Com o objetivo de debater as mais recentes tendências e as novidades do mercado editorial, a Câmara Brasileira do Livro promoveu a 3ª edição do Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos. Com público recorde, o evento contou com mais de 420 profissionais do livro de diversos lugares do Brasil que se reuniram para entender melhor o cenário atual e pensar em possibilidades para o mercado como um todo. A curadoria do evento continuou sob a responsabilidade da Cássia Carrenho, sócia-diretora da LabPub, escola 100% EAD voltada para o mercado editorial e, este ano, alguns tópicos ganham espaço inédito até então.
Além da discussão teórica em torno de diversos temas tratados ao longo de três dias de evento, o que move a escolha dos assuntos, segundo Cássia, são as possibilidades de aplicações práticas do que é discutido. "Tenho uma forma de pensar que é de dar voz, de dar palco, para pessoas que a gente sabe que se destacam já naquele nicho, naquela prática, mas que muitas vezes não têm visibilidade porque estão trabalhando nos bastidores", comenta a curadora.
Quase 30 mesas diferentes trouxeram temas fundamentais que estão moldando o futuro do setor editorial. Confira 3 insights sobre o encontro de editores, livreiros, distribuidores e gráficos!
1 - Financiamento coletivo ganha espaço inédito
Pela primeira vez o financiamento coletivo ganhou espaço na programação oficial do Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos com uma mesa dedicada. O financiamento coletivo foi apresentado como um modelo de negócio sustentável para uma plateia surpreendentemente entusiasmada com as possibilidades do crowdfunding.
A história do financiamento coletivo não é recente, o ímpeto de se unir no coletivo em prol de uma causa em comum traz diversos exemplos ao longo da história. Entretanto, o financiamento coletivo como conhecemos veio fortemente acompanhado da era digital e da consolidação de comunidades online. E por muito tempo o FC pareceu nichado e restrito a bolhas artísticas específicas e/ou comunidades de jogos, não se apresentando como uma possibilidade para o mercado editorial. Alguns cases como o da Editora Wish, que se tornou referência como uma editora que viu no FC um modelo de negócio, ajudaram a virar a balança para o crowdfunding no Brasil.
A mesa trouxe o financiamento coletivo como um modelo sustentável em três frentes: Comunicação e Comunidade, Editorial e Financeiro e Educação de Mercado.
"Sempre quis trazer esse tema como um mix de modelo de negócio, como incorporar o financiamento coletivo para as editoras tradicionais, principalmente porque a maioria das editoras que vão ao encontro são editoras pequenas e médias", comenta Cassia Carrenho.
Ao abordar as possibilidades do financiamento coletivo, seja como modelo de negócio, como opção de parceria com autores, como fortalecimento de comunidades entre outros, o foco da conversa era abrir uma porta e apresentar possibilidades que, por muito tempo, pareciam distantes para pequenas e médias editoras.
"Fiquei extremamente feliz que o financiamento coletivo foi um dos assuntos esse ano porque é um tema que eu gosto muito. Para muitas editoras pode ser sim uma solução para ter um negócio sustentável financeiramente e sustentável em termos de uma vida longa", completa Cassia.
2 - Criadores de conteúdo têm destaque nas discussões
Em um mundo praticamente pautado pelas redes sociais e seus algoritmos, optar por não investir em criadores de conteúdo é escolher perder oportunidades e, infelizmente, o mercado editorial demorou para confiar no poder dos influencers e, talvez, das próprias redes sociais. A fala de alguns palestrantes mostrou a urgência e as possibilidades de abraçar o mercado de influência enquanto ainda existe espaço para consolidar comunidades.
Patrick Torres é um dos grandes nomes da nova geração de booktokers. Com mais de 300 mil seguidores apenas no TikTok, o criador de conteúdo literário entendeu bem o funcionamento da plataforma e como se destacar em meio aos milhões de usuários. No evento que buscou trazer aplicações práticas para além dos debates, Patrick focou em mostrar aos editores como criar um canal de TikTok adequado e como navegar pelas possibilidades da rede social mais comentada do mundo.
Skeelo e Estante Virtual foram apresentados como cases de sucesso de empresas do mercado editorial que souberam se posicionar enquanto marcas dentro da plataforma. Afinal, em uma realidade na qual o TikTok já ultrapassa o Google como mecanismo de busca da Geração Z, estar bem posicionado é imprescindível para conquistar novos públicos.
Tatiany Leite, jornalista e criadora do “Vá ler um Livro”, apresentou uma linha do tempo não apenas da internet e das redes sociais, mas dos influenciadores que conquistaram visibilidade e estabeleceram o caminho até o marketing de influência como conhecemos hoje. Antenada ao mercado como poucos, Taty Leite refletiu bastante sobre a importância de desenhar parcerias de forma estratégica e inteligente e de profissionalizar as relações com influenciadores.
3 - O mercado editorial está atento à inovação e aos usos da inteligência artificial
Poucos assuntos pautaram tantas discussões nos últimos tempos quanto a inteligência artificial. Este ano o Encontro abordou, em duas mesas, o impacto e os usos da IA e o assunto ainda surgiu como um dos tópicos no “Panorama do livro”, momento que levantou as questões editoriais mais debatidas no segmento editorial.
José Fernando Tavares, CEO da Booknando Livros e membro da Comissão de Inovação e Tecnologia da CBL, mostrou diversas possibilidades práticas para a aplicação da Inteligência Artificial para otimizar processos editoriais. André Palme, Sócio e CMCO do Skeelo e Coordenador da Comissão de Inovação e Tecnologia da CBL, Camila Cabete, Head de Conteúdo e Sócia na Árvore e membro da Comissão de Inovação e Tecnologia da CBL, Ricardo Costa, CEO da MVB América Latina, e Fábio Uehara, Diretor editorial da Tocalivros e Agente Comercial da Tocacast, também discutiram os impactos práticos no setor editorial e o que mudou na rotina de trabalho por conta da IA nos últimos tempos.
Questões como direitos autorais, utilização de dados, a urgência por uma regulamentação da inteligência artificial e o futuro de algumas profissões ainda são questões que trazem preocupação e fizeram parte das falas dos convidados. Mesmo que ainda não haja um consenso e estejamos navegando em um terreno ainda bastante volúvel, a discussão está acontecendo, como deve ser.
Outros temas como a Reforma Tributária, a Lei Cortez e oportunidades para autores independentes também se fizeram presentes e mostraram como o mercado tem, sim, espaço para ser mais plural, atual e inovador.