Por que a gente sente medo de criar?

No momento em que o artista decide criar, ele se prepara, respira fundo, evoca sua Musa, e nesse instante ínfimo sente que tudo irá acontecer, que tudo é possível. As ideias começam a se mover, o gesto se revela, a criação toma forma. Ao finalizar, respira fundo, vem o encanto e o agraciamento. Sua arte agora existe no mundo!

Essa introdução até parece um conto mágico, não é mesmo? É essa a imagem que muitos fantasiam sobre o processo criativo. A verdade, porém, é que entre o começo e a conclusão pode até acontecer isto, mas há mais no limiar desses dois momentos: também existe medo, dúvida, bloqueio, perfeccionismo, julgamento, ansiedade, entre muitos outros impasses.

E como o Catarse é um ponto de encontro com a criatividade, com uma comunidade que lida diretamente com todos esses sentimentos, reflexões e questões, trouxemos a pauta: por que a gente sente medo de criar? Sabemos que cada um é uma ilha, mas David Bayles e Ted Orland, em Arte & Medo, conseguiram centralizar o que se passa no inconsciente coletivo de todo artista.

Topa refletir sobre isso? E com a companhia da Karina Pamplona – ou como é conhecida nas redes, Karipola –, ilustradora, quadrinista e artista independente que transforma em arte tudo o que toca.

@karipola

De onde vem o medo?

Nós, seres humanos, temos a necessidade inata de procurar entender. E isso não seria diferente com o medo. De onde vem, o que simboliza, o que significa, como solucionamos? O que acontece depois que ele passa, e o que faz com que ele retorne? Fato é que ele nasceu com a gente. Antes, nos protegia dos predadores, avisando de perigos imediatos, funcionando como um radar de sobrevivência. Hoje, no entanto, mudou de forma – e, claro, depende do nosso contexto, necessidade e personalidade.

Mas pense: se antes garantia a sobrevivência, para artistas o medo pode se revelar quando estão prestes a se expor, quando uma criação está para nascer, durante o processo e até mesmo anos após ter sido entregue ao mundo. A razão? Criar provoca dúvidas sobre si, remexe águas profundas entre o que o artista acredita que deveria ser e o que teme descobrir.

É por isso que David Bayles e Ted Orland chamam atenção para duas faces do medo: o medo de si mesmo e o medo da reação dos outros. O primeiro impede que o artista faça o seu melhor trabalho; o segundo, que faça o seu próprio trabalho. Entre essas duas faces, o artista se vê diante de uma bifurcação, tateando seus limites, arriscando, manejando, descobrindo e criando formas de lidar com seus bloqueios e questões.

Karipola compartilha que o medo, em sua prática, não é tanto sobre o desenho sair “feio”, mas sobre a possibilidade de não se fazer compreendida. Há o risco de comunicar o oposto do que gostaria, de sentir que ocupa um lugar que não é seu ou até de “falar besteira”. Para ela, a questão central é a responsabilidade de quem cria imagens: escolher quais histórias deseja contar, o que fazer refletir ou investigar – e aceitar que, ao se pôr à mostra, sempre existe a chance de errar. E no outro lado da moeda tem: “o medo de as coisas desandarem, de não saber como vai ser a recepção, de imaginar tantos cenários catastróficos. Mas percebi que criar é muito importante para mim enquanto pessoa. Eu definho um pouco se deixo de me expressar – é algo essencial para o meu existir. Então, não fazer as coisas é pior do que fazer e ficar esquisito.”

Desistir significa não recomeçar — e fazer arte é, acima de tudo, recomeçar.
Bayles e Orland
@karipola

O que paralisa o artista?

Sabe aquele mantra que todos recomendam que internalizemos? “Se tiver medo, vá com medo mesmo!” Pois então, e quando o artista encontra a fagulha de confiança para começar, inicia e aparece justamente ela, aquela voz que fica como um superego o bloqueando, criticando, impedindo de continuar? Pois é, essa voz é a do perfeccionismo. Mas Bayles e Orland já trouxeram a máxima que todo artista sente na pele: “Exigir perfeição é um convite à paralisia.”

Karipola entende muito bem isso. Relata que sente como se houvesse uma pressão de se sentir capacitada antes mesmo de se pôr em prática a criar. E aí surge a pergunta: de onde vem essa pressão? Talvez de dentro, talvez de fora – de expectativas sociais, de críticas imaginadas, ou do próprio artista tentando corresponder a padrões inalcançáveis. O fato é que, no fim, essa voz se infiltra e pesa sobre o processo.

Como ilustradora, Karipola nos deu um exemplo: “Sinto que tenho que aprender a desenhar todas as regras de perspectiva e composições e coisas importantes antes de desenhar algo. Mas as coisas acontecem no gerúndio, quando estão acontecendo. Você aprende a desenhar desenhando.” E ela não poderia estar mais certa, assim como a gente só vive, vivendo.

Perguntei como ela sobrevive a esse momento entre perfeccionismo e paralisia, e ela disse: “Quando me sinto bloqueada criativamente, tenho um mantra que repito para mim mesma: ‘comece pelo que você sabe’. Toda vez que não sei o que desenhar, volto para o que gosto de desenhar, para o que conheço, porque sinto que isso me envolve. E aí, quando a gente vê, entre um rabisco de um gato e um peixe, alguma coisa floresce. Gosto muito de fazer um paralelo do desenho com a música. Você não faz um show sem antes ensaiar – e ensaiar é se colocar na prática com intenção, ao mesmo tempo em que se mantém disponível para o mistério, para o erro, para tentar uma coisa ou outra sem pressão. Precisamos criar momentos de ensaio. Venho fazendo as pazes com não saber ainda como as coisas vão ficar, porque o trabalho artístico é justamente esse: estudar, criar, investigar a ideia, olhar para ela com curiosidade, testar possibilidades – em vez de aplicar de pronto algum juízo de valor (se é bom ou horrível).”

Se você acha que trabalho bom é sinônimo de trabalho perfeito, está fadado a ter um grande problema. Arte é humana; errar é humano; logo, fazer arte é errar.
Bayles e Orland
@karipola

Afinal, eu sou artista?

Às vezes no silêncio da noite, o artista se pergunta: “Será que eu sou artista? Afinal, o que eu faço é arte?” Não bastasse o medo e o perfeccionismo ainda há as dúvidas sobre identidade e capacidade. Bayles e Orland apontam: “A maioria dos artistas não fica sonhando com o ato de criar arte. Eles sonham com já terem criado boa arte.” A pressão de atingir uma “boa arte” antes mesmo de começar é real. Coloca o artista frente a frente com suas dúvidas mais íntimas.

Mas afinal, o que define um artista? É algo que nasce de dentro, um movimento de autoafirmação, ou depende de reconhecimento externo? Para Karipola, os olhares de pessoas próximas foram decisivos. Ela conta: “Para mim, o olhar do outro foi importante para me reconhecer, porque eu sentia que me escondia. Foram os olhares de pessoas que me conheciam de perto – que tinham carinho por mim ou que eu admirava – que, primeiro, disseram que eu era artista. É como se houvesse uma parte sua que fica nas costas, que você não consegue enxergar sozinho, e alguém vem e te mostra.”

Ao mesmo tempo, a afirmação vem de dentro. Quando o artista começa a se entender e a se afirmar, o espaço para dúvidas diminui. Karipola explica: “Quando alguém diz o contrário de uma verdade que você já construiu sobre si, aquilo simplesmente não faz mais sentido.” Ou seja: a prática constante, o gesto diário de criar, fortalece essa convicção. “Quando entendi que existir no mundo através da prática de criar – independentemente de algo ser bom ou ruim –, ficou mais fácil me entender como artista.” E que bom, porque suas ilustrações e o livro Quase Tudo São Flores nos provoca, instigam reflexão e rememoração.

Criar, portanto, torna-se também uma experiência de autoafirmação, em que o artista aprende a confiar em si mesmo, mesmo diante do medo, do perfeccionismo e das expectativas externas. É nesse território de prática, tentativa e reafirmação que a identidade artística se consolida, mostrando que ser artista não depende apenas do resultado final, mas do compromisso com o próprio gesto criativo.

Aceitação é ter seu trabalho reconhecido como genuíno, aprovação é as pessoas gostarem dele.
Bayles e Orland
@karipola

O que a arte revela?

O ato mais comum de quando olhamos algo: pensar, admirar, refletir, analisar, associar. Mas antes da arte nos dizer algo, ela já foi um ato de descoberta para o próprio artista. Duvida? Karipola compartilha conosco a sua experiência: “A gente descobre muito sobre si enquanto desenha. Se pôr na prática talvez seja o movimento mais importante. Uma coisa é imaginar o desenho na cabeça e imaginar como ele vai ficar (o que pode ajudar). Outra é fazer com que a sua mão siga esse esboço indefinido que sua cabeça criou. Algo se perde quando se concretiza, mas algo mágico também acontece – algo que você nunca conseguiria prever.”

E algo tão simples, mas que precisa ser exercitado, pode servir de motor para atravessar o medo e o perfeccionismo: a boa e velha curiosidade. O ato de perguntar a si mesmo “e se eu fizer diferente?”, “e se eu tentar isto?”, pode dar vida a uma infinidade de possibilidades. Porque, no fundo, criar também é se manter disponível: para o erro, para o acerto, para a surpresa que só aparece quando nos arriscamos. E, quem sabe, em algo que será compartilhado com o outro?

É nesse risco que a arte revela tanto sobre quem cria quanto sobre quem a recebe. Karipola nos lembra: “Às vezes é preciso atravessar temas que assustam, porque só ali existe uma verdade a ser dita. Outras vezes, é preciso respeitar o tempo de cada ideia, deixar que ela fermente até estar pronta para se tornar gesto. Como ela diz, há projetos que precisam esperar, e tudo bem – o silêncio também faz parte do processo.”

O melhor que você pode fazer é criar arte com a qual você se importa — e criar muito!
Bayles e Orland

Como apoiar artistas?

Artistas são pessoas que constantemente são vistas como corajosas, pois criam e compartilham partes de si conosco. Afinal, todo processo nasce do risco, da dúvida, da curiosidade. E sabe o que mais os alegra? Encontrar pessoas dispostas a apoiar, compartilhar, incentivar seus trabalhos.

Aqui no Catarse, é possível se aproximar dessa troca acompanhando artistas de diferentes áreas, descobrindo processos, projetos e narrativas que só existem porque alguém acreditou e decidiu apoiar.

E, entre esses tantos caminhos, está também a Karipola, que compartilhou aqui um pedaço de sua vivência conosco, e segue criando em sua campanha recorrente. Apoiar seu trabalho é uma forma de caminhar junto dela nessa travessia, e ser agraciado com suas artes e reflexões.

Clique aqui para conhecer o Clubinho de Apoiadores Karipola!

Recomendações para estimular a sua curiosidade

🎧 Escute todos os episódios do podcast Clareira, um bate-papo pessoal e criativo de Daniel Lameira com artistas e criadores brasileiros

🎭 Leia esta tirinha/news sobre como a arte está no processo, de Aline Valek e Laura Athayde

💨 Quer receber mini-reflexões ilustradas e dicas criativas semanalmente? Conheça o Tiago, do Tiras do papel

Lorena Camilo
Mestra em Estudos Literários na área de pesquisa Literaturas Modernas e Contemporâneas; e bacharel em Letras em duas ênfases, Estudos sobre Edição com formação complementar em Comunicação Social e em Estudos Literários pela UFMG. É editora, revisora e redatora, além de aficionada por arte e cultura pop.

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No momento em que o artista decide criar, ele se prepara, respira fundo, evoca sua Musa, e nesse instante ínfimo sente que tudo irá acontecer, que tudo é possível. As ideias começam a se mover, o gesto se revela, a criação toma forma. Ao finalizar, respira fundo, vem o encanto e o agraciamento. Sua arte agora existe no mundo!

Essa introdução até parece um conto mágico, não é mesmo? É essa a imagem que muitos fantasiam sobre o processo criativo. A verdade, porém, é que entre o começo e a conclusão pode até acontecer isto, mas há mais no limiar desses dois momentos: também existe medo, dúvida, bloqueio, perfeccionismo, julgamento, ansiedade, entre muitos outros impasses.

E como o Catarse é um ponto de encontro com a criatividade, com uma comunidade que lida diretamente com todos esses sentimentos, reflexões e questões, trouxemos a pauta: por que a gente sente medo de criar? Sabemos que cada um é uma ilha, mas David Bayles e Ted Orland, em Arte & Medo, conseguiram centralizar o que se passa no inconsciente coletivo de todo artista.

Topa refletir sobre isso? E com a companhia da Karina Pamplona – ou como é conhecida nas redes, Karipola –, ilustradora, quadrinista e artista independente que transforma em arte tudo o que toca.

@karipola

De onde vem o medo?

Nós, seres humanos, temos a necessidade inata de procurar entender. E isso não seria diferente com o medo. De onde vem, o que simboliza, o que significa, como solucionamos? O que acontece depois que ele passa, e o que faz com que ele retorne? Fato é que ele nasceu com a gente. Antes, nos protegia dos predadores, avisando de perigos imediatos, funcionando como um radar de sobrevivência. Hoje, no entanto, mudou de forma – e, claro, depende do nosso contexto, necessidade e personalidade.

Mas pense: se antes garantia a sobrevivência, para artistas o medo pode se revelar quando estão prestes a se expor, quando uma criação está para nascer, durante o processo e até mesmo anos após ter sido entregue ao mundo. A razão? Criar provoca dúvidas sobre si, remexe águas profundas entre o que o artista acredita que deveria ser e o que teme descobrir.

É por isso que David Bayles e Ted Orland chamam atenção para duas faces do medo: o medo de si mesmo e o medo da reação dos outros. O primeiro impede que o artista faça o seu melhor trabalho; o segundo, que faça o seu próprio trabalho. Entre essas duas faces, o artista se vê diante de uma bifurcação, tateando seus limites, arriscando, manejando, descobrindo e criando formas de lidar com seus bloqueios e questões.

Karipola compartilha que o medo, em sua prática, não é tanto sobre o desenho sair “feio”, mas sobre a possibilidade de não se fazer compreendida. Há o risco de comunicar o oposto do que gostaria, de sentir que ocupa um lugar que não é seu ou até de “falar besteira”. Para ela, a questão central é a responsabilidade de quem cria imagens: escolher quais histórias deseja contar, o que fazer refletir ou investigar – e aceitar que, ao se pôr à mostra, sempre existe a chance de errar. E no outro lado da moeda tem: “o medo de as coisas desandarem, de não saber como vai ser a recepção, de imaginar tantos cenários catastróficos. Mas percebi que criar é muito importante para mim enquanto pessoa. Eu definho um pouco se deixo de me expressar – é algo essencial para o meu existir. Então, não fazer as coisas é pior do que fazer e ficar esquisito.”

Desistir significa não recomeçar — e fazer arte é, acima de tudo, recomeçar.
Bayles e Orland
@karipola

O que paralisa o artista?

Sabe aquele mantra que todos recomendam que internalizemos? “Se tiver medo, vá com medo mesmo!” Pois então, e quando o artista encontra a fagulha de confiança para começar, inicia e aparece justamente ela, aquela voz que fica como um superego o bloqueando, criticando, impedindo de continuar? Pois é, essa voz é a do perfeccionismo. Mas Bayles e Orland já trouxeram a máxima que todo artista sente na pele: “Exigir perfeição é um convite à paralisia.”

Karipola entende muito bem isso. Relata que sente como se houvesse uma pressão de se sentir capacitada antes mesmo de se pôr em prática a criar. E aí surge a pergunta: de onde vem essa pressão? Talvez de dentro, talvez de fora – de expectativas sociais, de críticas imaginadas, ou do próprio artista tentando corresponder a padrões inalcançáveis. O fato é que, no fim, essa voz se infiltra e pesa sobre o processo.

Como ilustradora, Karipola nos deu um exemplo: “Sinto que tenho que aprender a desenhar todas as regras de perspectiva e composições e coisas importantes antes de desenhar algo. Mas as coisas acontecem no gerúndio, quando estão acontecendo. Você aprende a desenhar desenhando.” E ela não poderia estar mais certa, assim como a gente só vive, vivendo.

Perguntei como ela sobrevive a esse momento entre perfeccionismo e paralisia, e ela disse: “Quando me sinto bloqueada criativamente, tenho um mantra que repito para mim mesma: ‘comece pelo que você sabe’. Toda vez que não sei o que desenhar, volto para o que gosto de desenhar, para o que conheço, porque sinto que isso me envolve. E aí, quando a gente vê, entre um rabisco de um gato e um peixe, alguma coisa floresce. Gosto muito de fazer um paralelo do desenho com a música. Você não faz um show sem antes ensaiar – e ensaiar é se colocar na prática com intenção, ao mesmo tempo em que se mantém disponível para o mistério, para o erro, para tentar uma coisa ou outra sem pressão. Precisamos criar momentos de ensaio. Venho fazendo as pazes com não saber ainda como as coisas vão ficar, porque o trabalho artístico é justamente esse: estudar, criar, investigar a ideia, olhar para ela com curiosidade, testar possibilidades – em vez de aplicar de pronto algum juízo de valor (se é bom ou horrível).”

Se você acha que trabalho bom é sinônimo de trabalho perfeito, está fadado a ter um grande problema. Arte é humana; errar é humano; logo, fazer arte é errar.
Bayles e Orland
@karipola

Afinal, eu sou artista?

Às vezes no silêncio da noite, o artista se pergunta: “Será que eu sou artista? Afinal, o que eu faço é arte?” Não bastasse o medo e o perfeccionismo ainda há as dúvidas sobre identidade e capacidade. Bayles e Orland apontam: “A maioria dos artistas não fica sonhando com o ato de criar arte. Eles sonham com já terem criado boa arte.” A pressão de atingir uma “boa arte” antes mesmo de começar é real. Coloca o artista frente a frente com suas dúvidas mais íntimas.

Mas afinal, o que define um artista? É algo que nasce de dentro, um movimento de autoafirmação, ou depende de reconhecimento externo? Para Karipola, os olhares de pessoas próximas foram decisivos. Ela conta: “Para mim, o olhar do outro foi importante para me reconhecer, porque eu sentia que me escondia. Foram os olhares de pessoas que me conheciam de perto – que tinham carinho por mim ou que eu admirava – que, primeiro, disseram que eu era artista. É como se houvesse uma parte sua que fica nas costas, que você não consegue enxergar sozinho, e alguém vem e te mostra.”

Ao mesmo tempo, a afirmação vem de dentro. Quando o artista começa a se entender e a se afirmar, o espaço para dúvidas diminui. Karipola explica: “Quando alguém diz o contrário de uma verdade que você já construiu sobre si, aquilo simplesmente não faz mais sentido.” Ou seja: a prática constante, o gesto diário de criar, fortalece essa convicção. “Quando entendi que existir no mundo através da prática de criar – independentemente de algo ser bom ou ruim –, ficou mais fácil me entender como artista.” E que bom, porque suas ilustrações e o livro Quase Tudo São Flores nos provoca, instigam reflexão e rememoração.

Criar, portanto, torna-se também uma experiência de autoafirmação, em que o artista aprende a confiar em si mesmo, mesmo diante do medo, do perfeccionismo e das expectativas externas. É nesse território de prática, tentativa e reafirmação que a identidade artística se consolida, mostrando que ser artista não depende apenas do resultado final, mas do compromisso com o próprio gesto criativo.

Aceitação é ter seu trabalho reconhecido como genuíno, aprovação é as pessoas gostarem dele.
Bayles e Orland
@karipola

O que a arte revela?

O ato mais comum de quando olhamos algo: pensar, admirar, refletir, analisar, associar. Mas antes da arte nos dizer algo, ela já foi um ato de descoberta para o próprio artista. Duvida? Karipola compartilha conosco a sua experiência: “A gente descobre muito sobre si enquanto desenha. Se pôr na prática talvez seja o movimento mais importante. Uma coisa é imaginar o desenho na cabeça e imaginar como ele vai ficar (o que pode ajudar). Outra é fazer com que a sua mão siga esse esboço indefinido que sua cabeça criou. Algo se perde quando se concretiza, mas algo mágico também acontece – algo que você nunca conseguiria prever.”

E algo tão simples, mas que precisa ser exercitado, pode servir de motor para atravessar o medo e o perfeccionismo: a boa e velha curiosidade. O ato de perguntar a si mesmo “e se eu fizer diferente?”, “e se eu tentar isto?”, pode dar vida a uma infinidade de possibilidades. Porque, no fundo, criar também é se manter disponível: para o erro, para o acerto, para a surpresa que só aparece quando nos arriscamos. E, quem sabe, em algo que será compartilhado com o outro?

É nesse risco que a arte revela tanto sobre quem cria quanto sobre quem a recebe. Karipola nos lembra: “Às vezes é preciso atravessar temas que assustam, porque só ali existe uma verdade a ser dita. Outras vezes, é preciso respeitar o tempo de cada ideia, deixar que ela fermente até estar pronta para se tornar gesto. Como ela diz, há projetos que precisam esperar, e tudo bem – o silêncio também faz parte do processo.”

O melhor que você pode fazer é criar arte com a qual você se importa — e criar muito!
Bayles e Orland

Como apoiar artistas?

Artistas são pessoas que constantemente são vistas como corajosas, pois criam e compartilham partes de si conosco. Afinal, todo processo nasce do risco, da dúvida, da curiosidade. E sabe o que mais os alegra? Encontrar pessoas dispostas a apoiar, compartilhar, incentivar seus trabalhos.

Aqui no Catarse, é possível se aproximar dessa troca acompanhando artistas de diferentes áreas, descobrindo processos, projetos e narrativas que só existem porque alguém acreditou e decidiu apoiar.

E, entre esses tantos caminhos, está também a Karipola, que compartilhou aqui um pedaço de sua vivência conosco, e segue criando em sua campanha recorrente. Apoiar seu trabalho é uma forma de caminhar junto dela nessa travessia, e ser agraciado com suas artes e reflexões.

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