A nossa história é pautada a partir de acontecimentos históricos. As mudanças, geralmente, são acompanhadas de grandes eventos que alteraram a ordem de comunidades e, em alguma esfera, contribuíram para novos direcionamentos.
No entanto, o que fazer quando essa mudança é grande demais para remodelar até mesmo o curso da vida, e mexe com questões sociais, financeiras e os próximos passos de grandes projetos? A catástrofe causada pela crise climática no Rio Grande do Sul foi tão grande que mudou a geografia do estado, e certamente mudará as dinâmicas das atividades para sempre.
Na matéria anterior, você pôde entender um pouco mais sobre como a enchente que inundou mais de 450 municípios, também afetou diretamente editoras gaúchas que mantêm projetos ativos no Catarse. Conversamos com Brasa Editora, Jambô Editora e Taí Editora para entender um pouco mais sobre a situação atual dessas empresas, qual foi a proporção de prejuízo nesse momento tão delicado e quais foram as saídas encontradas para continuar respirando e atuando no cenário editorial apesar de tudo. Agora, você tem a oportunidade de ler também a perspectiva de futuro de seus negócios.
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Um passo de cada vez
É claro que em situações como a do Rio Grande do Sul existem alguns cuidados que são prioritários: a garantia à vida, espaço digno de moradia, alimentação, garantia de cuidados para higiene pessoal, entre outras questões. No entanto, conforme a nova dinâmica vai sendo estabelecida, é preciso também pensar no futuro, buscar saídas não para que o estado volte a ser o que era antes, mas para que tragédias dessa proporção não tornem a acontecer.
A Editora Jambô, conforme já apontado no post anterior, foi uma das editoras que mais sofreu com as enchentes, e Karen falou um pouco mais sobre essa nova história que começa a ser escrita:
[Dayhara] Vocês planejam fazer mais campanhas solidárias com fins de, além de seguir produzindo e trabalhando com o que gostam, arrecadar fundos para ser possível escreverem um novo capítulo da história da Jambô?
[Jambô] “Todas as campanhas que já realizamos nos permitiram escrever novos capítulos da história da Jambô, já que elas nos ajudaram a crescer e formar a equipe que temos hoje. Aqui na editora, temos 30 amantes dos livros que atuam diariamente em todas as funções necessárias para levar o conteúdo até os leitores, sem contar os mais de 80 artistas, redatores, revisores e outros profissionais que contribuem de forma freelancer. A campanha Jornada Heroica: Guerra Artoniana veio para, além de ajudar a editora, também ajudar diretamente os membros da nossa equipe e seu familiares. Não sabemos se teremos opções tão diretas de apoio nas próximas campanhas, até porque ainda não tivemos a oportunidade de avaliar melhor a situação, mas todas as campanhas beneficiam a editora e sua equipe.”
Além disso, Karen aponta que apesar de alguns projetos já terem sido encerrados, existem ainda outras oportunidades de apoio. Essa é a receita ideal para garantir que a editora consiga voltar à sua normalidade.
[J] “No momento, o que nós mais precisamos é conseguir voltar à normalidade. E o melhor jeito de ajudar é justamente comprando nossos livros. Estamos com vários lançamentos no nosso site, incluindo o 3DeT Victory, que foi originalmente lançado por meio de financiamento coletivo, além de livros sempre amados, como a nova edição de A Lenda de Ruff Ghanor Vol. 1, o novo volume do mangá Ledd, os dois livros comemorativos de 40 anos da série Fighting Fantasy e a pré-venda de Sobrevivendo ao Horror, o primeiro suplemento de Ordem Paranormal RPG. Também já anunciamos a campanha de financiamento coletivo Tormenta 25 Anos, que trará dois novos suplementos para Tormenta20 e outras grandes novidades.”
É possível se inscrever para receber uma notificação através da página de pré-campanha no Catarse. O projeto será lançado no dia 07 de agosto.
Já a Brasa Editora, conta que dias antes da primeira enchente, já havia planos para uma mudança de endereço. Esse novo espaço, infelizmente, também foi alagado, mas dessa vez o segundo andar ficou preservado. Esse novo local é também uma oportunidade de recomeço, trilhando novos caminhos dentro desse mercado tão imenso quando falamos de apoio:
[Brasa] “No dia da cheia, no sábado, a gente faria uma mudança de endereço. Conseguimos um espaço legal na Cidade Baixa, um bairro boêmio e cultural da cidade, onde iremos morar, montar o escritório da editora e abrir uma gibiteria/livraria, a Loja da Brasa. Mas o local também alagou, por sorte, estamos no segundo andar da casa. Fizemos muitos investimentos para inaugurar no mês passado, agora estamos tentando organizar uma festa no dia 21 de junho, às 18:00. mas semana que vem as portas já estarão abertas para o público.”
A ideia inicial de uma loja para a Brasa segue a mesma, agora focada em ajudar editoras gaúchas e autores independentes nesse momento de levante:
[B] “Na Loja da Brasa venderemos os livros dos autores e editoras gaúchas independentes, mas cobrando uma comissão, de 10% do preço de capa, apenas para dar conta das taxas bancárias e outros pequenos custos, fazendo a nossa parte na reestruturação do mercado de quadrinhos do Rio Grande do Sul. A Loja da Brasa fica na Rua José do Patrocínio, 611, sobreloja. Em cima do Pixels Pub. Estamos empolgados com esse novo desafio e ansiosos para receber todos na nossa nova casa.”
Já a Tai Editora, que cada vez mais vem trazendo projetos inovadores ao Catarse, mostra que é preciso manter o pé no chão. Apesar de as ideias serem muitas, é preciso rever o cronograma de lançamentos, avaliar as possibilidades e encontrar o meio-termo:
[Taí] “Passamos por muitos desafios desde o início da editora. Seja por questões pessoais ou do mercado. Talvez isso tenha nos deixado “calejados”. Mesmo assim, esse ano conseguimos aumentar a equipe, separando uma para literatura e outra para os quadrinhos, o que nos permitiu organizar o cronograma e adiantar as etapas de produção de nossos títulos. A organização e o respeito com nossos clientes são pontos de destaque para a nossa tomada de decisão. Porém, está sendo reestruturado o cronograma de novas publicações de 2024, justamente para não anunciar aquilo que não iremos cumprir.”
Uma nova página, uma nova história
Não há como ignorar o que passou, e esse não é um desejo do Catarse ou das editoras entrevistadas. No entanto, a plataforma é conhecida justamente por fortalecer o senso de comunidade, e acreditar que boas histórias merecem ser ouvidas, lidas e jogadas por outras pessoas. Com a força de pessoas dispostas a fazer a diferença, uma nova história começa a ser escrita. Dessa vez, pautada em resiliência, apoio e a certeza de que sempre haverá uma mão amiga disposta a mostrar novos rumos.