Você viu, ou também se surpreendeu, quando Flow, um curta independente letão criado com ferramentas acessíveis, ganhou o Oscar? Pois bem, esse espanto diz menos sobre o filme e mais sobre o público e até sobre os próprios jurados da Academia: seguimos acostumados à ideia de que grandes obras só podem nascer dentro de grandes estúdios.
Mas isso está mudando, e aqui no Brasil esse movimento já vem estreando aos pouquinhos. Até porque vivemos em um país onde a imaginação sempre precisou compensar a falta de recursos, e onde cada vez mais criadores encontram no próprio público aquilo que antes buscavam em editais, produtoras ou orçamentos inalcançáveis.
E quando a imaginação encontra o coletivo, algo novo entra em cena. Por isso vale tanto a pena trazer esse tema pra conversa; porque o que está surgindo agora pode muito bem se tornar um dos capítulos mais bonitos da história da animação independente brasileira.
Por que animar no Brasil é um ato de resistência
E é claro que não dá para falar de animação independente sem reconhecer o tamanho da luta que é fazer qualquer ideia chegar à tela. E, aqui no Brasil, essa luta ganha contornos ainda mais nítidos: quase sempre é um exercício de teimosia bonita. Quem trabalha na área sabe que nada acontece rápido, quase nada se faz sozinho e dificilmente acontece com todos os recursos que o processo exige.
Afinal, animar é lidar com um tipo de produção que demanda tempo, técnica, equipamentos e uma grande equipe. E, quando os recursos faltam – ou chegam pela metade –, cada etapa se torna mais demorada, mais custosa e mais delicada. Ainda assim, muitos projetos insistem em existir, e toda a equipe precisa de uma persistência que quase sempre extrapola os bastidores. Talvez por isso emocionem tanto, porque nascem sempre contra alguma adversidade.

Aqui no Catarse, temos orgulho de ter feito parte da persistência de Eu sou Caipora: a menina e o poder das matas; um curta-metragem que encontrou no financiamento coletivo o impulso necessário para existir. Tudo começou em 2020, quando 908 pessoas acreditaram na primeira campanha e ajudaram a dar vida a Luana e ao nosso folclore. E agora, em outubro de 2025, 1072 pessoas apoiaram a etapa final, permitindo que o filme fosse concluído em 3D, com o polimento necessário para alcançar o máximo nível de qualidade.
E é por histórias como essa que seguimos acreditando no financiamento coletivo como ponto de encontro da comunidade criativa. Torcemos para que mais animações encontrem seus caminhos por aqui, e que possamos levá-las até o público certo, para que continuem ganhando apoio e vida.
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O que Flow revela sobre a persistência na animação
Voltemos ao exemplo de Flow, que escancarou o quanto o rumo da animação independente mudou nos últimos anos. A equipe de produção letã mostrou que é possível criar por meio de ferramentas acessíveis – softwares livres, pipelines mais enxutos e soluções que antes seriam quase impensáveis fora e dentro de um grande estúdio. E é importante dizer: isso não diminui o esforço de cada pessoa que foi responsável em dar vida a animação.
Quando tanta gente se surpreendeu ao ver Flow ganhar o Oscar, não foi por falta de mérito. O espanto veio porque o filme escancarou que é possível criar quando há desejo, vontade e persistência; mesmo sem grandes orçamentos, equipes enormes ou toda a maquinaria industrial por trás.
E o curioso é que nada disso deveria ser visto como exceção. Tecnologia acessível não “barateia” a arte; ela amplia quem pode fazê-la. Ela abre frestas onde antes só existiam barreiras em que artistas acabavam não conseguindo transformar suas ideias em algo visível, palpável e compartilhável.
E fica aqui o lembrete para quem sonha em criar uma animação: não é sobre ter dom, é sobre começar mesmo que com medo. É sobre rascunhar, testar, errar, estudar, repetir. É sobre usar o que se tem – seja um software aberto; um computador, mesa digitalizadora e equipamentos possíveis – e descobrir que, às vezes, o que parece distante pode tomar forma quando a primeira linha, o primeiro frame, o primeiro teste ganha vida na tela.
Tears of Blood: o próximo passo da animação independente
Se colocarmos Caipora e Flow lado a lado, uma coisa fica evidente: quando existe persistência, ideias que poderiam ter morrido no papel ganham fôlego, forma e movimento. Esses projetos, embora tão diferentes e tão parecidos, lembram que a animação independente não nasce só de técnica, software ou pipeline. Ela nasce do desejo profundo de criar, mesmo quando tudo parece dizer o contrário.
E é exatamente aqui que chegamos, no presente e em Picuí, na Paraíba. Porque tem um projeto que segue essa mesma trilha de coragem criativa e está em campanha aqui no Catarse: “Tears of Blood”.

Tudo começou no fim de 2023 como um projeto ousado de uma equipe independente movida por paixão, dedicação e imaginação. Eles querem contar a história de Kenji (ケンジ), um garoto que mantém a tradição da família ao rejeitar qualquer aprimoramento cibernético – num mundo onde a fronteira entre humano e máquina já se dissolveu. É um curta sobre identidade, resistência e a força de escolher o próprio caminho.
Dá uma espiada no teaser: LINK
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E, como toda animação independente feita com o coração na linha de frente, “Tears of Blood” precisa de apoio para ir mais longe. A campanha já está no ar, com metas estendidas que podem ampliar o alcance, a qualidade e o futuro do projeto.
E você que entende a importância de apoiar projetos independentes, ou que ama animação feita com paixão – ainda mais quando é brasileira –, fica aqui o convite para conhecer e apoiar a campanha.




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