“Meu projeto se trata justamente de poder trazer não só representatividade, mas também protagonismo já que, assim como eu, existem outras pessoas indígenas que têm um enorme potencial e que não recebem a devida atenção do mercado de trabalho”, diz Aredze Xukurú, estudante de biblioteconomia que faz parte da primeira associação de indígenas em contexto urbano do Brasil, a Assicuka.
Já com dois financiamentos coletivos, ambos para a criação de um wargame (tipo de jogo de estratégia que simula batalhas ou conflitos militares) com miniaturas feitas artesanalmente, ele diz que foi apenas por meio do Catarse que pôde mostrar e ensinar sua própria cultura, não apenas a dele, mas também de diversos outros artistas. A ideia era trazer miniaturas com temáticas nacionais que evitassem a inspiração em figuras eurocentradas, e trouxesse personagens indígenas, folclóricos e baseados em narrativas dos povos originários brasileiros. Com 239 apoios e uma campanha “Tudo-ou-nada”, - ou seja, se não alcançasse a meta de R$ 18 mil, o projeto não iria para a frente, - “Kiya Miniaturas” funcionou de maneira totalmente independente, sem apoio de grandes empresas e alcançou quase o dobro do solicitado, angariando mais de R$ 27 mil.
Já Ian Fraser, com sua obra “Araruama” mais do que dobrou a meta prevista: foram 642 apoios e quase R$ 37 mil, apenas para o primeiro livro. O segundo fez ainda mais sucesso e levantou mais de R$ 63 mil com a participação de 982 apoiadores. Formado em cinema, Fraser conta que começou escrevendo roteiros para filmes que não existiam e que passou dois anos inteiros estudando as plataformas de financiamento coletivo, “eu até poderia ter pedido um valor maior, mas entendi que não queria apenas financiar um livro, queria lançar meu produto e fazê-lo chegar em pessoas que eu não conseguiria sem um projeto no Catarse".
Anderson Awvas, ilustrador e designer, em 2013 deu início no Catarse ao projeto “Folclore BR”, além de ser um dos idealizadores da animação “Eu sou Caipora: a menina e o poder das matas”, - um curta-metragem em parceria com o estúdio de animação Vivárte, que traz uma protagonista negra adentrando as lendas brasileiras. Awvas criou um projeto que teve quase mil apoiadores e mais de 58 mil reais arrecadados (além de 80 mil compartilhamentos nas redes sociais):
“quando lançamos o projeto, parecia apenas uma ousadia absurda, porque não tinha base. Muitos medos faziam a gente dar uns passos para trás no orçamento”, conta o artista.
O artista Aredze Xukurú, por sua vez, chama a atenção para a importância de projetos coletivos como esses:
“Quantos indígenas vocês conhecem que estão tentando falar sobre isso? Qualquer pessoa pode colocar representatividade indígena, mas estamos falando de protagonismo, do nosso universo e isso está chegando graças a esses projetos”,
diz, “estamos trazendo todo o conhecimento que temos, para que essas histórias fiquem mais diversas. No caso dos jogos, trazemos exemplos para que possamos jogar com coisas culturais nossas, como os legados dos afogados, vampiros, corpos secos inspirados em nosso folclore. E isso para que todos os públicos possam conhecer outras culturas, além das que sempre aparecem por aí”, diz Aredze.
Andriolli, que começou em 2008 pesquisando o folclore na universidade e a partir de 2015 avançou na divulgação digital do tema com seu projeto “Colecionador de Sacis”, conta que seu processo tem a ver também com redescobrimento pessoal. “Eu via isso na minha própria família: Minha avó quebrava prato na janela pra espantar tempestade, assoviava pra chamar o vento, contava história de saci, colocava minha família dentro dos contos fantásticos. Isso é mais do que um comportamento pessoal e individual, faz parte de uma pulsão coletiva que ela passou para mim e que eu também posso passar para outras pessoas, desde que elas não parem ali e peguem toda essa informação para ir além”.
O criador do Folclore BR ainda completa: “é muito mais que receber um produto em casa ou só consumir as informações. Teve até um caso de cópia (no estilo ctrl c + ctrl v) do nosso projeto e eu amei, porque 'é sobre isso', como dizem por aí. É mostrar que todo mundo pode falar sobre o que o cerca, se identificar e causar essa identificação. E, depois, ainda trazer novos projetos para o mundo”.