A maratona de um criador de conteúdo

São 4 lives por semana, cada uma com no mínimo 3h de duração. "Maratonas literárias" com desafios de leitura (já foram 40 desde 2013, com 14 dias de duração cada um), centenas de criadores envolvidos, 12h ininterruptas em mais de uma transmissão ao vivo por dia e, em alguns casos, mais de 10 mil leitores simultâneos online. Também acontecem os "sprints", onde o inscrito lê com o criador, cada um de sua casa e com pequenos intervalos, as conversas via chat com outros inscritos, além das “lcs”, leituras conjuntas que destrincham livros pré-determinados, com textos e materiais de apoio, como pdfs, podcasts, apostilas e conversas via Telegram ou Whatsapp. Além de tudo isso, acontecem as leituras diárias, os vídeos semanais, a produção de roteiros, as edições e as postagens nas redes sociais. Se parece muita coisa, olhe de novo e descubra que, de fato, é coisa à beça.

“Tem que ler todo dia, roteirizar, editar, postar, criar conteúdo, fazer mediação dos ao vivos, organizar projetos especiais (como as maratonas), é igual a um trabalho de escritório. Hoje consigo delegar parte disso, mas ainda assim, em alguns dias queria ficar quieto, mas não posso”, conta Victor Almeida, o GF, ou Geek Freak. “E agora tenho mais liberdade, consigo pensar naquilo que gosto de fazer, tendo mais tempo para ser criativo”. Além dessa possível autonomia, um antônimo apareceu com frequência nas falas de criadores de conteúdo como GF: segurança.

“É ter segurança de que teremos como continuar a produzir conteúdo de uma forma saudável, sem precisar se desesperar”, comenta Maria, do Leituras Decoloniais, um projeto coletivo negro que nasceu com o intuito de viabilizar produções de conteúdo independente. A ideia, que começou com Camilla Dias do @camillaeseuslivros, foi aderida por Isa e Pétala Souza, do @afrofuturas e Maria Ferreira, do @cladaspretas, que perceberam a importância de uma curadoria composta por quatro mulheres negras que já produziam conteúdo na internet.

Tatiany Leite
Tatiany Leite é jornalista formada pela FMU. Já trabalhou na MTV e também como coordenadora de produção do Youtube Space em São Paulo. Atualmente, é youtuber do canal Vá Ler um Livro em parceria com Augusto Assis.

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A maratona de um criador de conteúdo

São 4 lives por semana, cada uma com no mínimo 3h de duração. "Maratonas literárias" com desafios de leitura (já foram 40 desde 2013, com 14 dias de duração cada um), centenas de criadores envolvidos, 12h ininterruptas em mais de uma transmissão ao vivo por dia e, em alguns casos, mais de 10 mil leitores simultâneos online. Também acontecem os "sprints", onde o inscrito lê com o criador, cada um de sua casa e com pequenos intervalos, as conversas via chat com outros inscritos, além das “lcs”, leituras conjuntas que destrincham livros pré-determinados, com textos e materiais de apoio, como pdfs, podcasts, apostilas e conversas via Telegram ou Whatsapp. Além de tudo isso, acontecem as leituras diárias, os vídeos semanais, a produção de roteiros, as edições e as postagens nas redes sociais. Se parece muita coisa, olhe de novo e descubra que, de fato, é coisa à beça.

“Tem que ler todo dia, roteirizar, editar, postar, criar conteúdo, fazer mediação dos ao vivos, organizar projetos especiais (como as maratonas), é igual a um trabalho de escritório. Hoje consigo delegar parte disso, mas ainda assim, em alguns dias queria ficar quieto, mas não posso”, conta Victor Almeida, o GF, ou Geek Freak. “E agora tenho mais liberdade, consigo pensar naquilo que gosto de fazer, tendo mais tempo para ser criativo”. Além dessa possível autonomia, um antônimo apareceu com frequência nas falas de criadores de conteúdo como GF: segurança.

“É ter segurança de que teremos como continuar a produzir conteúdo de uma forma saudável, sem precisar se desesperar”, comenta Maria, do Leituras Decoloniais, um projeto coletivo negro que nasceu com o intuito de viabilizar produções de conteúdo independente. A ideia, que começou com Camilla Dias do @camillaeseuslivros, foi aderida por Isa e Pétala Souza, do @afrofuturas e Maria Ferreira, do @cladaspretas, que perceberam a importância de uma curadoria composta por quatro mulheres negras que já produziam conteúdo na internet.

“Acreditamos que ‘EU’ sou porque ‘NÓS’ somos e a meta é convidar a maior gama de pessoas a agir, a ler e ouvir as vozes de quem historicamente foi silenciado. Por fim, colocamos essa opção do financiamento coletivo porque investimos muito nesse trabalho: Na pesquisa, na criação, na leitura. Não estamos pedindo dinheiro para enriquecer, só queremos um retorno justo”.

Mell Ferraz, por sua vez, que comanda o projeto Literature-se, já tem o financiamento coletivo há mais de um ano e está no Catarse desde fevereiro de 2021, com um projeto de leitura conjunta e recompensas mensais. “Encaro como um trabalho porque obviamente é um trabalho. E é um acordo muito bem fixado, é algo muito sério, é o que me sustenta financeiramente”, diz, “e é uma rotina que destoa muito do CLT, por exemplo, porque não tem um tempo para um descanso, já que absolutamente todo o momento é utilizado. Existe o momento do estudo, de gravação, de edição, de postagem, de compreensão do algoritmo, de leitura, de falta de férias, de responder e-mail, de conversar com as pessoas, de estar online a maior parte do tempo. E como é um trabalho que também oferece uma experiência de entretenimento e diversão, normalmente os horários mais consumidos pelo público são os que a gente usaria para descansar caso estivesse em um trabalho mais formal”, explica Mell.

Diferente da criadora do Literature-se, a publicitária Tamirez Santos usa o projeto como renda extra para possibilitar novas criações. À frente do Resenhando Sonhos desde 2014, ela conta que tinha muito medo de que ninguém a apoiasse, “um medo de ‘falhar’”. Por isso, muito além do financeiro, é necessário olhar por um viés emocional: “a campanha recorrente cria um senso de comunidade. E muita gente continua me apoiando desde o início. E ainda acredito que existam três tipos de pessoas nesses casos: Os que querem apoiar apenas financeiramente; os que estão lá pela recompensa e que, por conta disso, são super participativos e um terceiro, dos que flutuam entre esses dois tipos de apoiadores, mas que gostam de criar vínculos emocionais, mais pessoais. E é muito legal perceber as nuances de cada um”.

“Eu chamo meus apoiadores de madrinhos (uma mistura de padrinhos com madrinhas) e brinco com eles que graças a esse financiamento eles me disponibilizaram ‘um teto todo meu’”, diz Mell Ferraz em referência ao livro de Virginia Woolf (por acaso sua escritora preferida), onde a autora faz uma analogia da importância de um espaço para a produção literária feita por mulheres, tanto em termos de salário quanto de apoio emocional. "Se hoje eu consigo viabilizar a criação de conteúdo, o compartilhamento e incentivo à leitura no nosso país, é por conta dessas pessoas que acreditam no meu trabalho, na plataforma, na minha palavra e no meu projeto, que eu tão carinhosamente penso e crio”, conta Mell.

Somando apenas as campanhas de Assinaturas dos quatro criadores entrevistados para este texto, apenas em novembro de 2021, são quase mil apoios recorrentes e 23 mil reais mensais.

“É uma proximidade com quem te assiste que eu não vejo tão forte em nenhum outro meio, eu converso com meu público o dia inteiro, faço em conjunto com eles. Acho até que não conseguiria fazer isso se estivesse sozinho”, conta GF,

que além de criador de conteúdo é também designer gráfico. Em seu perfil no Twitter, por exemplo, sua última interação pedia aos inscritos fotos de suas estantes, que seriam julgadas em vídeos com várias brincadeiras. Foram mais de 300 fotos e, uma das escolhidas, tinha o comentário: "QUE HONRA SER ESCULACHADA PELO GF!!! Kkkkkkkk". “São pessoas que gostam muito do seu conteúdo. Que avaliam muito onde vão colocar seu dinheiro e entendem que esse é meu trabalho. Às vezes nem é uma recompensa que eles querem, mas mostrar que você tem uma base”. E eles mostram mesmo.

Tatiany Leite
 conversou com
Geek Freak
Leituras Decoloniais
Mell Ferraz
Tamirez Santos

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Mell Ferraz

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