Em um ano tivemos quase 150 projetos bem-sucedidos no Catarse. Essa longa caminhada, porém, teve um primeiro passo. No último final de semana, completou um ano que o Rabiscaria foi o primeiro projeto financiado colaborativamente no Brasil.
Para vencer a desconfiança inicial sobre o incipiente financiamento colaborativo no país, o desinger Carlos Filho e o artista plástico Mateus Dutra “explicaram incansavelmente” o novo modelo aos apoiadores.
“Convencíamos as pessoas de que o que elas faziam, apoiando o Rabiscaria, era ajudar uma ideia a sair do papel”, conta Carlos.
Depois de alguns percalços no caminho, o site entrou no ar em setembro do ano passado, e loja online, em dezembro. O Rabiscaria vende produtos personalizados com desenhos enviados pelos próprios usuários. Em pouco tempo, eles já conseguiram um fluxo razoável de ilustradores enviando suas artes, de usuários que participam votando e comentando, e até de clientes comprando na loja.
Para saber mais sobre a experiência dos pioneiros realizadores do crowdfunding no Brasil e como é a vida pós-financiamento, leia a entrevista abaixo com Carlos Filho.
Quando vocês inscreveram o projeto no Catarse, imaginavam que seriam o primeiro projeto a ser financiado colaborativamente no Brasil?
Não mesmo. Vínhamos de algumas tentativas frustradas de financiamento da ideia, incluindo financiamento bancário e inscrição no Kickstarter. Quando conversamos com o Diego Reeberg, logicamente ficamos empolgados com a possibilidade, mas, como era uma modalidade de financiamento até então desconhecida no país, não imaginávamos que a adesão e o apoio seriam tão grandes, embora tenhamos trabalhado incansavelmente para o sucesso da campanha de captação.
Em um ano, tivemos mais de 15 mil apoiadores, 150 projetos financiados e quase R$ 1,4 milhão de reais arrecadado. Como você vê a evolução do crowdfunding no Brasil?
O crowdfunding está amadurecendo cada vez mais rápido. Penso que um dos maiores problemas – e que nós enfrentamos com a campanha do Rabiscaria - era a desconfiança das pessoas em apoiar financeiramente um projeto legal, mas coordenado por uma pessoa que elas não conheciam. Mas a possibilidade de acompanhar a execução do projeto, seja por meio do feedback, das redes sociais ou mesmo das recompensas mostrou para os apoiadores que o crowdfunding é uma modalidade de financiamento séria.
Há um ano, você deu uma entrevista ao blog do Catarse e falou exatamente sobre essa desconfiança inicial das pessoas com o financiamento colaborativo. Como você venceu essa desconfiança inicial sobre o crowdfunding?
Tentamos deixar tudo muito claro. Explicávamos incansavelmente o modelo tudo ou nada, o que era o crowdfunding, mostrávamos alguns projetos do Kickstarter e convencíamos as pessoas de que o que elas faziam, apoiando o Rabiscaria, era ajudar uma ideia a sair do papel. Quando o apoiador consegue aceitar na mão a responsabilidade de ajudar um projeto a nascer, você não ganha apenas um apoiador, mas sim um fã. E foi nessa linha que tentamos levar o Rabiscaria.
Como foi a relação com os 140 apoiadores?
Finalizada a captação, passamos a nos comunicar com os apoiadores por email. Enviamos as recompensas, com um pouco de atraso, pois ainda estávamos apertando os parafusos com a produção e os fornecedores. Mas a grande maioria recebeu tudo de primeira. Alguns ficaram sem receber, por falhas de endereço e de entrega, mas conseguimos organizar tudo a tempo. Estamos preparando a segunda versão do nosso site, e uma das ideias que esperamos implementar é uma área exclusiva dedicada aos apoiadores – e também a muitas pessoas que nos ajudaram após o crowdfunding – com um canal de comunicação mais direto, descontos e sorteios.
Ao olhar para trás nesse ano que passou desde que o projeto foi financiado no Catarse, você faria algo diferente?
Sempre dá pra melhorar, mas só conseguimos ter noção disso quando o projeto está nos trilhos e andando. Logo após o financiamento, enfrentamos um problema no desenvovimento do site que atrasou bastante o andamento de tudo. Até que eu li uma frase retuitada por alguém: “é melhor pronto do que perfeito”. Decidi que a partir dali eu ia focar em fazer o projeto andar e, no trajeto, acertar os parafusos. Acho que o que fizemos durante esse ano foi necessário – mesmo com os acertos e os erros – para entendermos o processo todo que o Rabiscaria está inserido. É um aprendizado novo a cada dia, e um novo parafuso aparece do nada. E a gente vai apertando.