O projeto Reportagem Pública é um marco na categoria de jornalismo do Catarse. Com a publicação de 12 pedradas de jornalismo investigativo, mostrou como a atividade pode se beneficiar do financiamento coletivo. Dessa experiência, a diretora da Agência Pública Natália Viana tirou dez mandamentos que podem servir muito bem para qualquer campanha de financiamento coletivo. Leia abaixo as dicas e o relato da sua participação no evento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
“No 9º Congresso da Abraji, tive a oportunidade de trocar algumas experiências sobre como organizar uma campanha de crowdfunding para jornalismo. Estava muito bem acompanhada: na mesa, Natalia Garcia, a primeira jornalista no Brasil a financiar um projeto por crowdfunding – o Cidades para Pessoas – e a Sabrina Duran, que toca o projeto Arquitetura da Gentrificação.As duas campanhas de crowdfunding aconteceram antes do Reportagem Pública e nos ensinaram muito. A Natália, em especial, foi nossa “guru” desde o começo e nos deu dicas valiosas para o primeiro financiamento coletivo da Agência Pública.O papo foi tão bom que achamos bacana compartilhar aqui, com os nossos leitores.Vamos começar pelo começo. O projeto Reportagem Pública durou 45 dias em agosto e setembro de 2013 e arrecadou R$ 58.935 de 808 apoiadores, distribuindo 12 bolsas de R$ 6 mil. A Pública recebeu 125 propostas de reportagem e selecionou 48 delas, votadas pelos doadores através de um hotsite especial, no qual também podiam comentar as propostas e se voluntariar para ajudar os repórteres.A ideia do projeto era testar as possibilidades de colaboração em jornalismo investigativo, engajando público e repórteres na realização de pautas de interesse mútuo, eliminando os intermediários.Durante os meses que antecederam a campanha, as diretoras da Pública trabalharam na estratégia. A campanha teve slogans como “Queremos mais repórteres nas ruas”, “Queremos mais investigações que importam”. Estabelecemos uma rede de apoio com aliados próximos, como as organizações Escola de Ativismo, Barão de Itararé, Rosental Calmon Alves, Intervozes e Midia Ninja. Obtivemos também o apoio da fundação Omidyar Network , que proveu “Matching Funds” para o projeto: a cada real arrecadado, a fundação deu mais 1 real dobrando o valor final e possibilitando a doação de mais bolsas para jornalistas.Uma lição importante foi a necessidade de engajar todos os que querem participar do projeto. Por isso, os doadores puderam não só votar nas pautas, mas também trocar mensagens com os repórteres, através do hotsite do projeto e do grupo de email criado para todos os que participaram: público, repórteres e Pública. O grupo segue ativo até hoje e tem sido fonte de informações para trabalhos acadêmicos sobre o Reportagem Pública.Outro aprendizado importante foi olhar para a campanha como uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Não vale “queimar a largada”, como fez o Brasil diante do time da Alemanha na Copa… É preciso fazer uma estratégia para cada semana, buscando grupos diferentes que podem se interessar pelo projeto, com uma tática diferente para cada uma das semanas, ângulos diferentes do projeto, e usando diferentes materiais de campanha (imagens/videos). Afinal, ninguém quem ficar tempo todo te ouvindo só pedir dinheiro, né?Esse vídeo aqui é um exemplo. Com ele, mostramos que a Pública precisava da ajuda dos seus leitores e simpatizantes, sem ficar reforçando o pedido por dinheiro. E com Frida Kahlo sobreposta ao Tio Sam, de brinde:Logo depois do final do projeto, fizemos uma lista com os “Dez Mandamentos do Crowdfunding”, segundo tudo o que aprendemos por aqui. A lista está abaixo, item por item, mas quiçá o maior e mais interessante de todos os aprendizados diz respeito à natureza da campanha que fizemos.A campanha inspirou jornalistas em todo o Brasil a apostar em grandes investigações e no financiamento coletivo. Conseguimos financiar e produzir – com muito trabalho! – 12 séries de reportagens muito bacanas, que podem ser vistas aqui.Muitos outros grupos se seguiram, e temos tentado ajudar no que podemos – claro, nem sempre temos tempo! Mas o essencial é o seguinte: o crowdfunding não é apenas uma maneira de levantar dinheiro; é uma maneira espalhar novas ideais e convidar pessoas para fazerem parte da sua construção.Colaborador
Este texto foi escrito por um colaborador do Catarse! Quer ser um colaborador? Mande um email para comunicacao@catarse.me com a sua sugestão de pauta. ;)