Nunca existiram tantas possibilidades para o ato criativo. Entretanto, na era da informação em excesso e dos algoritmos cada vez mais imprevisíveis, criadores têm enfrentado mais obstáculos do que nunca para conseguir alcançar suas audiências.
A criação de conteúdo online está mudando, tanto pelos hábitos de consumo da população, quanto pelas mudanças constantes e instabilidade das redes sociais. Se antes os números de seguidores eram um indicador-chave de sucesso, agora a construção de comunidades engajadas é o diferencial que pode, inclusive, se apresentar como uma forma de sustento para criadores.
A mudança na produção e consumo de conteúdo online
A transformação dos feeds e a exposição massiva a anúncios e conteúdos voltados unicamente para a venda afastaram muitos usuários das redes sociais. Como resposta, já é possível perceber um crescimento no discurso das pessoas em buscar espaços mais autênticos, onde o consumo de conteúdo ocorre de maneira mais intencional e menos passiva e arbitrária.
Mudanças de comportamento muito influenciadas pelo pós-pandemia também impactaram o tempo que as pessoas gastam online. O crescimento de tendências que valorizam o offline, como o detox digital, o apelo de criadores pela valorização do "slow content" e a tentativa de consumo mais consciente de informação refletem essa transição. Não à toa temos visto um boom nas newsletters, redes como Substack ganhando destaque e uma busca maior por conteúdos mais longos no YouTube.
As redes sociais, antes centradas no crescimento exponencial e no alcance massivo, agora veem um movimento inverso: a valorização de nichos, conexões autênticas e comunidades engajadas. Estamos começando a ver o surgimento e fortalecimento de um movimento que vai contra as tentativas das big techs de nos manterem conectados o tempo inteiro em verdadeiras vitrines digitais.

O impacto nos criadores de conteúdo
A mudança na maneira com a qual olhamos para os seguidores nas redes sociais foi influenciada por algumas das grandes plataformas como Instagram, Twitter/X e YouTube, mas ninguém a aperfeiçoou tanto quanto o TikTok e sua mina de ouro: a For You. Na lógica da gigante chinesa, em vez de dar aos usuários controle sobre o que eles veem com base apenas em quem seguem, o TikTok lhes apresenta um feed baseado no que preveem que será terá mais engajamento.
Um lado positivo dessa mudança na entrega do conteúdo de creators foi a possibilidade de ser descoberto mais facilmente para novos públicos, sem depender da divulgação orgânica que, sabemos, é a mais valiosa e mais difícil de conseguir. Entretanto, sem conseguir chegar sequer àqueles usuários que optaram por seguir um perfil, os criadores se tornam cada vez mais dependentes da mão invisível do que ficou conhecido mundialmente e arbitrariamente como "o algoritmo".
Um post no Instagram alcança, em média, apenas 16% dos seus seguidores, o que aponta uma mudança em relação às métricas da plataforma. Qual o objetivo de buscar aumentar o número de seguidores em um perfil se a plataforma escolhe para quem aquele conteúdo vai aparecer, independentemente de o usuário seguir uma conta ou não?
Por muitos anos, o conteúdo por si só era considerado a parte mais importante das redes sociais. O perigo dessa lógica é transformar aqueles que criam conteúdo de forma massiva em commodities, precarizando o trabalho de creators, esvaziando temáticas e saturando não apenas o mercado como um todo, mas a maneira com a qual as pessoas olham para o que é compartilhado online.
O Patreon, uma das maiores plataformas de financiamento coletivo do mundo, divulgou um relatório intitulado State of Create, sobre as próximas tendências e possibilidades para criadores e trouxe alguns insights interessantes. Um destaque valioso:
"Os criadores começaram a perceber que eles não são realmente donos dos relacionamentos com seus próprios fãs em muitas das principais plataformas. Eles não têm e-mails ou informações de contato. Eles não têm nenhuma maneira de continuar alcançando esses fãs se estes forem para outro lugar. As plataformas guardam tudo isso para si mesmas. Mas se você não é dono do relacionamento com os fãs, então, no final das contas, eles não são seus fãs. Eles são apenas os usuários das plataformas."
Para esse estudo foram entrevistados criadores e fãs, ou seja, pessoas engajadas na plataforma e consumidoras de criadores específicos. Eles também chamam de "core fans", ou superfãs, aqueles usuários que compõem uma minoria responsável pelo maior impacto na renda de um criador. Alguns dos principais insights da pesquisa:
- 57% do tempo dos fãs no TikTok é gasto assistindo ao trabalho de criadores que eles não seguem;
- 51% dos criadores dizem que é mais difícil construir uma comunidade de fãs hoje do que há cinco anos;
- 60% dos criadores dizem que o Instagram nem sempre mostra aos fãs seus conteúdos mais importantes;
- 78% dos criadores dizem que “o algoritmo” impacta o que eles criam;
- 56% dos criadores dizem que “o algoritmo” os impede de explorar suas paixões e interesses;
- 81% dos criadores querem um canal direto de comunicação com seus fãs.
Se o modo que as redes sociais operam não atende mais as necessidades de criadores de conteúdo e gera frustração em quem gostaria de ter mais controle daquilo que chega em seu feed, qual a alternativa?
O fim do número de seguidores e o futuro do marketing de influência
Pensando no consumo de conteúdo online, a busca por informação de valor, mais profundidade e a necessidade de conexões mais genuínas têm afastado cada vez mais as pessoas dos grandes influenciadores e celebridades, abrindo espaço para um novo momento no marketing de influência.
Cada vez mais temos dados e métricas mostrado como a relação entre criadores e sua audiência têm mudado. A pesquisa What's next", lançada pela MIS, empresa especializada em micro e nano influenciadores do BR Media Group, destaca que os microinfluenciadores têm se mostrado essenciais para marcas que buscam uma conexão autêntica, devido ao alcance segmentado e altamente engajado. A perspectiva é que, esse ano, esses criadores ganhem ainda mais espaço e relevância nas estratégias de marketing.
Tem se falado cada vez mais também do UGC (User Generated Content), que coloca os consumidores e usuários das plataformas como porta-vozes ativos, mais do que grandes influenciadores. As pessoas têm se voltado cada vez mais para espaços em que, mais do que apenas consumidoras passivas de conteúdo, elas possam fazer parte da conversa.
Uma pesquisa realizada pela Youpix, em parceria com a Nielsen, mostra que micro e médios influenciadores são mais confiáveis para os consumidores do que celebridades ou grandes criadores de conteúdo. Segundo o estudo, atualmente já é possível dizer que o número de seguidores não define mais influência, mas sim o nicho/território do influencer. Inclusive, quanto mais nichado, melhor.
À medida que a creator economy (o ecossistema econômico centrado em criadores de conteúdo digitais) cresce, mais criadores estão buscando o ato criativo como forma de sustento. Daí surge a necessidade de um espaço para fortalecer relacionamentos com seus fãs mais engajados, explorar sua criatividade de forma mais pura e desenvolver negócios sustentáveis que eles possam controlar e gerir a longo prazo, mais do que métricas rasas. E é aqui que entram as comunidades.
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O fortalecimento das comunidades
Em um ambiente digital saturado de informação, as comunidades online surgem como pontos de resistência contra o consumo raso e impulsivo. Elas representam um refúgio em meio ao mar de conteúdo efêmero, onde a conexão entre criador e público vai além de curtidas e compartilhamentos.
O conceito de "core fans" ou superfãs, aqueles que realmente contribuem para a sustentabilidade dos criadores, ganha cada vez mais força. Segundo o relatório divulgado pelo Patreon, 86% desses fãs estariam dispostos a ingressar em uma comunidade online dedicada, e 80% provavelmente pagariam para ter acesso a conteúdo exclusivo.
Um exemplo de comunidades que têm se fortalecido nos últimos anos são aquelas fruto do financiamento coletivo. Modalidades de assinatura permitem mais contato, proximidade e independência para que criadores se conectem com sua comunidade.
Nas comunidades literárias, por exemplo, leitores buscam aprofundar sua experiência de leitura, discutir livros e compartilhar sentimentos e vivências. Essa tendência também se reflete em outras áreas, desde a criação de jogos indie até coletivos de artistas e grupos de discussão especializados.
No Catarse, entre 2018 e 2025 foram arrecadados mais de 58 milhões de reais via assinaturas. Mais de 4.049 criadores receberam recursos diretamente de seus fãs, por meio de assinaturas mensais em seus projetos, usando a plataforma. Além disso, 2024 viu um crescimento de 3% para os creators em relação ao ano anterior, com destaque para clubes de leitura, clubes de arte, RPG, criadores de conteúdos de nichos, Jornalismo e podcasts.
Alguns dos benefícios de se formar uma comunidade online:
- Possibilidade de uma renda mensal mínima, estável e previsível;
- Garantia de que seu conteúdo será entregue para sua audiência sem depender de algoritmos;
- Possibilidade de explorar novos formatos de conteúdo e interação com sua audiência;
- Menos dependência de publicidades ou propaganda para criar conteúdo e se manter financeiramente estável;
- Menos necessidade de exposição online constante e produção de conteúdo rápido;
- Mais controle e gestão de quem apoia e menos dependência da entrega das plataformas.
O Novo Catarse e a Gestão de Comunidades
O Catarse, já reconhecido como uma das maiores plataformas de financiamento coletivo do país, tem se voltado cada vez mais para a criação e manutenção de um ecossistema que coloque as necessidades dos creators em primeiro lugar. E o Novo Catarse, que chega em 2025, promete ajudar ainda mais na gestão das comunidades. Segundo Thiago Maia, diretor de Produto e designer no Catarse, "estamos focados em facilitar a vida dos criadores em todos os aspectos, desde a burocracia até a logística e divulgação dos seus trabalhos".
Uma das promessas do Novo Catarse é oferecer integrações da plataforma com outras ferramentas muito usadas por creators como Discord, Spotify, Whatsapp e outros canais de disparo de conteúdo e comunicação direta com apoiadores. Alguns exemplos de integração envolvem distribuição de conteúdos digitais, gestão e interação de comunidade, emissores fiscais e logísticos, além da centralidade no criador e realizador do projeto.
O Novo Catarse se mostra como uma solução para esse novo momento, onde menos importa números vazios e métricas rasas e mais vale o impacto real sobre uma audiência fiel e engajada. A era das comunidades chegou e o futuro do conteúdo online e da economia criativa estão sendo moldados pela autenticidade e conexão. Enquanto isso, as big techs seguem tentando nos convencer de que a melhor maneira de criar e consumir conteúdo é dançar conforme a música de seus algoritmos. Mas talvez esteja na hora de mudar o ritmo.