Muito além do túmulo: defuntos como personagens literários

Desde os primórdios da literatura, a morte tem sido um dos temas mais fascinantes e universais a ser retratado. Recentemente, esse assunto tem ganhado destaque nas redes sociais devido a um vídeo que está circulando, no qual um certo personagem narra suas memórias.

Não sabe do que estou falando? Então senta aí e eu te conto tudo, com todos os detalhes!

Para além da sepultura: perspectivas póstumas na escrita

Courtney Henning Novak é escritora, podcaster, ama literatura e, como muitas pessoas, usa suas redes sociais para divulgar seu trabalho e o que anda lendo. Recentemente, no dia 18 de maio, ela publicou um vídeo em seu TikTok contando que está com a meta de ler um livro de um autor de cada país do mundo, e em ordem alfabética.

Pois bem, depois de 23 livros lidos e vídeos narrando sua experiência, ela publicou um vídeo sobre As memórias póstumas de Brás Cubas, do autor brasileiro Machado de Assis:

Não sei se os vídeos sobre cada livro lido repercutiram tanto quanto esse, mas como nós, brasileiros, nos empolgamos muito quando somos mencionados, especialmente quando reconhecem nossa arte, houve uma série de comentários, sugestões e pessoas comentando no vídeo de Courtney. No X – finado Twitter – um dos assuntos que está sendo comentado é sobre a genialidade de Machado de Assis em escrever uma personagem que é um defunto.

E a literatura sempre sai ganhando quando esse tipo de discussão fura a bolha, pois é uma ótima oportunidade de conversarmos sobre. Por exemplo, com tom irônico e satírico, Brás Cubas, já morto, decide escrever suas memórias, e por meio delas nos é revelado as hipocrisias e os vícios do seu tempo, oferecendo uma crítica mordaz à sociedade brasileira do século XIX.

Leia também: A representação do inevitável: morte e luto na literatura

Contudo, Machado não é o único escritor que usou como artifício um morto para apresentar uma perspectiva única sobre a condição humana. Edgar Lee Masters, um dos principais poetas do modernismo estadunidense, também fez o mesmo.

Inicialmente, Masters escreveu poesias, biografias e peças, publicações sob pseudônimo. Porém, anos depois, o amigo e editor William Marion Reedy o aconselhou a deixar de lado os temas clássicos para basear seus poemas na vida à sua volta e criar os poemas concisos que o tornariam célebre. Foi assim que, em 1915, foi publicado Spoon River Anthology, cujo título brasileiro é Antologia de Spoon River.

Infelizmente, Edgar Lee Masters e Antologia de Spoon River, não é tão popular aqui no Brasil, mas como o assunto de defunto personagem está em voga, essa é uma excelente oportunidade de leitores conhecerem não só um morto, mas 244 que narram brevemente suas vidas, tragédias particulares, sonhos incompletos e memórias. 

Pensando em difundir esse livro e autor, a Editora Ex Machina está com a campanha de uma edição de matar aqui, no Catarse. E caso você queira ler um retrato não muito bonito, mas deveras humano, que revela intrigas, hipocrisias, acidentes trágicos, assassinatos, destruição de reputações e muito mais, precisa ter esse livro. E se tudo isso ainda não te convenceu, apresento mais razões para você apoiar a campanha:

  • Capa com fotografia tirada no cemitério Oak Hill, em Lewistown, Illinois, o cemitério onde estão sepultados não apenas o próprio Masters, mas também a maior parte das personagens nas quais ele se inspirou para criar a população da sua Spoon River.
  • Ensaio inédito de Giuliana Ragusa, especialista em poesia grega antiga, sobre os epigramas tumulares da Grécia antiga e a relação da Antologia Grega com a obra de Masters.
  • Ensaio de John E. Hallwass, um dos maiores especialistas no livro e no autor, sobre memória, autocompreensão e comunidade na Antologia de Spoon River.
  • Ensaio de Alcebiades Diniz Miguel sobre a poesia tumular de Edgar Lee Masters.

Diante de todas essas razões fica até difícil não conferir aqui a página da campanha e apoiá-la, não é mesmo? Então não perca tempo, que ela ficará no ar só até 02/06!

Lorena Camilo
Mestra em Estudos Literários, bacharel em Letras com formação complementar em Comunicação Social, editora, redatora e aficionada por arte e cultura pop.

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Muito além do túmulo: defuntos como personagens literários

Desde os primórdios da literatura, a morte tem sido um dos temas mais fascinantes e universais a ser retratado. Recentemente, esse assunto tem ganhado destaque nas redes sociais devido a um vídeo que está circulando, no qual um certo personagem narra suas memórias.

Não sabe do que estou falando? Então senta aí e eu te conto tudo, com todos os detalhes!

Para além da sepultura: perspectivas póstumas na escrita

Courtney Henning Novak é escritora, podcaster, ama literatura e, como muitas pessoas, usa suas redes sociais para divulgar seu trabalho e o que anda lendo. Recentemente, no dia 18 de maio, ela publicou um vídeo em seu TikTok contando que está com a meta de ler um livro de um autor de cada país do mundo, e em ordem alfabética.

Pois bem, depois de 23 livros lidos e vídeos narrando sua experiência, ela publicou um vídeo sobre As memórias póstumas de Brás Cubas, do autor brasileiro Machado de Assis:

Não sei se os vídeos sobre cada livro lido repercutiram tanto quanto esse, mas como nós, brasileiros, nos empolgamos muito quando somos mencionados, especialmente quando reconhecem nossa arte, houve uma série de comentários, sugestões e pessoas comentando no vídeo de Courtney. No X – finado Twitter – um dos assuntos que está sendo comentado é sobre a genialidade de Machado de Assis em escrever uma personagem que é um defunto.

E a literatura sempre sai ganhando quando esse tipo de discussão fura a bolha, pois é uma ótima oportunidade de conversarmos sobre. Por exemplo, com tom irônico e satírico, Brás Cubas, já morto, decide escrever suas memórias, e por meio delas nos é revelado as hipocrisias e os vícios do seu tempo, oferecendo uma crítica mordaz à sociedade brasileira do século XIX.

Leia também: A representação do inevitável: morte e luto na literatura

Contudo, Machado não é o único escritor que usou como artifício um morto para apresentar uma perspectiva única sobre a condição humana. Edgar Lee Masters, um dos principais poetas do modernismo estadunidense, também fez o mesmo.

Inicialmente, Masters escreveu poesias, biografias e peças, publicações sob pseudônimo. Porém, anos depois, o amigo e editor William Marion Reedy o aconselhou a deixar de lado os temas clássicos para basear seus poemas na vida à sua volta e criar os poemas concisos que o tornariam célebre. Foi assim que, em 1915, foi publicado Spoon River Anthology, cujo título brasileiro é Antologia de Spoon River.

Infelizmente, Edgar Lee Masters e Antologia de Spoon River, não é tão popular aqui no Brasil, mas como o assunto de defunto personagem está em voga, essa é uma excelente oportunidade de leitores conhecerem não só um morto, mas 244 que narram brevemente suas vidas, tragédias particulares, sonhos incompletos e memórias. 

Pensando em difundir esse livro e autor, a Editora Ex Machina está com a campanha de uma edição de matar aqui, no Catarse. E caso você queira ler um retrato não muito bonito, mas deveras humano, que revela intrigas, hipocrisias, acidentes trágicos, assassinatos, destruição de reputações e muito mais, precisa ter esse livro. E se tudo isso ainda não te convenceu, apresento mais razões para você apoiar a campanha:

  • Capa com fotografia tirada no cemitério Oak Hill, em Lewistown, Illinois, o cemitério onde estão sepultados não apenas o próprio Masters, mas também a maior parte das personagens nas quais ele se inspirou para criar a população da sua Spoon River.
  • Ensaio inédito de Giuliana Ragusa, especialista em poesia grega antiga, sobre os epigramas tumulares da Grécia antiga e a relação da Antologia Grega com a obra de Masters.
  • Ensaio de John E. Hallwass, um dos maiores especialistas no livro e no autor, sobre memória, autocompreensão e comunidade na Antologia de Spoon River.
  • Ensaio de Alcebiades Diniz Miguel sobre a poesia tumular de Edgar Lee Masters.

Diante de todas essas razões fica até difícil não conferir aqui a página da campanha e apoiá-la, não é mesmo? Então não perca tempo, que ela ficará no ar só até 02/06!

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