No próximo domingo, dia 02 de Março, teremos um dos maiores eventos de reconhecimento artístico mundial: o meu aniversário! Brincadeira 😃
Esta data marca a cerimônia da maior premiação do cinema, o Oscar. E como você já deve saber, o filme brasileiro, “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, está concorrendo a Melhor Filme e Melhor Filme Internacional, com Fernanda Torres no páreo para Melhor Atriz! (Vai Braseel!!)
Aproveitando o embalo, é importantíssimo falarmos um pouco sobre o tema central do filme e seu impacto na memória da História do Brasil. No post de hoje, você vai ler sobre:
➡️ A história por trás de “Ainda Estou Aqui”
➡️ Eunice Paiva e a luta pelos Direitos Humanos
➡️ Por que ainda precisamos falar sobre ditadura
➡️ A arte como resistência: filmes e quadrinhos que abordam o tema
➡️ Como apoiar projetos que preservam nossa história

A História por trás de “Ainda Estou Aqui”
“Ainda Estou Aqui” é um filme baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva (2015), contando a trajetória de sua família no início dos anos 1970, durante a ditadura empresarial-militar brasileira. O filme mostra, em sua maior parte, a figura de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) tendo que lidar com as consequências do “desaparecimento” do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, que foi torturado e executado por militares.
Eunice se tornou um grande nome do ativismo pelos direitos humanos, combatendo movimentos de extrema direita e anti-autoritarismo, sendo também reconhecida como aliada em causas indígenas devastadas durante a ditadura.
Só o fato desse filme ter furado a bolha e ter ganho tal notoriedade reforça a máxima de que não podemos deixar de falar sobre esse período tão tenebroso na história do nosso país que, no próximo dia 01 de Abril, completa 61 anos. Seis décadas para historiadores é um período extremamente curto; pouco se desenvolve nesse período. Pequenas mudanças ocorrem para reparar o estrago, mas não superamos o ocorrido de fato.
Por que ainda precisamos falar sobre ditadura
Até os dias atuais, os números sobre os “desaparecidos políticos”, nome dado a militantes opositores ao regime que tiveram paradeiro desconhecido, são limitados. Conseguimos ter apenas uma estimativa dos números reais. O livro “Direito à Memória e à verdade” aponta que mais de 50 mil de pessoas presas foram detidas só nos primeiros meses do regime, cerca de 500 políticos da oposição caçados, presos e/ou mortos, e só cerca de 400 famílias conseguiram certificado de óbito durante todos esses anos. Inúmeras famílias ainda estão sem qualquer registro ou conhecimento sobre pessoas desaparecidas.
Eu optei por usar esse livro como base, pois uma das estratégias militares era limitar e censurar todo tipo de arte e cultura que pudesse servir como meio de informação e comunicação para as pessoas. Foram 21 anos de livros sendo regulados; filmes, programas de televisão e rádio, músicas, jornais e até o sistema educacional sofreram censuras pesadas, como aponta a historiadora Raquel Vital:
“O período da ditadura militar no Brasil foi marcado pelo autoritarismo e pela extrema violação dos direitos humanos. Anos sombrios, onde existia uma repressão legal com finalidade de inibir manifestações opositoras ao Governo. As censuras se tornavam cada vez mais frequentes para abafar as violações, a crise econômica e a repressão”

A arte como resistência: filmes e quadrinhos que abordam o tema
A resistência em forma de arte, e as vozes criativas que tentaram ser caladas durante esse período, ganham força nos dias atuais em filmes como: “Marighella, 1964: O Brasil entre armas e Livros”, “Cidade de Deus” e “Ainda estou aqui”. Quadrinhos com “Marighella #Livre”, de Ricardo Faria e Rogério Souza , “Ato 5”, de André Diniz e José Aguiar, e até “Che Guevara: Uma vida Revolucionária”, do jornalista americano Jon Lee Anderson, o qual cita a visita do médico guerrilheiro ao Brasil, recebido pelo então presidente Jânio Quadros e condecorado com a medalha Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul pelo projeto socialista de anti-autoritarismo na América Latina em 1961.
Precisamos manter a corrente de propagar a informação por meio da cultura. Por isso vou indicar dois materiais que valem muito a pena conhecer.
Como apoiar projetos que preservam nossa história

1. O Recurso do Método de Alejo Carpentier
O Livro de ficção histórica do cubando Alejo Carpentier, “O Recurso do Método” (1974), vencedor do prémio Miguel de Cervantes, até então era inédito no Brasil. Fato esse que está sendo corrigido pela editora Pinard em sua nova campanha aqui no Catarse.
A América Latina é o grande tema do romance. Alejo Carpentier faz um painel político-cultural do continente latino-americano, trazendo para o centro da narrativa um ditador chamado apenas de Primeiro-Magistrado. A obra é considerada um monumento literário do nosso continente ao mesclar história e ficção, e ao reconstruir a trajetória da América Latina a partir da saga de um ditador deposto depois de reprimir o próprio povo por décadas.
Até o momento desta postagem, a campanha ultrapassa os 60% da meta atingida. Você pode apoiar este projeto até o dia 12/03.

2. Cálice
Para os amantes de podcast, fica como indicação o projeto “Cálice” (um trocadilho maravilhoso, diga-se de passagem, fazendo referência à famosa música de Chico Buarque e Milton Nascimento). Produzido pela produtora Atabaque, o podcast visa trazer histórias não contadas sobre sistemas políticos e levantar debates sociais que certamente seriam silenciados em tempos sombrios de regimes ditatoriais.
Você pode apoiar o projeto aqui no Catarse. Os programas estão disponíveis em algumas das plataformas de podcasts mais conhecidas: Spotify, Deezer, Amazon, Podchaser, entre outros. Escolha a sua favorita e solte o play!
Apoiar esses projetos e consumir conteúdos que nos ensinam sobre o passado é um ato de resistência fundamental para entendermos o presente e moldarmos o nosso futuro.