O que podemos comemorar e reivindicar no Dia da Mulher? Perguntamos às criadoras do Catarse

Centenas de anos antes da Era Comum, nos tempos da Grécia Antiga, as mulheres não podiam participar dos debates públicos, políticos e eventos culturais. No Brasil de 2022, apesar de somarem 52% da população, elas ocupam apenas 15% dos cargos do Congresso, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

No âmbito cultural, por outro lado, elas já atingiram um espaço significativo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o setor de Artes, Entretenimento, Recreação e outros serviços possui a terceira maior participação de mulheres, chegando a 57,2%. Mas a disparidade segue aparecendo. Uma ficha informativa do Instituto de Estatística da UNESCO revela que essas mulheres em ocupações culturais têm maior probabilidade de terem mais de um emprego.

As conquistas e urgências estão aí. Mesmo com os avanços, ainda é preciso muita força para mudar. Proposto pela professora e política alemã Clara Zetkin, em 1910, o dia 8 de março era, inicialmente, um marco vinculado a movimentos de reivindicação política e trabalhista. Hoje em dia, tem sido uma data com apelo comercial e de branding para marcas de todos os portes que, em boa parte das vezes, deixa de lado as pautas relevantes, nos distanciando das mudanças reais.

Na contramão de tudo isso, destacar projetos que aumentem a visibilidade de mulheres da indústria criativa, investigar os mitos e estereótipos em torno do trabalho de autoria feminina e abrir cada vez mais o diálogo são passos importantes.

Assim, neste dia 8 de março, conversamos com algumas criadoras da comunidade do Catarse para entender melhor como as profissionais do segmento criativo lidam com os desafios do mercado, o que pensam sobre o 8M e como enxergam a importância da luta feminina. Para isso, perguntamos a elas: o que podemos celebrar neste dia? E o que precisa mudar?

Refletir sobre as mulheres ainda bastante invisibilizadas, como negras e indígenas, nos conscientizar a respeito de fatos históricos e lutar por representatividade são algumas das necessidades destacadas. Conheça a seguir o que pensam as criadoras da nossa comunidade:

Revista Ignoto de Ficção Especulativa, projeto da Editora Corvus.

Gabriele Diniz, Editora Corvus

Campanhas online:

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Podemos celebrar a vida e o trabalho de todas as mulheres, não só das grandes mulheres do passado e da atualidade, mas também das que nos rodeiam no dia a dia, da nossa família, do nosso círculo de amigos e do ambiente de trabalho. Em um mundo onde mulheres são menosprezadas e ignoradas, o dia oito de março é uma excelente oportunidade para fazer melhor”.

O que precisa mudar?

“Precisamos refletir sobre as mulheres que continuam sendo invisibilizadas, mesmo em iniciativas focadas para mulheres. Mulheres negras, indígenas, marrons, amarelas, LGBTQIA+, com deficiência, gordas, e tantas outras categorias de mulheres duplamente (ou triplamente, quadruplamente...) marginalizadas precisam ser incluídas e celebradas também”.

Mina de HQ, mídia multiplataforma independente e feminista sobre HQs.

Gabriela Borges, Mina de HQ

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“O Dia Internacional da Mulher não é uma data que a gente celebra o fato de sermos mulheres ou de existirem mulheres no mundo, mas sim uma data para reconhecermos as lutas dos movimentos de mulheres que aconteceram ao longo dos anos, que seguem acontecendo, que contribuíram e que contribuem muito para a nossa conquista de direitos. E são direitos para todas as pessoas! É uma data muito mais sobre luta e reconhecimento do que apenas sobre celebrar o fato de existirem mulheres. Por isso, quando alguém te diz ‘parabéns, mulher, pelo seu dia’, não faz sentido”.

O que precisa mudar?

“Eu acho que o que a gente pode fazer sempre é nos conscientizar a respeito dos fatos históricos que envolvem a data, sempre lembrar os movimentos de mulheres, entender esses movimentos, compreender quais foram as conquistas e também as falhas, para que a gente possa avançar coletivamente na sociedade. Acredito que um avanço de um ano para o outro é esse: conscientizar, compreender melhor os contextos, se informar mais e entender como podemos agir na prática. É uma data de luta, para fazermos a nossa parte, compreendendo e colaborando. O que eu busco fazer na Mina de HQ é justamente dar visibilidade e ampliar vozes de artistas que estão criando quadrinhos que falam sobre esses movimentos ou que podem ajudar os leitores a entenderem melhor os movimentos de mulheres e os movimentos por igualdade. Acho que todo mundo pode buscar exercer essa visão de mundo na prática. Essa é uma data inspiradora para isso”.

"Os Melhores Contos de Fadas Asiáticos", livro
da Editora Wish.

Marina Ávila, Editora Wish

Campanhas online:

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Podemos celebrar a oportunidade que temos de acessar a criatividade feminina e a forma com a qual seu olhar atencioso moldou a literatura, as artes plásticas e a música nos últimos séculos”.

O que precisa mudar?

“É importante pensarmos fora de nossa bolha, na qual muitas mulheres já podem expor seu potencial, enquanto milhões de outras, por circunstâncias inerentes ao meio em que vivem, ainda não têm os mesmos direitos básicos de liberdade”.

"1979 - O ano que ressignificou a MPB", livro da Garota FM.

Chris Fuscaldo, Garota FM Books

Campanhas online:

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Eu acho que sempre podemos celebrar o passinho dado pela sociedade no último ano a favor dos espaços para as mulheres em todos os mercados, alguns mais, outros menos – até tem alguns regredindo também. Minha pesquisa de doutorado, por exemplo, foi sobre as cantatouras – cantoras que também são compositoras – da música brasileira. E essa pesquisa veio de uma descoberta que, para mim, foi muito dolorosa: saber que as mulheres são menos de 8% dos arrecadadores de direitos autorais no Brasil. Ou seja, as mulheres que vivem de música são menos de 8% no país – e isso é um dado de 2020!”

O que precisa mudar?

“A mudança acontece devagar. Então, o que eu acho que pode mudar, é ter uma aceleração dessa abertura dos mercados para as mulheres. No caso do meu mercado especificamente, acho que há pouquíssimas mulheres escrevendo sobre música. E eu, que tenho 23 anos de carreira, ainda preciso ter outras fontes de renda para conseguir bancar meus trabalhos, meus livros. Também acompanho vários amigos, várias histórias, de várias editoras, e sei, por exemplo, que há diferença nos pagamentos de adiantamentos para homens e para mulheres. Já ouvi editor de editora grande falar pra mim que não conhecia biógrafa mulher boa e por isso não apostaria no meu trabalho. Já tentei muitas vezes falar com editores e eles sequer marcavam horário de reunião comigo, no entanto, tenho parceiros meus que nem livro escrito tinham, mandaram e-mail e já marcaram reunião fechando contrato. A gente sente, há muita coisa velada ainda. Esse é um assunto que dá pano pra manga, mas eu fico feliz de ter força, ânimo e um pouco de frieza para poder estar aqui fazendo o meu trabalho”.

Revista Azmina.

Verena Paranhos, Revista AzMina

Campanhas online:

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“A recente descriminalização do aborto na Colômbia e, em 2020, na Argentina, devem ser celebrados por nós brasileiras, apesar do cenário desfavorável que temos no momento. Não podemos perder a esperança: ver nossas vizinhas conquistando o direito de escolha é inspirador e por lá o cenário também já foi desfavorável. Podemos aprender com as lutas delas para que seja lei por aqui também”.

O que precisa mudar?

“Em 2022, teremos eleições muito importantes para o futuro da democracia e as lutas das mulheres por equidade, representatividade e diversidade. Para isso, eleger mais mulheres para a Câmara dos Deputados e o Senado é essencial, assim como acompanhar de perto o trabalho dos parlamentares, o que fazemos com o projeto Elas no Congresso. Ainda há muito a ser mudado, como o nosso monitoramento Legislativo revelou: 1 em cada 4 projetos sobre direitos das mulheres no Congresso ainda é desfavorável às mulheres, continuamos sendo minoria nos cargos de liderança do Congresso, entre outros”.

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O que podemos comemorar e reivindicar no Dia da Mulher? Perguntamos às criadoras do Catarse

Centenas de anos antes da Era Comum, nos tempos da Grécia Antiga, as mulheres não podiam participar dos debates públicos, políticos e eventos culturais. No Brasil de 2022, apesar de somarem 52% da população, elas ocupam apenas 15% dos cargos do Congresso, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

No âmbito cultural, por outro lado, elas já atingiram um espaço significativo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o setor de Artes, Entretenimento, Recreação e outros serviços possui a terceira maior participação de mulheres, chegando a 57,2%. Mas a disparidade segue aparecendo. Uma ficha informativa do Instituto de Estatística da UNESCO revela que essas mulheres em ocupações culturais têm maior probabilidade de terem mais de um emprego.

As conquistas e urgências estão aí. Mesmo com os avanços, ainda é preciso muita força para mudar. Proposto pela professora e política alemã Clara Zetkin, em 1910, o dia 8 de março era, inicialmente, um marco vinculado a movimentos de reivindicação política e trabalhista. Hoje em dia, tem sido uma data com apelo comercial e de branding para marcas de todos os portes que, em boa parte das vezes, deixa de lado as pautas relevantes, nos distanciando das mudanças reais.

Na contramão de tudo isso, destacar projetos que aumentem a visibilidade de mulheres da indústria criativa, investigar os mitos e estereótipos em torno do trabalho de autoria feminina e abrir cada vez mais o diálogo são passos importantes.

Assim, neste dia 8 de março, conversamos com algumas criadoras da comunidade do Catarse para entender melhor como as profissionais do segmento criativo lidam com os desafios do mercado, o que pensam sobre o 8M e como enxergam a importância da luta feminina. Para isso, perguntamos a elas: o que podemos celebrar neste dia? E o que precisa mudar?

Refletir sobre as mulheres ainda bastante invisibilizadas, como negras e indígenas, nos conscientizar a respeito de fatos históricos e lutar por representatividade são algumas das necessidades destacadas. Conheça a seguir o que pensam as criadoras da nossa comunidade:

Revista Ignoto de Ficção Especulativa, projeto da Editora Corvus.

Gabriele Diniz, Editora Corvus

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O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Podemos celebrar a vida e o trabalho de todas as mulheres, não só das grandes mulheres do passado e da atualidade, mas também das que nos rodeiam no dia a dia, da nossa família, do nosso círculo de amigos e do ambiente de trabalho. Em um mundo onde mulheres são menosprezadas e ignoradas, o dia oito de março é uma excelente oportunidade para fazer melhor”.

O que precisa mudar?

“Precisamos refletir sobre as mulheres que continuam sendo invisibilizadas, mesmo em iniciativas focadas para mulheres. Mulheres negras, indígenas, marrons, amarelas, LGBTQIA+, com deficiência, gordas, e tantas outras categorias de mulheres duplamente (ou triplamente, quadruplamente...) marginalizadas precisam ser incluídas e celebradas também”.

Mina de HQ, mídia multiplataforma independente e feminista sobre HQs.

Gabriela Borges, Mina de HQ

O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“O Dia Internacional da Mulher não é uma data que a gente celebra o fato de sermos mulheres ou de existirem mulheres no mundo, mas sim uma data para reconhecermos as lutas dos movimentos de mulheres que aconteceram ao longo dos anos, que seguem acontecendo, que contribuíram e que contribuem muito para a nossa conquista de direitos. E são direitos para todas as pessoas! É uma data muito mais sobre luta e reconhecimento do que apenas sobre celebrar o fato de existirem mulheres. Por isso, quando alguém te diz ‘parabéns, mulher, pelo seu dia’, não faz sentido”.

O que precisa mudar?

“Eu acho que o que a gente pode fazer sempre é nos conscientizar a respeito dos fatos históricos que envolvem a data, sempre lembrar os movimentos de mulheres, entender esses movimentos, compreender quais foram as conquistas e também as falhas, para que a gente possa avançar coletivamente na sociedade. Acredito que um avanço de um ano para o outro é esse: conscientizar, compreender melhor os contextos, se informar mais e entender como podemos agir na prática. É uma data de luta, para fazermos a nossa parte, compreendendo e colaborando. O que eu busco fazer na Mina de HQ é justamente dar visibilidade e ampliar vozes de artistas que estão criando quadrinhos que falam sobre esses movimentos ou que podem ajudar os leitores a entenderem melhor os movimentos de mulheres e os movimentos por igualdade. Acho que todo mundo pode buscar exercer essa visão de mundo na prática. Essa é uma data inspiradora para isso”.

"Os Melhores Contos de Fadas Asiáticos", livro
da Editora Wish.

Marina Ávila, Editora Wish

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O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Podemos celebrar a oportunidade que temos de acessar a criatividade feminina e a forma com a qual seu olhar atencioso moldou a literatura, as artes plásticas e a música nos últimos séculos”.

O que precisa mudar?

“É importante pensarmos fora de nossa bolha, na qual muitas mulheres já podem expor seu potencial, enquanto milhões de outras, por circunstâncias inerentes ao meio em que vivem, ainda não têm os mesmos direitos básicos de liberdade”.

"1979 - O ano que ressignificou a MPB", livro da Garota FM.

Chris Fuscaldo, Garota FM Books

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O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“Eu acho que sempre podemos celebrar o passinho dado pela sociedade no último ano a favor dos espaços para as mulheres em todos os mercados, alguns mais, outros menos – até tem alguns regredindo também. Minha pesquisa de doutorado, por exemplo, foi sobre as cantatouras – cantoras que também são compositoras – da música brasileira. E essa pesquisa veio de uma descoberta que, para mim, foi muito dolorosa: saber que as mulheres são menos de 8% dos arrecadadores de direitos autorais no Brasil. Ou seja, as mulheres que vivem de música são menos de 8% no país – e isso é um dado de 2020!”

O que precisa mudar?

“A mudança acontece devagar. Então, o que eu acho que pode mudar, é ter uma aceleração dessa abertura dos mercados para as mulheres. No caso do meu mercado especificamente, acho que há pouquíssimas mulheres escrevendo sobre música. E eu, que tenho 23 anos de carreira, ainda preciso ter outras fontes de renda para conseguir bancar meus trabalhos, meus livros. Também acompanho vários amigos, várias histórias, de várias editoras, e sei, por exemplo, que há diferença nos pagamentos de adiantamentos para homens e para mulheres. Já ouvi editor de editora grande falar pra mim que não conhecia biógrafa mulher boa e por isso não apostaria no meu trabalho. Já tentei muitas vezes falar com editores e eles sequer marcavam horário de reunião comigo, no entanto, tenho parceiros meus que nem livro escrito tinham, mandaram e-mail e já marcaram reunião fechando contrato. A gente sente, há muita coisa velada ainda. Esse é um assunto que dá pano pra manga, mas eu fico feliz de ter força, ânimo e um pouco de frieza para poder estar aqui fazendo o meu trabalho”.

Revista Azmina.

Verena Paranhos, Revista AzMina

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O que podemos celebrar neste Dia Internacional das Mulheres?

“A recente descriminalização do aborto na Colômbia e, em 2020, na Argentina, devem ser celebrados por nós brasileiras, apesar do cenário desfavorável que temos no momento. Não podemos perder a esperança: ver nossas vizinhas conquistando o direito de escolha é inspirador e por lá o cenário também já foi desfavorável. Podemos aprender com as lutas delas para que seja lei por aqui também”.

O que precisa mudar?

“Em 2022, teremos eleições muito importantes para o futuro da democracia e as lutas das mulheres por equidade, representatividade e diversidade. Para isso, eleger mais mulheres para a Câmara dos Deputados e o Senado é essencial, assim como acompanhar de perto o trabalho dos parlamentares, o que fazemos com o projeto Elas no Congresso. Ainda há muito a ser mudado, como o nosso monitoramento Legislativo revelou: 1 em cada 4 projetos sobre direitos das mulheres no Congresso ainda é desfavorável às mulheres, continuamos sendo minoria nos cargos de liderança do Congresso, entre outros”.

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