Em tempos de individualismo e indiferença, raros são aqueles que respondem com ação ao chamado da empatia. Padre Júlio Lancellotti é uma dessas raridades, um exemplo vivo do que significa ser verdadeiramente humano. Sua trajetória inspirou o roteirista Rogério Faria, que documenta, de forma original, os fragmentos da vida desse incansável acolhedor. Quer refletir sobre o que é cuidar, resistir e transformar? Este post é para você!
A jornada humanitária de Pe. Júlio Lancellotti
Júlio Renato Lancellotti nasceu em 1948 e, embora não saiba apontar exatamente quando, em algum momento de sua vida decidiu se dedicar ao outro. Para quem observa de fora, pode parecer que essa jornada começou quando ele optou por cursar Pedagogia ou ao iniciar sua formação como seminarista. No entanto, o próprio Pe. Júlio acredita que sua trajetória é fruto de um processo contínuo de convivência e resistência, sem início nem fim.
O que é inegável é que, há décadas, suas ações têm ganhado destaque e inspirado pessoas em todo o Brasil. Conhecido como o “Padre Rebelde”, ele se tornou uma figura emblemática por acolher, ajudar e lutar diariamente pelas pessoas em situação de rua em São Paulo.
Durante alguns meses em 2022, a convite do padre, o roteirista Rogério Faria acompanhou as rodas de conversa de inspiração freiriana que ele organiza diariamente. Dessa convivência, os relatos colhidos deram origem ao quadrinho Pobrefobia: vivências das ruas com padre Júlio Lancellotti, que foi indicado ao 36º Troféu HQMix, como Melhor Publicação Mix de 2023.
E como a humanidade do padre é inspiradora, a partir disso, também nasceu a ideia de uma biografia em quadrinhos dessa figura especial, o que se concretizou a partir de bastante pesquisa em entrevistas e jornais, livros, vídeos, podcasts. E você tê-la ao apoiá-la aqui, no Catarse. Confira como!
#Acolhe: uma biografia em quadrinhos
Com quatro histórias de vinte páginas cada uma, o novo lançamento da editora Draco, #Acolhe, aborda a vida de uma das mais importantes personalidades do Brasil contemporâneo, cuja compaixão, resiliência, coragem e fé, salva pessoas nas ruas de São Paulo todos os dias e inspira a gente de todo o país: padre Júlio Lancellotti.
#Acolhe apresenta, por meio da biografia de padre Júlio, uma visão de mundo mais solidário e voltado às pessoas. O livro também desmistifica a imagem do padre como uma figura sobre-humana e santificada, mostrando que ele, como qualquer um de nós, luta pelo que acredita. Suas ações de acolhimento e resistência são um lembrete de que essa responsabilidade não é apenas dele, mas, sim, algo que pode e deve ser feito por todos, desde o micro até o macro, seja por meio de políticas públicas, ações coletivas ou iniciativas individuais. A campanha agora está em sua reta final e conta com o seu apoio.
A narrativa emocionante de #Acolhe tem roteiros de Rogério Faria, artes de Laudo, Lila Cruz, Danilo Dias e Pedro Balduino, e a capa do artistas plástico Filzer. E agora você confere na integra uma breve entrevista com o ser humano que inspirou todas essas pessoas!
Conhecendo mais a humanidade de Pe. Júlio Lancellotti
Lorena: Qual foi o ponto de partida que o levou a se dedicar intensamente aos mais necessitados em São Paulo?
Pe. Júlio: Tudo é um processo, não tem um início, dizer algo como: “Iniciou aqui, e aqui é o ponto inaugural.”. Acredito que a vida é construída com acertos e erros, avanços e recuos; então, é uma construção contínua de busca de respostas num sistema que abafa as respostas e as impossibilita. É um trabalho sempre de convivência e resistência.
Lorena: Quando o Rogério Faria começou a participar das rodas de conversa e a coletar relatos que deram origem ao quadrinho Pobrefobia, qual foi a sua primeira impressão sobre a importância de compartilhar essas vivências e como isso poderia impactar a percepção das pessoas sobre a vida nas ruas?
Pe. Júlio: É difícil medir o impacto. Vivemos em uma sociedade fortemente marcada pela indiferença, pelo individualismo; então, é difícil dizer que o impacto será esse ou aquele. O que a gente espera é que impacte, de alguma forma, e que algumas pessoas que passem a ter uma visão diferente de toda essa experiência.
Lorena: Agora, com a iminente publicação de mais um livro, o #Acolhe, como o senhor espera que ele informe e sensibilize ainda mais pessoas sobre o seu trabalho?
Pe. Júlio: A iniciativa do Rogério é importante, na medida em que documenta e que muitas pessoas podem ter acesso. Quantas? Eu, ele, a gente não sabe, mas sabemos que, quando publicadas, terão ressonância, e a gente espera que boa.
Lorena: Como sua vivência com as comunidades influencia a visão de sociedade que busca inspirar em seu trabalho, e que será apresentada na biografia?
Pe. Júlio: Então, é o tipo da coisa que a gente não consegue medir, porque há hostilidade, há rejeição, há aceitação, há de tudo. Nós não podemos nem ser ilusórios, nem pessimistas, nem excessivamente otimistas. A gente tem que ser realista.
Lorena: Em meio a inúmeros desafios, o que mais o fortalece para continuar seu trabalho todos os dias além da fé?
Pe. Júlio: A gente justamente está nessa luta e nessa vivência de lutar contra a pobrefobia porque ela está presente. Se ela não estivesse presente, não teríamos essas publicações. A gente continua, porque muitas vezes é um caminho sem volta. Então a gente tem que ir em frente, tem que resistir, mesmo sabendo que a gente só vá fracassar.
Lorena: Como assim, fracassar?
Pe. Júlio: Numa sociedade capitalista neoliberal, se você não fracassar é porque você aderiu a ela. Eu fracasso todos os dias.