O Espantalho e outras histórias do matagal é a primeira coletânea de contos de Rodrigo Kmiecik. O livro reúne sete narrativas curtas ambientadas no interior do Paraná, que transitam entre o horror sobrenatural, a fantasia, a fábula e o causo.
O livro conta com sete ilustrações exclusivas de Cezar Camparim. Criando camadas adicionais de significado aos contos, as ilustrações foram concebidas a partir de um diálogo entre o gótico, as artes macabras da literatura pulp, posters do cinema B de terror e mangás eroguro. As ilustrações foram feitas com tinta nanquim aplicada por tinteiro e pincel, recurso que reforça a textura e a densidade das imagens. Entre as principais inspirações de Camparim figuram as gravuras de Gustave Doré, Bernie Wrightson e Caroline Murta, os pôsteres de Karoly Grosz e os painéis do mangaká Suehiro Maruo.
Conheça as histórias
Em O Espantalho, um historiador viaja até uma fazenda serrana, antiga propriedade escravista produtora de erva-mate, para escrever um livreto sobre o local. Lá encontra um espantalho antigo, que desperta medo e obsessão no caseiro Simão, e que aos poucos revela fantasmas e segredos do passado da fazenda.
Orquídea nativa narra a busca por uma rara espécie de orquídea que revela mistérios ocultos no encontro do homem com a natureza e o passado. Intrusões é o relato de um encarcerado enlouquecido; entre lembranças e fragmentos de confissão, a narrativa se desdobra no horror e na ambiguidade de seu próprio narrador.
O último fauno narra a relação de uma jovem com a natureza, com a morte de sua avó e com um misterioso ser da floresta. Em Fogo-apagou, ouvimos os ecos de uma memória sobre o encontro de um grupo de peões com duas crianças indígenas no sertão paranaense.
Em Mopiguaçu, conhecemos a história de Tiago, sobre suas lembranças familiares, seus pesadelos e sobre as figuras de barro que ele esculpia, e a relação destas com uma força que parece chamá-lo às profundezas da mata e da noite. Em tom mítico e fabular, O medo de Nami conta a história de um antigo pacto e da figura de Nami, uma mulher capaz de devorar medos; a narrativa explora uma vida transformada por forças ancestrais e inevitáveis, marcada pelas demandas da treva sobre o mundo.
Essas narrativas poderiam ser divididas entre três “modos” principais, que também se entrecruzam, e pelos quais o sombrio e o sobrenatural perpassam: “Orquídea nativa” e “Fogo-apagou” são clássicas ghost stories, embora não se desdobrem nas veredas do horror; “O último fauno” e “O medo de Nami” são fantasias, e a última mistura elementos da fábula, do conto de fadas e da narrativa mítica, uma espécie de mito de criação do monstruoso; por fim, “O Espantalho”, “Intrusões” e “Mopiguaçu” são propriamente narrativas de horror, que reimaginam alguns dos monstros mais clássicos do imaginário do medo, como o vampiro, o duplo e o tópos de maldição em roupagens interioranas, quiçá regionalistas, mas também universais.
Sobre o autor
Rodrigo Kmiecik nasceu em 1999, em Umuarama, no interior do Paraná. Atualmente reside em Curitiba. É contista, poeta e medievalista, graduado em História (UEL), especialista em Religiões e Religiosidades (UEL) e mestre em História (UFPR). Publicou contos e poemas em revistas, jornais, concertinas e antologias, e trabalhou no meio editorial traduzindo, escrevendo paratextos e produzindo material gráfico. Seus interesses literários se concentram principalmente nas expressões do horror sobrenatural, do mal e da sombra encontradas nas obras de escritores como Robert Aickman, Algernon Blackwood, William Faulkner e Cornélio Penna, bem como nas expressões do fantástico e do fabular encontradas em Andersen, Kipling e Guimarães Rosa. Sua ficção explora as manifestações mais telúricas do horror e a relação do ser humano com o passado e com a natureza. O Espantalho e outras histórias do matagal é sua primeira coletânea de contos
“A leitura de O Espantalho e outras histórias do matagal, de Rodrigo Kmiecik, é uma experiência estranha e singular, uma jornada pelos confins não apenas geográficos de nosso país, mas também imaginários. As narrativas desse livro de estréia exemplar são calcadas menos no assim chamado "Folk Horror" (uma designação muito mais cinematográfica que literária, envolvendo visões muito estereotipadas, nostálgicas ou exóticas de um universo rural) e muito mais em um singular tipo original de narrativa aterrorizante, que poderíamos denominar "horror antropológico" ou "etnografia horripilante". Partindo de influências notáveis (como Algernon Blackwood, Arthur Machen e Robert Aickman), Kmiecik evoca um passado — que se encaminha velozmente não apenas para a extinção, mas para o esquecimento — vívido e intenso em seus pavores e pesadelos, mas com a melancolia de contemplar o cadáver de um belo monstro marinho que foi arrastado para a praia pela maré, para uma última aparição.” — Alcebíades Diniz Miguel, doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, escritor e editor da Raphus Press.




