é explícito, apelativo e extremo."

Como essas diferenças influenciam o Cinema e a Literatura?

Embora essas definições ajudem a categorizar as obras, é importante destacar que o gênero não se limita a essas "caixinhas". Classificar obras literárias e audiovisuais em um gênero não quer dizer necessariamente que ele se esgota nesse significado. É possível que um filme de terror tenha elementos de horror, e vice-versa etc. É preciso entender que a classificação por si só não serve para definir o que é ou não é — antes, visa aproximar a arte dos leitores e espectadores, permitindo-lhes nomear o que veem ou sentem.

Folk Horror: o fascínio pelo horror rural e folclórico

Se o debate inicial sobre as diferenças entre os temas já rendeu assunto, quando nos aprofundamos nos subgêneros, é possível ver como esse universo assustador pode ser ainda mais rico. Um desses exemplos é o folk horror, que pode ser definido como "horror rural" ou "horror folclórico". Ou seja, são histórias que focam em vilarejos, pequenas cidades rurais, bosques, espaços selvagens que saem do plano narrativo e se tornam personagens ativos das histórias. Outro ponto interessante é que o folk horror trata de temáticas bem particulares, como: paganismo, superstições e rituais.

Uma curiosidade que Carlos Primati menciona é que o subgênero ganhou essa classificação recentemente. Quando autores conhecidos da literatura inglesa escreveram o que agora entendemos como folk horror, não havia uma nomenclatura específica para o gênero, que só foi nomeado nos anos 1970.

Dicas de leitura: explore o melhor do folk horror

Sabendo disso e das contribuições para a literatura, a O Grifo Editora acaba de lançar, com tradução do próprio Carlos Primati, Medo antigo: uma antologia folk horror — uma coletânea de 12 contos de autores consagrados no gênero.

Estarão na coletânea os contos:

  • O jovem Goodman Brown (1835) — Nathaniel Hawthorne
  • Laura Silver Bell (1872) — Sheridan Le Fanu
  • Janet, a entortada (1881) — Robert Louis Stevenson
  • As mulheres com chifres (1888) — Lady Jane Wilde
  • A pirâmide brilhante (1895) — Arthur Machen
  • O ceifador (1899) — Bernard Capes
  • Terra de ninguém (1900) — John Buchan
  • Vindo do mar (1904) — A.C. Benson
  • Uma bruxa em chamas (1909) — Mrs. Baillie Reynolds
  • A música na colina (1911) — Saki
  • O incidente em Chadbourne (1933) — Henry S. Whitehead
  • Relíquias romanas (1948) — Algernon Blackwood

Ainda no processo inicial de tradução da obra, Carlos Primati menciona: "Já posso apontar que "O Jovem Goodman Brown", de Nathaniel Hawthorne, tem tudo para se tornar o preferido de muita gente (por enquanto é o meu), porque ele explora um imaginário muito intenso, e habilidosamente construído, de uma situação que vai aos poucos sendo tomada por uma sensação quase palpável de maldade sobrenatural, para culminar numa cena apoteótica e um desfecho impactante. É inegavelmente o grande clássico do livro, e não haveria maneira melhor de iniciar a coleção."

A boa notícia é que a campanha da editora O Grifo pode ser apoiada até 06/09 e até o momento desta postagem, já ultrapassou 186% de arrecadação.

Obras e filmes recomendados por Carlos Primati

Para os entusiastas do gênero, Primati preparou uma lista essencial de autores e filmes que todo fã deveria conhecer:

Literatura:

  • M.R. James
  • Algernon Blackwood
  • Arthur Machen 
  • John Buchan

Filmes:

  • "O Homem de Palha" (1973)
  • "A Bruxa" (2016)
  • "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019)
  • "A Rena Branca" (1952)
  • "Kwaidan" (1964)
  • "Mystics in Bali" (1981)
  • "Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz" (1967)
  • "Pecado na Sacristia" (1975)

Projetos relacionados e como apoiar

Para os fãs do trabalho de Primati, é possível também apoiar também o projeto Eles vivem: contos de ficção científica, da editora Diário Macabro, que caso venha a bater 115% de meta, contará com o posfácio da obra escrito por ele.

Para fãs de projetos sobre o tema, seguem mais dicas de campanhas:

Essa matéria contou com a colaboração de Carlos Primati.

__________________

LEIA TAMBÉM:

Afinal, o que é o Western Horror e por que ele faz tanto sucesso?

Dayhara Martins
Redatora e revisora, fala de livros na internet há mais de 10 anos. Criadora do Raízes do Horror, um clube de leitura que foca em literatura de horror com o olhar para raça, classe e gênero.

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As histórias de terror moldaram muito do que vemos no cinema e na literatura hoje em dia. Narrativas clássicas, como Frankenstein, foram precursoras no gênero e ditam tendências até hoje. No entanto, um gênero tão rico e tão plural não pode ser resumido por apenas uma palavra — "terror" não é suficiente para abarcar a grandeza dessa vertente da literatura fantástica que cresce cada vez mais e nos surpreende a cada lançamento.

Mas, pensando na crescente de lançamentos relacionados ao assunto, como diferenciar terror, horror e outras tendências que assombram tanto a literatura quanto o cinema?

Para responder essas questões, convidamos Carlos Primati, crítico de cinema e especialista no assunto, que já participou ativamente de diversos projetos aqui no Catarse.

A diferença entre terror e horror

De acordo com Primati, a dúvida não é de agora. O pesquisador menciona que essa espécie de diferenciação surgiu inicialmente com Ann Radcliffe, que escreveu o primeiro ensaio que se dispunha a traçar paralelos que estabeleciam essas diferenças. Desse modo, o "terror" pode ser visto como a emoção da expectativa de que algo assustador está para acontecer: é a antecipação, a construção de um clima de ansiedade ou mau-agouro, o sentimento que precede. Já o "horror" é o oposto disso: é a constatação do fato, a representação explícita de algo horrível.

Primati afirma um aspecto essencial para essa diferenciação: 

"O terror é mais sutil e concentrado na expectativa e clima; o horror é explícito, apelativo e extremo."

Como essas diferenças influenciam o Cinema e a Literatura?

Embora essas definições ajudem a categorizar as obras, é importante destacar que o gênero não se limita a essas "caixinhas". Classificar obras literárias e audiovisuais em um gênero não quer dizer necessariamente que ele se esgota nesse significado. É possível que um filme de terror tenha elementos de horror, e vice-versa etc. É preciso entender que a classificação por si só não serve para definir o que é ou não é — antes, visa aproximar a arte dos leitores e espectadores, permitindo-lhes nomear o que veem ou sentem.

Folk Horror: o fascínio pelo horror rural e folclórico

Se o debate inicial sobre as diferenças entre os temas já rendeu assunto, quando nos aprofundamos nos subgêneros, é possível ver como esse universo assustador pode ser ainda mais rico. Um desses exemplos é o folk horror, que pode ser definido como "horror rural" ou "horror folclórico". Ou seja, são histórias que focam em vilarejos, pequenas cidades rurais, bosques, espaços selvagens que saem do plano narrativo e se tornam personagens ativos das histórias. Outro ponto interessante é que o folk horror trata de temáticas bem particulares, como: paganismo, superstições e rituais.

Uma curiosidade que Carlos Primati menciona é que o subgênero ganhou essa classificação recentemente. Quando autores conhecidos da literatura inglesa escreveram o que agora entendemos como folk horror, não havia uma nomenclatura específica para o gênero, que só foi nomeado nos anos 1970.

Dicas de leitura: explore o melhor do folk horror

Sabendo disso e das contribuições para a literatura, a O Grifo Editora acaba de lançar, com tradução do próprio Carlos Primati, Medo antigo: uma antologia folk horror — uma coletânea de 12 contos de autores consagrados no gênero.

Estarão na coletânea os contos:

  • O jovem Goodman Brown (1835) — Nathaniel Hawthorne
  • Laura Silver Bell (1872) — Sheridan Le Fanu
  • Janet, a entortada (1881) — Robert Louis Stevenson
  • As mulheres com chifres (1888) — Lady Jane Wilde
  • A pirâmide brilhante (1895) — Arthur Machen
  • O ceifador (1899) — Bernard Capes
  • Terra de ninguém (1900) — John Buchan
  • Vindo do mar (1904) — A.C. Benson
  • Uma bruxa em chamas (1909) — Mrs. Baillie Reynolds
  • A música na colina (1911) — Saki
  • O incidente em Chadbourne (1933) — Henry S. Whitehead
  • Relíquias romanas (1948) — Algernon Blackwood

Ainda no processo inicial de tradução da obra, Carlos Primati menciona: "Já posso apontar que "O Jovem Goodman Brown", de Nathaniel Hawthorne, tem tudo para se tornar o preferido de muita gente (por enquanto é o meu), porque ele explora um imaginário muito intenso, e habilidosamente construído, de uma situação que vai aos poucos sendo tomada por uma sensação quase palpável de maldade sobrenatural, para culminar numa cena apoteótica e um desfecho impactante. É inegavelmente o grande clássico do livro, e não haveria maneira melhor de iniciar a coleção."

A boa notícia é que a campanha da editora O Grifo pode ser apoiada até 06/09 e até o momento desta postagem, já ultrapassou 186% de arrecadação.

Obras e filmes recomendados por Carlos Primati

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Literatura:

  • M.R. James
  • Algernon Blackwood
  • Arthur Machen 
  • John Buchan

Filmes:

  • "O Homem de Palha" (1973)
  • "A Bruxa" (2016)
  • "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019)
  • "A Rena Branca" (1952)
  • "Kwaidan" (1964)
  • "Mystics in Bali" (1981)
  • "Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz" (1967)
  • "Pecado na Sacristia" (1975)

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